Adelchi Colnaghi (Milão, ? — Milão, 1917) foi um educador e jornalista italiano ativo no estado brasileiro do Rio Grande do Sul na passagem do século XIX para o século XX. Foi um destacado porta-voz dos interesses das colônias italianas no estado e o fundador e diretor do principal e mais longevo jornal italiano da época, o Stella d'Italia.[1][2]

Adelchi Colnaghi.

Foi um dos primeiros jornalistas italianos a atuar no Brasil, e manteve sua base na capital do estado, Porto Alegre.[3] Dirigiu vários periódicos voltados para a colônia italiana, como o Corriere Cattolico, que circulou de 1891 a 1895, e Il Commercio Italiano (1892).[4] O mais destacado foi o jornal Stella d'Italia, fundado e dirigido por ele, sendo ainda um prolífico articulista. Anunciado em 7 de fevereiro de 1902, começou a circular em 30 de março. Saía às quintas e domingos com matérias variadas de interesse dos colonos, tinha o apoio de todas as principais sociedades italianas então existentes no estado, e constitui uma fonte valiosa para o conhecimento do processo colonizador do período.[5] Segundo o historiador Mário Gardelin, que dedicou vários artigos ao jornal, "é uma fonte inexaurível de excelentes informações",[6] e "permite-nos chegar a uma série de conclusões, que melhor esclarecem todo o movimento histórico da presença dos italianos em nosso estado".[7] É uma das principais fontes de informação em particular sobre as escolas italianas.[8] Contribuiu para fomentar a profissionalização do italiano e as redes de sociabilidade urbana, e deu voz às comunidades rurais e o aos empreendedores.[1] O jornal recebeu uma menção honrosa na Exposição Universal de Milão de 1906.[1] Para Fernando Ronna, o Stella tornou-se "o decano da imprensa italiana, por ter durado 23 anos, mantendo um programa honesto e austero, inspirado no caráter independente do fundador e diretor Adelchi Colnaghi".[9] Sua longa duração foi "um caso ímpar na imprensa de língua italiana no Rio Grande do Sul", segundo Gelson Rech.[2]

Colnaghi defendia a preservação dos valores e tradições italianas e o fomento das atividades coloniais, mantendo sua individualidade diante da ameaça de aculturação. Desejava que o patriotismo e o espírito cívico fossem estimulados e fortalecidos a fim de criar uma identidade étnica homogênea e consolidar a solidariedade entre as colônias dispersas.[1][7] Em 1911 foi o representante de 22 sociedades italianas no Congresso de Italianos no Exterior, realizado em Roma.[10] Foi membro da loja maçônica Ausônia, sustentava ideias liberais e anticlericais, e entrou várias vezes em atrito com o clero e as publicações católicas.[8] Por muitos anos lutou pela criação de uma linha de navegação direta entre Gênova e o Rio Grande do Sul. A linha foi efetivamente criada, mas para seu pesar durou pouco tempo.[10]

Manteve uma constante campanha na imprensa em favor da educação dos filhos dos colonos e da qualificação das escolas coloniais e padronização do seu currículo. Foi inspetor permanente das escolas mantidas pelas sociedades italianas de Porto Alegre, colaborava na elaboração dos exames semestrais, e em seus artigos fez um amplo diagnóstico da questão educacional italiana em todo o estado, propondo uma série de aperfeiçoamentos. Propôs a realização de um congresso estadual de escolas italianas com vistas a uma reforma no ensino que beneficiasse a todas, mas a ideia não recebeu apoio das autoridades estaduais e não se materializou. Também deu aulas particulares de contabilidade, de língua italiana e de língua francesa.[2][8] Segundo Rech,

"Seus textos revelam uma linguagem culta, uma fineza argumentativa, uma postura decidida, uma crítica severa e mordaz no que se refere à educação [...] Seu apoio às escolas se refletia no espaço que dava a elas em seu jornal: publicava informações a respeito do horário das aulas, período de férias, dados sobre os eventos de inauguração, informações sobre início do ano letivo e exames finais, cartas de professores de escolas das colônias italianas, anúncios de aniversário das escolas, descrição de solenidades, anúncio de festas com vistas a arrecadar fundos, propaganda de livros, oferta de aulas particulares, correspondências de outras escolas, cartas de agentes consulares sobre a educação, divulgação de escolas religiosas italianas, eventos culturais relacionados às escolas, homenagens a professores e notícias de escolas do interior do Estado, entre outras".[2]

Morreu na pobreza em Milão em maio de 1917.[10] Seu obituário no jornal Città di Caxias foi pródigo em elogios, ressaltando sua idoneidade, idealismo e energia. Disse que seu desaparecimento causou grande pesar em todas as colônias, e que "em todos os pontos do estado onde a alma italiana combate a bela luta pacífica do trabalho, surge luminosa sua figura de forte batalhador pela grandeza de sua pátria e pela prosperidade e progresso da colônia. [...] Adelchi Colnaghi deixa atrás de si o rastro brilhante da sua obra fecunda e beneficente. Ele desaparece, mas o seu nome, mais que o mármore, permanecerá incorrupto nas páginas da história colonial".[11] No obituário d'O Brazil, foi dito que "prestou reais serviços à colônia italiana do Rio Grande do Sul, merecendo o respeito e a estima de todos os seus patrícios, conquistando também a consideração dos rio-grandenses, pelo interesse sempre demonstrado pelo extinto com tudo que se relacionava ao progresso do Rio Grande do Sul".[12]

Ver também

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Referências

  1. a b c d Barausse, Alberto; Bastos, Maria Helena Câmara; Ruggiero, Antonio de. "O jornal Stella d’Italia (1902-1925)". In: Transfopress Brasil — Transnational network for the study of foreign language press (XVIIIth - XXyh century), 07/12/2017
  2. a b c d Rech, Gelson Leonardo. "Homogeneidade do ensino nas escolas italianas do Rio Grande do Sul". In: X ANPED SUL. Florianópolis, 2014
  3. Favaro, Josué. "Dicionário da Imigração". Pioneiro, 16/07/1960
  4. "Jornalismo Colonial". Correio Riograndense, 14/05/1986
  5. Gardelin, Mário. "Stella d'Italia". Folha de Hoje, 25/07/1990
  6. Gardelin, Mário. "Stella d'Italia — Nova Pádua". Folha de Hoje, 09/11/1990
  7. a b Gardelin, Mário. "Stella d'Italia". Folha de Hoje, 08/08/1990
  8. a b c Rech, Gelson Leonardo & Tambara, Elomar Antonio Callegaro. "O jornal Stella d'Italia e a defesa da escola étnica italiana (1902-1904)". In: Historia da Educação, 2015; 19 (45):159-182
  9. Ronna, Fernando M. "A Imprensa Italiana no Rio Grande do Sul — 2ª parte". Pioneiro, 19/11/1975
  10. a b c "Il giornalismo coloniale". In: Cichero, Lorenzo et alii. [De Boni, Luís Alberto & Costa, Rovílio (orgs.)]. Cinquantenario della Colonizzazione Italiana nel Rio Grande del Sud, 1875-1925. Edição fac-similar. Posenato Arte & Cultura, 2000, vol. I, pp. 444-447
  11. "Adelchi Colnaghi". Città di Caxias, 28/05/1917
  12. "Necrologia". O Brazil, 26/05/1917