Arduíno Bolívar
Arduíno Bolivar (Viçosa, 21 de setembro de 1873 – Belo Horizonte, 16 de agosto de 1952) foi professor, tradutor, promotor de justiça, juiz de direito e bibliófilo mineiro.
Arduíno Bolivar | |
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Nome completo | Arduíno Fontes Malaquias Bolivar |
Nascimento | 21 de setembro de 1873 Viçosa, MG |
Morte | 16 de agosto de 1952 (78 anos) Belo Horizonte, MG |
Biografia
editarArduíno Fontes Malaquias Bolivar, filho de Cândido Antônio Malaquias Bolivar e Maria Teresa Gonçalves Fontes, cresceu em Viçosa quando, após a morte de seu pai em 1885, foi levado por um tio materno para concluir o ensino primário em Ubá. Em 1887 iniciou os estudos no tradicional Colégio do Caraça, onde ficou até o ano de 1893, sendo marcado como um excelente aluno.[1] No colégio o latim era uma das principais disciplinas, língua qual ele chegaria a lecionar e traduzir diversos textos.
Em 1894 Bolivar foi para Ouro Preto, onde cursou o primeiro ano da Escola de Farmácia. No final de 1895 se mudou para São Paulo onde trabalhou no jornal O Commercio de São Paulo. Em 1897 começou seus estudos de Direito, formando-se em 1902.
Em 1903 Bolivar foi nomeado pelo presidente do Estado Francisco Salles promotor de justiça de Carangola, onde permaneceu até 1906. Lá também foi redator da folha local O Progressista. Em 1906 foi nomeado Juiz Municipal da Comarca de Ubá e colaborou com os jornais O Movimento e O Profeta. Permaneceu na cidade até 1914.[1]
Foi para Belo Horizonte trabalhar na burocracia do estado. Esteve Oficial de Gabinete do Secretário da Agricultura Raul Soares e logo após, de Clodomiro Oliveira. Em 1918 se tornou oficial de gabinete da Presidência do Estado do seu amigo de infância, Arthur Bernardes. Em 1922 se manteve no cardo após a eleição de Raul Soares, já que tinha recusado ir para o Rio de Janeiro com a eleição de Arthur Bernardes. Conta-se a história:[1]
Numa das idas de Bolivar ao Rio de Janeiro, a chamado do presidente, [Jorge] Azevedo (1966) conta ainda que ele viajou o dia todo de ônibus e chegou ao Rio cansado da viagem. Modesto, entrou no primeiro hotel simples que achou, decidido a ir para o Palácio do Catete apenas no dia seguinte. O gerente disse que não havia vaga, mas diante da insistência do hóspede declarou que se quisesse ele poderia dormir numa cama debaixo da escada. Bolivar aceitou a oferta, ao confirmar que o local estava bem protegido da chuva. Pediu um favor ao gerente, queria fazer um telefonema antes de se deitar. Com má vontade, o gerente pegou o telefone e perguntou qual o número a ser discado. Bolivar disse que seria para o Catete, que ele queria falar com Arthur. O gerente fazendo troça discou e falou em nome de Arduíno Bolivar, ele teve o maior espanto quando o presidente respondeu ao telefone. Quando Bolivar lhe disse que estava no Rio, Bernardes não aceitou desculpas e disse que o buscaria no mesmo instante. Bolivar, vendo o assombro do gerente se dirigiu a ele: “ – O senhor vai me desculpar, mas não posso ficar. Muito obrigado pela sua magnífica hospedagem... Mas é que o Artur faz questão de vir ele mesmo agora me buscar... Esses mineiros!”[2] Bolivar nunca morou no Rio de Janeiro, ele ia e voltava quando Bernardes o chamava.
Em 1936 foi nomeado diretor do Arquivo Público Mineiro pelo então governador de Minas Gerais Benedito Valadares, permanecendo no cargo até 1938, ano de sua aposentadoria.[1][3]
Foi membro da Comissão Nacional do Livro Didático (CNLD), subcomissão de Língua Portuguesa e Línguas Antigas em 1944, nomeado pelo presidente Getúlio Vargas.
Carreira acadêmica
editarMesmo trabalhando na burocracia, Arduíno nunca deixou de lecionar. Deu aulas em colégios de São Paulo e aulas particulares. Em Ubá foi professor e diretor do Gymnasio São José.[1]
Em Belo Horizonte deu aulas de 1918 a 1933 no Colégio Arnaldo, sendo que Carlos Drummond de Andrade um de seus alunos de latim e depois amigo para o resto da vida. Outros alunos ilustres foram Milton Campos, Gustavo Capanema, Afonso Arinos, José Maria Alkimin, Diogo de Vasconcellos, Francisco Mendes Pimentel e José Dias Correia.
Foi também professor da Escola Normal Modelo (depois Instituto de Educação) em 1922 e seu diretor em 1926.
De 1938 a 1940 Bolivar lecionou português e latim no Colégio Afonso Arinos.
Foi um dos fundadores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Santa Maria (posteriormente Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais), onde era catedrático de Literatura Latina; da Faculdade de Filosofia e Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas (um de seus fundadores) e Faculdade de Direito da UFMG.[1]
As casas de Bolivar foram palco de calorosas discussões políticas e locais de encontro de inúmeros artistas e escritores. Entre os frequentadores desses ambientes, destacava-se a presença dos escritores que formavam o grupo conhecido como os cavaleiros do apocalipse: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Otto Lara Rezende e Hélio Pellegrino.[1]
Latinista, humanista, mestre do idioma vernáculo, Arduíno Bolivar traduziu as Odes de Horácio e grande parte das Geórgicas de Virgílio. Foi convidado para ser um dos fundadores da Academia Mineira de Letras, cadeira número 06, escolhendo como seu patrono Bernardo Pereira de Vasconcelos.[4] Foi membro também do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais.
O acervo bibliográfico de Arduíno Bolívar, composto por 1616 livros, foi doado para a Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG em 1962, sob a guarda atual da Biblioteca Universitária.[5][3]
Notas
Referências
- ↑ a b c d e f g Castro, Fabíola Fabiana Braga de (2007). «Arduíno Bolivar: a trajetória de um intelectual tradicional na cidade de Belo Horizonte (dissertação de mestrado)». Domínio Público. Belo Horizonte. Consultado em 13 de maio de 2022
- ↑ Azevedo, Jorge (1966). Eles deixaram saudade. Belo Horizonte: Imprensa Oficial. pp. 81–90
- ↑ a b «Sistema de Bibliotecas da UFMG». Consultado em 13 de maio de 2022
- ↑ «Cadeiras | Academia Mineira de Letras». Consultado em 13 de maio de 2022
- ↑ Araújo, Diná Marques Pereira (30 de abril de 2013). «A Biblioteca do Mestre: Coleção Arduíno Bolivar (The professor's library: Arduíno Bolivar Collection)». Cadernos de História (20): 81–97. ISSN 2237-8871. doi:10.5752/P.2237-8871.2013v14n20p81. Consultado em 13 de maio de 2022