Aurora Nunes Wagner

Aurora Nunes Wagner (Quaraí, 9 de agosto de 1899 - Porto Alegre, 9 de junho de 1973) foi uma odontóloga, professora, poeta e Integralista brasileira.

Aurora Nunes Wagner
Nascimento 9 de agosto de 1899
Quaraí
Morte 9 de junho de 1973
Porto Alegre
Cidadania Brasil
Alma mater
Ocupação escritora, poeta, dentista

Formada em odontologia, dedicou-se a pesquisa, escrevendo inúmeros trabalhos científicos[1].

Integralista, foi a primeira mulher a se candidatar a deputada estadual em Porto Alegre.[2]

Como poeta, Aurora foi uma das fundadoras da Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul[3].

Biografia

editar

Formação e Carreira na Odontologia

editar

Aurora iniciou sua educação no Colégio Nossa Senhora do Horto, em Quaraí, e continuou seus estudos no Colégio União, em Uruguaiana. Posteriormente, por volta dos 15 anos ,mudou-se para Porto Alegre, onde cursou o Ginásio Júlio de Castilhos. Em 1919, graduou-se em Odontologia pela Faculdade de Medicina de Porto Alegre.

Especializou-se em Odontopediatria na Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro. Em 1936, Aurora obteve a Livre Docência em Ortodontia e Odontopediatria na Escola Médico-Cirúrgica de Porto Alegre, tornando-se a primeira mulher a exercer o magistério universitário nessa instituição.[4]

A escritora também se aperfeiçoou dentro e fora do Brasil e teria sido a primeira a tomar posse de uma cadeira da Academia de Odontologia do Rio de Janeiro, em 1951, além de lecionar em outras universidades gaúchas.[5]

Sua carreira acadêmica foi complementada por sua atuação na revista Rio-Grandense de Odontologia de Porto Alegre e na Ilustração Brasileira.[4]

Integralismo

editar

Influenciada por Gustavo Barroso,[6] aderiu ao Integralismo, de Plínio Salgado, e assumiu um papel de liderança na Ação Integralista Brasileira (AIB) como chefe do Departamento Provincial Feminino do Rio Grande do Sul. Participou do II Congresso Nacional Integralista, realizado em Petrópolis, e deixou registrado suas impressões: “O congresso integralista de Petrópolis congregou num ambiente de civismo e amor todas as províncias e fê-las pulsar em uníssono por um mesmo ideal supremo e nobre – o ressurgimento da Pátria”.[7]

Em 1934, representando a AIB, foi a primeira mulher a se candidatar para a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. Somente dois jornais noticiaram essa inédita candidatura feminina, e o Diário de Notícias e o Jornal da Manhã, apesar de trazerem matérias sobre os Integralistas, não fizeram uma única menção à candidatura de Aurora. O Correio do Povo escolheu dar a notícia de tal candidatura, publicando um manifesto escrito pela Integralista: [2][5]

Minhas patrícias! Candidata da Ação Integralista Brasileira á deputação á Assembleia Constituinte do Rio Grande do Sul, venho dizer-vos o significado da aceitação da minha candidatura e dirigir-vos um apelo em prol da campanha nobre e patriótica em que nos empenhamos. Antes de mais nada, cumpre dizer-vos que a candidatura do Integralismo às eleições é somente um meio de propaganda, pois combatemos a política partidária que desune as famílias, atiça a fogueira dos ódios e, de quatro em quatro annos, arranca dos lares os homens validos, para as guerras fraticidas. Visamos com nossas candidaturas justamente a oportunidade para chamar a vossa atenção para esse exercício de “camisas verdes” que corporificam a ideia nova de um Brasil melhor. Tambem nós, as mulheres integralistas, vestimos a blusa verde, com orgulho e convicção. Porque? Porque o “Integralismo” é um programma político-social que defende os sagrados interesses da mulher brasileira. E’ o que vos quero mostrar. Vós sabeis que, no actual regime – que intitula-se “democratico” – o Estado permitte a propaganda communista, desde que os communistas não perturbem a ordem. Os partidos communistas estão até inscriptos nos Tribunaes Eleitoraes para disputar eleições! Nas Escolas Superiores, como a de Direito do Rio de Janeiro, pontificam communistas. Pois sabeis o que querem estes communistas, que fazem – ante a indifferença do Estado – a sua propaganda? Elles querem o amor livre! Querem escravizar a mulher aos seus instintos. Querem destruir o amor filial, substituindo as mães pelos asylos, considerando o amor materno como um sentimento vil. Esse Estado, que permitte se propague a dissolução obrigatoria das famílias, é um Estado incapaz, desprezível e comparável sòmente ao marido que permittisse o aviltamento de sua esposa. Nós somos pela defesa effectiva da organização familiar christã. Eis o motivo porque o Integralismo merece nosso formal apoio e o regime chamado “democrático” deve ser, por nós, combatido e repudiado. A família, porém, não repousa sòmente em laços de affeto. Ella precisa de meios materiaes de vida. Ainda ahi, o Integralismo offerece ás mulheres a defesa ampla dos seus interesses. Entende o Integralismo que o papel da mulher – na sua maioria – é o de mãe. E a mãe deve ficar no lar, na tarefa sublime da educação dos filhos. O Integralismo, por isso, no plano econômico, defende o lar, para que a mulher possa conservar-se nelle, para formar o caracter, o coração e a intelligencia dos homens de amanhã. Repugnamos a educação burocrática dos que querem fazer dos homens méro instrumento de trabalho. Queremos a formação da juventude no aconchego do carinho materno para a victoria de uma civilisação fraterna e humana. E como pretende o Integralismo resolver essa questão magna? Como poderá a mulher ficar no lar, si os maridos não encontram trabalho, si o trabalho dos homens é mal remunerado e mal chega para a comida de uma bocca? O Integralismo modificará as condições do trabalho. O trabalhador não será pago como simples productor de trabalho, como se faz actualmente, mas como cooperador humano na produção das riquezas. Assim, o seu trabalho não será pago como critério do maior lucro do patrão. Mas em attenção á sua dignidade. Instituiremos o “Salário Familiar” e cada trabalhador ganhará o sufficiente para manter dignamente a sua família. [...] É necessário que o governo promova o bem estar das famílias; assegure a possibilidade de trabalho honrado e educação profissional das mulheres. Esse é o supremo interesse do nosso sexo. A “Ação Integralista Brasileira” é legitima defensora dos nossos interesses. Por isto, vestimos com orgulho e convicção a nossa blusa verde e erguemos o braço bem alto, e os nossos corações, concitando-vos a brandar comnosco: ANAUÊ. Porto Alegre, 1 de outubro de 1934
— Aurora Nunes Wagner

 (Correio do Povo, dia 06/10/1934, p.12

Contribuição literária

editar

Além de sua carreira na odontologia e de sua atuação política, Aurora Nunes Wagner teve uma presença marcante no campo literário. Foi co-fundadora da Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul (ALFRS), instituição o qual presidiu de 1949 a 1951.[8] A revista Atenéia nascida sob sua presidência como órgão oficial da ALFRS teve sua colaboração assídua por 25 anos.[4] Em 1946, publicou seu livro de poesias intitulado "Prelúdios".[5]

Referências

  1. 182 - Aurora Nunes Wagner Dicionário dos Escritores Brasileiros
  2. a b Karawejczyk, Mônica (2016). «A 'prenda' e o voto: as primeiras participações femininas nas eleições do Rio Grande do Sul (1933-1935)» (PDF). Universidade de Passo Fundo. Revista História : Debates e Tendências (Online). 16 (2). ISSN 2238-8885. Consultado em 13 de setembro de 2024 
  3. Academia Literária Feminina Academia literária feminina do Rio Grande do Sul
  4. a b c Kroeff, Maria Bernadete Moreira (2010). «Histórias de vida : trajetórias de professoras no cenário político de Porto Alegre – perfis (auto) biográficos no mundo contemporâneo» (PDF). Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Consultado em 13 de setembro de 2024 
  5. a b c Petró, Camila Albani (2016). «SEMPRE MAIS ACIMA, SEMPRE MAIS ALÉM: pensamentos e práticas de gênero na Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul em Porto Alegre ao longo das décadas de 194 0 a 1970» (PDF). Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Consultado em 13 de setembro de 2024 
  6. Pimenta, Everton Fernando; Gonçalves, Leandro Pereira (2021). «Ação integralista em Minas Gerais : estudos e historiografia» (PDF). Juiz de Fora, MG: Editora UFJF. UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA. ISBN 978-65-89512-14-1. Consultado em 13 de setembro de 2024 
  7. Pinheiro Ramos, Alexandre (2013). «INTELECTUAIS E CARISMA: a Ação Integralista Brasileira na década de 1930» (PDF). RIO DE JANEIRO: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO. Consultado em 13 de setembro de 2024 
  8. «Presidentes». alfrs. Consultado em 13 de setembro de 2024 

 Sempre mais acima, sempre mais além : pensamentos e práticas de gênero na Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul em Porto Alegre ao longo das décadas de 1940 a 1970, LUME UFRGS, 07 de novembro de 2017.