Arteterapia
Foram assinalados vários problemas nesta página ou se(c)ção: |
Arteterapia é uma disciplina híbrida baseada principalmente nas áreas das artes e da psicologia.[1] Ela possui história e teorias próprias e é aplicada por profissionais habilitados por cursos de especialização e/ou mestrado em arteterapia. Na prática, a arteterapia consiste do uso de recursos artísticos/visuais ou expressivos como elemento terapêutico. A arte criada em arterapia pode ser explorada com fim em si (arteterpia - foco no process criativo, no fazer) ou na análise/investigação de sua simbologia (arte como terapia). Durante a sessão de arteterapia a pessoa é convidada a explorar aspectos do seu consciente ou inconsciente por meio da expressão artística (pintura, desenho, modelagem, escultura, poesia, dança, etc). Variados autores definiram a Arteterapia, todos com conceitos semelhantes no que diz respeito à auto-expressão. Segundo a Associação Brasileira de Arteterapia, é um modo de trabalhar utilizando a linguagem artística como base da comunicação cliente-profissional. Sua essência é a criação estética e a elaboração artística em prol da saúde. Em arteterapia o próprio artista/paciente/cliente é quem faz a interpretação de suas criações. Cabendo ao arteterapeuta apenas instigar esta investigação. Diferente das terapias tradicionais, que consiste principalmente das projeções que ocorrem entre terapeuta e paciente, em arteterapia existe uma relação triangular: o arteterapeuta, o paciente, e a arte (criada em terapia).
Origens
editarO uso de recursos artísticos com finalidades terapêuticas começa a ser incentivado no início do século XIX, pelo médico alemão Johann Christian Reil, [2] contemporâneo de Pinel. Este profissional estabeleceu um protocolo terapêutico, com finalidade de cura psiquiátrica onde incluiu o uso de desenhos, sons, textos para estabelecimento de uma comunicação com conteúdos internos. Estudos posteriores traçaram relações entre Arte e Psiquiatria, sendo que um profissional que também utilizou o recurso da arte aplicado à Psicopatologia foi Carl Jung, que passou a trabalhar com o fazer artístico, em forma de atividade criativa e integradora da personalidade:
- "Arte é a expressão mais pura que há para a demonstração do inconsciente de cada um. É a liberdade de expressão, é sensibilidade, criatividade, é vida" (Jung, 1920).
No Brasil, podem ser elencados os trabalhos desenvolvidos por Ulysses Pernambucano já no início do século XX, trabalho que estimulou a escrita da monografia de Silvio Moura, apresentada em 1923 e intitulada como "Manifestações artísticas nos alienados". Outro nome de importância é Osório César, que desenvolveu sua prática e pesquisas no Hospital do Juquery, na cidade de Franco da Rocha. Publicou em 1929 o livro "A expressão artística nos alienados", onde propõe uma forma de compreender as produções artísticas destes indivíduos. No hospital é inaugurada, oficialmente, a Oficina de Pintura em 1923 e a Escola Livre de Artes Plásticas em 1949. Outro nome importante no país é de Nise da Silveira (1905-1999), que desenvolveu seu trabalho no Hospital Engenho de Dentro no Rio de Janeiro implantando nas ações de terapia ocupacional ateliês de pintura e modelagem, cujo seto de arquivo foi posteriormente redimensionado como Museu de Imagens do Inconsciente tendo como finalidade a preservação dos trabalhos produzidos nos ateliês para exposição permanente e um núcleo de pesquisa da esquizofrenia.[3]
Em sua biografia oficial Natalie Rogers, filha de Carl Rogers, cita ter fundado em 1984 o Instituto de Terapia Expressiva Centrada na Pessoa em Santa Rosa - Califórnia. Neste instituto desenvolveu trabalho expressivo; pintura, modelagem, expressão corporal, teatro, dança, música, poesia e mímica. Postula que a expressão deve ser verbalizada e compreendida pelo próprio cliente, e não interpretada pelo terapeuta. Posteriormente transformou-se em Centro de Artes Expressivas associadas e todo o material coletado nestes anos foi publicado em seu livro A conexão criativa: Artes Expressivas como cura (1993). Ainda segundo a biografia oficial, o referido Instituto encerrou atividades após 19 anos porém pela data citada como sendo do encerramento , 2005, temos vinte e um anos de funcionamento e não 19 como é citado na propria biografia.
Hoje este campo se ampliou, com a Arteterapia estando inserida em diversos campos e com a formulação, proposta pela União Brasileira das Associações de Arteterapia - UBAAT, de critérios mínimos que norteiam a formação deste profissional.
São citados também como nomes importantes nesta área:
- Margaret Naumburg (1890-1983)
- Florence Cane (1882 – 1952)
- Hanna Yara Kiatkwaka
- Edith Kramer (1916 – 2014)
- Janie Rhyne (1913-1995)
Conceitos
editarA prática da Arteterapia pode ser baseada em diferentes referenciais teóricos, como a Psicanálise, a Psicologia Analítica, a Gestalt-terapia, dentre outras abordagens advindas especialmente do campo da Psicologia, que considera fundamental a compreensão do arteterapeuta acerca do ser humano. Desta forma, os conceitos em Arteterapia diferenciam-se amplamente conforme a abordagem seguida pelo arteterapeuta.
No caso da prática arteterapêutica pautada na Psicologia Analítica, aponta-se que, para Jung, a arte tem finalidade criativa, e a energia psíquica consegue transformar-se em imagens e, através dos símbolos, colocar seus conteúdos mais internos e profundos. De acordo com o pensamento junguiano, deve-se observar os sonhos, pois são criações inconscientes que o consciente muitas vezes consegue captar, e junto ao terapeuta pode-se buscar sua significação.
No volume XI de Obras Completas de Freud[4], ele relata que frequentemente experimentamos os sonhos em imagens visuais, sentimentos e pensamentos, sendo mais comum na primeira forma. E parte da dificuldade de se estimar e explicar sonhos deve-se à dificuldade de traduzir essas imagens em palavras. Muitas vezes, quando as pessoas sonham, dizem que poderiam mais facilmente desenhá-los que escrevê-los. De acordo com escritos freudianos, as imagens escapam com mais facilidade do superego do que as palavras, alojando-se no inconsciente e por este motivo o indivíduo se expressa melhor de forma não verbal.[necessário verificar] A necessidade da comunicação simbólica origina-se deste pressuposto, como forma de auto-conhecimento no tratamento terapêutico. Quanto à Arteterapia de Orientação Psicanalítica, um autor que traz importantes contribuições teóricas é Donald Woods Winnicott. Ele foi um pediatra e posteriormente psicanalista inglês que desenvolveu uma teoria sobre o desenvolvimento emocional que dava grande importância para a criatividade como um elemento atrelado à Saúde. Além disto, instaurou o recurso do grafismo nos atendimentos que realizada, denominando a técnica criada como Jogo do Rabisco. É um autor que dá grande importância para a relação estabelecida entre paciente e terapeuta, mais do que para a verbalização de interpretações dos possíveis conteúdos inconscientes que podem estar presentes nas produções.
Partindo do princípio de que muitas vezes não se consegue falar a respeito de conflitos pessoais, a Arteterapia propõe recursos artísticos para que sejam projetados e analisados todos esses processos, obtendo-se uma melhor compreensão de si mesmo, e podendo ser trabalhados no intuito de uma libertação emocional.
A Arteterapia baseia-se na crença de que o processo criativo envolvido na actividade artística é terapêutico e enriquecedor da qualidade de vida das pessoas. Por meio do criar em arte e do reflectir sobre os processos e os trabalhos artísticos resultantes, pessoas podem ampliar o conhecimento de si e dos outros, aumentar a auto-estima, lidar melhor com sintomas, stress e experiências traumáticas, desenvolver recursos físicos, cognitivos, emocionais e desfrutar do prazer vitalizador do fazer artístico.
As linguagens plásticas, poéticas e musicais, dentre outras, podem ser mais adequadas à expressão e elaboração do que é apenas vislumbrado, ou seja, esta complexidade implica na apreensão simultânea de vários aspectos da realidade. Esta é a qualidade do que ocorre na intimidade psíquica: um mundo de constantes percepções e sensações, pensamentos, fantasias, sonhos e visões, sem a ordenação moral da comunicação verbal do cotidiano.
Uma obra de arte consegue, por si só, transmitir sentimentos como alegria, desespero, angústia e felicidade, de maneira única e pessoal, relacionadas ao estado espiritual em que se encontra o autor no momento da criação.
A utilização de recursos artísticos (pincéis, cores, papéis, argila, cola, figuras, desenhos, recortes, etc.) tem como finalidade a mais pura expressão do verdadeiro self, não se preocupando com a estética, e sim com o conteúdo pessoal implícito em cada criação e explícito como resultado final. Contudo, as técnicas de utilização dos materiais, acima citados, são para simples manuseio dos mesmos, e não para profissionalização ou comercialização.
Objetivos
editarA Arteterapia tem como principal objetivo atuar como um catalisador, favorecendo o processo terapêutico, de forma que o indivíduo entre em contato com conteúdos internos e muitas vezes inconscientes, normalmente barrados por algum motivo, assim expressando sentimentos e atitudes até então desconhecidos. Arteterapia é benéfico para pessoas de qualquer idade, sendo utilizado tanto para o auto-conhecimento e auto-expressão, como também nos casos de doenças mentais.
A Arteterapia resgata o potencial criativo do homem, procurando a psique saudável e estimulando a autonomia e transformação interna para reestruturação do ser. Propõe-se então, a estruturação da ordenação lógica e temporal da linguagem verbal de indivíduos que preferem ou de outros que só conseguem expressões simbólicas. A busca da terapia da arte é uma maneira simples e criativa para resolução de conflitos internos, é a possibilidade da catarse emocional de forma direta e não intencional.
Profissionais na área
editar- Arteterapeuta
- Arte-Educador
- Terapeuta Ocupacional
- Psicólogo
- Enfermeiros Especialistas em Enfermagem da Saúde Mental e Psiquiatria
- Fonoaudiólogos
- Psicomotricistas
- Professores em geral
- Gastronomos
- Médicos de diversas especialidades
- Arquitetos
- Profissionais de várias áreas que se identifique com mobilização através da arte
Leituras selecionadas
editarANDRADE, Liomar Quinto de. Terapias Expressivas: Arte-Terapia, Arte-Educação, Terapia Artística. São Paulo: Vector, 2000.
CARVALHO, Maria Margarida (coordenadora). A Arte Cura? Recursos Artísticos em Psicoterapia. São Paulo: Editorial Psy II, 1995.
FREUD, Sigmund. Arte, literatura e os artistas. in>: IANNINI, Gilson; TAVARES, Pedro Heliodoro (Org.) Obras incompletas de Sigmund Freud. BH: Autêntica Editora, 2012
JUNG, Carl G. O espírito na arte e na ciência. Petrópolis: Vozes, 2007
KANDINSKY, Wassily. Do Espiritual na Arte e na Pintura Em Particular. SP: Martins Fontes, 1996
KRAMER, Edith. Terapia através del arte en una comunidad infantil. Buenos Aires: Kapelusz, 1982
KRAMER Edith El arte como terapia infantil. México: Ed Diana, 1985
KLEE, Paul. Sobre a arte moderna e outros ensaios. RJ: Zahar, 2001
NAUMBURG, Margaret. An Introduction to Art Therapy: Studies of the "free" Art Expression of Behavior Problem Children and Adolescents as a Means of Diagnosis and Therapy. USA: Teachers College Pré, 1973
RHYNE, Janie. Arte e Gestalt, padrões que convergem. SP: Summus, 2000
VYGOTSKY, L.S. A Imaginação e a Arte na Infância, Lisboa: Relógio d'água, 2009
VYGOTSKY, L.S Psicologia da Arte. SP: Martins & Fontes, 2001
SILVEIRA, Nise da. Imagens do Inconsciente. Petrópolis: Vozes, 2015
Referências
- ↑ Vick, Randy (1 de janeiro de 2003). «A brief history of art therapy». Handbook of Art Therapy. Consultado em 27 de dezembro de 2017
- ↑ Gilroy, Andrea; Dalley Tessa (Org.). Pictures at an Exhibition (Psychology Revivals): Selected Essays on Art and Art Therapy NY: Routledge, 1989 ISBN-13: 978-0415839914 ISBN-10: 0415839912 in: Google Books Aces. Feb. 2020
- ↑ Frayze-Pereira, João A. (dezembro de 2003). «Nise da Silveira: imagens do inconsciente entre psicologia, arte e política». Estudos Avançados. 17 (49): 197–208. ISSN 0103-4014. doi:10.1590/S0103-40142003000300012
- ↑ Sigmund, Freud. «Cinco lições de psicanálise, Leonardo da Vinci e outros trabalhos» (PDF). Conexões clínicas. Consultado em 27 de dezembro de 2017