28ª Campanha de Almançor
A 28ª Campanha de Almançor foi uma operação militar levada a cabo em 987 por Abu Amir, melhor conhecido como Almançor, primeiro-ministro do califa Hixame II de Córdova, que resultou na conquista do Condado de Coimbra.
28ª Campanha de Almançor | |||
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Reconquista | |||
Data | 987 | ||
Local | Coimbra | ||
Desfecho | Vitória cordovesa
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Beligerantes | |||
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Comandantes | |||
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História
editarCoimbra fora atacada pela primeira vez por Almançor em 986, após a destruição de Condeixa mas só os seus arrabaldes foram afectados.[1] Em 987 o rei Bermudo II de Leão expulsou as tropas cordovesas instaladas no seu reino como força de ocupação mas que se tinham revelado abusivas.[2] A reacção de Almançor não se fez esperar e no mesmo ano atacou Coimbra pela segunda vez.
A 28ª campanha de Almançor partiu ainda em 987 e visou novamente Coimbra. Tinha como objectivo conquistar o condado de Coimbra e deixar em aberto o caminho para a Galiza.[3] O conde de Coimbra era por então Froila Gonçalves, que decidiu compactuar com Almançor e passar para o serviço de Córdova, preservando assim os seus bens e redes de clientes sob a nova autoridade.[4] O exército muçulmano acampou diante da cidade e conquistou-a ao terceiro dia de ataques, a 27 de Junho.[5][2] Coimbra foi pilhada e totalmente despovoada, tendo sido mortos ou escravizados todos os habitantes que não tenham conseguido fugir. Na cidade foi então instalada uma guarnição militar e um governador.[3]
Conquistada Coimbra, foram também conquistadas Viseu e Lamego.[6] A fronteira foi deslocada novamente de para o rio Douro.
É digna de nota a traição de Ezerag de Condeixa.[7] Quando a cidade foi tomada e a população fugiu, escondendo-se nos montes e brejos das cercanias de Coimbra, Ezerag, natural da vila de Condeixa, apresentou-se ao recém empossado governador da cidade, Farfon Iben Abdella, e convertou-se ao Islão.[8][9] Advertiu, então, as autoridades mouras da presença de muitos dos seus conterrâneos e doutros cristãos escondidos nos montes das cercanias, tendo-lhe sido dada a chefia dum regimento de 30 cavaleiros muçulmanos.[9] Acompanhado deles, foi ter com os cristãos escondidos, mentindo-lhes acerca das suas intenções e dando a entender que lhes conseguira granjear uma amnistia junto de Farfon Iben Abdella e que eram livres de regressar às suas casas.[10] Assim que os cristãos se revelaram, prendeu-os e escravizou-os.[10] Vendeu-os por 6 peças de prata, à cabeça, em Santarém, tendo o produto da venda sido ulteriormente remetido ao Almançor, em Sevilha.[11][10] Com o produto da venda, obteve então moinhos e azenhas, bem como algumas propriedades nas cercanias de Coimbra.[12][13][11]
Ao fim de sete anos Coimbra repovoada com muçulmanos e moçárabes. Em 990 os cordoveses conquistariam Montemor-o-Velho.[14]
Ver também
editarReferências
- ↑ Jorge de Alarcão: Coimbra: A Montagem Do Cenário Urbano, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2008, p. 79.
- ↑ a b Luís Seco de Lucena Paredes: "Acerca de las Campañas Militares de Almanzor" in Miscleânea de Estudios Árabes Y Hebraicos, volume XIV-XV, fascículo 1, Universidade de Granada, 1965-1966, pp. 26-29.
- ↑ a b Francisco Javier Simonet: Leyendas Históricas Árabes, Imprensa de Juan José Martinez, 1858, pp. 108-109.
- ↑ Gonçalves, Pedro Alexandre. “Froila Gonçalves. O condado de Coimbra, caudilhismo de fronteira e a defensio de cenóbios no Ocidente Peninsular”. Juvenes - The Middle Ages seen by young researchers, edited by André Madruga Coelho and Silvana R. Vieira de Sousa, Publicações do CIDEHUS, 2020, https://doi.org/10.4000/books.cidehus.9682.
- ↑ Molina, Luis (1981). «Las campañas de Almanzor a la luz de un nuevo texto». Al-Qanṭara. 2: 209–263. ISSN 0211-3589. hdl:10261/14109
- ↑ Alfonso Sánchez Candeira: Castilla y León en el siglo XI: estudio del reinado de Fernando I, Real Academia de la Historia, 1999, p. 25.
- ↑ «Annuncione de Molinos de Forma | Codolpor». codolpor.ul.pt. Consultado em 4 de setembro de 2021
- ↑ ROCHA, Manoel da (1730). Portugal renascido, tratado historico-critico-chronologico, em que a luz da verdade se daõ manifestos os successos de Portugal do seculo decimo, etc. L.P. [S.l.: s.n.]
- ↑ a b Barton, Simon (16 de janeiro de 2015). Conquerors, Brides, and Concubines: Interfaith Relations and Social Power in Medieval Iberia (em inglês). [S.l.]: University of Pennsylvania Press
- ↑ a b c Saraiva, José Hermano (2011). História Concisa de Portugal. Mem-Martins: Publicações Europa-América. pp. 30–31. ISBN 9789896662967
- ↑ a b Barton, Simon (16 de janeiro de 2015). Conquerors, Brides, and Concubines: Interfaith Relations and Social Power in Medieval Iberia (em inglês). [S.l.]: University of Pennsylvania Press «Ezerag is reported to have captured the Cristian inhabitants of the villages in the vicinity of Coimbra by trickery and sold them into slavery at Santarém for six pieces os silver, in exchange for which he was later granted some property near Coimbra by al-Mansûr»
- ↑ REAL, Manuel Luís. «O Castro de Baiões terá servido de atalaia ou castelo, na Alta Idade Média? Sua provável relação com o refúgio de Bermudo Ordonhes na Terra de Lafões» (PDF). Universidade do Porto. Revista da Faculdade de Letras CIÊNCIAS E TÉCNICAS DO PATRIMÓNIO: 218. Consultado em 4 de Setembro de 2021 «É mesmo de crer que o referido incêndio, que nesta ocasião atingiu o mosteiro de Lorvão, se relacione com o assalto de Ezerag de Condeixa, descrito no célebre doc. 71 do Liber Testamentorum, sobre a disputa em torno dos moinhos de Forma.»
- ↑ Saraiva, José Hermano (2011). História Concisa de Portugal. Mem-Martins: Publicações Europa-América. pp. 30–31. ISBN 9789896662967 «Os cristãos acreditaram nele e saíram dos seus refúgios; então Ezerag atacou-os com os mouros de que dispunha, venceu-os e levou-os para Santarém, onde os vendeu como escravos; renderam-lhe bom dinheiro, que ele mandou a Sevilha ao Almançor (...) por seu turno, este mandou dar ao Ezerag as tais azenhas (...) provavelmente as que tinham pertencido aos cristãos que ele vendeu.»
- ↑ Castro, Aug Mendes Simoès de (1867). Guia histórico do viajante em Coimbra e arredores Condeixa, Lorvão, Mealhada, Luso, Bussaco, Monte-Mor-O-Velho e Figueira. [S.l.]: Imprensa da universidade. p. 316