Andrônico Camatero
Andrônico (português brasileiro) ou Andrónico (português europeu) Ducas Camatero (em grego: Ἀνδρόνικος Δούκας Καματηρός), comumente referido apenas como Andrônico Camatero,[1] foi um aristocrata, oficial sênior e teólogo sob o imperador Manuel I Comneno (r. 1143–1180), melhor conhecido por seu tratado teológico Arsenal Sagrado.
Andrônico Camatero | |
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Nascimento | 1110 Constantinopla |
Morte | 1175 Constantinopla |
Cidadania | Império Bizantino |
Progenitores | |
Cônjuge | ? Kantakouzenos |
Filho(a)(s) | Basílio Ducas Camatero, Eufrósine Ducena Camaterina, John Doukas Kamateros, Theodora Kamaterina |
Irmão(ã)(s) | João Ducas Camatero |
Ocupação | servidor público, escritor |
Lealdade | Manuel I Comneno |
Família e carreira
editarNascido provavelmente cerca de 1110,[2] Andrônico Camatero foi o filho de Gregório Camatero, um homem de origem humilde mas bem educado, que reteve vários postos seniores sob os imperadores Aleixo I (r. 1081–1118) e João II Comneno (r. 1118–1143) e avançou para o alto posto de sebasto, e de Irene Ducena, provavelmente a filha do protoestrator Miguel Ducas, cuja irmã foi esposa de Aleixo I.[3][4] Andrônico teve vários irmãos, mas com a exceção de um irmão Miguel, que morreu jovem, e possivelmente outro irmão chamado Teodoro, sobre cuja morte João Tzetzes compôs um epitáfio, eles são desconhecidos.[5] O pansebasto sebasto e logóteta do dromo João Ducas Camatero também foi provavelmente seu irmão,[6] em vez de seu filho, como Polemis afirmou.[7] Com Andrônico e João, a família Camatero alcançou seu ápice.[8]
Sua relação com a dinastia comnena reinante — do lato de sua mãe, Andrônico foi o segundo primo do imperador Manuel I (r. 1143–1180)[9] — assegurou-lhe sua ascensão. Andrônico foi agraciado com o alto posto de sebasto, e em meados da década de 1150, reteve o posto relativamente sênior de mestre das petições. Ele então avançou para o posto de eparca de Constantinopla (1157–1161) e finalmente grande drungário da guarda (1166–1176),[6][10][11] dois dos mais altos ofícios judiciais no império.[12] Em 1161, participou de uma embaixada que dirigiu-se ao Principado de Antioquia para escoltar a segunda esposa de Manuel I, Maria de Antioquia, para Constantinopla.[1]
Um habilidoso teólogo,[7] desempenhou um papel proeminente nas questões religiosas de Manuel I com a Igreja; não apenas editou as discussões teológicas de Manuel como parte de seu Arsenal Sagrado, mas em 1173 Manuel confiou-lhe a aplicação de um decreto imperial acerca de bispos ausentes, e em outros lugares é visto introduzindo o abade do Mosteiro de Patmos para Manuel.[13] O momento de sua morte é desconhecido, mas foi provavelmente cerca de 1180.[2] Ele foi casado e teve vários filhos, dos quais Basílio também ascendeu a alto ofício. De suas duas filhas conhecidas, Teodora casou-se com o megaduque Miguel Estrifno, enquanto Eufrósina casou-se com o futuro Aleixo III Ângelo (r. 1195–1203).[8][14]
Escritos
editarAndrônico Camatero era bem educado e teve relações com muitos dos literatos proeminentes de seu tempo: poemas lhe foram dedicados por Teodoro Pródromo e Gregório Antíoco, e ele correspondeu-se com Jorge Tornício, Eutímio Maláces, Teodoro Bálsamo e João Tzetzes, com que aparenta ter estado "em termos íntimos" (Polemis).[15] Camatero escreveu um epigrama sobre a procissão do Espírito Santo, mas é melhor conhecido por seu Arsenal Sagrado (em grego: Ἱερὰ Ὁπλοθήκη; romaniz.: Hiera Hoplothēkē), um "uma extensa exposição dogmática e teológica sobre várias heresias", modelado sobre a Panóplia Dogmática de Eutímio Zigabeno mas expandido para incluir tratados contra os ensinamentos da Igreja Católica e da Igreja Armênia. A obra foi comissionada pelo imperador Manuel, e suas duas partes principalmente consistem do que Camatero alega ser transcrições verbatim de disputas teológicas ocorridas entre Manuel e emissários católicos e armênios em Constantinopla.[7][16] Com base nesta informação, a composição do trabalho pode ser datado para o período 1172-1174.[17]
O Arsenal Sagrado rapidamente adquiriu popularidade como o "livro mais importante que um teólogo ortodoxo podia ler de modo a enfrentar a Igreja Católica" (Bucossi) e foi mantido em alta estima por sua proposta até o século XV.[18] Após o Segundo Concílio de Lyon em 1274, o patriarca pró-unionista João XI compôs uma refutação de seus argumentos teológicos,[2] mas elogiou sua língua e estilo.[19] Os trabalhos sobreviveram em dois manuscritos, o Monacense Grego 229 do século XIII, agora em Munique, e o Vêneto Marciano Grego 158 do século XIV na Biblioteca Marciana em Veneza, que pertenceu ao cardeal Basílio Bessarião. Ao menos oito outros manuscritos contêm partes da primeira metade.[20] Uma edição crítica completa da obra ainda não foi publicada; a primeira parte, contra a Igreja Católica, foi publicada por Alessandra Bucossi como Andronicus Camaterus. Sacrum Armamentarium, Pars prima (Corpus Christianorum Series Graeca 75) Brepols, Turnhout 2010.
Referências
- ↑ a b Polemis 1968, p. 126.
- ↑ a b c Bucossi 2009, p. 114.
- ↑ Polemis 1968, p. 78–79, 126.
- ↑ Bucossi 2009, p. 115–116.
- ↑ Polemis 1968, p. 79.
- ↑ a b Magdalino 1993, p. 259.
- ↑ a b c Polemis 1968, p. 127.
- ↑ a b Kazhdan 1991, p. 1198.
- ↑ Bucossi 2009, p. 116.
- ↑ Bucossi 2009, p. 114–115.
- ↑ Guilland 1967, p. 576.
- ↑ Magdalino 1993, p. 230, 261–262.
- ↑ Magdalino 1993, p. 259–260.
- ↑ Polemis 1968, p. 127ff.
- ↑ Polemis 1968, p. 126–127.
- ↑ Bucossi 2009, p. 111–114, 117ff..
- ↑ Bucossi 2009, p. 117–130.
- ↑ Bucossi 2009, p. 113–114.
- ↑ Polemis 1968, p. 127 (nota 7).
- ↑ Bucossi 2009, p. 112, 114.
Bibliografia
editar- Bucossi, Alessandra (2009). «New historical evidence for the dating of the Sacred Arsenal by Andronikos Kamateros». Revue des études byzantines. 67: 111–130. doi:10.3406/rebyz.2009.4826
- Guilland, Rodolphe Joseph (1967). Recherches sur les Institutions Byzantines, Tomes I–II. Berlim: Akademie-Verlag
- Kazhdan, Alexander Petrovich (1991). The Oxford Dictionary of Byzantium. Nova Iorque e Oxford: Oxford University Press. ISBN 0-19-504652-8
- Magdalino, Paul (1993). The Empire of Manuel I Komnenos, 1143–1180. Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 0-521-52653-1
- Polemis, Demetrios I. (1968). The Doukai: A Contribution to Byzantine Prosopography. Londres: The Athlone Press