Sidéria
Sidéria é uma ópera brasileira composta por Augusto Stresser e orquestrada pelo maestro Léo Kessler.
Sidéria | |
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(personagem-título) | |
Idioma original | Português |
Compositor | Augusto Stresser |
Libretista | Jayme Ballão |
Tipo do enredo | Tragédia |
Número de atos | 3 |
Ano de estreia | 3 de maio de 1912 (112 anos) |
Local de estreia | Theatro Guayra, Curitiba, Brasil. |
História
editarAugusto Stresser, renomado musico curitibano, um dos criadores do Grêmio Musical Carlos Gomes e integrante da orquestra pertencente à Catedral Metropolitana de Curitiba, sempre almejou criar uma ópera que referenciasse o seu estado natal: o Paraná. Em discussão sobre o assunto com o seu primo, Jayme Ballão, nos primeiros anos do século XX, Augusto coloca em prática este sonho e ambos dão início à ópera. O primeiro trabalho apresentado por Jayme era uma composição de amor poético, formado por um único ato e que ao ser musicado por Augusto, ganha um segundo ato, tornando-se assim uma pequena ópera.
Esta pequena ópera quando pronta resulta em um problema, pois Curitiba, na década de 1900, não possuía profissionais qualificados para a orquestração da ópera e desta maneira a obra fica parada por algum tempo.
Em 1911 chega a Curitiba a Companhia de Operetas Alemã Papke, regida pelo maestro Léo Kessler, e que iria apresentar-se no antigo Theatro Guayra. Depois destas apresentações a Companhia dissolve-se, porém, Léo e mais alguns integrantes optaram por ficar na capital paranaense.
Para consumar a ópera, Augusto solicita ajuda de Leo e assim, além de orquestrar a obra, o maestro sugeriu algumas alterações, bem como o acréscimo de mais uma ato.
Após anos de trabalho, a ópera estava concluída e foi batizada de Sidéria em homenagem a uma das filhas do mentor e compositor Augusto Stresser.
Sinopse
editar"Sidéria" é uma ópera do gênero “tragédia” de três atos que tem como pano de fundo o conflito da Revolução Federalista; conflito este que Curitiba e a cidade da Lapa tinham vivenciado havia pouco tempo e de forma mais dramática a cidade que dista 60 km da capital e que enfrentou os revoltosos, tendo ocorrido violentos confrontos e que entrou para a história como “Cerco da Lapa”.
I Ato
editarO primeiro ato desta ópera transcorre na casa de Sidéria, jovem ingênua e singela de 15 anos que mora com o pai, Paulo, em um vilarejo de camponeses. Sidéria é desejada por Juvenal, mas esse amor não é correspondido. Juvenal, magoado, trai a confiança de Paulo e Sidéria quando delata para as autoridades o paradeiro de Alceu, um jovem que é perseguido por seus ideais políticos e que em fuga, chega ao vilarejo e é acolhido por Paulo. Neste convívio, Sidéria apaixona-se por Alceu e é esta paixão o estopim da traição de Juvenal. Neste ato é apresentado canções de camponeses "na lida", canções que exaltam a primavera e que festejam o aniversário de Sidéria. Em dueto, Sidéria e Juvenal, cantam o nascer de um amor e em coro os camponeses manifestam sua tristeza pelo ato traidor de Juvenal.
II Ato
editarO segundo ato desenvolve-se na praça, próximo ao acampamento federalista, onde Alceu está preso e ali se passa toda a movimentação militar do vilarejo. Neste ato, uma nova personagem entra em ação: Thylde, noiva de Alceu e que esta à procura do amado. Sidéria e Thylde tornam-se amigas e num primeiro momento a noiva não desconfia da paixão de Sidéria por Alceu. Na iminente execução de Alceu, Thylde empenha-se em salvar o noivo e assim o faz, mas Alceu já está totalmente dominada de paixão por Sidéria. Juvenal tenta reverter à indiferença de Sidéria pelo seu amor e na nova negativa comete ato insano ao matar Sidéria a punhaladas e logo em seguida comete suicídio. As canções do segundo ato se concentram no sofrimento da prisão e na tragédia de Sidéria, bem como no desencanto do amor tanto de Thylde como de Juvenal. Algumas canções representam o sarcasmo e zombaria por parte dos soldados com o preso e o vilarejo.
III Ato
editarO terceiro e último ato transcorre no túmulo de Sidéria. Ali ocorre a aflição do pai e o desespero do amado Alceu que é confortado pela ex-noiva. Alceu tem acessos de alucinação quando a jovem morta aparece para ele, em sonho, na forma de sombra e cercada de anjos. Sidéria, no sonho, suplica para que Alceu a acompanhe e, sendo essa a intenção de Alceu, o jovem cai fulminado sobre o túmulo de Sidéria. Entre os camponeses cria-se uma lenda de que no local de sepultamento de Sidéria, espontaneamente, nasce uma roseira florida cobrindo o túmulo. As canções desta última parte referem-se à tristeza pela morte de ambos os jovens, a tristeza do amor perdido de Thylde, um hino entoado pelos anjos, um dueto entre Alceu e Thylde recordando o passado, um coro infernal zombando de Juvenal e um solo orquestral na última cena, quando bate meia-noite e Alceu morre, espontaneamente, enquanto ao fundo ouve-se o grito de Thylde ao descobrir o corpo de Alceu, e assim, lentamente, as cortinas cerram-se.
Elenco e produção de estreia
editarA Curitiba do início do século XX era desprovida de teatro profissional bem como profissionais de orquestra. Para contornar estes problemas, Augusto contrata, no Rio de Janeiro, quinze músicos dos trinta e cinco necessários para compor a orquestra da ópera. Os demais são músicos amigos de Augusto, ou do Grêmio Carlos Gomes ou da Orquestra da Catedral. Para o coral, foi reunido cinquenta vozes entre os corais de igrejas locais. Quanto ao elenco, todos são integrantes curitibanos do teatro amador e somente Jorge Wucherpfennig é profissional das artes cênicas. Jorge fazia parte da Companhia Papke, assim como Léo Kessler, que foi o maestro responsável pelas primeiras apresentações.
A primeira montagem da ópera contou com o seguinte elenco:
- SIDÉRIA - Marietta Bezerra (soprano);
- THYLDE - Josepha Correia de Freitas (soprano);
- ALCEU - Jorge Wucherpfenning (tenor;
- PAULO - Constante Fruet (barítono);
- JUVENAL - Jorge Leitner (tenor);
- CAMPONESA - Ana Kirchgaessner (mezzosoprano);
- CAMPONESES - José Buzetti Mori e Luis Romanó, entre outros figurantes.
O cenário do primeiro ato foi desenvolvido pelo pintor Ricardo Wagner, enquanto que para o segundo e terceiro ato ficou a cargo de Guilherme Lobe. Estes cenários foram retratados com paisagens que representassem o Paraná.
O figurino do elenco ficou a cargo de Albertina Gonçalves. Quanto ao figurino dos camponeses, os mesmos foram os responsáveis.
Estreia
editarAs 21h de dia 3 de maio de 1912, nas dependências do Theatro Guayra (quando este era localizado no atual terreno da Biblioteca Pública do Paraná), logo após a chegada do Presidente do Estado, Dr. Carlos Cavalcanti e da execução do Hino Nacional, estreou, em Curitiba, a primeira ópera paranaense.
A repercussão da estreia foi estampada em vários jornais locais do dia seguinte como sendo um estrondoso sucesso e no decorrer da semana o fato foi mencionado na imprensa nacional. A revista “Fon-Fon” (periódico carioca de grande prestígio na época) dedicou quatro páginas para a obra de Augusto Stresser[1].
Trechos de artigos de jornais locais (grafia de época):
“...nunca se pensou que o sr. Augusto Stresser pudesse ter tanto êxito nesta sua incursão pelo caminho da música trazendo com ele, Léo Kessler. É natural e digno que se registre a bem da verdade, que já se conhece a sua capacidade artística. Vale a notar a sua ardente e feliz inspiração, que combina a se acasala com o clima que a Capital lhe deu como cenário magnífico da ópera...”[2]
“...o theatro achava-se, como nos dias da primeira e segunda apresentações, literalmente cheio, vendo-se na plateia e nos camarotes o que de mais distincto tem a nossa sociedade. ...sob essa atmosfera sympatica subiu o panno e ouviu-se a suggestiva canção do lavrador, cantada com muita expressão e sentimento pelo sr. Constante Fruet. ... a senhorita Marietta Bezerra é realmente o centro grandioso daquella constellação artística. Ingenua e infantil no 2° acto, torna-se altamente dramática as scenas intensas que se desenrolam depois...”[3]
Esta montagem foi apresentada mais sete vezes no Theatro Guayra, todas com casa cheia, e mais duas vezes em Ponta Grossa.
Nas primeiras décadas do século XX algumas músicas e canções da ópera se popularizaram entre a sociedade paranaense, tanto que “Serenata” e “Romanza” eram, constantemente, ouvidas em recitais de piano. A "Serenata" foi gravada pelo soprano Marília Vargas e lançada no CD "Todo amor desta terra" em 2008. A partitura original de Sidéria foi doada, pela família, para o Centro Cultural Teatro Guaíra.
Imagens
editarReferências
- ↑ Os 120 anos de Stresser, autor da ópera "Sidéria" Tablóide Digital – Artigo de Aramis Millarch de 18 de julho de 1991
- ↑ Jornal A República. Curitiba: edição de maio de 1912
- ↑ Jornal Diário da Tarde – coluna Theatro Guayra. Curitiba: edição de 7 maio de 1912, p1.
Bibliografia
editar- MENDONÇA, Maí N., HLADCZUK, Ana Maria. Boletim Informativo da Casa Romário Martins, Augusto Stresser e a Ópera Sidéria. Curitiba: Fundação Cultural de Curitiba, v19, n°99. 1992
Ligações externas
editar- PEM Augusto Stresser – O maestro que Curitiba não esquece
- Augusto Stresser[ligação inativa] Teatro Guaíra