Carlos Franchi
Carlos Franchi (Jundiaí, 15 de agosto de 1932 - Campinas, 25 de agosto de 2001) foi um linguista, professor, advogado e político brasileiro. Era professor emérito da Universidade Estadual de Campinas, onde foi, junto a Rodolfo Ilari, Haquira Osakabe e Carlos Vogt, um dos fundadores do Instituto de Estudos da Linguagem.[1] Foi presidente da Associação Brasileira de Linguística de 1977 a 1979 e, como político, foi vereador da Câmara Municipal de Jundiaí de 1960 a 1963.[1][2]
Carlos Franchi | |
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Nascimento | 15 de agosto de 1932 Jundiaí |
Morte | 25 de agosto de 2001 (69 anos) Campinas |
Cidadania | Brasil |
Alma mater | |
Ocupação | linguista, professor universitário, advogado, político |
Empregador(a) | Universidade Estadual de Campinas |
Vida
editarInício
editarFranchi nasceu em Jundiaí, em São Paulo, em 15 de agosto de 1932. Em sua carreira acadêmica, completou três cursos de graduação: em 1954, licenciatura em Letras Neolatinas na Pontifícia Universidade Católica de Campinas; em 1968, bacharelado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo; e, em 1970, licenciatura em Letras (Linguística) pela Universidade de Franche-Comté, na França. Foi casado com Eglê Pontes Franchi, com quem teve quatro filhos.[1]
Ensino secundário: magistério e outras atuações
editarAtuou por alguns anos como advogado e professor, sendo a segunda carreira a que mais o atraía. Assim, de 1951 a 1955, foi professor secundário de português e latim em Jundiaí e, de 1955 a 1971, em Itatiba. Também nutria grande interesse pela música. Franchi teve relevância quando da renovação do ensino oficial no estado de São Paulo, sendo chamado para coordenar a área de português nos Ginásios Pluricurriculares e participando na criação e implementação das Escolas Experimentais e Pluricurriculares; realizou tais funções de 1966 a 1968.[1]
Foi vereador da Câmara Municipal de Jundiaí de 1960 a 1963, período em que propôs diversos projetos de lei voltados a questões de educação.[3] De 1968 a 1969, participou do desenvolvimento dos primeiros Guias Curriculares. Em 1974, foi membro da Comissão Organizadora do I Encontro de Português da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e, em 1975, coordenou na Unicamp um seminário de análise de textos escritos por crianças de 10 a 12 anos.[1]
Ensino superior e pesquisa
editarNo ensino superior, sua carreira teve início na década de 1960, lecionando Didática Especial do Português na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras "Nossa Senhora Medianeira" de 1967 a 1969. A partir deste ano, passou a trabalhar na Unicamp, à época recém-criada, como professor de linguística; lá, tornou-se professor titular em 1979.[1]
Segundo Ataliba Teixeira de Castilho, 1970 é o ano em que sua carreira acadêmica "sofreria uma profunda alteração, direcionando-o de vez para o magistério e a pesquisa em Lingüística."[1] Àquela época, Franchi era, junto a Rodolfo Ilari, Haquira Osakabe e Carlos Vogt, mestrando em Teoria Literária na Universidade de São Paulo, sob a orientação de Antonio Candido. Com a indicação deste, os quatro foram indicados para fundarem o Departamento de Linguística, que à época pertencia ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Franchi relata que Ilari, Osakabe e Vogt eram "eram estrelas na Pós da USP" e que sua participação na empreitada foi "por acidente", já que, com carreira bem-sucedida na advocacia, seguia seus estudos acadêmicos "porque gostava".[4] Entretanto, desde 1964 tinha problemas por advogar por presos políticos, o que piorou a partir de 1968; assim, Candido lhe propôs o cargo na Unicamp como "uma solução confortável e segura para a família toda".[4]
Experiência na França
editarComo condição para a indicação, Franchi e seus colegas deveriam ir à França realizar um mestrado com Yves Gentilhomme, em Besançon. As ideias de Gentilhomme, que era matemático e linguista, pareciam estar de acordo com o projeto do Departamento de Linguística da Unicamp, que deveria "superar a distância entre Ciências Humanas e Ciências Exatas".[4] Entretanto, Franchi relata que, "em Besançon, de Linguística mesmo, nada".[4] Distanciaram-se de Gentilhomme e, de qualquer maneira, tiveram contato com as pesquisas modernas, como o gerativismo de Noam Chomsky e, ao buscarem outros grupos, encontraram Antoine Culioli, as ideias de Michel Pêcheux, M. A. K. Halliday, Catherine Fuchs, Oswald Ducrot, entre outros.[4]
Já pensando na divisão das disciplinas a serem ministradas quando novamente no Brasil, o grupo se dividia entre os estudos de semântica (Franchi e Vogt) e análise do discurso (Ilari e Osakabe). Entretanto, como era indispensável um professor especialista em sintaxe, Franchi dispôs-se a seguir em tal área. Foi orientado no mestrado por Claire Blanche-Benveniste, que seguia Maurice Gross, então associado a Zellig Harris. Para aproxima-se das obras de Chomsky, participou de seminários com Jean Stéfanini. Também cursou epistemologia com Gilles-Gaston Granger.[4]
O Instituto de Estudos da Linguagem e outras experiências acadêmicas
editarDe volta ao Brasil, foi o primeiro professor-chefe do Departamento de Linguística da Unicamp (de 1971 a 1975), criou seu programa de pós-graduação e foi o responsável pelas expansões do corpo docente do departamento. Em 1976, doutorou-se na Unicamp sob a orientação de Marcelo Dascal, com um estágio posterior na Universidade de Tel Aviv.[1] Com a entrada de professores de teoria literária no DL, fez-se necessária a ruptura com o IFCH.[4] Assim, em 1977, foi criado o Instituto de Estudos da Linguagem, dirigido até 1978 por Antonio Candido e, de 1979 a 1982, por Franchi.[1]
Externamente à Unicamp, Franchi foi assessor do Ministério da Educação, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e, de 1977 a 1979, foi presidente da Associação Brasileira de Linguística, período em que incentivou a criação de associações acadêmicas regionais à maneira do Grupo de Estudos Linguísticos do Estado de São Paulo.[1] Após sua aposentadoria, trabalhou como professor visitante em Porto Alegre, no Rio de Janeiro e na Universidade de São Paulo, onde lecionou por cerca de 10 anos.[5] Faleceu em Campinas, em 25 de agosto de 2001, aos 69 anos.[1][2]
Bibliografia selecionada
editar- 1976. Hipóteses para uma teoria funcional da linguagem. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, Tese de Doutoramento.
- 1977. Linguagem: Atividade Constitutiva. In: Almanaque, 5, São Paulo: Brasiliense, 9- 27.
- 1987. Criatividade e gramática. São Paulo: Secretaria de Educação/ CENP (Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas).
- 1990. Considerações sobre a posição dos advérbios. In: A. T. CASTILHO (org.) Gramática do Português Falado I: A Ordem. Campinas: Ed. Unicamp/FAPESP, 63-142. Com Rodolfo Ilari, Ataliba de Castilho, Célia de Castilho, Marco Antônio de Oliveira, Margarethe Elias, Maria Helena de Moura Neves e Sírio Possenti.
- 1996. Os pronomes pessoais do português falado: roteiro para a análise. Gramática do Português Falado, vol. VI, ed. por Ataliba de Castilho e Margarida Basilio, 79-168. Campinas: Editora da Unicamp. Com Rodolfo Ilari e Maria Helena de Moura Neves.
- 1997. Teoria da Adjunção: predicação e relações temáticas. Seminários de Teoria Gramatical 5. FFLCH-USP
- 1998. Sobre a gramática das orações impessoais com Ter/Haver. D.E.L.T.A. 14: 113-140. Com Esmeralda Negrão e Evani Viotti.
- 2003. Predicação. Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.11, n. 2.
- 2003. Teoria generalizada dos papéis temáticos. Revista de estudos da linguagem, Belo Horizonte, v. 11, n. 2. Com Márcia Cançado.
Referências
- ↑ a b c d e f g h i j k Castilho, Ataliba Teixeira (2002). «Carlos Franchi (1932-2001)». Revista do GEL (Número Especial em Memória de Carlos Franchi (1932-2001))
- ↑ a b «Carlos Franchi». Câmara Municipal de Jundiaí. Consultado em 3 de janeiro de 2020
- ↑ «Vereador comprometido com a Educação». Jornal da Unicamp (161). Setembro de 2001. Consultado em 6 de janeiro de 2020
- ↑ a b c d e f g Franchi, Carlos (2002). «Depoimento em 'primeira pessoa do singular"». Revista do GEL (Número Especial em Memória de Carlos Franchi (1932-2001))
- ↑ «Carlos Franchi». Rumo. Consultado em 6 de janeiro de 2020