Natálio, Natalis ou (em latim) Natalius. Tido como o primeiro bispo contrário à Igreja de Roma (antipapa) (c. 199 -?) durante o pontificado do papa Zeferino.

Antipapa Natálio

Referências históricas

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As Informações colhidas em sua base, referem-se ao contido na "História Eclesiástica" de Eusébio de Cesareia, em suas citações "Contra a heresia de Artemon", um precursor de Paulo de Samósata [1] e, cujo autor ali referido é, aparentemente, Guido Romano. [2] Outras informações são evidenciadas a partir de Teodoreto e do mesmo Eusébio [3] Eusébio faz referência a uma obra sem título e Teodoreto menciona a obra O Pequeno Labirinto, atribuída a um padre romano chamado o "Bispo dos Gentios" Caio Romano. Outra fonte a ser considerada é Hipólito de Roma, o autor da Philosophoumena.[4]

De acordo com a Enciclopédia Católica, Natálio foi um antitrinitarista, um patripassionista primitivo e que tornara-se um Antipapa em oposição à Igreja de Roma. O escritor cristão Eusébio de Cesareia (260-340) [5] cita um escritor anônimo que relata que um sacerdote de nome Natálio no início do século III aceitou ser papa de um grupo de hereges em Roma, mas logo se arrependeu e implorou o perdão ao Papa Zeferino (199-217) e pediu para ser readmitido novamente em comunhão no seio da Igreja.[6][7]

Segundo as narrativas Natálio tornou-se chefe desta comunidade cristã, graças às influências dos teólogos, Asclepiódoto e Teódoto o jovem, discípulos estes de Teódoto de Bizâncio. Teódoto havia sido, devido a seus ensinamentos, excomungado em 190 pelo papa Vítor I fato este que gerou um cisma, ainda que de proporções pequenas, no seio da Igreja. Teódoto, um mercador de couro e um erudito da cultura grega, defendia que Jesus, fora a princípio um homem comum, no qual teria habitado [ou encarnado] “como num templo” o Logos,Deus ou a Sabedoria de Deus, a exemplo do que se dera com Moisés e nos profetas. Isso se dera em seu batismo, quando ele recebera a graça ou adoção divina (dynamis) e que, assim, tornara-se igualmente divino, sendo sua divindade inferior a do Pai (Deus ou Logos). Essa doutrina, chamada de monarquianismo dinâmico, [nota 1] era, ao mesmo tempo, ebionista e adocianista.

Após a morte do papa Vítor IPapa Victor, Asclepiódoto e Teódoto o jovem, planejaram a criação de uma seita ou comunidade a partir de uma mera escola teológica, oposta à Igreja, como o fizera o gnóstico Marcião. Segundo o historiador Gherardo del Pellaio de Lanfranchi, os seguidores de Teódoto de Bizâncio, Asclepiódoto e Teódoto o jovem, excomungados com este pelo Papa Victor, formaram em Roma essa comunidade herética e independente. Eles persuadiram um um creditado confessor da igreja Romana, de nome Natálio, que, apesar da tortura sofrida, durante as perseguições, ele não se abjurara da fé cristã. Natálio foi consagrado e tornou-se então o chefe espiritual, bispo [ou papa] da seita e, ao mesmo tempo, o primeiro anti-papa da história da Igreja Católica. Este entretanto, não passou muito, arrependeu-se e abjurou de sua crença, retornando à ortodoxia. [8] Segundo Eusébio de Cesareia, em seu 'História da Igreja, ele abjurando sua profissão de fé, foi ter com o papa Zeferino, vestido de saco e cinzas, implorando perdão. [9].

Segundo Eusébio ele aceitara ser feito o bispo da seita por um soldo mensal de 170 [ou 150] denários. Eusébio ainda argumenta que Natálio, fora advertido várias vezes durante os sonhos, sobre seu erro, e "... que Deus não queria seus mártires fora da Igrela..." A princípio ele negligenciou estas visões por causa do dinheiro e das honras, mas finalmente, em certa ocasião, foi tão duramente atormentado durante toda a noite pelos anjos que, na manhã seguinte, ele vestiu a roupa penitencial (feita de sacos), recobriu a cabeça com cinzas, e, em meio aos prantos, atirou-se aos pés do Papa Zeferino. Ele confessou seus erros, arrependeu-se e pediu o reingresso à comunhão da Igreja. Seguidamente, ele atirou-se aos pés do clero e do laicado, mostrando seu arrependimento e, depois de alguma dificuldade, ele foi readmitido à comunhão com o Papa.[10] [11] Este relato o faz Eusébio [12] a partir da "Pequeno Labirinto" do contemporâneo e Hipólito de Roma, em seu escrito composto "Contra a heresia de Artemon, um dos cabeças da seita (falecido talvez em torno de 225-230), que não fora mencionado no Syntagma ou Philosophumena. [nota 2] Já Hipólito reporta em seus apontamentos aos dados obtido a partir dos escritos de Caio Romano.

O papa Zeferino entretanto mereceu a admoestação de Tertuliano de Cartago e Hipólito de Roma, uma vez que, embora o herege arrependido pudesse, após penitenciar-se, voltar à igreja, era uma, ainda, coisa nova e assim "perigosa". E até porque Natálio foi readmitido e Teódoto de Bizâncio e seu discípulo Asclepiodoto não o foram. Ainda segundo Tertuliano, Zeferino condenara o Montanismo por influência de Praxeas, que chegara a Roma por volta de 213 ao mesmo tempo que Noeto e Sabélio. Assim sendo esta questão cismática se estenderia por ainda um longo tempo.

Conclusão

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Se Hipólito foi eleito durante as disputas teológicas em torno do Sabelianismo, Natálio o foi por conta das divergências trinitárias e cristológicas em torno da humanidade de Jesus. A diferença está que Natálio representou, durante muito pouco tempo o papel de bispo de uma seita ou comunidade sem grande expressão e à margem da mesma Igreja, por conta disto tê-lo em conta de um antipapa, embora o tenha sido de fato, como o disse com propriedade Josef Lenzenweger, em referência a Teódoto de Bizâncio: "... Seus discípulos, porém, conquistaram até o confessor Natalis para ser o líder da comunidade, constituindo destarte, pela primeira vez, um antipapa...." [13] é uma questão consideravelmente questionável.

Notas

  1. Quase um século depois surge um outro grande representante destes pensamentos; Paulo de Samósata. Este fora excomungado em 268 por um Concílio Regional, reunido em Cartago. Seus seguidores foram condenados pelo Primeiro Concílio de Niceia em 325.
  2. O conhecimento que se tem atualmente sobre Artemon, ou Artemas, é limitado. As referências feitas sobre ele contam do final do Concílio de Antioquia contra Paulo de Samósata (cerca de 266-268). Na ocasião, Paulo disse que tinha sido um discípulo de Artemon.

Referências

  1. Eusébio de Cesareia, História Eclesiástica, V.28.
  2. Fragments of Caius
  3. Teodoreto, Haer. Fab., II,4; V,2.
  4. Schwane, em Kirchenlex., I, 1451; Bardenhewer, Gesch. d. altkirchl. Litt. (Freiburgo, 1902), II, 514.
  5. História Eclesiástica, Volume V, pags 28 a 32
  6. Dictionary of Christian Biography and Literature: Zephyrinus
  7. «Monarchians – Dynamists, or Adoptionists». Catholic Encyclopedia. Consultado em 3 de setembro de 2007 
  8. Eusébio de Cesareia , História Eclesiástica , V, XXXII
  9. Eusébio de Cesareia História Ecclesiática: Edição Santa-Transfiguração do Mosteiro de Valaam, 1993 -. 5, 28 (em russo)
  10. Eusébio de Cesareia História Ecclesiaática, V, XXXII.
  11. New Advent - Papa Zeferino, biografia
  12. Eusébio de Cesareia História Ecclesiaática, VI, XXVIII.
  13. LENZENWEGER, Josef - História da Igreja Católica.