Veretragna
Veretragna (em avéstico: 𐬬𐬆𐬭𐬆𐬚𐬭𐬀𐬖𐬥𐬀; romaniz.: vərəθraγna; em persa médio: 𐭥𐭫𐭧𐭫𐭠𐭭; romaniz.: Warahrām; em persa: بهرام; romaniz.: Bahram) é uma divindade do zoroastrismo.[3] O substantivo neutro verethragna está relacionado ao avéstico verethra, 'obstáculo' e verethragnan, 'vitorioso'.[4] Nesse sentido, a divindade Veretragna é a hipóstase de "vitória" e por ser aquele que concede a vitória, desfrutou de grande popularidade.[5]
Veretragna | |
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Nome nativo | vərəθraγna |
Local de culto | Grande Irã |
Religiões | Zoroastrismo |
O adjetivo proto-ariano *vrtraghan, que corresponde ao substantivo avéstico Veretragna, também tem um cognato etimológico em sânscrito védico Vritra (-Vrtra). Na literatura védica, Vertraã (Vrtrahan) é predominantemente um epíteto usado para Indra depois que derrotou Vritra.[6] O nome e, até certo ponto, a divindade foram emprestados no armênio Vaagênio (Վահագն, Vahagn) e Verrame (Վռամ, Vṙam)[7] e tem cognatos no budista sogdiano Vixagne (𐫇𐫢𐫄𐫗, wšɣn w(i)šaɣn),[8] no parta maniqueísta Varame (𐭅𐭓𐭉𐭇𐭓𐭌, wryḥrm) e báctrio cuchana Orlagno (ορλαγνο).[9] No Período Helenístico, foi associado pelos gregos com Ares e Héracles e recebeu o nome Artagnes.[10]
Escrituras
editarO Iaste 14, o hino de louvor a Veretragna, "embora mal preservado, contém o que parecem ser elementos muito arcaicos".[5] Sua identificação como um javali no Iaste 14 levou Ilya Gershevitch a identificar Damoixe Upamana (Dāmōiš Upamana) – um javali no hino avéstico a Mitra – como um alter ego de Veretragna.[11][12][13]
Tradição
editarNos textos persas médios tardios, Veretragna é especialmente venerado como um dos Amexa Espentas, o que lhe dá efetivamente uma alta posição pelo seu sucesso em repelir Angra Mainiu.[14][15] Nas reformas astronômicas e calendáricas dos sassânidas (224–651), o planeta Marte foi chamado de Barã. Zaehner atribui isso às influências sincréticas do sistema astral-teológico caldeu, onde o Nergal babilônico é tanto o deus da guerra quanto o nome do planeta vermelho.[16]
De acordo com Boyce, a expressão atual Ataxe-Berã como o nome da classe mais sagrada de fogos é uma confusão do adjetivo "Fogo Vitorioso" com "Fogo de Barã".[17] O primeiro é a maneira como aparece em inscrições do persa médio, como a inscrição de Cartir no Cubo de Zaratustra, enquanto o último é o que agora é entendido pelo termo Ataxe-Berã. Gnoli atribui a mudança a um mal-entendido natural "apoiado nos tempos islâmicos por uma decadência progressiva no ensino sacerdotal zoroastrista"[18]
Referências
- ↑ Fleming & Mann 2014, p. 433.
- ↑ Stewart, Williams & Hintze 2016, p. 184.
- ↑ Kuehn 2011, p. 103.
- ↑ Gnoli 1989, p. 510.
- ↑ a b Boyce 1975, p. 63.
- ↑ Thieme 1960.
- ↑ Ačaṙyan 1942–1962, p. 9.
- ↑ Begmatov 2022, p. 201.
- ↑ «Orlagno». Museu Britânico
- ↑ Duchesne-Guillemin 1973.
- ↑ Gershevitch 1959, p. 166–169.
- ↑ Gnoli 1989, p. 511.
- ↑ Boyce 1975, p. 83, nota 416.
- ↑ de Menasce 1958, p. 5–18.
- ↑ Gnoli 1989, p. 513.
- ↑ Zaehner 1955, p. 147 ff.
- ↑ Boyce 1982, p. 222 ff.
- ↑ Gnoli 1989, p. 512.
Bibliografia
editar- Ačaṙyan, Hračʻya (1942–1962). «Վահագն». Hayocʻ anjnanunneri baṙaran [Dictionary of Personal Names of Armenians]. Erevã: Imprensa da Universidade de Erevã
- Begmatov, Alisher (2022). «Cross-cultural Exchange across Eurasia as Reflected in the Sealings from Kafir-kala in Samarkand». In: Baumer, Christoph; Novák, Mirko; Rutishauser, Susanne. Cultures in Contact: Central Asia as Focus of Trade, Cultural Exchange and Knowledge Transmission. Viesbade: Harrassowitz
- Boyce, Mary (1975). History of Zoroastrianism. Vol. I, The early period. Leida: Brill. ISBN 90-04-10474-7
- Boyce, Mary (1982). History of Zoroastrianism. Vol. II, Under the Achamenians. Leida: Brill. ISBN 90-04-06506-7
- Duchesne-Guillemin, J. (1973). La religion de l'Iran ancien [Religion of ancient Iran]. Bombaim: Tata Press
- de Menasce, Jean-Pierre (1958). Une encyclopédie mazdéenne: le Dēnkart. Quatre conférences données à l'Université de Paris sous les auspices de la fondation Ratanbai Katrak. Paris: Presses Universitaires de France
- Fleming, Benjamin; Mann, Richard (2014). Material Culture and Asian Religions: Text, Image, Object. Londres e Nova Iorque: Routledge. ISBN 978-1-135-01372-1
- Gershevitch, Ilya (1959). The Avestan Hymn to Mithra. Cambridge: Cambridge University Press. OCLC 459329059
- Gnoli, Gherardo (1989). «Bahram in old and middle Iranian texts». Encyclopaedia Iranica. Vol. 3. Nova Iorque: Routledge & Kegan Paul
- Kuehn, Sara (2011). The Dragon in Medieval East Christian and Islamic Art. Leida: Brill. ISBN 978-90-04-18663-7
- Stewart, Sarah; Williams, Alan; Hintze, Almut (2016). The Zoroastrian Flame: Exploring Religion, History and Tradition. Londres: Bloomsbury Publishing. ISBN 978-0-85772-815-9
- Thieme, Paul (1960). «The 'Aryan' gods of the Mitanni treaties». Journal of the American Oriental Society. 80 (4): 301–317. doi:10.2307/595878
- Zaehner, Richard Charles (1955). «Zurvan, a Zoroastrian dilemma». Oxford: Clarendon. ISBN 0-8196-0280-9