Cínrico de Wessex
Cínrico[1] (em latim: Cynricus ou Cinricus; em inglês antigo: Cynric; m. 560) foi rei da Saxônia Ocidental entre 534 até 560. Era talvez filho de Cerdico, aquele que é creditado como o primeiro chefe dos saxões ocidentais que migraram à Britânia no fim do século V. Participou em expedições militares durante seu reinado e ao morrer legou seu trono a seu filho Ceaulino, que continuou sua obra. Ele fez conquistas relevantes em seu tempo, inclusive derrotando os britanos em combate.
Cínrico da Saxônia Ocidental | |
---|---|
Rei de Wessex | |
Reinado | 534–560 |
Antecessor(a) | Cerdico ou possivelmente Creoda |
Sucessor(a) | Ceaulino |
Morte | 560 |
Descendência | Ceaulino Cuta ou Cutulfo |
Casa | da Saxônia Ocidental |
Pai | Cerdico |
Contexto
editarA história do período sub-romano na Britânia é parcamente referida e está sujeita importantes desacordos entre historiadores. Ao que parece, contudo, os raides do século V na Britânia por povos continentais transformaram-se em migrações. Os recém-chegados eram anglos, saxões, jutos e frísios. Capturaram territórios no leste e sul da Britânia, mas perto do fim do século V, uma vitória britânica na Batalha do Monte Badonico parou o avanço anglo-saxão por 50 anos.[2][3] Perto do ano 550, contudo, os britanos voltaram a perder terreno, e dentro de 25 anos, parece que quase todo o sul da ilha estava sob os invasores.[4]
A paz que se seguiu ao Monte Badonico é atestada parcialmente pelo monge Gildas que escreveu a Sobre a Ruína e Conquista da Britânia (De Excidio et Conquestu Britanniae) durante meados do século VI. Esse ensaio é uma polêmica contra corrupção e Gildas fornece poucos nomes e datas. Ele parece afirmar, contudo, que a paz durou do ano de seu nascimento ao tempo que escrevia.[5] A Crônica Anglo-Saxônica é a outra principal fonte que lida com esse período, em particular numa entrada ao ano 827 que registra uma lista de reis que usaram o título de bretualda (governante da Britânia). Aquela lista mostra uma lacuna no começo do século VI que corresponde à versão dos eventos de Gildas.[6]
Fontes
editarAs duas principais fontes escritas à história inicial dos saxões ocidentais são a Crônica Anglo-Saxônica e a Lista Real Genealógica Saxã Ocidental. A crônica é um conjunto de anais compilados perto do ano 890, durante o reinado de Alfredo, o Grande da Saxônia Ocidental.[7] O material às entradas mais antigas foi reunido de anais mais antigos que não sobreviveram, bem como de materiais de sagas que podem ter sido transmitidas oralmente.[8][9] A crônica data a chegada dos futuros "saxões ocidentais" na Britânia em 495, quando Cerdico e seu filho Cínrico atracaram na costa de Cerdico (Cerdices ora). Quase 20 anais descrevem as campanhas dele e aquelas de seus descendentes aparecem intercaladas nas entradas que registram os séculos subsequentes.[10][11]
A Lista Real é uma lista de chefes da Saxônia Ocidental, incluindo o comprimento dos reinados. Sobrevive de várias formas, incluindo como prefácio ao manuscrito [B] da crônica.[b] Como a crônica, a lista foi compilada no reinado de Alfredo e ambas são influenciadas pelo desejo de seus escritores usarem uma única linha de descendência para traçar a linhagem dos reis da Saxônia Ocidental de Cerdico para Geuis, o ancestral lendário epônimo dos saxões ocidentais, que é feito descendente de Odim. O resultado serviu aos propósitos políticos do escriba, mas está crivado com contradições por historiadores.[12]
As contradições podem ser vistas claramente ao calcular as datas por diferentes métodos a partir das várias fontes. O primeiro evento na história saxã ocidental, a data que pode ser reconhecida como razoavelmente certa, é o batismo de Cinegilso, que ocorreu no final da década de 630, talvez tão cedo quando 640. A crônica dá a chegada de Cerdico em 495, mas adicionando a duração dos reinados como fornecido pela lista real, o reinado de Cerdico pode ter começado em 532, uma diferença de 37 anos. Nem 495 nem 532 podem ser tratados como confiáveis, com a última data centrada na presunção de que a lista real está correta ao apresentar os reis saxões ocidentais como tendo sucedido uns aos outros, sem reis omitidos, nem reinados conjuntos, e que a duração dos reinados são corretas tal como dado. Nenhuma dessas presunções pode ser feita seguramente.[11]
As fontes também são inconsistentes sobre a duração do reinado de Ceaulino, seu sucessor. A crônica fornece-a como 32 anos, de 560 até 592, mas as listas reais discordam: versões diferentes dão-a como 7 ou 17. Um estudo detalhado recente das listas reais data a chegada dos saxões ocidentais na Britânia em 538, e favorece 7 anos como a duração mais provável do reinado de Ceaulino, com datas propostas de 581-588.[11][13] As fontes concordam que Ceaulino é o filho de Cínrico e geralmente é nomeado como pai de Cutuíno.[14] Há uma discrepância nesse caso: a entrada para 685 na versão [A] da crônica reconhece a Ceaulino um filho, Cuta, mas na entrada de 855 no mesmo manuscrito, Cuta é listado como filho de Cutuíno. Cuta também é nomeado como irmão de Ceaulino nas versões [E] e [F] da crônica, nas entradas 571 e 568 respectivamente.[15][16]
Vida
editarCínrico era filho de Cerdico. As fontes concordam que Ceaulino é o filho de Cínrico e geralmente é nomeado como pai de Cutuíno.[14] Há uma discrepância nesse caso: a entrada para 685 na versão [A] da crônica reconhece a Ceaulino um filho, Cuta, mas na entrada de 855 no mesmo manuscrito, Cuta é listado como filho de Cutuíno. Cuta também é nomeado como irmão de Ceaulino nas versões [E] e [F] da crônica, nas entradas 571 e 568 respectivamente.[15][16]
No seu apogeu, o Reino da Saxônia Ocidental ocupa todo o sudoeste da Inglaterra, mas as primeiras etapas da sua conquista não são evidentes.[17] A chegada de Cerdico, seja qual for a data, parece ter sido na ilha de Wight, e os anais colocam a data da conquista da ilha em 530. Segundo a crônica, Cerdico morre em 534, e Cínrico sucede-lhe; acrescenta que "deram a ilha de Wight aos netos, Estufo e Vitgar". Beda contradiz a informação: segundo este, a ilha de Wight foi colonizada pelos jutos e não pelos saxões - uma versão que os vestígios arqueológicos parecem confirmar.[18][19]
Em 552, Cínrico tomou Sorvioduno (atual Salisbúria).[20] Em 556, ele e Ceaulino lutaram contra britanos no Forte de Bera (Beran byrg). Esse local é hoje identificada com o Castelo de Barbúria, um forte sobre uma colina da Idade do Ferro em Viltônia, perto de Swindon. Ele poderia ser o rei nessa altura.[10][21] Ao morrer foi sucedido por Ceaulino.
Na cultura popular
editarEm 2004, no filme Rei Artur, Cerdico e Cínrico aparecem como os invasores saxões e são mortos, respectivamente, por Artur e Lancelote na Batalha do Monte Badonico.
Ver também
editar
Precedido por Cerdico |
Rei da Saxônia Ocidental 524 – 560 |
Sucedido por Ceaulino |
Referências
- ↑ CSU 1850, p. 161.
- ↑ Blair 1960, p. 13-16.
- ↑ Campbell 1991, p. 23.
- ↑ Blair 1966, p. 204.
- ↑ Stenton 1971, p. 2–7.
- ↑ Swanton 1996, p. 60–61.
- ↑ Keynes 2004, p. 41.
- ↑ Swanton 1996, p. xix.
- ↑ Yorke 1990, p. 132.
- ↑ a b Swanton 1996, p. 14–21.
- ↑ a b c Kirby 1992, p. 50–51.
- ↑ Kirby 1992, p. 49.
- ↑ Yorke 1990, p. 133.
- ↑ a b Swanton 1996, p. Apêndice.
- ↑ a b Swanton 1996, p. 18–19.
- ↑ a b Kirby 1992, p. 223–224, figuras 3-4.
- ↑ Kirby 1992, p. 49.
- ↑ Swanton 1996, p. 14-21.
- ↑ Stenton 1971, p. 22-23.
- ↑ Leeds 1954.
- ↑ Stenton 1971, p. 26–28.
Bibliografia
editar- Blair, Peter Hunter (1960). An Introduction to Anglo-Saxon England. Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 0-521-83085-0
- Blair, Peter Hunter (1966). Roman Britain and Early England: 55 BC – AD 871. Nova Iorque: W. W. Norton & Company. ISBN 0-393-00361-2
- Campbell, James; John, Eric; Wormald, Patrick (1991). The Anglo-Saxons. Londres: Penguin Books. ISBN 0-14-014395-5
- Cantu Storia Universale. Roma: Universidade Sapienza de Roma. 1850
- Keynes, Simon; Lapidge, Michael (2004). Alfred the Great: Asser's Life of King Alfred and other contemporary sources. Nova Iorque: Penguin Classics. ISBN 0-14-044409-2
- Kirby, D. P. (1992). The Earliest English Kings. Londres: Routledge. ISBN 0-415-09086-5
- Leeds, E.T. (1954). «The Growth of Wessex». Oxford: Oxford Architectural and Historical Society. Oxoniensia. LIX: 55–56
- Stenton, Frank (1971). Anglo-Saxon England (em inglês) 3a. ed. Oxford: Oxford University Press. ISBN 978-0-19-280139-5
- Swanton, Michael (1996). The Anglo-Saxon Chronicle. Nova Iorque: Routledge. ISBN 0-415-92129-5
- Yorke, Barbara (1990). Kings and Kingdoms of Early Anglo-Saxon England. Londres: Seaby. ISBN 1-85264-027-8