Batalha do Estreito
A batalha do Estreito (em árabe: uaq‘at al-majāz) foi travada no começo de 965 entre as frotas do Império Bizantino e do Califado Fatímida no estreito de Messina. Resultou numa grande vitória fatímida, e o colapso final da tentativa do imperador Nicéforo II Focas para recuperar a Sicília dos fatímidas.
Batalha do Estreito | |||
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Guerras bizantino-árabes | |||
Batalhas navais bizantino-árabes do século VII ao XI | |||
Data | Começo de 965 | ||
Local | Estreito de Messina, Itália | ||
Desfecho | Vitória fatímida | ||
Beligerantes | |||
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Comandantes | |||
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Baixas | |||
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Antecedentes
editarA queda de Taormina para os aglábidas marcou o fim efetivo da conquista muçulmana da Sicília, mas os bizantinos retiveram alguns entrepostos na ilha, e Taormina em si logo se libertou do controle muçulmano.[1] Em 909, os fatímidas tomaram a província metropolitana aglábida de Ifríquia, e com ela a Sicília. Os fatímidas (e após a década de 950 os governadores cálbidas hereditários da Sicília) continuaram a tradição da jiade contra as fortificações cristãs do nordeste da Sicília e, mais proeminentemente, contra os domínios bizantinos no sul da Itália, com tréguas pontuais.[2][3]
Após a reconquista bizantina de Creta em 960–961, onde os fatímidas, constrangidos por uma trégua com o império e as distâncias envolvidas, foram incapazes ou relutantes para interferir,[4][5] os fatímidas viraram sua atenção para a Sicília, onde decidiram reduzir os entrepostos bizantinos remanescentes: Taormina, os fortes em Val de Demona e Val di Noto, e Rometa. Taormina caiu para o governador Amade ibne Haçane Alcalbi no natal de 962, após um cerco de nove meses, e no ano seguinte seu primo, Haçane ibne Amar Alcalbi , liderou cerco a Rometa. A guarnição da última enviou um pedido de ajuda para o imperador Nicéforo II Focas, que preparou uma grande expedição, liderada pelo patrício Nicetas Abalanta e seu próprio sobrinho, Manuel Focas.[6][7]
Batalha
editarO efetivo bizantina aportou em outubro de 964 e rapidamente capturou Messina e outros fortes no Val de Demona, mas sua tentativa de aliviar Rometa foi decisivamente derrotada, com Manuel Focas vindo a falecer. Deixada sem esperança, Rometa caiu na primavera de 965.[7][8][9] Após sua derrota diante de Rometa, os efetivos bizantinos remanescentes foram forçados a retirar-se para Messina. De lá, Nicetas tentou cruzar o estreito de Messina para a península Itálica, mas foi interceptado pela frota fatímida sob Amade Alcalbi.[10][11][12]
Na batalha resultante, conhecidas nas fontes árabes (ibne Alatir, Almacrizi, Abulféda) como a "Batalha do Estreito" (uaq‘at al-majāz), o governador fatímida empregou diversos equipamentos para atacar nos navios bizantinos: na descrição de Heinz Halm, "eles afundaram seus próprios navios e nadaram contra o navio inimigo; eles apertaram cordas a seu leme, ao longo do qual vasos de cerâmica contendo o fogo grego deslizaram contra o navio inimigo, e espatifaram sobre o cadaste". Essa tática permitiu a destruição de muitos navios bizantinos, e a batalha terminou numa grande vitória fatímida; segundo os historiadores árabes, 1 000 prisioneiros foram levados, incluindo o almirante Nicetas com muitos de seus oficiais, bem como uma pesada espada indiana que portava uma inscrição indicando que certa vez pertenceu a Maomé.[10][11][12]
Rescaldo
editarEssa derrota levou os bizantinos a novamente solicitarem uma trégua em 966/967, resultando num acordo de paz que deixou a Sicília em mãos fatímidas, e renovando a obrigação imperial de pagar tributo em troca do cessar dos raides na Calábria. Ambos os poderes estavam dispostos a chegar num acordo, pois ambos estavam ocupados em outros locais: Focas com suas guerras contra os hamadânidas e a conquista da Cilícia, e os fatímidas com sua planejada invasão do Egito.[10][13] O califa Almuiz Aldim Alá (r. 953–975) refortificou algumas cidades na Sicília durante este período, e construiu mesquitas da sexta-feira e assentou muçulmanos em cidades dominadas por cristãos em Val de Demona. Taormina, contudo, foi arrasada, talvez como parte dos termos do tratado de paz, e não foi reassentada até 976.[14]
Como parte do acordo de paz, os cativos bizantinos, incluindo Nicetas, foram resgatados pelo império. Nicetas estava cativo em Ifríquia, onde copiou as homilias de Basílio, o Grande e Gregório de Nazianzo num rico manuscrito caligráfico, que após sua libertação ele doou para um mosteiro, e que agora está na Biblioteca Nacional da França em Paris (Par. gr. 947).[10][15]
Referências
- ↑ Metcalfe 2009, p. 31, 42.
- ↑ Metcalfe 2009, p. 45–49, 53–54.
- ↑ Lev 1984, p. 227–237.
- ↑ Lev 1984, p. 236.
- ↑ Halm 1996, p. 404–405.
- ↑ Halm 1996, p. 405–406.
- ↑ a b Brett 2001, p. 242.
- ↑ Halm 1996, p. 406–407.
- ↑ Metcalfe 2009, p. 55.
- ↑ a b c d Halm 1996, p. 407.
- ↑ a b Lev 1984, p. 235–236.
- ↑ a b Lilie 2013, Aḥmad b. al-Ḥasan b. ʻAlī al-Kalbī (#20188); Niketas (#25784).
- ↑ Lev 1984, p. 235–237.
- ↑ Metcalfe 2009, p. 56.
- ↑ Lilie 2013, Niketas (#25784).
Bibliografia
editar- Brett, Michael (2001). The Rise of the Fatimids: The World of the Mediterranean and the Middle East in the Fourth Century of the Hijra, Tenth Century CE. The Medieval Mediterranean 30. Leida: BRILL. ISBN 9004117415
- Halm, Heinz (1996). Michael Bonner (trad.), ed. Handbook of Oriental Studies. The Empire of the Mahdi: The Rise of the Fatimids. 26. Leida: BRILL. ISBN 9004100563
- Lev, Yaacov (1984). «The Fatimid Navy, Byzantium and the Mediterranean Sea, 909–1036 CE/297–427 AH». Byzantion. 54: 220–252. OCLC 1188035
- Lilie, Ralph-Johannes; Ludwig, Claudia; Zielke, Beate et al. (2013). Prosopographie der mittelbyzantinischen Zeit Online. Berlim-Brandenburgische Akademie der Wissenschaften: Nach Vorarbeiten F. Winkelmanns erstellt
- Metcalfe, Alex (2009). The Muslims of medieval Italy. Edimburgo: Edinburgh University Press. ISBN 978-0-7486-2008-1