Mutavaquil I
Abul Abedalá Mutavaquil Ala Alá (em árabe: أبو عبد الله محمد المتوكل على الله; romaniz.: Abu Abd Allah al-Mutawakkil ala Allah), dito Mutavaquil I do Cairo[1] (em árabe: المتوكل على الله الأول), foi o sétimo califa abássida do Cairo sob os sultões mamelucos do Egito em três períodos diferentes, intercalados pelo califado dos filhos de Aluatique I. O primeiro entre 1362 e 1377, depois entre 1377 e 1383 e finalmente entre 1389 e 1406.
Mutavaquil I | |
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7º Califa Abássida no Cairo | |
Reinado | 1362 — 1377 1377 — 1383 1389 — 1406 |
Antecessor(a) | Almutadide I Almostacim Almostacim |
Sucessor(a) | Almostacim Aluatique II Almostaim |
Morte | 1406 |
Herdeiro(a) | Almostaim |
Dinastia | Abássida |
Pai | Almutadide I |
Filho(s) | Almostaim Almutadide II Almostacfi II Alcaim Almostanjide II |
Seu califado foi marcado por uma mudança importante no estado mameluco, a tomada do poder pelo mameluco búrjida Barcuque.
História
editarAlmançor Salá Asim Maomé, filho de Almuzafar Ceifadim Haji, foi feito sultão com apenas quatorze anos de idade sucedendo ao seu tio Um Nácer Haçane. Ele foi deposto em 1363 e seu primo, Al-Ashraf Sha'ban Zayn ad-Din, filho de Um Nasir al-Hasan, de doze anos lhe sucede, tendo como tutor o emir de origem mongol Yalbogha al-Umari.[2] Na Anatólia, os otomanos se tornaram uma força a ser reconhecida pelos vizinhos. O imperador bizantino João V Paleólogo tenta, sem sucesso, conseguir aliados no ocidente em troca da união religiosa. O papa Inocêncio VI que, como seu antecessor, está baseado em Avinhão, reconstruiu a liga antiturca envolvendo Chipre, Veneza e os Cavaleiros de Rodes, reagrupando-os em Esmirna em 1357. Ele então encarregou o patriarca latino de Constantinopla Pedro Tomás das negociações com João V, que fracassaram.[3]
A crueldade de Yalbogha acabou provocando o ódio da população do Cairo e ele terminou morto numa tentativa de derrubar o sultão. Os emires se revoltaram sob a liderança de Barcuque, um mameluco de origem circássio que havia sido comprado por Yalbogha. Os insurgentes foram derrotados e Barcuque se refugiou na Síria, mas o sultão Zaim Adim Xabam foi morto. Em 1376, seu filho Almançor Aladim Ali, que tinha apenas dez anos de idade, o sucedeu tendo Barcuque como tutor.[4]
Em 1377, o califa Mutavaquil foi brevemente substituído pela primeira vez por Zacarias Almostacim, filho de Aluatique I. Em 1381-82, Sale Zaine Adim Haji sucedeu ao irmão como sultão, mas foi derrubado por Barcuque, que convenceu os emires a entregarem o poder a um homem e não a uma criança.[4] Em 1383, o califa Mutavaquil I se tornou uma peça-chave num complô para reverter o golpe de Barcuque. Ele foi preso e levado a julgamento, com o usurpador pedindo a sua morte. Finalmente, a acusação é considerada ilegal.[5] Porém, Barcuque obriga Mutavaquil a renunciar e coloca em seu lugar Omar Aluatique, que é sucedido por seu irmão Almostacim (que também fora derrubado anos antes) três anos depois.[6]
Em 1389, o sultão Barcuque foi derrubado por um breve período por conta de uma revolta dos emires liderada pelo governador de Alepo. Barcuque então demonstra alguma covardia ao refugiar-se na cidadela do Cairo aos pés do califa e abdica. Os insurgentes então colocam Ali Almançor Aladim no poder.[5] Mutavaquil prudentemente se manteve à distância das intrigas políticas e, quando Barcuque voltou ao poder em 1405, o califa foi restaurado.[6]
Barcuque morreu em junho de 1399 e está enterrado num cemitério ao norte do Cairo. Seu filho, Nácer Alfaraje, o sucedeu e seu foi brevemente interrompido por seu irmão, Almançor Abdalazize, em 1405. Em 1406, Mutavaquil I morreu e seus filhos e descendentes serão califas até a extinção da função em 1517.
Ver também
editarMutavaquil I Nascimento: ? Morte: 1406
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Precedido por: Almutadide I |
Califas do Cairo 1362–1377 |
Sucedido por: Almostacim |
Precedido por: Almostacim |
Califas do Cairo 1377–1383 |
Sucedido por: Aluatique II |
Precedido por: Almostacim |
Califas do Cairo 1389–1406 |
Sucedido por: Almostaim |
Referências
- ↑ Gonçalves 2011, p. 400.
- ↑ André Clot. L'Égypte des Mamelouks 1250-1517. L'empire des esclaves. Le temps des crises / Horreurs et splendeurs. [S.l.: s.n.] p. 150
- ↑ Donald MacGillivray Nicol. Dictionnaire historique de l'islam. Byzance vassale des Turcs. Le règne de Jean V Paléologue. [S.l.: s.n.] p. 285
- ↑ a b André Clot. L'Égypte des Mamelouks 1250-1517. L'empire des esclaves. Le temps des crises / Les années de sang. [S.l.: s.n.] p. 158
- ↑ a b André Clot. L'Égypte des Mamelouks 1250-1517. L'empire des esclaves. Le temps des crises / Barkouk. [S.l.: s.n.] p. 158
- ↑ a b (em inglês) M. W. Daly & Carl F. Petry (1998). The Cambridge History of Egypt: Islamic Egypt, 640-1517. The regime of Circassian Mamlūks. 1. [S.l.]: Cambridge University Press. p. 303. 672 páginas. ISBN 978-0-521-47137-4
Bibliografia
editar- Gonçalves, Henriqueta Maria (2011). Metamorfoses: 25 anos do Departamento de Letras Artes e Comunicação. UTAD, Vila Real, Portugal: DLAC - Departamento de Letras Artes e Comunicação. ISBN 978-989-704-012-2
- «Biography of Al-Mutawakkil I» (em árabe). Islampedia.com. Consultado em 29 de novembro de 2012. Arquivado do original em 11 de junho de 2008
- Garcin, Jean-Claude (1967). «Histoire, opposition, politique et piétisme traditionaliste dans le Ḥusn al Muḥādarat de Suyûti» [History, opposition, politics and traditionalistic pietism in Suyuti's Ḥusn al Muḥādarat] (PDF). Institut Français d'Archéologie Orientale. Annales Islamologiques (em francês). 7: 33–90. Consultado em 22 de julho de 2010. Arquivado do original (PDF, 14.62 MB) em 24 de julho de 2011
- Holt, P. M. (1984). «Some Observations on the 'Abbāsid Caliphate of Cairo». University of London. Bulletin of the School of Oriental and African Studies (subscription required) . 47 (3): 501–507. JSTOR 618882