Planta actinorrízica
Actinorrízica é a designação dada às plantas angiospérmicas capazes de formar nódulos radiculares fixadores de azoto atmosférico em simbiose com actinobactérias do género Frankia.
Descrição
editarA formação de nódulos actinorrízicos ocorre em espécies de dicotiledóneas pertencentes a 3 ordens de angiospérmicas (Fagales, Cucurbitales e Rosales), compreendendo 8 famílias e 24 géneros (Betulaceae : Alnus; Casuarinaceae : Gymnostoma, Casuarina, Allocasuarina, Ceuthostoma; Coriariaceae : Coriaria; Datiscaceae : Datisca, Elaeagnaceae : Eleagnus, Hippophae, Shepherdia; Myricaceae: Myrica, Comptonia; Rhamnaceae: Colletia, Discaria, Kenthrothammus, Retanilla, Telguenea, Trevoa, Ceanothus; Rosaceae: Dryas, Purschia, Cowaniana, Cercocarpus, Chamaebatia).[1] As espécies capazes de formar nódulos actinorrízicos são árvores ou arbustos, excepto as pertencentes ao género Datisca.
Muitas são plantas comuns nas regiões de clima temperado, como os amieiros e várias espécies dos géneros Myrica, Comptonia, Dryas, Chamaebatia e Coriaria. Algumas espécies de Elaeagnus e de Hippophae produzem frutos comestíveis. Nas regiões tropicais e subtropicais, espécies do género Casuarina são extensamente cultivadas, sendo mesmo espécies invasoras em algumas regiões, como ocorre com Casuarina glauca e Casuarina equisetifolia na Flórida.
Distribuição e ecologia
editarAs plantas fixadoras de azoto estão presentes em todos os continentes com excepção da Antártida. A sua capacidade de formar nódulos radiculares fixadores de azoto confere àquelas espécies uma importante vantagem selectiva em solos pobres. A maior parte das plantas actinorrízicas são por isso espécies pioneiras, capazes de colonizar solos jovens e incipientes onde o azoto reactivo é escasso, como nas zonas de desabamento, nos materiais vulcânicos recentes e nas dunas e cascalheiras marginais dos rios.[2] Sendo das primeiras espécies a fixar-se nesses habitats, os arbustos e árvores actinorrízicos desempenham um papel crucial no processo de sucessão ecológica, enriquecendo os solos e permitindo que outras espécies se lhes sigam.[1][2] Plantas deste tipo são também comuns nas matas ripárias, contribuindo para a fixação das margens dos cursos de água.[2]
A ampla distribuição e abundância das espécies actinorrízicas faz delas um das principais fontes de azoto disponível no solo em vastas regiões da Terra, sendo particularmente importantes nas florestas temperadas.[1] O ritmo de fixação do azoto medido em algumas espécies de amieiro atinge os 300 kg de N2/ha/ano, próximo dos valores máximos já observados em leguminosas.[3]
Origem evolucionária
editarNão é conhecido qualquer registo fóssil de nódulos radiculares, mas foi observado pólen fóssil de plantas similares às modernas espécies actinorrízicas depositado há 87 milhões de anos. Assim, a origem da associação simbiótica permanece incerta, embora seja claro que a capacidade de associação entre plantas e espécies de actinobactérias do género Frankia tem carácter polifilético e provavelmente surgiu independentemente em diferentes clades.[4]
Apesar de polifiléticas, as plantas actinorrízicas e as leguminosas, os dois principais tipos de plantas fixadoras de azoto, partilham um ancestral relativamente próximo, já que todas pertencem à clade Rosid I. Este antepassado poderá ter desenvolvido uma "predisposição" para entra numa relação de simbiose com bactérias fixadoras de azoto e esta ter conduzido à posterior aquisição da capacidade fixadora pelos ancestrais das actuais espécies fixadoras. A programação genética usada no estabelecimento da relação simbiótica provavelmente recorreu a elementos seleccionados pelo estabelecimento de simbioses micorrizais arbusculares, uma forma de associação simbiótica entre plantas e fungos muito mais antiga e expandida no mundo vegetal.[5]
A formação de nódulos radiculares
editarTal como ocorre nas leguminosas, a nodulação é favorecida pela privação de azoto e inibida pela presença no solo de elevadas concentrações de azoto em forma mobilizável pelas plantas.
Dependendo da espécie de planta, são conhecidos dois mecanismos de infecção:
- Infecção dos pêlos radiculares, comum nas casuarinas e amieiros, iniciada pela infecção intracelular dos pêlos radiculares, seguida da formação de um pré-nodulo, uma estrutura simbiótica primitiva sem qualquer organização específica.;[6]
- Infecção através das fissuras formadas durante a emergência lateral de radículas. Este mecanismo, observado em espécies do género Discaria, resulta da entrada extracelular da bactéria, crescendo ao longo das fissuras e apenas depois se transformando numa infecção intracelular, mas sempre sem formação de pré-nodulos ou outras estruturas histológicas.
Em ambos os casos a infecção leva à divisão das células do periciclo e à formação de novos órgãos, consistindo em lobos anatomicamente similares às raízes laterais. Estes órgãos são em geral denominados actinorrizas.
Durante o processo de formação das actinorrizas, as células corticais do nódulo são invadidas por filamentos de Frankia originados no ponto de infecção ou no pré-nodulo. Os nódulos actinorrízicos têm em geral um crescimento indeterminado, com novas células a serem continuamente produzidas no apex e a serem sucessivamente infectadas. As células maduras contêm no seu citoplasma filamentos bacterianas que fixam activamente o azoto atmosférico.
Existem poucas informações sobre os mecanismos que determinam a nodulação e não se observou a existência de um equivalente ao factor de nodulação das infecções por rizóbios. Ainda assim, sabe-se que vários dos genes que participam na formação e funcionamento dos nódulos das leguminosas (codificando a formação de heamoglobina e outras nodulinas) estão também presentes nas plantas actinorrízicas, sendo lícito postular que tenham funções semelhantes.[7] A falta de informação genética sobre o género Frankia e sobre as plantas actinorrízicas é um dos factores que explica o menor conhecimento desta simbiose, mas a recente sequenciação de 3 genomas de Frankia[8] e o desenvolvimento de RNAi e ferramentas genómicas em espécies actinorrízicas[9][10] abre caminho para uma melhor compreensão do processo.
Notas
editarReferências
editar- Wall, Luis (2000), «The actinorhizal symbiosis», J. Plant Growth Regul., ISSN 0721-7595, 19: 167-182, doi:10.1007/s003440000027
- Schwintzer, Christa; Tjepkema, John (1990), The Biology of Frankia and Actinorhizal Plants, ISBN :012633210X Verifique
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(ajuda), Academic Press
- Benson, D; Clawson, M (2000), Evolution of the actinorhizal plant nitrogen-fixing symbiosis in Ecology: individuals, populations and communities, ISBN 1-898486-19-0, Norfolk, UK: Horizon Scientific Press
- Zavitovski, J; Newton, M (1968), «Ecological importance of snowbrush Ceanothus velutinusin the Oregon Cascade», Ecology, 49: 1134-1145
- Kistner, C; Parniske, M (2002), «Evolution of signal transduction in intracellular symbiosis», Trends in Plant Science, 7 (11): 511-518, doi:10.1016/S1360-1385(02)02356-7
- Laplaze, L; et al. (2000), «Cópia arquivada» (PDF), Mol Plant Microbe Interact., 1 (13): 107-12, PMID 10656591, consultado em 6 de novembro de 2008, arquivado do original (PDF) em 8 de setembro de 2005
- Vessey, JK; et al. (2004), «Root-based N2-fixing symbioses: Legumes, actinorhizal plants, Parasponia sp. and cycads», Plant and soil, ISSN 0032-079X, 266 (1): 205-230
- Gherbi, H; et al. (2008), «SymRK defines a common genetic basis for plant root endosymbioses with arbuscular mycorrhiza fungi, rhizobia, and Frankia bacteria.», PNAS, 105 (12): 4928-32, PMID 18316735
- Hocher, V; et al. (2006), «Expressed sequence-tag analysis in Casuarina glauca actinorhizal nodule and root.», New Phytologist, 169 (4): 681-8, PMID 16441749[ligação inativa]
- Normand, P; et al. (2007), «Genome characteristics of facultatively symbiotic Frankia sp. strains reflect host range and host plant biogeography», Genome Research, 17(1):7-15 (1): 7-15, PMID 17151343
Ligações externas
editar- «Frankia e as plantas actinorrízicas» (em inglês)