Índice de aridez
O índice de aridez é utilizado para medir o grau de aridez de uma determinada região, obtido a partir de relação entre o potencial hídrico (P) e a evapotranspiração potencial (ETP) ou temperatura.[1] Um maior grau de aridez ocorre quanto maior for a diferença entre o fornecimento de água através da precipitação e a sua remoção pela evaporação e transpiração. A aridez distingue-se da seca devido ao seu caráter mais permanente: a seca define-se por um período especialmente longo de falta de disponibilidade hídrica, enquanto a aridez é uma característica do clima. Existem diferentes formas de calcular e representar o Índice de Aridez (ver abaixo), sendo utilizados para caracterizar uma região quanto à sua disponibilidade hídrica, importante para informar sectores como a agricultura e florestas, gestão e ordenamento do território.
Índices de aridez
editarUm índice de aridez (IA) é um indicador numérico do grau de secura do clima em uma determinada região. Desde os anos finais do século XIX que vários índices de aridez foram sendo propostos, com usos diferentes e períodos de maior ou menor intensidade de utilização. Esses indicadores servem para identificar, localizar ou delimitar regiões com variável déficit de água disponível, condição que pode afetar severamente o uso efetivo da terra para atividades como agricultura ou pecuária.[2]
O cálculo de um índice de aridez, assim como a classificação dos climas, sempre foi objeto de investigação em climatologia. Há uma infinidade de índices e fórmulas, alguns baseados em critérios climatológicos, outros biogeográficos.
Entre os índices de aridez mais conhecidos contam-se os de Köppen/Geiger, de Martonne (1926 a 1941), de Thornthwaite (1948), de Budyko e o de Bagnouls/Gaussen (1953 a 1957), índices de que adiante se dá uma breve descrição.
Índice de Köppen/Geiger
editarNos anos iniciais do século XX, Wladimir Köppen e Rudolf Geiger desenvolveram um conceito de classificação climática na qual as regiões áridas são definidas como aqueles locais onde em média a precipitação total anual (em centímetros) é menor que , onde:
- — se a precipitação ocorrer principalmente na estação fria;
- — se a precipitação for uniformemente distribuída ao longo do ano;
- — se a precipitação ocorrer principalmente na estação quente.
onde é a temperatura do ar média anual em graus Celsius.
Esta foi uma das primeiras tentativas de definir um índice de aridez capaz de reflectir os efeitos do regime térmico e da quantidade e distribuição da precipitação na determinação da vegetação natural possível numa região. O índice reconhece a importância da temperatura em permitir que lugares mais frios, como o norte Canadá sejam vistos como húmidos com o mesmo nível de precipitação que alguns desertos tropicais, devido aos níveis mais baixos de evapotranspiração potencial nos lugares mais frios. Nos subtrópicos, a consideração da distribuição da precipitação entre as estações quentes e frias reconhece que as chuvas de inverno são mais eficazes para o crescimento das plantas que podem florescer no inverno e ficar dormentes no verão do que a mesma quantidade de chuva de verão durante a estação quente. Assim, um lugar como Atenas, na Grécia que recebe a maior parte de suas chuvas no inverno pode ser considerado como tendo um clima húmido (como atestado pela vegetação) com aproximadamente a mesma quantidade de chuva que impõe condições semidesérticas em Midland, Texas, onde as chuvas ocorrem em grande parte no verão.
Índice de Bagnouls/Gaussen
editarO índice de aridez de Bagnouls/Gaussen (AIBG), frequentemente designado apenas por índice de aridez de Gaussen, foi desenvolvido por F. Bagnouls e Henri Gaussen, sendo calculado mês a mês, considerando-se que um determinado mês é árido quando se verifica a seguinte condição:[3][4][5]
onde é a precipitação total (em mm) no mês; e é a temperatua média mensal do ar (°C) no mesmo mês.
Este índice de aridez é útil quando utilizado na construção de um diagrama ombrotérmico, em geral construídos recorrendo à escala 1 °C = milímetro.
Índice de Martonne
editarO índice de aridez de Martone (AIM), desenvolvido pelo geógrafo e climatologista Emmanuel de Martonne, permite determinar o grau de aridez de uma região com base na precipitação e na temperatura do ar. Para o calcular o índice de aridez anual é utilizada a fórmula:
onde designa a precipitação total anual e a temperatura média anual do ar (ºC). Quando calculada para um determinado mês, a fórmula assume a forma:
onde designa a precipitação total no mês e a temperatura média no mês.
Quando calculado na base anual, os limites que definem vários graus de aridez e as áreas aproximadas envolvidas são os seguintes:
Regiões hiper-áridas Déserts absolus |
(Atacama (Chile) Pavimento desértico de Tanezrufte (Saara) Vale da Morte) |
Regiões áridas Regiões desérticas |
Deserto do Saara Os desertos do Arizona e de Sonora Deserto de Cavir (Irão) Deserto de Thar (Índia) Deserto de Tabernas (próximo de Almería) |
Regiões semi-áridas | Sahel Calaári Chaco (Argentina) Nordeste (Brasil) |
Regiões semi-húmidas | |
Regiões húmidas | |
Índice de Thornthwaite
editarEm 1948, C. W. Thornthwaite propôs um índice de aridez (AIT) definido como:
em que a deficiência hídrica é calculada como a soma das diferenças mensais entre a precipitação e a evapotranspiração potencial para os meses em que a precipitação normal é inferior à evapotranspiração normal; e onde representa a soma dos valores mensais da evapotranspiração potencial para os meses deficientes.[6] Este índice de aridez foi posteriormente usada para delinear as zonas áridas do mundo no contexto do programa de inventarieação de zonas áridas da UNESCO (UNESCO Arid Zone Research).[7]
Índice de Budyko
editarNos preparativos para a Conferência das Nações Unidas sobre Desertificação (UNCOD), o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) emitiu um mapa da distribuição global da aridez baseado num índice de aridez (AIB) proposto originalmente em 1958 por Mikhail Ivanovich Budyko e definido da seguinte forma:[8]
onde é a radiação solar líquida média anual (também conhecida como balanço de radiação líquida), é a precipitação média anual e é a calor latente de evaporação da água. Este índice é adimensional e as variáveis , e podem ser expressas em qualquer sistema de unidades que seja autoconsistente.
Índice UNEP
editarMais recentemente, o UNEP (ou PNUMA) adotou um índice de aridez (AIU), definido como:[9]
onde é a evapotranspiração potencial e é a precipitação anual média.[9] Nesta formulação, e devem ser expressos nas mesmas unidades, por exemplo, em milímetros. Neste último caso, os limites que definem vários graus de aridez e as áreas aproximadas envolvidas são os seguintes:
Classificação | Índice de aridez | % área emersa global |
---|---|---|
Hiperárido | AI < 0.05 | 7.5% |
Árido | 0.05 < AI < 0.20 | 12.1% |
Semi-árido | 0.20 < AI < 0.50 | 17.7% |
Sub-húmido seco | 0.50 < AI < 0.65 | 9.9% |
Ver também
editarReferências
- ↑ «Definição de aridez». Consultado em 5 de Fevereiro de 2010. Arquivado do original em 3 de setembro de 2004
- ↑ Stadler, S. J (1987) 'Aridity Indexes', article in The Encyclopedia of Climatology, p. 102–107, Edited by J. E. Oliver and R. W. Fairbridge, Van Nostrand Reinhold Company, New York, ISBN 0-87933-009-0.
- ↑ Gaussen, Henri; F., Bagnouls (12 de janeiro de 1952). «L'indice xérothermique» [The xerothermic index]. Bulletin de l'Association de géographes français (em francês). 29 (222–223). 10–16 páginas. doi:10.3406/bagf.1952.7361
- ↑ Gaussen, Henri; Bagnouls, F. (1953). Saison sèche et indice xérothermique [Dry seasons and the Xerothermic index] (em francês). [S.l.]: University of Toulouse, Faculty of Sciences. OCLC 893798321
- ↑ Gaussen, Henri; Bagnouls, F. (1957). «Les climats biologiques et leur classification» [Biological climates and their classification]. Annales de Géographie (em francês). 6 (355): 193–220. doi:10.3406/geo.1957.18273
- ↑ Huschke, Ralph E. (1959) Glossary of Meteorology, American Meteorological Society, Boston, 1970.
- ↑ Meigs, P. (1961) 'Map of arid zone', in Laurence Dudley Stamp (editor) A History of Land Use in Arid Regions, UNESCO Arid Zone Research, Publication XVII, Paris, 1961.
- ↑ Budyko, M. I. (1958) The Heat Balance of the Earth's Surface, trs. Nina A. Stepanova, US Department of Commerce, Washington, D.D., 259 p.
- ↑ a b UNEP (1992) World Atlas of Desertification.