Último Tango em Paris
Último Tango em Paris (italiano: Ultimo Tango a Parigi; francês: Le Dernier Tango à Paris) é um drama erótico franco-italiano de 1972 dirigido por Bernardo Bertolucci e estrelado por Marlon Brando e a então desconhecida Maria Schneider.
Último Tango em Paris | |
---|---|
Ultimo Tango a Parigi (IT) Le Dernier Tango à Paris (FR) | |
Itália França 1972 • cor • 129 min | |
Género | drama, erótico |
Direção | Bernardo Bertolucci |
Produção | Alberto Grimaldi |
Roteiro | Bernardo Bertolucci Franco Arcalli Agnès Varda |
Elenco | Marlon Brando Maria Schneider |
Música | Gato Barbieri |
Edição | Franco Arcalli Roberto Perpignani |
Companhia(s) produtora(s) | Produzioni Europee Associati (PEA) Les Productions Artistes Associés |
Distribuição | United Artists |
Lançamento | 15 de dezembro de 1972 16 de dezembro de 1972 30 de abril de 1974 3 de novembro de 1979 |
Idioma | francês inglês |
Orçamento | US$ 1,25 milhões |
Receita | US$ 96,300,000 |
Considerado uma obra-prima cinematográfica[1] e um sucesso de bilheteria mundial, a violência sexual e o caos emocional do filme levaram a uma grande polêmica internacional sobre ele, que provocou vários níveis de censura governamental ao redor do mundo.[1]
Produção
editarA ideia do filme veio das fantasias eróticas de Bertolucci, que certa vez viu uma bela mulher desconhecida na rua e imaginou em ter relações sexuais com ela sem nem saber quem era. O roteiro foi escrito por ele, Fanco Arcalli e Agnès Varda, que cuidou dos diálogos adicionais. A fotografia foi entregue ao premiado Vittorio Storaro.
Bertolucci havia considerado Jean-Louis Trintignant e Dominique Sanda para os papéis principais, mas Trintignant acabou recusando o roteiro e quando Brando o aceitou, Sanda estava grávida e não pode mais fazer o filme. A trilha sonora jazzística, que se tornou famosa, é do compositor e arranjador argentino Gato Barbieri, transformado em estrela internacional da música após o sucesso do filme.[2]
Assim como em filmes anteriores, Marlon Brando recusou-se a decorar suas falas em várias cenas. Ao invés disso, ele escrevia as falas em cartazes espalhados pelo set de filmagem e deixava o problema de não enquadrá-los na câmera para Bertolucci e Storaro. Durante o monólogo sobre a morte de sua mulher, por exemplo, sua dramática expressão levantando os olhos enquanto falava, não é um recurso de interpretação, mas uma procura pelo próximo cartaz.[1] Ele chegou a pedir a Bertolucci para escrever algumas falas nas costas de Schneider, o que o diretor recusou.[3]
Durante as entrevistas de publicidade para o lançamento do filme, Bertolucci declarou que 'Maria tinha desenvolvido uma fixação edipiana em Brando'.[1] Na mesma ocasião, ela declarou que 'Brando lhe tinha enviado flores e se comportado como um pai durante as filmagens',[1] mas negou a afirmação anos depois, dizendo que "Brando tentou uma relação paternalista comigo, mas o que houve não era exatamente uma relação entre pai e filha."[3] Mais tarde, Schneider deu outras declarações sobre humilhação sexual durante as filmagens:
“ | Eu deveria ter chamado meu agente ou meu advogado ao set, porque não se pode forçar alguém a fazer algo que não esteja no roteiro, mas na época, eu não sabia disso. Marlon me disse: 'Maria, não se preocupe, é só um filme'. Mas durante a famosa cena, mesmo que ele não estivesse me possuindo realmente, eu me senti humilhada e as minhas lágrimas eram verdadeiras. Me senti algo estuprada, tanto por Brando quanto por Bertolucci. Após a cena, Marlon não me consolou nem se desculpou. Felizmente, foi gravado em apenas uma cena.[4] | ” |
Maria depois declararia que fazer o filme foi 'o único arrependimento de sua vida',[5] que ele 'havia arruinado sua carreira' e que considerava Bernardo Bertolucci um 'gangster e um cafetão'.[6] Assim como Schneider, Brando depois declarou sentir-se violado e humilhado pelo filme e disse a Bertolucci que 'se sentia completamente e interiormente violado por ele e que jamais faria outro filme como aquele'.[3]
Sinopse
editarPaul (Brando), um americano de meia-idade em Paris, em luto pela morte da mulher recém acontecida, encontra-se num apartamento anunciado para aluguel com uma jovem parisiense de espírito livre, Jeannie (Schneider), que os dois estavam interessados em alugar. Sem se conhecerem, começam a ter relações sexuais no local e Paul exige que eles não troquem qualquer tipo de informação um do outro, nem seus nomes.
Paul aluga o apartamento e o casal continua a encontrar-se ali até o dia em que Jeannie vai ao apartamento para mais um encontro e vê que Paul desapareceu, levando suas malas. Mais tarde, ele a encontra na rua e a leva a uma casa de tangos, onde diz que pretende iniciar nova relação com ela, conhecendo-se melhor, e começa a contar-lhe sua vida. Jeannie se desilude com a perda do anonimato e rompe o relacionamento. Sem querer perdê-la, Paul a segue até o apartamento onde ela morava com a mãe, onde a relação termina em tragédia.
Elenco
editar- Marlon Brando… Paul
- Maria Schneider… Jeanne
- Jean-Pierre Léaud… Tom
- Massimo Girotti… Marcel
Repercussão internacional
editarÚltimo Tango em Paris estreou nos Estados Unidos diante de uma enorme controvérsia. O frenesi da imprensa em torno dele gerou enorme interesse do público assim como grande condenação moral, levando a reportagens de capa nas duas maiores revistas semanais do país, TIME - que colocou Brando na capa[7] - e Newsweek.[3] O Village Voice descreveu passeatas de comitês de moralidade na porta de cinemas e 'mulheres bem vestidas vomitando'.[8] Vincent Canby, crítico do The New York Times, descreveu o contexto sexual do filme como 'a expressão artística da era de Norman Mailer'.[9] O principal centro do escândalo provocado, são as cenas de penetração anal, onde 'Paul' sodomiza 'Jeannie' usando manteiga como lubrificante[10] e quando ele pede a ela que enfie os dedos em seu ânus ou prometa fazer sexo com um porco, provando sua devoção a ele.
A prestigiada crítica Pauline Kael, da revista The New Yorker, deu ao filme um dos mais entusiáticos endossos de sua carreira profissional, considerando que ele tinha 'mudado a face de uma forma de arte, um filme que as pessoas esperam por ele há muito, muito tempo, desde que filmes existem'.[1] Seu elogio, vindo de alguém tão comedida neles e com tanto prestígio na indústria, foi republicado pela United Artists num anúncio do filme em página dupla na edição dominical do New York Times. Ele é considerado, inclusive, como a mais influente crítica de sua carreira.[11]
O diretor Robert Altman assistiu ao filme e declarou que saiu da sala de projeção e disse a si próprio, "Quem vai se preocupar se eu fizer um novo filme? Minha vida pessoal e artística nunca mais será a mesma".[3] Brando e Bertolucci foram ambos indicados ao Oscar como melhor ator e melhor diretor.
Na França, onde o Le Journal du Dimanche o chamou de um dos maiores filmes da história,[12] o público enfrentava filas de duas horas nas ruas durante seu primeiro mês de exibição em sete cinemas de Paris.[1] Na Grã-Bretanha, os censores diminuíram a duração da cena de sodomia para permitir que ele estreasse no país.[13] enquanto políticos conservadores lamentavam a decisão como 'uma licença para a degradação'.[14]
Na Itália, o filme foi lançado apenas em dezembro de 1975, mas uma semana depois a polícia confiscou todas as cópias por ordem da Justiça e Bernardo Bertolucci foi processado por obscenidade. Após vários apelos em diversas instâncias, a Suprema Corte Italiana selou o destino do filme na Itália, ordenando que todas as cópias fossem destruídas. Bertolucci foi condenado a quatro meses de prisão, sentença suspensa, e teve seus direitos civis e políticos cassados por cinco anos.[6] Apenas em 1987, quinze anos após seu lançamento original, com a entrada em vigor de uma nova lei de costumes, Tango pôde finalmente ser exibido integralmente na Itália.[15]
No Brasil, por causa da censura militar, o filme só foi liberado em 1979.[16] A exibição na Rede Bandeirantes em 29/11/1985, na cidade de São Paulo, sofreu com a censura por determinação judicial. No restante do Brasil o filme foi exibido. No Chile de Augusto Pinochet, passou trinta anos proibido.[17]
Referências
- ↑ a b c d e f g «"Self-Portrait of an Angel and Monster"». Time
- ↑ «Gato Barbieri - biografia» (em inglês). allmusic
- ↑ a b c d e Michener, Charles. Newsweek. "Tango: The Hottest Movie." 12 de fevereiro, 1973.
- ↑ Das, Lina (14 de setembro de 1975). «I felt raped by Brando». Daily Mail. Consultado em 21 de abril de 2007
- ↑ «"Downhill ride for Maria after her tango with Brando."». The Sydney Morning Herald
- ↑ a b «Stealing Beauty». The Guardian
- ↑ «Last Tango in Paris Cover Story»
- ↑ «"Last Tango in Paris: Can it arouse the same passions now?"». The Independent
- ↑ «"Last Tango in Paris."». The New York Times
- ↑ «Sick Stick». New York Post. Consultado em 31 de maio de 2010. Arquivado do original em 14 de dezembro de 2007
- ↑ «"Finding It at the Movies"». New York Books
- ↑ «Last Tango in Paris (1972)». Consultado em 10 de setembro de 2010. Arquivado do original em 2 de janeiro de 2011
- ↑ «Last Tango in Paris». Students' British Board of Film Classification page. Consultado em 1 de junho de 2010. Arquivado do original em 11 de dezembro de 2009
- ↑ «"Last Tango in Paris: Can it Arouse the Same Passions Now?"] The Independent» 🔗
- ↑ «Mostra no CCBB apresenta primeiros filmes da carreira do italiano Bernardo Bertolucci». O Globo, 12 de janeiro de 2008
- ↑ «Último Tango em Paris». - cinemacomrapadura.com. Consultado em 1 de junho de 2010. Arquivado do original em 4 de julho de 2011
- ↑ «After Banning 1,092 Movies, Chile Relaxes Its Censorship». The New York Times, 13 de dezembro de 2002