Albânia Veneziana
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Albânia Veneziana ou Albânia Véneta é uma região histórica da costa do Montenegro, que pertenceu aos domínios adriáticos da República de Veneza. Entre 1420 e 1797, este território veneziano foi um baluarte contra a expansão dos Turcos otomanos nos Balcãs.
Geografia
editarOs domínios venezianos na costa do Montenegro estendiam-se desde os limites meridionais da República de Ragusa (a atual Dubrovnik) até Durazzo (hoje a cidade albanesa Durres). Estes territórios venezianos nunca chegaram a mais de 20 km da costa. Após 1573 o limite sul da Albânia Veneziana foi movido para norte, na localidade chamada Confin (Kofin) perto de Budua (Budva), por causa das conquistas turcas de Antivari (Bar) e Dulcigno (Ulcinj).
As possessões venezianas estavam concentradas em redor da baía de Cattaro (Kotor) e incluíam também as pequenas cidades de Risano (Risan), Perasto (Perast), Teodo (Tivat), Castelnuovo (Herceg Novi), Budua (Budva) e Spizza (Sutomore).
Apesar do seu nome a Albânia Veneziana só era povoada por albaneses nas suas localidades mais meridionais: Antivari (Bar) e Dulcigno (Ulcinj). A grande maioria da população era constituída por falantes da língua veneziana (e por alguns servo-croatas).
O adjetivo "veneziana" era usado como contraposição com a "Albânia Otomana", que se estendia desde o Kosovo até ao norte da Grécia.
História
editarHistória da Albânia |
Pré-História
Antiguidade
Idade Média
Albânia Otomana
Pós-Independência
Albânia Contemporânea
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Os domínios venezianos no sul da Dalmácia estavam relacionados (entre outras coisas) com as populações dálmatas de língua neolatina, segundo Will Durant no seu livro The Renaissance. O académico francês afirma que estes ilírios romanizados de língua dálmata sobreviveram às invasões bárbaras dos Avaros e Eslavos graças ao comércio com Veneza, a quem pediram ajuda por volta do ano 1000 contra dois reinos servo-croatas do interior dos Balcãs.
A República de Veneza começou a estabelecer-se na Baía de Cattaro e rapidamente a língua veneziana assimilou a língua dálmata do território, segundo afirma Matteo Bartoli no seu livro Le parlate italiane della Venezia Giulia e della Dalmazia. Nesses séculos eram poucos os habitantes da costa montenegrina que falavam em servo-croata.
A partir de 1420 Veneza apoderou-se definitivamente da área (que desde então se chamou Albânia Veneziana) até 1797. Nesses quatro séculos a Albânia Veneziana não foi um território veneziano independente, mas fez parte da chamada "Dalmácia Veneziana" com capital em Zara (Zadar).
Os Turcos tentaram repetidamente conquistar a Albânia Veneziana, embora só conseguissem tomar as pequenas cidades de Antivari (Bar) e Dulcigno (Ulcinj) em 1573. Como consequência das invasões otomanas nos Balcãs, milhares de cristãos eslavos e albaneses tomaram refúgio na Dalmácia veneziana, alterando a proporção numérica das línguas aí faladas. Segundo Oscar Randi no seu livro Dalmazia etnica, incontri e fusioni, já nos finais do século XVII a população servo-croata era a maioria na Albânia Véneta.
Napoleão conquistou Veneza em 1797 e pôs fim aos seus domínios adriáticos, que foram englobados em várias entidades políticas desde então (Reino Napoleónico de Itália, Províncias Ilírias, Império Austro-Húngaro, etc.).
Em 1941 a Itália ocupou quase toda a costa adriática da Jugoslávia e criou a "Provincia di Cattaro", baseando-se nos territórios da Albânia Veneziana. Esta província italiana foi parte do "Governatorato di Dalmazia" até setembro de 1943. Mas depois da segunda guerra mundial a área de Cattaro (Kotor) voltou a ser parte da Jugoslávia e perdeu a sua relativa independência.
Atualmente os territórios que fizeram parte da Albânia Veneziana constituem a área costeira do independente Montenegro.
História das etnias romances da Albânia veneziana
editarSegundo o historiador Luigi Paulucci (no seu livro Le Bocche di Cattaro nel 1810) a população da Albânia Véneta, durante os séculos da República de Veneza, era principalmente de língua neolatina (mais de 66%) nas cidades (Cattaro, Perasto, Budua, etc.) em redor das "Bocas de Cattaro" (Kotor).
Mas nas áreas do interior mais da metade era constituída por gente de língua servo-croata, especialmente após o início do século XVIII. Além disso havia numerosas comunidades de língua albanesa, especialmente no extremo sul da Albânia Veneziana: Paulucci escreveu que nos anos napoleónicos em Dulcigno (Ulcinj) metade da população era albanesa, um quarto veneziana e um quarto servo-croata.
O apego a Veneza por parte das populações romances da Albânia Véneta era extremamente forte: em Perasto se deu o último combate contra Napoleão pela independência da República de Veneza em 1797 e aí foi sepultado o último "Gonfalão de Veneza" pela população em lágrimas.
No século XIX, segundo o historiador Scaglioni Marzio, as guerras de independência da Itália contra o Império Austro-Húngaro criaram uma situação de afastamento contra as comunidades italianas (ou venezianas) da Dalmácia austríaca. O resultado foi que em 1880 em Cattaro, segundo o censo austríaco desse ano, ficaram somente 930 italianos (ou seja, 31% de um total de 2910 habitantes). Apenas um século antes (em 1797) durante a queda da República de Veneza, os italianos eram todavia a maioria na cidade de Cattaro. A redução da etnia italiana foi mais marcada ainda em 1910, quando no censo austríaco os italianos eram apenas 13,6% da cidade de Cattaro, segundo Diego De Castro no seu livro Dalmazia, popolazione e composizione étnica. Cenno storico sul rapporto etnico tra Italiani e Slavi nella Dalmazia. Hoje restam cerca de 500 montenegrinos de língua italiana, principalmente na área de Cattaro (Kotor) e Perasto (Perast), agrupados na "Comunitá Nazionale Itáliana del Montenegro". Estes dálmatas italianos representam a parte mais ocidentalizada da atual sociedade montenegrina.
O "desaparecimento" da população de língua latina em Dalmácia foi quase total após a segunda guerra mundial. O linguista Matteo Bartoli calculou que os italianos eram 33% da população em toda a Dalmácia durante as guerras napoleónicas, enquanto hoje restam apenas uns 300 italianos na costa croata e uns 500 na costa do Montenegro.
Desde 2006 o estado independente do Montenegro tem como língua oficial a língua sérvia (dialeto "Ijekaviano"), que é falado pela grande maioria da população da que foi a Albânia Veneziana. Mas nas áreas onde ficou muito marcada a influência veneziana há organizações políticas que querem chamar "idioma montenegrino" à língua oficial do Montenegro e que propiciam o uso exclusivo do alfabeto latino. Tudo isto evidencia a influência das comunidades de língua latina na costa montenegrina, onde ainda se aprecia - especialmente nas igrejas e edifícios dos centros históricos de Cattaro (Kotor), Perasto (Perast) e Budua (Budva) - uma arquitetura em típico estilo veneziano.
Por último cabe destacar que:
1) A língua albanesa (parcialmente neolatina segundo alguns académicos) é oficial na cidade de Dulcigno (Ulcinj).
2) A língua italiana tem vindo a ser promovida ativamente no Montenegro graças ao esforço da "Comunitá Nazionale Italiana del Montenegro" e do "Comitato Cattaro" (associação 'Dante Alighieri').
3) Recentemente o centro histórico de Cattaro (Kotor) foi classificado "Património da Humanidade" pela UNESCO, graças em parte à arquitetura veneziana que o caracteriza.
Galeria fotográfica
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Catedral católica de São Trifon em Cattaro (Kotor)
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Igreja principal de Perasto (Perast) com o seu campanário em típico estilo veneziano
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Postal onde se aprecia a arquitetura veneziana de Perasto em 1900
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Velha Cattaro (Kotor)
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Muros venezianos (fortificados) de Cattaro (Kotor)
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Vieja Perasto (Perast). Iglesia S. Giorgio (ilha artificial)
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Mosaicos romanos em Risano (Risan)
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Igreja veneziana (abandonada) em Cattaro (Kotor)
Bibliografia
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- Bartl, Peter. Le picciole Indie dei Veneziani. Zur Stellung Albaniens in den Handelsbeziehungen zwischen der Balkan- und der Appenninenhalbinsel. In: Münchner Zeitschrift für Balkankunde 4 (1981-1982) 1-10.
- Bartl, Peter. Der venezianische Türkenkrieg im Jahre 1690 nach den Briefen des päpstlichen Offiziers Guido Bonaventura. En: Südost-Forschungen 26 (1967) 88-101.
- Bartoli, Matteo. Le parlate italiane della Venezia Giulia e della Dalmazia. Tipografia italo-orientale. Grottaferrata 1919.
- Cecchetti, Bartolomeo. Intorno agli stabilimenti politici della repubblica veneta nell'Albânia. En: Atti del Regio Istituto veneto di scienze, lettere ed arti. Bd. 3, Seria 4, S. 978-998. 1874.
- De Brodmann, Giuseppe. Memorie politico-economiche della citta e territorio di Trieste, della penisola d’Istria, della Dalmazia fu Veneta, di Ragusi e dell’Albânia, ora congiunti all’Austriaco Impero. Venezia 1821.
- De Castro, Diego. Dalmazia, popolazione e composizione etnica. Cenno storico sul rapporto etnico tra Itáliani e Slavi nella Dalmazia. ISPI 1978.
- Durant, Will. The Renaissance. MJK Books. New York, 1981.
- Gelcich, Giuseppe. Memorie storiche sulle bocche di Cattaro. Zara 1880.
- Martin, John Jeffries. Venice Reconsidered. The History and Civilization of an Italian City-State, 1297–1797. Johns Hopkins UP. New York, 2002.
- Norwich, John Julius. A History of Venice. Vintage Books. New York, 1989.
- Paulucci, Luigi. Le Bocche di Cattaro nel 1810 Edizioni Italo Svevo.Trieste, 2005.
- Randi, Oscar. Dalmazia etnica, incontri e fusioni. Tipografie venete. Venezia 1990.
- Scaglioni Marzio. A presenza italiana in Dalmazia 1866-1943 Histria ed. Trieste,2000.
- Schmitt, Oliver. Das venezianische Albanien (1392 - 1479). (=Südosteuropäische Arbeiten. 110). München 2001.
- Tagliavini, Carlo. Le origini delle lingue neolatine. Patron Ed. Bologna 1982.
Ligações externas
editar- A luta entre Veneza e o Império Turco pela "Albânia Veneta" no século XVI (em italiano)
- Cattaro (Kotor) e as áreas de língua veneziana do Montenegro (em italiano)
- Unesco: Natural and Culturo-Historical Region of Kotor (Cattaro) (em inglês)
- Historical review of the italian traces in Montenegro (em inglês/italiano)
- Dante Alighieri association in Kotor (Cattaro) (em italiano)
- Perasto (Perast) e o último "Gonfalão de Veneza" (em inglês)
- Italianos em Montenegro