A técnica de aquecimento vocal é uma prática saudável e recomendada por fonoaudiólogos e professores de canto, para profissionais que utilizam sua voz como seu instrumento de trabalho.

Cantor/Singer

Seu uso diferencia-se de acordo com a profissão e demanda exigida, estes profissionais estão mais propensos às alterações da voz e, quando amadores, as queixas podem ser consideravelmente mais recorrentes.[1] Dentre esses profissionais, destacam-se atores, professores, cantores, locutores, jornalistas, advogados, oradores, apresentadores, dubladores, operadores de telemarketing, ambulantes, políticos, fonoaudiólogos, padres/pastores e outras profissões da área da comunicação.[2]

O aquecimento vocal promove a saúde vocal e a potencialização das características da voz, atendendo a uma demanda vocal que pode provocar sintomas desagradáveis como rouquidão, cansaço e fadiga (vocal e, com as recidivas, corporal). O profissional que fica rouco ou cansado fisicamente, devido sua demanda vocal necessita de conhecimento e treinamento sobre o uso adequado da voz e comportamentos saudáveis como medida preventiva.

Quando se pensa na promoção de saúde vocal, existem duas abordagens, a direta e a indireta.

  • A direta busca uma produção vocal adequada e eficiente por meio de treinamento atendendo à demanda vocal específica e, em geral, utilizam-se programas/sequências de aquecimento e desaquecimento vocal.
  • A indireta desenvolve ações voltadas à conscientização sobre a saúde vocal, como diminuir os fatores de risco e minimizar o uso incorreto da voz.[1]
Anatomytool larynx

A voz é produzida na laringe, pelas pregas vocais (que correspondem a dois pares de músculos, o tíreo-aritenóideo, de cada lado). Quando inspiramos, armazenamos uma quantidade de ar nos pulmões. Durante a fala, esse ar é expirado, passando pelas pregas vocais e, devido a mudanças de padrões da musculatura provocam mudanças de pressão abaixo das pregas vocais. Essa pressão faz com que as pregas vocais vibrem durante a passagem do ar. Esse mecanismo se assemelha a um balão (bexiga) quando abrimos sua boca para a passagem do ar com um ruído intenso. O mesmo acontece com a voz, a vibração das pregas vocais quando da passagem do ar expiratório gera um som conhecido por nós como voz.[3]

A sobrecarga muscular pode provocar tensão nas estruturas envolvidas para a produção da voz (fonação). Alguns destes padrões nocivos podem levar a disfonia, que são patologias vocais diferenciadas em funcionais ou orgânicas.[4][5]

Disfonias vocais

editar

Entende-se como disfonia um distúrbio da comunicação, representado por qualquer dificuldade na emissão vocal que impeça a voz de cumprir seu papel básico de transmissão da mensagem verbal e emocional de um indivíduo. Uma desordem vocal existe quando a qualidade vocal de uma pessoa, quando as propriedades perceptivas da voz são tão desviantes que chamam atenção para o falante, uma desordem vocal pode estar presente.[6]

 
Pregas vocais/Vocal muscles
  • DISFONIAS FUNCIONAIS: são aquelas em que não há nenhuma lesão orgânica ou estrutural da laringe, sendo causadas simplesmente por alterações da função e musculatura da laringe.
  • DISFONIAS ORGANOFUNCIONAIS: são aquelas em que a partir de alterações funcionais geram uma lesão orgânica. Exemplos disso são as chamadas lesões fonotraumáticas, como: edema de Reinke, pólipo de prega vocal e nódulos vocais.
  • DISFONIAS ORGÂNICAS: são aquelas em que existe uma lesão na prega vocal causadas por alguma doença orgânica (p.ex: carcinoma de prega vocal).[7]

Objetivo

editar

O aquecimento vocal aumenta o fluxo sanguíneo e a oxigenação dos tecidos, promove a flexibilidade muscular, favorece o aumento de harmônicos, melhora a projeção e articulação. Já o desaquecimento visa o retorno aos ajustes iniciais da fala, diminui o fluxo sanguíneo e promove o reabsorção do ácido lático proveniente da demanda vocal, diminuindo a fadiga muscular.[1]

Os exercícios de aquecimento vocal devem estar sempre acompanhando do preparo diário do profissional da voz, contribuindo diretamente para o aperfeiçoamento dos parâmetros acústicos vocais, para melhora imediata da qualidade vocal, melhora na qualidade do vibrato, flexibilidade vocal, efeito positivo auto percebido, resistência à fadiga, economia vocal e diminuição da relação esforço/canto. Esses resultados podem contribuir diretamente para a prevenção de lesões.[8]

Profissionais

editar

Fonoaudiologia

editar

O fonoaudiólogo é o profissional que trabalha com a comunicação humana em vários aspectos, incluindo orientação preventiva, avaliação, aperfeiçoamento e terapia reabilitadora da voz e da fala; quando legalmente habilitado, obtém o título de especialista em voz no campo da Fonoaudiologia.[9]

Nos aspectos fisiológicos necessários a serem trabalhados no aquecimento vocal, temos as contribuições dos profissionais da área de fonoaudiologia, que pelo estudo da anatomofisiologia do corpo trabalham técnicas de relaxamento vocal, respiração, postura e apoio vocal, articulação, ritmo de fala e desaquecimento vocal. As técnicas vocais são ativadas para trabalhar o aumento da ressonância e projeção vocal.[10]

A técnica de aquecimento (AV) e desaquecimento vocal (DV) melhoram a qualidade da voz e reduzem do grau de desconforto dos aspectos relacionados ao corpo, após a realização do AV. O DV reduziu a frequência fundamental e o grau de desconforto global, mais particularmente dos aspectos relacionados à voz, podendo se traduzir em redução do atrito vocal provocado pelo número de ciclos glóticos.[11]

Professor de canto

editar

O professor de canto ou instrutor de técnica vocal é o profissional que orienta e desenvolve a voz cantada, nos seus aspectos artísticos e técnicos. Ajuda pessoas de todas as idades a desenvolverem de forma mais rápida e segura o seu potencial de voz, seja de forma individual ou coletiva (Canto Coral), no canto popular ou lírico, buscando adequar o cantor às particularidades e exigências de cada gênero ou estilo musical.

Referências

  1. a b c Sousa, Ana Caroline Ribeiro; Mendes, Hudson Douglas Teixeira; Fernandes, Ana Carolina Nascimento; Silva, Eduardo Magalhães da (3 de setembro de 2020). «Programa de aquecimento e desaquecimento vocal para profissionais da voz». Distúrbios da Comunicação (3): 470–480. ISSN 2176-2724. doi:10.23925/2176-2724.2020v32i3p470-480. Consultado em 27 de março de 2023 
  2. DeFatta, Rima A.; Sataloff, Robert T. (2012). «The Value of Vocal Warm-Up and Cool-Down Exercises: Questions and Controversies». Journal of Singing (em inglês). 69 (2). Consultado em 29 de junho de 2015 
  3. Andrade, Luciana Mara de Oliveira (2003) [2003]. «Determinação dos Limiares de Normalidade dos Parâmetros Acústicos da Voz» (PDF). 63 páginas. Consultado em 2 de maio de 2023 
  4. Carvalho, Leandro Ramos. «A videoestroboscopia como método diagnóstico nas alterações da laringe» 
  5. Carvalho, Leandro Ramos de (2000). «A videoestroboscopia como método diagnóstico nas alterações da laringe». Consultado em 23 de novembro de 2023 
  6. Cielo, Carla Aparecida; Finger, Leila Susana; Roman-Niehues, Geise; Deuschle, Vanessa Panda; Siqueira, Márcia do Amaral (setembro de 2009). «Disfonia organofuncional e queixas de distúrbios alérgicos e/ou digestivos». Revista CEFAC (3): 431–439. ISSN 1516-1846. doi:10.1590/S1516-18462009000300010. Consultado em 27 de março de 2023 
  7. Ricz, Hilton. «Aula: Disfonia» (PDF) 
  8. Martins, Gabriella Bernardes de Menezes; Reis, Theyllon Araújo (2022). «Aquecimento Vocal em Cantores: Revisão de Literatura» (PDF). 27 páginas 
  9. «Lei 6965/1981». www2.camara.leg.br. Consultado em 23 de novembro de 2023 
  10. Martins, Janaína Träsel (2008). Os princípios da ressonância vocal na ludicidade dos jogos de corpo-voz para a formação do ator (PDF). [S.l.: s.n.] 199 páginas 
  11. Masson, Maria Lúcia Vaz; Fabbron, Eliana Maria Gradim; Loiola-Barreiro, Camila Miranda (2019). «Aquecimento e desaquecimento vocal em professores: estudo quase-experimental controlado». CoDAS (4): e20180143. ISSN 2317-1782. doi:10.1590/2317-1782/20182018143. Consultado em 2 de maio de 2023