Aclamação de Amador Bueno

movimento nativista

A aclamação de Amador Bueno ou Revolta de Amador Bueno foi, supostamente, uma revolta nativista arquitetada por colonos espanhóis[1] ocorrida em São Paulo dos Campos de Piratininga, no ano de 1641, logo após a Aclamação real de João IV. É tida como o primeiro movimento nativista ou o primeiro gesto de autonomia do Brasil Colônia e, não por acaso, ocorreu em São Paulo, então de limitado contato com Portugal e ampla miscigenação entre portugueses, indígenas e estrangeiros.[2]

Aclamação de Amador Bueno

Aclamação de Amador Bueno (1909), óleo de Oscar Pereira da Silva.
Participantes Amador Bueno
Localização São Paulo dos Campos de Piratininga
Data 1641
Resultado Revolta fracassada

Antecedentes

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A escravidão indígena, que cresceu durante a União Ibérica, estava ameaçada em 1640.

Durante a União Ibérica, os moradores da Capitania de São Vicente, principalmente de São Paulo dos Campos de Piratininga, puderam ampliar para dentro da América Espanhola (de acordo com o Tratado de Tordesilhas) o território de livre atuação das entradas de apresamento, que inclusive atacavam missões jesuíticas. Nesse período também floresceu o comércio e o contrabando com a região do Rio da Prata.

Em dezembro de 1640, com a coroação de D. João, Duque de Bragança, que marcou a Restauração da Independência portuguesa, os colonos temiam que Portugal destruísse essa fonte de riqueza, impedindo o trânsito livre de mercadorias e proibindo o aprisionamento e a venda de índios capturados em incursões no sertão, uma vez que, era Portugal que obtinha lucros com a exploração do tráfico humano africano. A aclamação do duque de Bragança como novo rei de Portugal e sua nova política representava um potencial duro golpe para os comerciantes da colônia e castelhanos estabelecidos há muito em São Paulo, cuja economia assentava então na mão de obra escrava indígena.[3]

A revolta

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Mosteiro de São Bento, onde Amador Bueno se refugiou após rejeitar a proposta de aclamação.
 
Amador Bueno.

Querendo manter a autonomia da cidade, algumas elites locais auto-proposeram-se a escolher um rei local, convencendo demais potenciais revoltantes de que poder-se-iam recusar a reconhecer o novo rei português, já que ainda não lhe haviam jurado obediência, e que os da colônia ali sediados tinham qualidades pessoais que os habilitavam para maiores impérios, que a vantajosa localização da cidade e o controle que tinham sobre milhares de indígenas os manteriam a salvo.[3]

Escolheram para rei Amador Bueno da Ribeira (que provavelmente viveu entre 1584 e 1649), filho de pai espanhol sevilhano e Maria, uma brasileira de pai portuense e mãe tupi-portuguesa. Amador era um próspero local, proprietário de terras, Capitão-mor e Ouvidor.[1][4]

Amador Bueno, com ligações pessoais tanto à fidalguia espanhola como portuguesa,[3] segundo Gaspar da Madre de Deus terá contraposto à sua aclamação dizendo "viva o Senhor D. João IV, nosso Rei e Senhor", sendo o certo é que terá rejeitado a proposta, temente das suas consequências. [carece de fontes?] Porém, depois de intensas negociações os castelhanos e apoiadores da proposta tiveram garantias de que seus negócios não seriam afetados por Portugal, e assim declararam e prestaram juramento ao rei D. João IV.[3]

Desfecho

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O gesto acabou não tendo consequências sérias, pois São Paulo era uma região marginalizada economicamente e os castelhanos não tinham condições de iniciar uma luta contra Portugal sem apoio de Madrid. O episódio histórico serviu, entretanto, para demonstrar o descontentamento de certos grupos paulistas com a dominação portuguesa.

Fontes

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Há poucas fontes relativas ao episódio.[5] O principal relato conhecido é o de Frei Gaspar da Madre de Deus, "Memórias para a História da Capitania de São Vicente".[6] Para Monteiro, a questão indígena foi o motivo básico das ações do movimento.[7] Entretanto, outros historiadores têm interpretação distinta. Afonso d'Escragnolle Taunay, nos Ensaios Paulistas, diz à página 631:

Referências

  1. a b Rodrigo Bentes Monteiro (12 de setembro de 2007). «O rei de São Paulo». Revista de História da Biblioteca Nacional. Consultado em 18 de setembro de 2014. Arquivado do original em 4 de julho de 2014 
  2. Raízes do Brasil 1936, p. 121.
  3. a b c d Madre de Deus 1975, p. 138-141.
  4. Edison Veiga (25 de janeiro de 2021). «Aclamação de Amador Bueno: como São Paulo quase teve um rei em 1641». TAB. Consultado em 25 de janeiro de 2021 
  5. Freitas 2011, p. 6.
  6. Monteiro 1999, p. 22-23.
  7. Monteiro 1995, pp. 251-252.

Bibliografia

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  • Bastos, Pedro Ivo de Assis. História do Brasil. São Paulo: Editora Moderna, [AAAA].
  • Holanda, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1986.
  • Madre de Deus, Frei Gaspar da. Memórias para a História da Capitania de São Vicente. São Paulo/Belo Horizonte: EDUSP/Itatiaia, 1975.
  • Monteiro, John Manuel. Negros da Terra. São Paulo: Cia. das Letras, 1995.
  • Monteiro, Rodrigo Bentes. A rochela do Brasil: São Paulo e a aclamação de Amador Bueno como espelho da realeza portuguesa. São Paulo: [s.n.], 1999. 21-44 p.
  • Taunay, Afonso d'Escragnolle. O Epos bandeirante e São Paulo Vila e Cidade. São Paulo: Editoria Anhembi, 1958. '
  • Veiga, Edison (2021). «Aclamação de Amador Bueno: como São Paulo quase teve um rei em 1641». TAB. São Paulo: [s.n.]