Acrocinus longimanus

Acrocinus longimanus (denominado popularmente, em português (BRAarlequim, arlequim-da-mata, arlequim-grande,[6][7][8][9] arlequim-de-caiena,[10] besouro-da-figueira[6][10][11][12] e broca-da-jaqueira;[10][13] em castelhanoː escarabajo arlequín (COL; VEN),[10][14] aserrador arlequín (VEN), arlequín de cayena (ARG);[10] em inglêsː harlequin beetle)[3][10][15] é um inseto da ordem Coleoptera e da família Cerambycidae, subfamília Lamiinae;[1][2][3] um besouro cujo habitat são as florestas tropicais da região neotropical,[3] desde o sul do México até o Brasil e norte da Argentina, incluindo as ilhas caribenhas de Trindade e Tobago;[14] mas não avistado no Chile e no Uruguai.[16]

Como ler uma infocaixa de taxonomiaArlequim
Acrocinus longimanus
Ilustração de A. longimanus (macho); retirada de Georges Cuvierː Le Règne Animal Distribué D'après son Organisation, Pour Servir de Base à L'histoire Naturelle des Animaux et D'introduction à L'anatomie Comparée. [t.6-7] (1836-1849).
Ilustração de A. longimanus (macho); retirada de Georges Cuvierː Le Règne Animal Distribué D'après son Organisation, Pour Servir de Base à L'histoire Naturelle des Animaux et D'introduction à L'anatomie Comparée. [t.6-7] (1836-1849).
Fotografia em close-up dos élitros de um A. longimanus.
Fotografia em close-up dos élitros de um A. longimanus.
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Arthropoda
Classe: Insecta
Ordem: Coleoptera
Subordem: Polyphaga
Família: Cerambycidae
Subfamília: Lamiinae
Tribo: Acrocinini
Género: Acrocinus
Illiger, 1806[1]
Espécie: A. longimanus
Nome binomial
Acrocinus longimanus
(Linnaeus, 1758)[2]
Fotografia de A. longimanus (macho) na coleção do MZUSP - Museu de Zoologia da USP (Universidade de São Paulo; cidade de São Paulo, SP, Brasil) em 29-11-2019. Se expostas em luminosidade, suas cores vibrantes desaparecem após a morte.[3]
Distribuição geográfica
O besouro A. longimanus é encontrado em grande parte da região neotropical.
O besouro A. longimanus é encontrado em grande parte da região neotropical.
Sinónimos
Cerambyx longimanus Linnaeus, 1758[4]
Macropus longimanus (Linnaeus, 1758)
Macropophora longimanus (Linnaeus, 1758)[5]

A espécie fora descrita em 1758, por Carolus Linnaeus, com a denominação Cerambyx longimanus, em sua obra Systema Naturae (com sua localidade-tipo descrita como America), sendo a única espécie do gênero Acrocinus (táxon monotípico), criado por Johann Karl Wilhelm Illiger em 1806;[1][4][5][17] apresentando dimorfismo sexual aparente, com machos possuindo suas pernas anteriores muito mais desenvolvidas que as das fêmeas, chegando a atingir duas vezes o comprimento de seus corpos[7][18][19] e podendo exibir certo grau de curvatura e cerca de 15 centímetros;[3][14][16] daí provindo o seu epíteto específico latinoː longimanus.[15] Está relatado que eles usam suas pernas dianteiras em brigas com outros machos para monopolizar locais adequados de acasalamento e para a oviposição das fêmeas, mantendo suas pernas perpendiculares ao corpo e dando cabeçadas e mordidas em seus rivais.[3][20]

Descrição

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Machos e fêmeas possuem a mesma coloração vistosa,[18] porém eficiente para se camuflar na casca dos troncos cobertos de líquens e fungos das árvores onde se aninham;[15] sendo besouros grandes, com comprimento de corpo variando de 4,3 a 7,5[16] ou 7,6[15] centímetros e dotados de antenas pretas e filiformes, mais longas que o comprimento do corpo, com pequenas manchas alaranjadas nas suas junções; além de protórax com tubérculos longos, em forma de espinhos, um de cada lado, e élitros com fundo preto e padrões simétricos em amarelo-esverdeado a laranja-avermelhado (o que lhes valeu a denominação de "arlequim"), além de serem cobertos por densa pubescência.[9][16] O comprimento das pernas dianteiras dos machos é duas vezes maior que o comprimento das pernas dianteiras das fêmeas, que não apresentam a grande curvatura dos machos em sua porção superior.[14][21]

Este inseto é capaz de produzir um som audível aos seres humanos, quando manipulado ou importunado.[22]

Biologia

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Indivíduos adultos de Acrocinus longimanus possuem atividade diurna, mas também são atraídos pela luz artificial noturna.[14][15] Sobre sua biologia escreveu Gregório Bondar, no texto "Novos pormenores sobre a biologia do arlequim-da-mata" (publicado em Chácaras & Quintais, São Paulo, vol. 34, p. 245-247, 1926),[23] que esta espécie dá preferência por árvores definhadas ou em vias de se extinguir, atingidas pelo fogo, machado, ou recém derrubadas e que, na falta destas, podem aceitar árvores em perfeita saúde,[18][19] também dando a sua maior preferência por árvores da família Moraceae.[3] Nelas, as fêmeas desovam em média 11 e podendo variar, sua postura, de 8[21] a 20 ovos brancos e compridos; fazendo incisões horizontais de 2 centímetros, nos troncos, com suas mandíbulas e voando, depois, para outras paragens.[18][19]

As larvas nascem entre 6 a 8 dias após a postura e se desenvolvem por 1 ou 2 anos até atingir a maturidade, fazendo galerias logo abaixo da casca e que aumentam com seu crescimento até atingir o lenho; possuindo, as larvas, uma forma cilíndrica, levemente ovalada,[21] e medindo até 14 centímetros de comprimento quando desenvolvidas.[19] A serragem decorrente desta atividade é expelida pelos orifícios de abertura, na casca, e se acumula na base dos troncos,[18][19] até a formação da pupa; sendo que fêmeas as apresentam um pouco menores do que os machos.[21] Antes da metamorfose a entrada da galeria é vedada contra o ataque de predadores.[18] Os adultos são principalmente herbívoros, mas há casos em que se alimentaram de excrementos de animais.[9][14]

Lista de espécies e gêneros de árvores utilizadas por larvas de A. longimanus

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Forésia

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Nesta espécie é possível se avistar a forésia na presença de aracnídeos da ordem Pseudoscorpionida (pseudoescorpiões) pertencentes às espécies Cordylochernes scorpioides (a primeira descrita, em 1905), Parachelifer lativittatus e Lustrochernes intermedius, sob os seus élitros e asas; que se alimentam de pequenos ácaros que parasitam o besouro; sendo transportados, sem cair, graças aos fios de seda gerados por glândulas em suas garras.[15][22][24][25][26]

Uso humano

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Entre as principais ameaças do homem para esta espécie estão a destruição de seu habitat (desmatamento) e também, devido à sua aparência marcante, a coleta por colecionadores e entomologistas leigos ou estudantes. Apesar de sua aparência apossemática é um inseto sem perigo de manipulação.[14][22] Na cultura popular do Brasil a espécie já estampou a capa do álbum "O Cair da Tarde", lançado em 1997 pelo cantor de MPB Ney Matogrosso.[9]

Ver também

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Referências

  1. a b c «Coleoptera Cerambycidae Lamiinae (Acrocinus (em inglês). Cerambycidae Lamiinae.org. 1 páginas. Consultado em 22 de janeiro de 2024 
  2. a b «Coleoptera Cerambycidae Lamiinae (Acrocinus longimanus (em inglês). Cerambycidae Lamiinae.org. 1 páginas. Consultado em 3 de maio de 2020 
  3. a b c d e f g BOUCHARD, Patrice (2014). The Book of Beetles. A Lifesize Guide to Six Hundred of Nature's Gems (em inglês). United Kingdom: Ivy Press. p. 527. 656 páginas. ISBN 978-1-78240-049-3 
  4. a b «longimanus Linnæus, 1758 described in Cerambyx» (em inglês). AnimalBase. 1 páginas. Consultado em 3 de maio de 2020 
  5. a b Douglas, Laura Rosado; Salazar E., Julián A. (dezembro de 2005). «Coleóptera (III): sobre algunas localidades colombianas para conocer y estudiar a Acrocinus longimanus (L.) y Euchroma gigantea (L.) (Coleoptera: Cerambycidae-Buprestidae)» (PDF) (em espanhol). Boletín Científico del Centro de Museos 9 (Universidad de Caldas). p. 141. Consultado em 15 de novembro de 2023 
  6. a b «arlequim». Michaelis On-line. 1 páginas. Consultado em 3 de maio de 2020 
  7. a b HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles; FRANCO, Francisco Manoel de Mello (2001). Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa 1ª ed. Rio de Janeiro: Objetiva. p. 289. 2922 páginas. ISBN 85-7302-383-X 
  8. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda (1986). Novo Dicionário da Língua Portuguesa 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. p. 164. 1838 páginas 
  9. a b c d Pinelli, Natasha (6 de março de 2024). «Um besouro com pernas muito compridas e carapaça espalhafatosa: conheça o maravilhoso arlequim-da-mata». Instituto Butantan. 1 páginas. Consultado em 23 de julho de 2024 
  10. a b c d e f Eizemberg, Roberto; Loredo, Priscila F. Viana-Medeiros; Gomes, Bruno. «Glossário Entomológico Brasileiro». INCTEM (UFRJ). 1 páginas. Consultado em 3 de maio de 2020 
  11. HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles; FRANCO, Francisco Manoel de Mello (Op. cit., p.439.).
  12. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda (Op. cit., p.251.).
  13. HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles; FRANCO, Francisco Manoel de Mello (Op. cit., p.516.).
  14. a b c d e f g Fuentes-Mario, José A.; Salcedo-Rivera, Gerson A. (janeiro–junho de 2018). «Registro de Acrocinus longimanus (Linnaeus, 1758) (Coleoptera: Cerambycidae) en Sucre, Caribe Colombiano» (em espanhol). Revista Colombiana de Ciencia Animal - RECIA. Vol.10; no.1 (SciELO). 1 páginas. Consultado em 3 de maio de 2020 
  15. a b c d e f «Harlequin beetle» (em inglês). Encyclopædia Britannica. 1 páginas. Consultado em 3 de maio de 2020 
  16. a b c d e f Valle, Néstor Gerardo; Chatellenaz, Mario Luis; Damborsky, Miryam Pieri (19 de novembro de 2017). «Acrocinus longimanus (Linnaeus, 1758) (Coleoptera, Cerambycidae): First record from the province of Corrientes, Argentina» (em inglês). Check List 13(6) (ResearchGate). pp. 987–991. Consultado em 3 de maio de 2020 
  17. «Coleoptera Cerambycidae Lamiinae (Acrocinus Illiger, 1806)» (em inglês). Cerambycidae Lamiinae.org. 1 páginas. Consultado em 9 de novembro de 2023 
  18. a b c d e f SANTOS, Eurico (1985). Zoologia Brasílica, vol. 10. Os Insetos 2ª ed. Belo Horizonte: Itatiaia. p. 107-108. 244 páginas 
  19. a b c d e f Carrera, Messias (20 de outubro de 1964). «"Arlequim das matas" tem pernas duas vezes maiores do que o corpo». Folha de S.Paulo. São Paulo. Consultado em 3 de maio de 2020 
  20. Larsson, Folke Kustvall (19 de março de 2010). «Limb amputation by male Neotropical longhorn beetles during competition for females» (PDF) (em inglês). Biota Neotropica, vol. 10, no. 1 (SciELO). pp. 339–341. Consultado em 3 de maio de 2020. In cerambycid harlequin beetles, Acrocinus longimanus, there is intense male competition to monopolize suitable oviposition sites. In this species males use their forelegs in fights with other males (Zeh et al. 1992) 
  21. a b c d Link, Dionísio; Costa, Ervandil Corrêa (1983). «Morfologia e biologia do arlequim da mata, Acrocynus longimanus (L.,. 1758)». Revista do Centro de Ciências Rurais, vol. 13 (UFSM). pp. 123–134. Consultado em 3 de maio de 2020 
  22. a b c Aguirre, Luz Neidy Sequeda (maio de 2016). «Acrocinus longimanus» (em espanhol). Biota Colombiana (Blogger). 1 páginas. Consultado em 3 de maio de 2020 
  23. «Publicationsː Bondar, G.» (em inglês). Cerambycidae Lamiinae.org. 1 páginas. Consultado em 3 de maio de 2020 
  24. GODINHO JR., Celso L. (2011). Besouros e Seu Mundo. Com 1400 ilustrações em cores desenhadas pelo autor 1ª ed. Rio de Janeiro, Brasil: Technical Books. p. 222. 478 páginas. ISBN 978-85-61368-16-6 
  25. Piper, Ross (12 de fevereiro de 2014). «Cordylochernes scorpioides» (em inglês). Flickr. 1 páginas. Consultado em 3 de maio de 2020. This is a close-up of a mounted harlequin-beetle riding pseudoscorpion from the same beetle specimen. 
  26. Aguiar, Nair Otaviano; Bührnheim, Paulo Friedrich (2010). «Dispersão por forésia de pseudoscorpiões associados a insetos, na província de Urucu (Coari, Amazonas, Brasil)» (PDF). Entomologia na Amazônia Brasileira (INPA). p. 53-65. 362 páginas. Consultado em 27 de agosto de 2023 

Ligações externas

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