Camille Flammarion

Nicolas Camille Flammarion, mais conhecido como Camille Flammarion (Montigny-le-Roi, 26 de fevereiro de 1842Juvisy-sur-Orge, 3 de junho de 1925), foi um astrônomo, pesquisador psíquico e divulgador científico francês. Importante pesquisador e popularizador da astronomia, recebeu notórios prêmios científicos e foi homenageado com a nomenclatura oficial de alguns corpos celestes. Sua carreira na pesquisa e popularização de fenômenos paranormais também é bastante notória.[1][2][3][4]

Camille Flammarion
Camille Flammarion
Nascimento Nicolas Camille Flammarion
26 de fevereiro de 1842
Montigny-le-Roi
Morte 3 de junho de 1925 (83 anos)
Juvisy-sur-Orge
Sepultamento Parque Camille Flammarion
Nacionalidade francês
Cidadania França
Progenitores
  • Jules Flammarion
  • Françoise Lomon
Cônjuge Gabrielle Renaudot Flammarion, Sylvie Pétiaux
Irmão(ã)(s) Berthe Flammarion, Ernest Flammarion, Anne-Marie Flammarion
Alma mater
  • seminary of Langres
  • Association polytechnique
Ocupação astrônomo, escritor, aeronauta, escritor de ficção científica
Distinções Prêmio Jules Janssen (1897)
Empregador(a) Observatório de Paris, Bureau des Longitudes, Félix Nadar
Instituições Observatório de Paris, Bureau des Longitudes
Campo(s) astronomia
Obras destacadas Koprník a soustava světová

Seu irmão Ernest Flammarion foi o fundador das Edições Flammarion.[5]

Biografia

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Camille Flammarion em seu observatório de Juvisy-sur-Orge (1880)

Foi o mais velho de quatro filhos. Aos quatro anos de idade já sabia ler, aos quatro e meio sabia escrever e aos cinco já dominava rudimentos de aritmética.

Foi educado em Langres[5] e começou a trabalhar com dezesseis anos de idade, no observatório de Paris, no departamento de cálculo de Leverrier.[5]

Sua ruptura com os astrônomos deu-se em 1862, com a publicação do livro La pluralité des mondes habités.[5]

A partir dessa época, Flammarion começou a escrever livros populares de astronomia que foram traduzidos para diversas línguas. Uma de sua obras mais conhecidas é Astronomia popular, de 1880. Escreveu e editou em uma série de revistas científicas e astronômicas.

No fim de sua vida escreveu sobre pesquisas de física. Em 1883, Flammarion fundou o observatório de Juvisy-sur-Orge, dirigindo-o pelo resto de sua vida, incentivando o trabalho de observadores amadores.

Fundou a Société astronomique de France[6] em 1887.[carece de fontes?] Seus trabalhos para a popularização da astronomia fizeram com que fosse agraciado, em 1912, com um prêmio da Legião de Honra.[5]

Em 1874 desposou Sylvie Pétiaux.[5] Em 1919, viúvo, ele se casou com Gabrielle Renaudot.[5]

Pesquisa psíquica e Espiritismo

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Sessão espírita na casa de Camille Flammarion (França, 25 de Novembro de 1898).

Camille Flammarion também é notável por ter sido um dos primeiros pesquisadores psíquicos e espíritas, tendo desenvolvido extensa atividade nessas áreas.[4] Em um discurso proferido na pioneira associação parapsicólogica Society for Psychical Research em 1923, ano em que presidiu a associação, Flammarion resumiu seus pontos de vista depois de anos de investigação própria sobre fenômenos paranormais. Ele afirmou que acreditava em telepatia, duplo etérico, teoria da fita de pedra e raras manifestações mediúnicas.[7] Abordou o espiritismo, a pesquisa psíquica e a reencarnação do ponto de vista do método científico, escrevendo: "É somente pelo método científico que podemos progredir na busca da verdade. A crença religiosa não deve tomar o lugar da análise imparcial. Devemos estar constantemente em guarda contra as ilusões".[8]

Flammarion também era membro da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas - fundada pelo codificador[9] do Espiritismo Allan Kardec - e da Sociedade Teosófica.[10] Próximo de Kardec, o astrônomo discursou em seu enterro, afirmando que o mesmo era o "bom senso encarnado" e "[...]Senhores, o Espiritismo não é uma religião, mas é uma ciência, ciência da qual conhecemos apenas o a b c".[11][12]

Embora, sobre mediunidade, Flammarion tenha escrito: "É infinitamente lamentável que não possamos confiar na lealdade dos médiuns. Eles quase sempre trapaceiam".[13] Porém, ainda crente em fenômenos psíquicos, participou de sessões com Eusapia Palladino e alegou que alguns de seus feitos eram genuínos. Ele produziu em seu livro alegadas fotografias de levitação de uma mesa e uma impressão de um rosto em massa de vidraceiro.[14] Joseph McCabe não achou a evidência convincente. Ele notou que as impressões de rostos em massa sempre tinham o rosto de Palladino e poderiam ter sido forjadas. Além disso, as fotografias de levitação não eram claras.[15]

Seu livro The Unknown (1900) recebeu uma crítica negativa do psicólogo Joseph Jastrow, que escreveu que "as falhas fundamentais da obra são a falta de julgamento crítico na estimativa de evidências e de uma apreciação da natureza das condições lógicas que o estudo de esses problemas se apresentam".[16]

Após dois anos de investigação sobre escrita automática ou psicografia, ele escreveu que a mente subconsciente é a explicação e não há evidência para a hipótese do espírito. Flammarion acreditava na sobrevivência da alma após a morte, mas escreveu que a mediunidade não havia sido cientificamente comprovada.[17] Embora Flammarion acreditasse na sobrevivência da alma após a morte, ele não acreditava na hipótese espiritual do Espiritismo; em vez disso, acreditava que atividades espíritas como ectoplasma e levitação de objetos podiam ser explicadas por uma "força psíquica" desconhecida do médium.[18] Ele também acreditava que a telepatia poderia explicar alguns fenômenos paranormais.[19]

Em seu livro Mysterious Psychic Forces (1909), escreveu:

“Isso está muito longe de ser demonstrado. As inúmeras observações que colecionei durante mais de quarenta anos provam-me o contrário. Nenhuma identificação satisfatória foi feita. As comunicações obtidas sempre pareceram proceder da mentalidade do grupo, ou quando são heterogêneos, de espíritos de natureza incompreensível. O ser evocado logo desaparece quando alguém insiste em empurrá-lo para a parede e extrair o cerne de seu mistério. Que as almas sobrevivam à destruição do corpo Eu não tenho a sombra de uma dúvida. Mas que eles se manifestam pelos processos empregados em sessões, o método experimental ainda não nos deu uma prova absoluta. Acrescento que esta hipótese não é de todo provável. Se as almas dos mortos estivessem ao nosso redor, em nosso planeta, a população invisível aumentaria a uma taxa de 100 000 por dia, cerca de 36 milhões por ano, 3 bilhões, 620 milhões em um século, 36 bilhões em dez séculos, etc. a menos que admitamos reencarnações na própria terra. Quantas vezes aparições ou manifestações ocorrem? Quando ilusões, auto-sugestões, alucinações são eliminadas, o que resta? Quase nada. Uma raridade tão excepcional quanto esta argumenta contra a realidade das aparições".[20]

Na década de 1920, Flammarion mudou algumas de suas crenças em aparições e assombrações, mas ainda alegou que não havia evidência para a hipótese do espírito e da mediunidade no Espiritismo. Em seu livro de 1924 Les Maisons Hantées (Casas assombradas) chegou à conclusão de que em alguns casos raros as assombrações são causadas por almas que partiram, enquanto outras são causadas pela "ação remota da força psíquica de uma pessoa viva".[21] O livro foi revisado pelo mágico Harry Houdini, que escreveu que "não fornece provas adequadas da veracidade do conglomerado de boatos que contém; portanto, deve ser uma coleção de mitos".[22]

O aclamado escritor francês Victor Hugo era um grande admirador do trabalho de Flammarion, especialmente o relacionado com pesquisa psíquica e espiritismo. Segundo o astrônomo, a crença de Hugo na comunicabilidade mediúnica com espíritos "foi, para o gigante da literatura do século XIX, um incentivo para a vida, para o trabalho e para o amor a seus semelhantes".[4][23][24]

 
Universum: representação do Universo elaborada e usada pelo astrónomo na obra "L'atmosphère: météorologie populaire", (Paris 1888) - (Coloração de Heikenwaelder Hugo, Viena 1998).
 
Capa original de seu livro Dieu dans la nature ("Deus na Natureza"), 1886.
  • La pluralité des mondes habités (A Pluralidade dos Mundos Habitados[25]), 1862.
  • Les Mondes imaginaires et les mondes réels (Os Mundos Imaginários e os Mundos Reais), 1864.
  • Les mondes célestes (Os Mundos Celestes), 1865.
  • Études et lectures sur l'astronomie (Estudos e Palestras sobre a Astronomia), em 9 volumes, 1866-1880.
  • Dieu dans la nature (Deus na Natureza[26]), 1866.
  • Contemplations scientifiques (Contemplações Cientíicas), 1870-1887, 2 séries.
  • Voyages aériens (Viagens Aéreas), 1870.
  • Récits de l'infini (Narrações do Infinito[26]), 1872.
  • Histoire du ciel (História do Céu), 1872.
  • Récits de l'infini, Lumen, histoire d'une comète (Narrações do Infinito, Lúmen, História de um Cometa), 1872.
  • Dans l'infini (No Infinito), 1872.
  • Vie de Copernic (Vida de Copérnico), 1873.
  • Les Terres du ciel (As Terras do Céu), 1877.
  • Atlas céleste (Atlas Celeste), 1877.
  • Cartes de la Lune et de la planète Mars (Mapas da Lua e do Planeta Marte), 1878.
  • Catalogue des étoiles doubles en mouvement (Catálogo das Estrelas Duplas em Movimento), 1878.
  • Astronomie sidérale (Astronomia Sideral), 1879.
  • Astronomie populaire (Astronomia Popular), 1880. Recebeu por esta obra o prêmio Montyon, da Academia Francesa.
  • Les étoiles et les curiosités du ciel (As Estrelas e as Curiosidades do Céu), 1881.
  • Le Monde avant la création de l'homme. (O Mundo Antes da Criação do Homem), 1886.
  • Dans le ciel et sur la Terre (No Céu e Sobre a Terra), 1886.
  • Les Comètes, les étoiles et les planètes (Os Cometas, as Estrelas e os Planetas), 1886.
  • L'Atmosphère (A Atmosfera), 1888.
  • Voyage dans le ciel, Rêves Étoilés (1888) (Uma viagem prodigiosa)
  • Uranie (Urânia[26]), 1889.
  • Centralisation et discussion de toutes les observations faites sur Mars (Centralização e Discussão de Todas as Observações Feitas sobre Marte), em 2 volumes, 1892-1902.
  • Comment arrivera la fin du monde, L'Astronomie (1893) (Como Acabará o Mundo)
  • La fin du monde (O Fim do Mundo[26]), 1894.
  • Les Imperfections du calendrier (As Imperfeições do Calendário), 1901.
  • Les Phénomènes de la foudre (Os Fenômenos do Raio), 1905.
  • L'Atmosphère et les grands phénomènes de la nature (A Atmosfera e os Grandes Fenômenos da Natureza), 1905.
  • FLAMMARION, Camille. Les forces naturelles inconnues. Paris: Flammarion, 1907.
  • L'Inconnu et les problèmes psychiques (O Desconhecido e os Fenômenos Psíquicos[26]), 1917.
  • La Mort et son mystère (A Morte e o Seu Mistério[26]), 1917.
  • Les Maisons Hantées (As Casas Mal Assombradas[26]), 1923.


Em português

Notas

  1. Andersson, L. E.; Whitaker, E. A. (1982). NASA Catalogue of Lunar Nomenclature. NASA RP-1097.
  2. Schmadel, Lutz (1992). Dictionary of Minor Planet Names. 1. Berlin: Springer Verlag. ISBN 3-540-00238-3 
  3. Schmadel Lutz D. Dictionary of Minor Planet Names (fifth edition), Springer, 2003. ISBN 3-540-00238-3.
  4. a b c Banque des savoirs. Histoire des sciences - Camille Flammarion : la passion des étoiles à la portée de tous. Página visitada em 07/12/2014.
  5. a b c d e f g Camille Flammarion, site do Ministére de la Culture et de la Communication, do governo da França(em francês)
  6. Les Festivites Flammarion 2008, site da Société astronomique de France
  7. Buckland, Raymond (2005). The Spirit Book: The Encyclopedia of Clairvoyance, Channeling, and Spirit Communication. [S.l.]: Visible Ink Press. 142 páginas 
  8. Carroll, Latrobe (1921). "Death and Its Mystery". Traduzido por T. Fisher Unwin (1923) Versão parcial online em Manifestations of the Dead in Spiritistic Experiments Archived 2009-07-06 at the Wayback Machine. [S.l.]: Ltd. London: Adelphi Terrace. pp. 3 volumes 
  9. Diz-se codificador pois o seu trabalho foi o de reunir, compilar e sistematizar textos de diversos autores daquela época.
  10. The Pool Moon - Introdução por Michael Levy.
  11. Abib, D. (2013). CULTURA ESPÍRITA NO BRASIL/ SPIRITIST CULTURE IN BRASIL. [S.l.]: Brazilian Cultural Studies, América do Norte, 224. 112 páginas 
  12. Banque des savoirs. Histoire des sciences - Camille Flammarion: la passion des étoiles à la portée de tous. [S.l.: s.n.] 
  13. Pearson's Magazine. Volume 20. Issue 4. London: Pearson Publishing Company. 1908. 383 páginas 
  14. Flammarion, Camille (1909). Mysterious Psychic Forces. [S.l.]: Small, Maynard and Company. pp. 63–135 
  15. Joseph McCabe. (1920). Is Spiritualism Based on Fraud?: The Evidence Given By Sir A. C. Doyle and Others Drastically Examined. London, Watts & Co. p. 57. "As impressões de rostos que ela tinha em cera ou massa eram sempre seu rosto. Eu vi muitas delas. Os ossos fortes de seu rosto impressionam profundamente. Seu nariz é relativamente achatado pela pressão. O cabelo nas têmporas é simples. É ultrajante para os cientistas pensar que "John King" ou um poder anormal do médium fez uma face humana (em poucos minutos) com ossos, músculos e cabelos, e precisamente os mesmos ossos, músculos e cabelos como os de Eusapia. Eu vi dezenas de fotos dela levitando uma mesa. Em nenhum deles está sua pessoa ou se veste completamente da mesa."
  16. Jastrow, Joseph (1900). «The Unknown by Camille Flammarion» 285 ed. Science. New Series. 11: 945-947 
  17. Schofield, Alfred (1920). Modern Spiritism: Its Science and Religion. [S.l.]: P. Blakiston's Son & Co. pp. 32–101 
  18. Flammarion, Camille. Mysterious Psychic Forces. [S.l.]: Kessinger Publishing. pp. 406–454 
  19. Sofie., Lachapelle, (2011). Investigating the supernatural : from spiritism and occultism to psychical research and metapsychics in France, 1853-1931. Baltimore: Johns Hopkins University Press. ISBN 9781421401171. OCLC 794700369 
  20. Leslie., Shepard,; 1874-1955., Spence, Lewis,; Nandor., Fodor,; Company., Gale Research (2010). Encyclopedia of occultism & parapsychology. [Place of publication not identified]: Kessinger Pub. ISBN 9781161361827. OCLC 780086367 
  21. 1969-, Houran, James, (2004). From Shaman to scientist : essays on humanity's search for spirits. Lanham, Md.: Scarecrow Press. ISBN 0810850540. OCLC 54529336 
  22. Houdini, Harry (1926). «Haunted Houses by Camille Flammarion». Social Forces. 4 (4): 850-853 
  23. Maria do Carmo M. Schneider. Victor Hugo: a face oculta de um gênio. Anais do XIII Congresso da Associação Brasileira de Literatura Comparada. Página visitada em 01/07/2014.
  24. Flammarion, Camille. Les expériences de Victor Hugo à Jersey et du groupe fourièriste à Paris. Les Analles Politiques et Littéraires, mai./1899
  25. Editado em português pela Ícone Editora.
  26. a b c d e f g Editado em português pela FEB.

Bibliografia

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  • CARNEIRO, Victor Ribas. ABC do Espiritismo (5a. ed.). Curitiba (PR): Federação Espírita do Paraná, 1996. 223p. ISBN 85-7365-001-X p. 51-54.
  • GODOY, Paulo Alves; LUCENA, Antônio. Personagens do Espiritismo (2ª ed.). São Paulo: Edições FEESP, 1990.

Ligações externas

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