Alfred Dreyfus
Alfred Dreyfus (AFI [alfrɛː drify]; Mulhouse, 9 de outubro de 1859 — Paris, 12 de julho de 1935) foi um capitão da artilharia do exército francês, de fé e origem judaica. Injustamente acusado e condenado por traição - depois anistiado e reabilitado - foi personagem central de um famoso episódio de conotações sociais e políticas, durante a Terceira República Francesa, que ficou conhecido como o caso Dreyfus.
Alfred Dreyfus | |
---|---|
Alfred Dreyfus em 1894
| |
Nome completo | Alfred Dreyfus |
Nascimento | 9 de outubro de 1859 Mulhouse, Alto Reno, França |
Morte | 12 de julho de 1935 (75 anos) Paris, França |
Nacionalidade | Francês |
Etnia | Judeu |
Ocupação | Militar |
Serviço militar | |
País | França |
Serviço | Exército Francês |
Anos de serviço | 1880–1918 |
Patente | Tenente-coronel |
Unidades | Artilharia |
Conflitos | Primeira Guerra Mundial |
Condecorações | Légion d'honneur |
Religião | Judaísmo |
Assinatura | |
O Caso
editarIncriminado por um conjunto de documentos falsos, conhecidos como o le bordereau, seu caso repercutiu por todo o mundo. Inserida no quadro de uma campanha nacionalista e revanchista contra o Império alemão, que acabou por assumir características de antissemitismo,[1] com a condenação dos judeus como não-franceses, essa farsa foi sendo aos poucos esclarecida graças à atuação dos escritores Anatole France (1844-1924) e Émile Zola (1840-1902), além do brasileiro Rui Barbosa, uma das vozes pioneiras no caso. O incidente envolveu toda a sociedade francesa, enfraqueceu os monarquistas e abalou o antissemitismo nacional.[2]
A Prisão
editarEm 1894 Alfred Dreyfus foi acusado por monarquistas de ter vendido segredos militares aos alemães. Foi preso a 15 de outubro de 1894 e, em 5 de janeiro do 1895, foi degradado, sendo-lhe retirados os galões de oficial numa cerimônia humilhante. Foi condenado unanimemente à prisão perpétua na Ilha do Diabo, na Guiana Francesa.[3]
A revelação
editarEm 13 de Janeiro de 1898, no jornal L'Aurore, Émile Zola escreveu a famosa carta aberta ao presidente da França, intitulada J'accuse...! (Eu acuso...!),[1] denunciando o Alto Comando Militar francês, os tribunais e todos os que condenaram Dreyfus, incendiando a opinião pública nacional. O escritor se apoiava no trabalho do chefe do serviço secreto francês, coronel Georges Picquart, que concluía que os documentos contra Dreyfus haviam sido falsificados.[3]
Émile Zola acabou condenado a um ano de prisão, por difamação, mas revelações da falsificação de documentos levaram Dreyfus a ser novamente julgado.[3] Um tribunal militar, em 1899, novamente condenou-o à prisão, desta vez por um período de dez anos.[3] Anos depois, Dreyfus teve sua condenação anulada, por ordem do Executivo, deixou a prisão e foi viver com uma das suas irmãs, em Carpentras, e, mais tarde, em Cologny. Foi oficialmente reabilitado em 1906, e, em 15 de Outubro do mesmo ano, foi-lhe dado o comando da unidade de artilharia de Saint-Denis.[1] Apesar de amplas provas demonstrando que o verdadeiro espião era Charles-Ferdinand Walsin Esterhazy, e que o julgamento de Dreyfus havia sido objeto de erros grosseiros motivados pelo antissemitismo e pela incapacidade do exército de assumir seus erros, o exército continuou sustentando a acusação contra Dreyfus, de ser um traidor ou pelo menos suspeito de traição.[3]
Em 4 de Junho de 1908 sofreu um atentado a bala durante a cerimónia da transferência das cinzas de Émile Zola para o Panteão de Paris, ficando apenas ferido num braço. O autor do atentado, o jornalista Louis Grégori, foi absolvido da acusação de tentativa de homicídio.[4][5] Alfred Dreyfus morreu em Paris,[3] a 12 de julho de 1935 e foi ali sepultado no Cemitério do Montparnasse.[6]
Filmes Relacionados
editar- L'Affaire Dreyfus, Georges Méliès, Stumm, França, 1899
- Trial of Captain Dreyfus, Stumm, Estados Unidos, 1899
- Dreyfus, Richard Oswald, Alemanha, 1930
- O Caso Dreyfus, Kraemer FW, Rosmer Milton, Estados Unidos, 1931
- A Vida de Emile Zola, Estados Unidos, 1937
- I Accuse!, José Ferrer, Inglaterra, 1958
- Prisoner of Honor, Ken Russell, Estados Unidos, 1991 (centra-se nos esforços do coronel Picquart a fim de anular a sentença de Alfred Dreyfus; o coronel Picquart foi interpretado pelo ator americano Richard Dreyfuss, que cresceu pensando que Alfred Dreyfus e [ele] eram da mesma família)
- L'Affaire, Dreyfus, Yves Boisset, França, 1995 (lançado na Alemanha sob o título Die Affäre de Dreyfus)
- J'accuse, Roman Polanski, França, 2019
Galeria
editar-
Cerimônia de degradação de Alfred Dreyfus.
-
Dreyfus Le Traitre: caricatura da década de 1890 mostrando-o como traidor.
-
Capa do Le Petit Journal sobre o caso Dreyfus
-
Casas em que permaneceu durante o período detido na Ilha do Diabo.
-
Título do artigo de Émile Zola em defesa de Dreyfus.
-
Dreyfus durante seu segundo julgamento, em Rennes.
-
Georges Picquart, diretor da inteligência militar e personagem importante para a comprovação de sua inocência.
-
Reabilitado em 1906 (à direita). No centro, um investigador do caso, o capitão Antoine Louis Targe.[7]
-
Família Dreyfus.
-
Alfred Dreyfus em 1930.
Ver também
editar- Antijudaísmo
- Antissemitismo
- Charles-Ferdinand Walsin Esterhazy - O verdadeiro culpado
- L'Affair Dreyfus
Referências
- ↑ a b c ABRAHÃO, Miguel M. (1996). A Pele do Ogro. São Paulo: Editora SHekinah
- ↑ BBC Radio 4, 8 October 2009,In Our Time, Melvyn Bragg; Robert Gildea, Professor of Modern History at Oxford University; Ruth Harris, Lecturer in Modern History at Oxford University; Robert Tombs, Professor of French History at Cambridge University. (em inglês) Página visitada em 25 de Maio de 2022
- ↑ a b c d e f BREDIN, Jean-Denis (1995). O Caso Dreyfus. São Paulo: Editora Scritta
- ↑ Campos Posada, Ainhoa (4 de maio de 2020). «El caso Dreyfus: el complot antisemita que dividió Francia». National Geographic (em castelhano). Consultado em 25 de Maio de 2022
- ↑ (em português) Terramagazine - Zola, Dreyfus e o Panteão. Acessado em 25 de Maio de 2022.
- ↑ Alfred Dreyfus (em inglês) no Find a Grave [fonte confiável?]
- ↑ (em francês) Dreyfus - Pour ou contre Dreyfus. Página acessada em 3 de Novembro de 2010.
Bibliografia
editar- Abrahão, Miguel M. - A Pele do Ogro - Ed. Shekinah - 1996
- Bredin, Jean-Denis - O Caso Dreyfus - Ed. Scritta - 1995
- Dreyfus, Alfred - Diários completos do capitão Dreyfus - Org. e apresentação: Alberto Dines. Imago. 1995.
- Proust, Marcel - Em Busca do Tempo Perdido - 3 vol. - Ed. Ediouro - 2002
Ligações externas
editar- Dreyfus Reabilitado
- Referências a Alfred Dreyfus nos jornais europeus da época -
- Manuscritos e cartas pessoais de Alfred Dreyfus
- Plataforma online no site Musée d'art et d'histoire du judaïsme