Argentina na Copa do Mundo FIFA de 1958

Argentina
6º lugar
Associação AFA
Confederação Conmebol
Participação
Melhor resultado Campeã: 1978, 1986
Treinador Argentina Guillermo Stábile

A seleção de Argentina foi uma das 16 participantes na Copa Mundial de Futebol de 1958, que se realizou em Suécia. Foi eliminada em primeira rodada ao cair por 6:1 frente a Checoslovaquia.

O treinador era Guillermo Stábile e o capitão era Néstor Rossi. O torneio supôs o regresso de Argentina à Copa do Mundo após 24 anos e viu-se protagonista de um dos grandes fiascos de sua história.

Preparação

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Argentina, que se tinha postulado para ser sede da Copa Mundial de Futebol de 1938, perdeu na votação final contra França e desistiu de participar. Em 1950, Argentina anunciou que não participaria do Mundial devido a diferenças existentes entre a AFA e a Confederação Brasileira de Desportos (CBD) e também pelo éxodo de seus principais jogadores a Colômbia. Em 1954, também pelo éxodo, a Selecção Argentina se negou a participar do torneio.

Argentina chegava a cita mundialista com o título de campeão sul-americano obtido um ano antes no Peru. Graças a uma atuação demolidora do ataque apelidado "Os Carasucias", formado por Antonio Angelillo, Humberto Maschio e Omar Sívori. O nome provinha do filme Anjos com caras sujas, popular na Argentina da época, que contava a história de jovens impulsivos e rebeldes. O jovem trío atacante de Argentina marcou 20 dos 25 golos da equipa em América do Sul. Suas atuações chamaram a atenção do Futebol italiano. Antonio Angelillo foi traspassado ao Internazionale, Humberto Maschio ao Bolonha e Omar Sívori ao Juventus. No entanto, os clubes europeus não estavam obrigados a ceder a seus jogadores para o Mundial. Aparte dos clubes italianos, o Real Madrid também não liberou o seu goleiro Rogelio Domínguez.

O presidente da AFA, Raúl Colombo, minimizou a ausência das estrelas internacionais e declarou: "não há problema, temos jogadores de sobra". Os jogadores Campeões sul-americanos queixaram-se à federação por não terem sido convocados. Humberto Maschio disse: "Não fomos a Suécia porque nunca nos chamaram. E nunca soubemos por que. Acho que poderíamos ter contribuído com mais ritmo, mais luta contra as equipes europeias, mais experiência. Mas nunca saberemos o que poderia ter passado".[1]

Sob a direção técnica de Guillermo Stábile, o conjunto argentino atingiu a classificação após eliminar a Bolívia e a Chile. Nas eliminatórias, o desempenho do seu ataque:

Goleadores

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N.° Jogador Golos PJ
1.° Orestes Corbatta 3 4
Norberto Menéndez 3 4
2.° Roberto Zárate 2 4
3.° Norberto Conde 1 4
Eliseo Prado 1 4

Assistentes

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N.° Jogador Assistências PJ
1.° Ángel Labruna 1 3
Norberto Menéndez 1 3


Na Europa, Roberto Zárate foi cortado da equipe nacional e retornou a Buenos Aires devido a uma lesão contra a Inter de Milão. Ele foi substituído por Ángel Labruna, de 39 anos, que chegou um dia antes da partida de abertura e, portanto, não foi incluído no primeiro jogo.

Antes da Copa do Mundo, o capitão Pedro Dellacha previu dificuldades: "Será muito difícil jogar na Suécia. Porque os times europeus correm muito, eles têm um ritmo e uma velocidade diferentes".[2]

Faltando um mês para a competição, em 18 de maio de 1958, as bolsas de apostas inglesas colocavam a União Soviética, medalha de ouro nos Futebol nos Jogos Olímpicos de Verão de 1956, com boa vantagem como favorita na proporção de 3.5. O Brasil, que tinha uma geração de jovens jogadores que chamavam a atenção, era o segundo favorito pagando 6.0 e a Argentina, com sua hierarquia, em terceiro lugar com 7.[3]

Campanha

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Na partido inaugural contra Alemanha Ocidental, depois de perder o sorteio pelos uniformes, como unicamente levaram um jogo de camisas, a seleção argentina pediu emprestada camisetas amarelas a um clube local, o IFK Malmö.[4] Argentina foi derrotada por 3-1.

A equipa argentina tinha um sério problema de lentidão, pela própria constituição física de seus jogadores, especialmente os defensores, do que por problemas de treinamento. O seleccionador alemão, Sepp Herberger ordenou então a Rahn que retrocedesse atraindo a seu marcador Vairo, com o qual provocava um enorme vazio no sector esquerdo da defesa argentina, já que o volante desse lado, Varacka, jogava naturalmente adiantado. Ali colocava-se como receptor Fritz Walter, atraindo ao marcador central Dellacha. Enquanto, pelo outro lado, chegava Uwe Seeler, às costas de Néstor Rossi. Como Rahn chegava cortado pelo centro e Scäefer se fechava pela esquerda, o ataque alemão estabelecia uma superioridade de quatro contra duas na zona de definição.

Argentina abriu o marcador com um golo de Orestes Corbatta depois de um passe longo de Eliseo Prado no minuto 2. Foi a única partido de Eliseo Prado no torneio. No minuto 33, Fritz Walter encontrou a Helmut Rahn. 1-1. Uwe Seeler deu a volta ao partido no minuto 40. 2-1. Argentina pressionou na segunda parte e, num contragolpe, Fritz Walter assistiu a Helmut Rahn para fechar o partido no minuto 79.[5]

Na segunda partida, Argentina recuperou-se e venceu a Irlanda do Norte por 3-1. Segundo Guillermo Stábile depois da partida, o veterano Ángel Labruna, de 39 anos, que não jogou no primeiro partido, pôs ordem na equipa argentina. Danny Blanchflower centrou e Peter McParland abriu o marcador no minuto 3. Willie Cunningham pôs a mão na bola e Orestes Corbatta lançou o pênalti no minuto 38. 1-1. Norberto Menéndez recolheu o recuse da defesa para dar a volta ao partido no minuto 55. Ludovico Avio arrematou a golo um centro de Orestes Corbatta no minuto 59 para sentenciar o partido. 3 a 1.[6]

Na última partida da fase de grupos, o fiasco com a derrota por 6-1 ante a selecção nacional de futebol de Checoslovaquia. O partido conheceu-se na imprensa como o Desastre de Suécia. Embora tenha lamentado a ausência do seu ataque "Os Carasucias", a seleção Argentina apresentou uma defesa débil, sofrendo 10 gols em 3 partidas, sendo vazado em todos os jogos.

Repercussão

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Guillermo Stábile renunciou à direcção técnica depois deste episódio, cargo que mantinha desde 1939 e no qual tinha conseguido 6 títulos de Campeonato sudamericano.

Depois da partida, o guardameta Amadeo Carrizo foi o maior culpado da derrota. O guardameta recorda ter "sofrido muito, disseram-me coisas horríveis, minha casa estava coberta de pintura, meu carro quase destroçado". Carrizo recorda a sensação depois da partida: "Após a partida nos fechamos no hotel e não queríamos sair, ninguém esquece algo assim. Às vezes põem imagens daquele Mundial na tv, mas eu não quero nem o ver e mudo de canal". Para Carrizo, o futebol argentino estava defasado: "Não sabíamos o que passava na Europa e o futebol estava em seu apogeu. Na Inglaterra, Alemanha e França já tinha tido um progresso espetacular, com grandes jogadores, e nos passaram por cima."[7]

Amadeo Carrizo renunciou à selecção de seu país à qual voltou, no entanto, em 1964 para a Copa das Nações. Depois revelaria: "Quando chegamos ao país, após a eliminação, o avião teve que aterrar numa chacra de Monte Grande para que não nos matassem. Alguns jornalistas argentinos que estavam em Suécia lhe tinham pedido à gente que nos procurassem com paus e pedras, tinha muita bronca, nos queriam matar, diziam que éramos "vendepatria". Ninguém achava que a Argentina carecia de organização e que nenhum de nós cobrou um peso para jogar esse mundial."[8]

Pedro Dellacha: “Nós estávamos acostumados a jogar somente nos domingos e a treinar terças-feiras e quintas-feiras. Essa foi a grande causa de nossa derrota. Pagamos o preço de achar que, com o que tínhamos, era o suficiente para derrotar os europeus. O futebol internacional não era tão difundido na Argentina e isso determinou que não compreendêssemos a importância de um Mundial.”. Ángel Labruna: "Fomos com os olhos vendados, às cegas. Não estávamos preparados nem física nem tecnicamente para enfrentar três partidas numa semana".[9]

Por outro lado, a crónica posterior à partida na revista O Gráfico criticava à preparação física: "Os futebolistas criollos vivem do futebol, mas são poucos, muito poucos quem vivem para o futebol. Que é outra coisa. Não se submetem, não se prestam à preparação física rigorosa. Não vivem para o futebol. Não são como os alemães, que às 9 da manhã do outro dia estavam a treinar novamente, enquanto os argentinos dormiam. Não se pode falar de falhas na equipa argentina; foi superado visivelmente pela velocidade, estado atlético, organização, sobriedade, sentido prático que têm os checoslovacos.".[10]

Plantel

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# Nombre Posición Edad PJ Sel Club
1 Amadeo Carrizo Arquero 32 -   River Plate
2 Pedro Dellacha Defensor 31 -   Racing Club
3 Federico Vairo Defensor 27 -   River Plate
4 Juan Francisco Lombardo Defensor 32 -   Boca Juniors
5 Néstor Rossi Mediocampista 33 -   River Plate
6 José Varacka Mediocampista 26 -   Independiente
7 Orestes Corbatta Delantero 22 -   Racing Club
8 Eliseo Prado Mediocampista 28 -   River Plate
9 Norberto Menéndez Delantero 21 -   River Plate
10 Alfredo Rojas Delantero 21 -   Lanús
11 Ángel Labruna Delantero 39 -   River Plate
12 Julio Musimessi Arquero 33 -   Boca Juniors
13 Alfredo Pérez Defensor 29 -   River Plate
14 Federico Edwards Defensor 27 -   Boca Juniors
15 David Acevedo Defensor 21 -   Independiente
16 Eliseo Mouriño Mediocampista 31 -   Boca Juniors
17 José Ramos Delgado Defensor 22 -   Lanús
18 Norberto Boggio Delantero 26 -   San Lorenzo
19 Ludovico Avio Mediocampista 25 -   Vélez Sarsfield
20 Ricardo Infante Delantero 33 -   Estudiantes de La Plata
21 José Sanfilippo Delantero 23 -   San Lorenzo
22 Osvaldo Cruz Delantero 27 -   Independiente
DT Guillermo Stábile

Participação

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  • Os horários são correspondentes à hora local de Suécia (UTC+1).

Fase de grupos

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Grupo 1

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Pos. Seleção P J V E D GP GC SG
1   Irlanda do Norte* 5 4 2 1 1 6 6 0
2   Alemanha Ocidental 4 3 1 2 0 7 5 +2
3   Tchecoslováquia* 3 4 1 1 2 9 6 +3
4   Argentina 2 3 1 0 2 5 10 –5
8 de junho de 1958   Alemanha Ocidental 3–1   Argentina Malmö, Malmö Stadion
19:00
Rahn   32',   79'
Seeler   40'
(Report) Corbatta   10' Público: 32 000
Árbitro: Leafe (Inglaterra)

11 de junho de 1958
19:00
  Argentina 3–1   Irlanda do Norte Halmstad, Örjans Vall
Árbitro: Ahlner (Suécia)
Público: 14000

Corbatta   38' (pen)
Menendez   55'
Avio   59'
(Report) McParland   3'

 Ver artigo principal: Desastre da Suécia (1958)
15 de junho de 1958
19:00
  Tchecoslováquia 6–1   Argentina Helsingborg, Olympiastadion
Árbitro: Ellis (Inglaterra)
Público: 20000

Dvořák   8'
Zikán   17',   40'
Feureisl   69'
Hovorka   82',   89'
(Report) Corbatta   65' (pen)

Goleadores

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N.° Jogador Golos PJ
1.° Orestes Corbatta 3 3
2.° Norberto Menéndez 1 3
Ludovico Avio 1 3

Assistentes

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N.° Jogador Assistências PJ
1.° Eliseo Prado 1 1
Orestes Corbatta 1 3

Veja também

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Referências

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  1. «A 60 años del "desastre de Suecia": el recuerdo de la peor derrota de Argentina en Mundiales». Infobae. 15 de junho de 2018. Consultado em 8 de janeiro de 2024 
  2. «HISTORIAS SECRETAS DE LOS MUNDIALES - CAPÍTULO 4: El desastre en Suecia 1958». Radio Nacional. 18 de maio de 1958. p. 12. Consultado em 5 de agosto de 2019 
  3. «Subiu a cotação do Brasil no mundial». Jornal dos Sports. 18 de maio de 1958. p. 12. Consultado em 5 de agosto de 2019 
  4. «Argentina en el Mundial 58: Desdén y canibalismo». Consultado em 12 de julho de 2019. Cópia arquivada em 13 de janeiro de 2010 
  5. «Derrota dos Argentinos: A surpresa da rodada». 10 de junho de 1958. Consultado em 12 de julho de 2019 
  6. «Argentina Reabilitou-se». 12 de junho de 1958. Consultado em 12 de julho de 2019 
  7. ««Desistência argentina na Copa de 1950 causou décadas de ressaca».». ESPN. 15 de junho de 2018 
  8. Del Moral, Milton (15 de junho de 2018). «A 60 años del "desastre de Suecia": el recuerdo de la peor derrota de Argentina en Mundiales». Infobae. Consultado em 8 de janeiro de 2024 
  9. «1958. ERA PAN COMIDO, FUE DESASTRE». El Grafico. 15 de junho de 2018. Consultado em 8 de janeiro de 2024 
  10. «1958. ARGENTINA FRACASA EN SUECIA. "NO ES CUESTIÓN DE HOMBRES"». El Grafico. 15 de junho de 2018. Consultado em 8 de janeiro de 2024