Beelzebufo ampinga

Beelzebufo ampinga é uma espécie extinta de anuro da família Ceratophryidae, que era encontrada no noroeste de Madagascar entre 65 e 70 milhões de anos atrás, na época do Cretáceo Superior. Durante esse período, o clima na região era o subtropical árido, havendo estações bem definidas, com longas secas e baixa pluviosidade. Compartilhava seu habitat com várias espécies de dinossauros e mamíferos primitivos.

Como ler uma infocaixa de taxonomiaBeelzebufo ampinga
Ocorrência: Cretáceo Superior: 70–65 Ma
Representação artística de um indivíduo se alimentando de um terópode.
Representação artística de um indivíduo se alimentando de um terópode.
Estado de conservação
Extinta
Extinta (IUCN 3.1)
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Amphibia
Ordem: Anura
Família: Ceratophryidae
Gênero: Beelzebufo
Espécie: B. ampinga
Nome binomial
Beelzebufo ampinga
Evans, Jones, & Krause, 2008
Distribuição geográfica
Mapa
Local onde foram encontrados os fósseis do holótipo.

Media em média 41 centímetros de comprimento e devia pesar 4,5 quilos, sendo a maior espécie de anuro que já existiu. Seu crânio era extremamente ossificado, curto, largo e fundo. Possuía de 50 a 60 dentes em cada maxila e 13 ou 14 dentes em cada pré-maxila. Presume-se que sua pele era fina e que tinha o corpo globoide e dedos pequenos. Devido a uma série de características ósseas, é sugerido que a espécie era fossorial, permanecendo em tocas durante as épocas mais quentes e secas, só saindo para se reproduzir e se alimentar. Como anfíbios de grande porte costumam ter uma reprodução acelerada e uma longa expectativa de vida, era capaz dessa espécie também possuir.

Assim como os sapos de sua família, tinha uma grande boca, uma mordida extremamente potente e uma língua larga e grudenta, que lhe permitia capturar animais grandes e fortes, como pequenos crocodilos e dinossauros não voadores. Comparando a mordida do Ceratophrys cranwelli com o seu tamanho, estima-se que o B. ampinga tinha uma mordida de até 2 200 newtons, chegando a ser mais forte que a de um pit bull.

Taxonomia

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A espécie foi descrita no dia 7 de janeiro de 2008, pelos pesquisadores Susan Evans, Marc Jones e David Krause, na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, a partir de fósseis que foram encontrados desde 1993.[1] É tratada como pertencente a família Ceratophryidae devido à semelhança com as outras espécies da família em várias características, como a presença de dentes unicúspides, a expansão posterolateral do osso parietal e a ausência de projeções no osso palatino. Já sua especiação pode ser comprovada pelo seu tamanho, muito maior do que qualquer outra espécie da família, a presença de exostoses no teto da cavidade craniana e a força dos ossos e o padrão de suturas do crânio. Os gêneros mais próximos filogeneticamente são o Ceratophrys e o Baurubatrachus, porém, certas características, como as narinas e o formato do corpo, não permitem que a espécie seja catalogada neles, sendo criado então um gênero a parte, o Beelzebufo.[2]

Os fósseis do holótipo foram encontrados na Formação Maevarano, na província de Mahajanga, em Madagascar. O nome do seu gênero deriva da aglutinação da palavra grega Βεελζεβούλ (Beel’zebul), que significa "demônio", e da palavra latina Bufo, que significa "sapo", tendo como tradução livre, "sapo do demônio", uma alusão ao seu grande porte e possível aparência. Já o seu epíteto específico, deriva da palavra malgaxe Ampinga, que significa "armadura", uma referência a hiperossificação de seu crânio.[2]

Distribuição

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Até o ano de 2014, foram encontrados 64 espécimes em 27 lugares distintos, na província de Mahajanga, no noroeste de Madagascar. A espécie viveu entre 65 e 70 milhões de anos atrás, no Cretáceo Superior, e conviveu com espécies de dinossauros e mamíferos pré-históricos.[3] Estima-se que durante essa época haviam ligações entre a América, Madagascar e a Antártida, já que a espécie possui muitas semelhanças com sapos sul-americanos e também pelo fato das espécies atuais de sua família serem exclusivas da América do Sul.[4] O clima durante esse período nessa região era o subtropical árido, com estações bem definidas, havendo longos períodos de seca e com poucas chuvas, fazendo com que os indivíduos ficassem próximos de rios temporários e poças d'água. Tais intempéries justificariam a sua alta ossificação, evitando assim a perda de água devido ao seu grande tamanho corporal. Comparações com espécies dos gêneros Ceratophrys e Pyxicephalus sugerem que o B. ampinga era predominantemente terrestre.[5]

Descrição

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Comparação entre o B. ampinga e uma mão humana

A espécie media em média 41 centímetros de comprimento e pesava aproximadamente 4,5 quilos, porém supõe-se que podia ser maior quando vivo.[6] Seu crânio era extremamente desenvolvido, posteriormente fundo, curto e largo. Existiam entre 50 e 60 dentes em cada maxila e 13 ou 14 dentes em cada pré-maxila, sendo bastante semelhante com os das espécies do gênero Ceratophrys. Foram encontradas osteodermas fossilizadas, que poderiam ser usadas como proteção da região dorsolateral ou posterior do tronco. A tíbia e a fíbula eram ossos robustos e largos, tendo seu fóssil medindo 51,3 milímetros, mas é provável que medisse entre 56 e 62 milímetros quando em vida.

Em vários espécimes diferentes, foram encontrados ossos de diferentes tamanhos, o que pode se levar a imaginar que havia dimorfismo sexual ou diferença no grau de crescimento devido a fatores externos. Possivelmente possuía uma longa expectativa de vida, já que isso é algo comum em anfíbios de grande porte. Supõe-se que possuía a pele fina, que seus dedos eram pequenos, que não tinha membrana timpânica e que seu corpo era globular.[5] O seu padrão de suturas indica que seu crescimento era prolongado.[2]

Era completamente diferente de qualquer espécie de sapo atual, sendo maior que a rã-golias (Conraua goliath), que pode ter até 35 centímetros e pesar 3,5 quilos, que é a maior espécie de anuro vivente,[7] e o sapo-cururu (Rhinella schneideri), que chega a ter 25 centímetros e é o maior sapo da América.[8] Era também de 4 a 5 vezes maior que o Mantidactylus guttulatus, o atual maior sapo de Madagascar, que chega a medir 12 centímetros.[9]

Alimentação

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A alimentação dos indivíduos do gênero Ceratophrys podem incluir animais grandes, fortes e/ou perigosos, como outros sapos, lagartos, cobras, aves e roedores, já que possuem uma língua larga e grudenta, que agem em conjunto com uma poderosa mordida e uma boca de grandes proporções e abertura. Assim como estes sapos, estima-se que o B. ampinga tinha uma dieta parecida e modo de predação semelhante, e, considerando-se a fauna local no Cretáceo Superior, imagina-se que a espécie poderia se alimentar de pequenos crocodilos e dinossauros não voadores.[10]

Foram feitas comparações para se determinar a força da mordida de um indivíduo adulto. Para isso, analisaram a força das mandíbulas da espécie Ceratophrys cranwelli e compararam com o tamanho do seu corpo e da sua cabeça. E a partir de um transdutor de força, descobriu-se que as espécies viventes do gênero Ceratophrys possuem uma mordida com uma força entre 5 e 500 newtons, e estimativas obtidas a partir desses dados sugerem que a espécies possuíam uma mordida de até 2 200 newtons, superior a de um pit bull (2 000 N), de uma leoa (2 024 N) e de uma tigresa (2 165 N). [11]

Comportamento

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Não existem dados concretos sobre seu comportamento, apenas comparações com espécies semelhantes e estimativas baseadas nos restos fósseis. Anfíbios de tamanho avantajado costumam ter um ciclo reprodutivo acelerado, então se imagina que essa espécie também era assim, reproduzindo-se nos períodos mais úmidos ou frescos. Análises ósseas sugerem que a espécie poderia ser fossorial, permanecendo em tocas nas estações mais quentes e secas, saindo apenas para se reproduzir e se alimentar, comportamento comum em anuros que vivem em locais áridos. Tais características que podem comprovar isso são: o crânio altamente ossificado e robusto, a ausência de membrana timpânica, o corpo globoide e a presença de vértebras elevadas. Devido ao seu tarso muito curto, a espécie não era saltadora, e tinha que caminhar para se locomover. Esta peculiaridade também reforça a possibilidade dela ser fossorial.[5]

Referências

  1. Brian Handwerk (18 de fevereiro de 2008). «Giant "Frog From Hell" Fossil Found in Madagascar». National Geographic. Consultado em 2 de junho de 2018 
  2. a b c EVANS, Susan E.; JONES, Marc E. H.; KRAUSE, David W. (7 de janeiro de 2008). «A giant frog with South American affinitiesfrom the Late Cretaceous of Madagascar» (PDF) (em inglês). PNAS. Consultado em 2 de junho de 2018 
  3. Ryan F. Mandelbaum (20 de setembro de 2017). «This Extinct Frog Probably Ate Crocodiles and Dinosaurs» (em inglês). Gizmodo. Consultado em 2 de junho de 2018 
  4. «Devil Frog» (em inglês). National Geographic. Consultado em 2 de junho de 2018 
  5. a b c EVANS, Susan E.; GROENKE, Joseph R.; JONES, Marc E. H.; TURNER, Alan H.; KRAUSE, David W. (28 de janeiro de 2014). «New Material of Beelzebufo, a Hyperossified Frog (Amphibia: Anura) from the Late Cretaceous of Madagascar». PLOS ONE. Consultado em 2 de junho de 2018 
  6. Guilherme Eler (20 de setembro de 2017). «Beelzebufo: o sapo-boi de 68 milhões de anos que comia dinossauros». Super Interessante. Consultado em 2 de junho de 2018 
  7. Redação (19 de agosto de 2016). «Qual é o maior sapo do mundo?». Mundo Estranho. Consultado em 3 de junho de 2018 
  8. «Instituto Rã-Bugio». Consultado em 3 de junho de 2018 
  9. Ned Stafford (18 de fevereiro de 2008). «Giant frog found in Madagascar» (em inglês). Nature. Consultado em 3 de junho de 2018 
  10. Mark Mancini (2 de outubro de 2017). «Prehistoric Frog Had a Monstrous Bite» (em inglês). HowStuffWorks. Consultado em 4 de junho de 2018 
  11. LAPPIN, A. Kristopher; WILCOX, Sean C.; MORIARTY, David J.; STOEPPLER, Stephanie A. R.; EVANS, Susan E. & JONES, Marc E. H. (20 de setembro de 2017). «Bite force in the horned frog (Ceratophrys cranwelli) with implications for extinct giant frogs» (em inglês). Scientific Reports. Consultado em 3 de junho de 2018 

Ligações externas

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