As Infantas de Portugal/Aranjuez (Vieira Lusitano)

conjunto de quatro pinturas a óleo de 1753 de Vieira Lusitano

As Infantas de Portugal/Aranjuez é um conjunto de quatro pinturas a óleo de 1753 de Vieira Lusitano, mestre pintor português da transição do Barroco para o Rococó, constituido pelos retratos das quatro filhas de D. José I e de D. Maria Ana Vitória, e que integram actualmente as Colecções Reais de Espanha, estando duas delas no Palácio Real de Aranjuez, em Madrid.[1]

Retrato da Infanta D. Maria Francisca Isabel Josefa
As Infantas de Portugal/Aranjuez (Vieira Lusitano)
Autor Vieira Lusitano
Data 1753
Técnica pintura a óleo
Dimensões cm × cm 
Localização Palácio Real de Aranjuez

O conjunto é formado pelos retratos das infantas D. Maria Francisca Isabel Josefa, D. Maria Ana Francisca Josefa, D. Maria Francisca Doroteia e D. Francisca Benedita. Na data em que se supõe tenham sido pintados os quatros quadros, as quatro princesas tinham de idade, respectivamente, 19, 17, 14 e 7 anos.[1]

Estas pinturas foram provavelmente oferecidas pela rainha D. Maria Ana Vitória a sua mãe, Isabel Farnésio, como propõe o historiador da arte Juan J. Luna.[2]

Existe uma outra série contemporânea desta também pintada por Vieira Lusitano, representando as mesmas princesas e que se encontra no Palácio Nacional de Queluz, havendo grande afinidade iconográfica entre as duas séries, o que permite datar a série do Palácio de Queluz também em cerca de 1753. A data de 1753 atesta, por outro lado, a continuidade de Vieira Lusitano como retratista da corte já no reinado de D. José I, estando estas pinturas relacionadas com o seu Estudo de traje e jóias para retrato áulico da mesma época.[1]

Retrato da Infanta D. Maria Ana Francisca Josefa (1753), Vieira Lusitano, no Palácio Real de Aranjuez

Descrição

editar

O Retrato de D. Maria Francisca de Bragança, princesa do Brasil, futura rainha D. Maria I (1777-1816), mostra a princesa retratada nos seus dezanove anos já com o manto real (azul de arminho), indício do seu destino de rainha, toucado de flores e pérolas, e profusão de jóias. Ao fundo à esquerda um escudo com a medusa e uma lança, atributos de Minerva, o que remete para o pensamento elevado, a sagacidade e inteligência, a defesa das letras, das artes e da música.[1]

O Retrato de D. Maria Ana de Bragança, tendo ela na época dezassete anos (1736-1813), é adornada com fita azul na cabeça formando laçadas.[1]

No Retrato de D. Maria Francisca Doroteia de Bragança, tinha esta princesa então catorze anos (1739-1771), o traje é também de corte, sendo a única pintura da série que está assinada e datada.[1]

 
Retrato da Infanta D. Maria Francisca Doroteia (1753), de Vieira Lusitano, no Palácio Real de Aranjuez

O Retrato de D. Maria Benedita de Bragança é retrato de menina com apenas com sete anos (1746-1829), junto a uma mesa sobre a qual figura uma arca com jóias e tendo uma cortina do lado direito.[1]

As quatro pinturas apresentam o mesmo formato oval, idênticas dimensões da tela, e uma uniformidade formal e estilística que lhes confere o estatuto de série, sendo essa talvez a razão porque só um dos Retratos, o de D. Maria Francisca Doroteia, esteja assinado e datado: «1753 F. Vieira Fa.»[1]

Apreciação

editar

Juan J. Luna refere certas características comuns aos quatro retratos, como o esquema triangular em que se inscrevem as quatro figuras a meio-corpo, quebrado apenas pelos atributos que acompanham cada uma delas. Por outro lado, a uniformidade de atitudes, com a mesma colocação da cabeça, olhando em frente, e uma ligeira torção do tronco à esquerda. Além disso, em todas os retratos se nota uma execução depurada do desenho que realça os contornos, endurecendo de certa forma as expressões do rosto. Vieira preferiu claramente salientar o desenho face à expressividade da cor. Quanto à luz, disseminada com sobriedade, não realça os “valores escultóricos” das figuras, negando-lhes espectacularidade. As cores são predominantemente frias, sem transições bruscas, os fundos neutros, as superfícies planas, adensando-se apenas nalguns pormenores tratados com grande minúcia (flores, jóias, laçarias). No geral, as figuras respiram majestade, serenidade e graça, mas estão envoltas numa «[…] atmosfera de aristocrático distanciamento frente ao espectador […]».[3]

 
Retrato da Infanta D. Maria Benedita de Bragança (1753), de Vieira Lusitano, no Palácio Real de Aranjuez

Segundo Susana Gonçalves, falta-lhes, de facto, espontaneidade e viveza. As efígies são impessoais e algo estereotipadas. Esta desindividualização, própria dos rostos femininos associados a um determinado ideal de beleza, limitou seguramente as possibilidades do artista e prendeu-o a cânones estéticos. Ainda para J. Luna, «[…] falta a visão pessoal do artista, que transforma o natural que observa, dando-lhe vida própria […]». As princesas estão «[…] rigidamente retratadas dentro de uma solenidade documental que expressa com dureza o ambiente social em que se desenvolviam as suas existências […]».[1]:407-409

Referências

editar
  1. a b c d e f g h i Gonçalves, Susana Cavaleiro Ferreira Nobre, A arte do retrato em Portugal no tempo do barroco (1683-1750): conceitos, tipologias e protagonistas, Teses de doutoramento - 2013, no Repositório da Universidade de Lisboa.[1]
  2. Juan J. Luna, “Presencia de Francisco Vieira en las colecciones reales de España”, Bracara Augusta, vol. XXVIII, n.º 64 (76), Braga, 1973, p. 406, citado por Susana Gonçalves, obra citada.
  3. Juan J. Luna, “Presencia de Francisco Vieira en las colecciones reales de España”, Bracara Augusta, vol. XXVIII, n.º 64 (76), Braga, 1973, p. 404., citado por Susana Gonçalves na obra referida.

Ligação externa

editar