António Garcia
Este artigo não cita fontes confiáveis. (Novembro de 2020) |
António Garcia (Lisboa, 3 de Fevereiro de 1925 – Lisboa, 17 de Junho de 2015) foi um arquitecto e designer ‘Global’ português.
António Garcia | |
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Nascimento | 3 de fevereiro de 1925 Lisboa |
Morte | 17 de junho de 2015 (90 anos) |
Cidadania | Portugal |
Ocupação | arquiteto, designer |
Figura de referência no Design Português, a sua obra estende-se nas áreas do Design de Comunicação, Design de Equipamento e Design de Interiores, sendo comparado a Peter Behrens devido à sua capacidade de projectar nas mais diversas escalas. O seu trabalho mais reconhecido é o design das embalagens de tabaco SG Filtro, SG Ventil, SG Gigante e Ritz; as capas de clássicos da Literatura para a editora Ulisseia; e a cadeira Osaka exposta na Expo Osaka’70.
Tal como outros designers da sua geração—pioneira no ‘Design’ Português—, dividia a sua actividade e interesse com a Arquitectura, foi considerado auto-didacta e integrava-se na elite do Design Português, colaborando com Sena da Silva (1 ano mais novo) nos anos 50, e associando-se a Daciano da Costa (5 anos mais novo) em 1974.
“ | O designer era o que desenhava, mas na verdade não há um correspondente directo em português. Talvez lhe possamos chamar ‘o risco,’ como se estivéssemos na ‘sala do risco.’ | ” |
Biografia
editarAntónio Garcia, cedo manifestou habilidades na construção de brinquedos e trabalhos manuais. A mãe apercebendo-se da vocação do filho, apoiou o seu percurso na área artística.
Aos 13 anos, desenhava as separatas com construções de armar para a revista de banda desenhada O Mosquito, e aos 16 anos, tornava-se desenhador assalariado no Ministério da Economia. No final dos anos 40, frequentaria o curso de Desenhador Litógrafo, em horário nocturno, na Escola Secundária António Arroio, onde receberia formação de nomes como Rodrigues Alves, Aires de Carvalho, Estrela Faria e Lino António.
Ambicionava ser arquitecto e tirar o curso de Arquitectura na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, mas não foi possível. Apesar disso, não o impediu de em 1955 assumir o projecto da fábrica de refrigerantes Canada Dry—na altura terceira marca com maior cota no mercado de refrigerantes, a seguir à Coca-Cola e Pepsi—, em Vila Franca de Xira.
Em 1952, vence concurso promovido pela editora Ulisseia, graças ao desenho das capas para os livros O Adeus às Armas, de Ernest Hemingway e A Casa de Jalna, de Mazo de la Roche. Fruto dessa distinção desenha, entre 1954 e 1970, capas para outros clássicos da Literatura como 1984 de George Orwell, O Midas Negro de Jan Carew, ou Piedade Inútil de Guido Piovene, perfazendo um total de cerca de 60 capas elaboradas a um ritmo quinzenal.
Em 1959 instala-se em atelier próprio num 4º andar, situado na Avenida da Liberdade, em Lisboa, mantendo-o durante 40 anos. E é como profissional independente que em 1964, faz o re-design da embalagem de tabaco SG Ventil, iniciando colaboração com a Tabaqueira, que se estenderia ao design das embalagens de tabaco Sintra (1965); High Life, Monserrate, Kayak (1966); SG Gigante, SG Filtro (1968); Ritz (1970) e Plaza (1974).
Em 1974, António Garcia e Daciano da Costa associam-se na direção de um Gabinete de Design, designado Risco—Projectistas e Consultores de Design, após convite da Companhia de Seguros Império.
Em 2015, falece com 90 anos de idade, mais de 75 dos quais dedicados ao ‘ofício.’
Cadeira Osaka
editarNo âmbito da participação portuguesa na Exposição Universal de Osaka’70, no Japão, António Garcia projecta a cadeira Osaka em 1969. A cadeira insere-se num projecto, que envolveu também Daciano da Costa, para um espaço exterior ao Pavilhão de Portugal, ocupado pelo Instituto Nacional do Café, e que António Garcia ficou encarregue pelo respectivo Design de Equipamento. Com as dimensões de 60×71×43 cm, a icónica cadeira é considerada “racional, simples e simultaneamente requintada,” apropriada tanto num ambiente de época luxuoso como numa humilde casa de campo. A linguagem de produto utilizada coloca em questão funções simbólicas do objecto, como o próprio autor explica—“propõe a subversão dos preconceitos que nos levam a falar de ‘moderno,’ ‘antigo,’ de ‘luxo’ e de ‘sobriedade.’”
A necessidade de economia e rapidez no transporte para o Japão via aérea, é o motivo pelo qual a cadeira é projectada para ser compacta, leve e de fácil montagem e desmontagem. São inicialmente produzidos 60 exemplares em madeira de pinho e pele natural, pela empresa Móveis Sousa Braga.
Em 1971, na feira ANUGA em Colónia, Alemanha, a cadeira Osaka que integrou o Stand do Fundo de Fomento de Exportação cativou o interesse de uma empresa dinamarquesa de mobiliário. Os dois representantes da empresa pediram mais informações acerca da cadeira, e revelaram interesse numa encomenda entre 80 a 80.000 unidades. Por que não se inseria no âmbito da exposição a comercialização da cadeira Osaka, informações mais detalhadas acerca da quantidade, preços, transporte e prazos não poderam ser dadas. António Garcia juntou então, José Pedro Olaio (Casa Olaio) e José Sousa Braga (Móveis Sousa Braga), responsáveis dos fabricantes, no sentido de elaborar uma proposta à empresa dinamarquesa, o que apesar da insistência do Designer não aconteceu. Especula-se que o motivo do insucesso deste negócio em particular, e também de uma projeção internacional maior dos Designers portugueses nas décadas de ’60 e ’70, se tenha prendido com o fraco desenvolvimento industrial do país. No mercado nacional, mais propriamente em lojas de mobiliário em Lisboa, António Garcia revelou ter observado reproduções não autorizadas a serem comercializadas nos anos ’70 e ’80.
A produção da cadeira viria mais tarde a ser assegurada pela empresa de mobiliário FOC (Fábrica Osório de Castro), inserindo-se numa aposta com a “necessidade imperiosa de criar modelos de concepção própria para as solicitações do mercado de exportação.” É nesta altura que se comercializa, para a gama standard, variações em lona, tecido verde brilhante, tecido vermelho, imitação de couro e couro. A FOC viria a promover, nos anos 80, a comercialização da cadeira no mercado francês, juntamente com a cadeira Sena de Sena da Silva, sob o slogan “A Supremacia do Bom Senso.”
Cronologia
editar- ’30: Revista O Mosquito
- ’40: Frequência de curso de Desenhador Litógrafo na Escola Secundária António Arroio, Desenhador assalariado no Ministério da Economia
- 1952: Vencedor de concurso promovido pela editora Ulisseia
- 1953: Saprel (Marca de Identidade Visual)
- 1954: Herold Strol e Strol África (Design de Interiores)
- 1955: Cadeira Gazela (Design de Mobiliário); Cartaz Businas Klaxon (Design de Comunicação)
- 1956: Fábrica de Refrigerantes Canada Dry em Vila Franca de Xira (Arquitectura), Ecomar (Marca de Identidade Visual)
- 1957: Estana, Herold-Indica (Marca de Identidade Visual)
- 1958: Messa—Máquinas de Escrever (Marca de Identidade Visual)
- 1959: Instalação de ateliê próprio, Messa (Design de Exposição); Tabaco Sagres, Cerveja Pérola e São Jorge (Design de Embalagem); Cartazes “O Verão vem passar o Inverno a Portugal” e “Good Goods from Portugal” (Design de Comunicação)
- 1960: Instituto Nacional de Investigação Industrial (Design de Exposição); Empresa Geral do Fomento e Profabril do Grupo Mello, Escritório de Afonso Valla, Geladaria A Veneziana (Design de Interiores)
- 1961: Sorefame (Marca de Identidade Visual), SACOR (Design de Exposição)
- 1963: Profabril, Crédito Predial Português (Marca de Identidade Visual), Apartamento Afonso Valla na Lapa (Lisboa), Navio Príncipe Perfeito (Design de Interiores)
- 1964: SG Ventil (Design de Embalagem); Centrol, Autosil, Codepa (Marca de Identidade Visual)
- 1965: Sintra (Design de Embalagem); Seta (Marca de Identidade Visual)
- 1966: High Life, Monteserrate, Kayak (Design de Embalagem), Livro A Ponte Salazar (Design de Comunicação)
- 1967: Companhia Mineira do Lobito (Marca de Identidade Visual)
- 1968: SG Gigante, SG Filtro (Design de Embalagem); Residência Vieira Borges em Cascais, Moradia Silva Brito no Restelo (Arquitectura); Hotel Alvor Praia, Moradia e Picadeiro Afonso Valla, Lisnave (Design de Interiores); Secretária PS-1 e PS-2, Mesa de trabalho PM-2 (Design de Mobiliário)
- 1969: Cadeira Osaka, Cadeirão Relax, Mesas empilháveis Cubox4 (Design de Mobiliário)
- 1970: Ritz (tabaco) (Design de Embalagem); Sidul, Covina (Design de Exposição); Móveis Sousa Braga, Dialux, Cajuca, Neo—Farmacêutica (Marca de Identidade Visual); Livro Ante, Após, Até de Fernando Santos, Selos “Osaka—Expo’70” (Design de Comunicação)
- 1971: Banco de Paris (Design de Interiores), Complexo turístico Aldeia dos Navegantes em Vilamoura
- 1972: Hotel Sotuma (Design de Interiores), Candeeiros CUBO-C-73 e LAM-C-4-73 (Design de Produto), Símbolo internacional do Vinho do Porto (Marca de Identidade Visual), Publicação madeinportugal, Selos “Mês Internacional do Coração” (Design de Comunicação)
- 1973: Hotel Terminus, Moradia Joaquim Ferreira na Parede, Setenave (Design de Interiores); Suporte versátil para tampos de mesa (Design de Mobiliário); Selos “6º Centenário da Aliança Anglo-Portuguesa 1373-1973” (Design de Comunicação)
- 1974: Associação com Daciano da Costa na direção do Gabinete de Design Risco—Projectistas e Consultores de Design; Plaza (Design de Embalagem); Casa sobre o Vale do Jamor em Queijas (Arquitectura); Hotel Delfim (Design de Interiores), Linha de Mobiliário GARRIGUE e CONTAINERS (Design de Mobiliário)
- 1976: Sorefame (Design de Exposição)
- 1977: Selos “Dia Nacional da Luta Anti-Alcoolismo” (Design de Comunicação)
- 1979: Companhia dos Telefones (Design de Interiores)
- 1980: Restaurante AVIS, Bingo no CC das Amoreiras (Design de Interiores)
- 1981: Siderurgia Nacional (Marca de Identidade Visual)
- 1989: Banco Totta em Luanda (Design de Interiores)
- 1990: Banco BNU, Quimigal (Design de Interiores)
- 1991: Banco Fonsecas e Burnay (Design de Interiores)
- 1993: Companhia de Seguros Império (Design de Interiores)
- 1995: Hotel Globo em Luanda (Design de Interiores)
- 1996: Hospital Miguel Bombarda (Design de Interiores)
- 1999: Quimigest (Design de Interiores)
Prémios e Distinções
editar- 2010: Prémio Nacional de Design Carreira
- 2014: Doutoramento Honoris Causa, pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa
Exposições
editar- 2010: Zoom In/Zoom Out Museu do Design e da Moda
Bibliografia
editar- António Garcia, Designer Zoom In/Zoom Out, Lisboa: Museu do Design e da Moda, 2010.
- DA COSTA PESSOA, Sofia — Zeitgeist—O espírito do tempo: António Garcia, Design e Arquitectura nas décadas de 50-70 do século XX. Depois da obra, o futuro. Lisboa: S.n., 2006 (Dissertação de Mestrado em Museologia e Museografia. Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa)
Ligações na Rede
editar- Joana Amaral Cardoso, Morreu António Garcia, um dos pioneiros do design português, Público, 18 de Junho de 2015
- Maria Ramos Silva, António Garcia. Desenho de um quotidiano aqui tão perto, Jornal i, 30 de Maio de 2014
- MUDE recebe espólio de António Garcia, Diário de Notícias Artes, 19 de Junho de 2010
- Joana Amaral Cardoso, António Garcia, o designer tranquilo, Público, 16 de Junho de 2010