Arp Schnitger (Schmalenfleth, 2 de julho de 1648 - 28 de julho de 1719) foi o maior e mais influente construtor de órgãos alemão. Atuou primeiramente no norte da Europa, especialmente nos Países Baixos e Alemanha, onde parte de seus instrumentos ainda estão em atividade, mas alguns de seus órgãos também podem ser encontrados em Portugal, Brasil, Inglaterra, Rússia e Espanha.[1]

A importância de Schnitger para a história da construção de órgãos não pode ser subestimada, pois foi um dos mais prolíficos contrutores de órgãos do norte da Europa e período Barroco, com mais de 170 instrumentos produzidos e vendidos, um dos maiores níveis do seu tempo.[1][2]

Filho do mestre Arp Schnitger e Catarina Schnitger, Arp Schnitger foi especialmente influenciado pela tradição familiar já que seu pai, mestre marceneiro, trabalhou na construção de caixas de órgãos.[2]

Os primeiros registros sobre a família, marceneiros em Golzwarden, Oldenburg, datam de por volta de 1600 e o sobrenome seria referência à profissão: entalhador, Schnitzer, Schnitker, Schnitger.[2]

Em 1662, aos 14 anos, iniciou a atividade de marcenaria com o pai, mas também frequentou um ginásio, pois tinha noções de latim, conforme exemplar de livro encontrado em sua biblioteca.[2]

A partir de 1666, mudou-se para Glückstadt, Holstein, Dinamarca, um grande centro cultural na época, quando passou a aprender o ofício de organeiro com o primo Berendt Huss. Permaneceu durante 5 anos como aprendiz e, mais tarde, assumiu a oficina como capataz até a morte de Huss em 1676.[2]

Como aprendiz do primo participou da construção dos órgãos de São Cosme e São Vivaldo em Stade, este finalizado após a morte do mestre, embora o órgão tenha sido destruído por um raio em 1727.[2]

Em 1665, casou com Gertrud Otte e tornou-se dono de uma casa em Neuenfelde, próximo de Hamburgo.

Executou vários trabalhos na região de Stade e, conforme tradição da época, ao construir um instrumento, se mudava com toda a oficina para o local que receberia o órgão, já que o órgão era praticamente construído dentro do templo.[2]

Em 1682, transferiu-se para Hamburgo provavelmente para construção do órgão de São Nicolau.[2]

Em 1701, o aprendiz e oficial de Schnitger Johann Heinrich Hulenkampf fixou-se em Lisboa, Portugal, para instalar o órgão que está instalado na Igreja do Mosteiro crúzio de São Salvador de Moreira, Concelho da Maia.[3]

Dos cinco filhos do primeiro casamento, sendo três homens e duas mulheres, três seguiram a atividade de organeiros.[2]

Estilo

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Schnitger integra a tradição da Renascença e do início do Barroco para a construção de órgãos com estilo próprio.[1]

Seu estilo influenciou outros construtores de órgãos e é visível em outros trabalhos realizados do século XVIII ao XIX.[1]

Os organeiros dos séculos XVII e XVIII não empreendiam um volume considerável de produções em decorrência do nível tecnológico e condições de trabalho do período, mas o desenvolvimento produtivo de Schnitger, ao contrário, é considerado inacreditável.[1]

Órgãos remanescentes

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Período Cidade Igreja Fotos Manuais Pontos Participação de Schnitger
1668–75/88 Stade (Alemanha) Igreja de São Cosme e Damião   III/P 42 caixa, prospecto, 35 pontos (8 parcialmente)
1677–79 Bülkau (Alemanha) Igreja de São João Batista   I 10 (?) caixa, prospecto; atualmente II/P/22
1678–79/1709 Jork (Alemanha) Igreja de São Matias   III/P 35 caixa, prospecto; atualmente II/P/22
1680 Lower Saxony (Alemanha) Igreja de São Pedro e Paulo   II/P 30 caixa, prospecto, 18 pontos, 10 outros pontos foram reutilizados por Schnitger
1678–82 Oederquart (Alemanha) St. Johannis   III/p 28 caixa, prospecto; atualmente II/P/17
1682–83 Lüdingworth (Alemanha) São Jacob   III/P 35 caixa, prospecto, 14 pontos (completos ou parcialmente), os tubos mais antigos foram reutilizados por Schnitger (metade do órgão)
1684 Elmshorn (Alemanha) São Nicolau   II/P 23 case; today III/P/33
1686 Hamburgo-Bergstedt (Alemanha) Igreja   I 8 caixa, 2-3 pontos
1687 Blankenhagen (Alemanha) Igreja de Village   II/p 12 caixa, 4-5 pontos
1687 Steinkirchen (Alemanha) São Nicolau e Martinho   II/P 28 caixa, prospecto, 13 pontos e mais 8 parcialmente
1683–88 Hamburgo-Neuenfelde (Alemanha) São Pancrácio   II/P 34 caixa, prospecto, 18 pontos
1688 Mittelnkirchen (Alemanha) São Bartolomeu   II/p 22 6-8 pontos; atualmente II/P/32
1688–90 Hollern (Alemanha) São Maurício   II/P 24 caixa, prospecto, 13 pontos (completos ou parcialmente)
1686–88/1691–92 Norden (Alemanha) São Ludgero (santo)   III/P 46 caixa, 13 pontos, 8 pontos mais atngiso reutilizados por Schnitger
1691–92 Groningen (Holanda) Martinikerk   III/P 39 caixa do pedal, prospecto, 6 pontos, sendo os mais antigos reutilizados; atualmente III/P/52
1689–93 Hamburgo (Alemanha) São Jacob   IV/P 60 43 pontos (completos e parciais), alguns reutilizados
1693 Groningen (Holanda) Pelstergasthuiskerk   II/p 20 caixa, 2 registros (7 parciais)
1693 Eutin (Alemanha) castelo   I 9 caixa
1693–94 Grasberg (Alemanha) Igreja de Luth   II/P 21 caixa, 14 pontos
1695–96 Noordbroek (Holanda) Hervormde Kerk   II/P 20 caixa, 10-11 pontos; atualmente II/P/24
1695–96 Harkstede (Holanda) Hervormde Kerk   I 7 caixa, prospecto, 5 pontos; atualmente I/p/9 (10)
1696–97 Peize (Holanda) Hervormde Kerk   II/P 22 caixa, prospecto, 4-6 pontos, mais antigos reutilizados
1697–98 Strückhausen (Alemanha) São Johannes   II/p 12 caixa de Hauptwerk, 2 pontos; atualmente II/P/15
1697–98 Dedesdorf (Alemanha) São Lourenço   II/p 12 partes manuais da caixa, 10 pontos; atualmente II/P/18
1697–98 Golzwarden (Alemanha) São Bartolomeu   II/P 20 caixa; atualmente II/P/22
1699 Nieuw-Scheemda (Holanda) Hervormde Kerk   I/p 8 caixa, 4-6 pontos
1696–99 Mensingeweer (Holanda) Hervormde Kerk   I 9 caixa, prospecto, 6 pontos
1699 Ganderkesee (Alemanha) São Cipriano e São Cornélio   II/p 16 caixa, prospecto, 9 pontos; atualmente II/P/22
1700–01 Uithuizen (Holanda) Hervormde Kerk   II/P 28 caixa, 19 pontos, 6 outros parciais
1701 Maia, Portugal Monastério da Igreja de São Salvador   II 12 caixa, 11 pontos
1701 Mariana, Minas Gerais, (Brasil) Catedral (Sé)   II/p 18 caixa, prospecto, 14 pontos (completos ou parciais); provavelmente construído por Schnitger com coautoria de Heinrich Hullenkampf[4][5]
1699–1702 Clausthal-Zellerfeld (Alemanha) São Salvador   III/P 55 caixa; atualmente II/P/29
1700–02 Groningen (Holanda) Der Aa-kerk   III/P 32 caixa, prospecto, ca. 13 pontos, 10 reutilizados; atualmente, III/P/40
1702 Estebrügge (Alemanha) São Martinho   II/P 34 caixa
1704 Eenum (Holanda) Hervormde Kerk   I 10 caixa, prospecto, 4-6 pontos; atualmente I/p/10
1704 Godlinze (Holanda) Hervormde Kerk   II/p (?) 16 caixa, prospecto, 8-9 pontos; atualmente I/p/12
1705 Accum (Alemanha) São Willehad   II/p 14 caixa
1707–08 Lenzen (Alemanha) Santa Catarina   II/P 27 parte da caixa, 2-3 pontos
1707–08 Hamburgo-Ochsenwerder (D) São Pancrácio   II/P 30 caixa, prospecto, 5-11 pontos; atualmente II/P/24
1709–10 Weener (Alemanha) São Jorge   II/p 22 caixa, 6 pontos; atualmente II/P/29
1710–11 Pellworm (Alemanha) Igreja Velha   II/P 24 caixa, 11 pontos (completos e parciais)
1710–11 Sneek (Holanda) Gruta de Martinikerk   III/P 36 caixa, prospecto, 10 pontos (completos ou parciais)
1711 Ferwert (Holanda) Hervormde Kerk   II/P 26 5 pontos
1710–13 Abbehausen (Alemanha) São Lourenço   II/P 24 caixa, prospecto, 2 pontos
1714–16 Rendsburg (Alemanha) Christuskirche   II/P 29 caixa, 4 pontos; atualmente IV/P/51
1715–16 Faro, Portugal Sé Catedral de Faro   II 22 provavelmente construído por Schnitger com coautoria de Heinrich Hullenkampf[5]
1715–19 Itzehoe (Alemanha) São Lourenço   IV/P 43 caixa, prospecto; atualmente IV/P/58
1719–21 Zwolle (Holanda) Grande (Grote) ou Igreja de São Miguel (Michaëlskerk)   IV/P 64 caixa, detalhes manuais de todas as partes; finalizado por seus irmãos Franz Caspar Schnitger e Johann Georg Schnitger

Referências

  1. a b c d e Homepage Organs of Arp Schnitger. Introduction 350 years Arp Schnitger, acesso em 16 de junho de 2010
  2. a b c d e f g h i Órgão da Sé. Arp Schnitger, acesso em 16 de junho de 2010
  3. Orgãos Portugal. O Órgão da Sé Catedral de Faro1, acesso em 16 de junho de 2010
  4. DODERER, Gerhard. Relações musicais luso-brasileiras do século XVIII: dois casos particulares. I COLÓQUIO INTERNACIONAL A MÚSICA NO BRASIL COLONIAL, Lisboa, 9-11 out. 2000. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001. p.389-416.
  5. a b Soares, Calimerio; van Eck, Ton. Organ Tours of Brasil, acesso em 16 de junho de 2010


 
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