Carmen Bin Laden
Carmen bin Laden ou Carmen bin Ladin (nascida Carmen Dufour, Lausana, Suiça em 1954) é uma autora suíça. Era membro da família bin Laden, tendo entrado na família por casamento com Yeslam bin Laden, um filho do patriarca Muhammad bin Laden; divorciaram-se desde então.[1][2][3]
Carmen Bin Laden | |
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Nascimento | 22 de novembro de 1947 Lausana |
Cidadania | Suíça |
Cônjuge | Yeslam bin Ladin |
Filho(a)(s) | Wafah Dufour |
Ocupação | escritora |
Biografia
editarCarmen Dufour era filha de um suiço (Dufour) e a sua mãe era persa (Mirdoht-Sheybani). Foi criada em Lausana pela sua mãe juntamente com três outras irmãs.[3]
De 1974 a 1988, foi casada com Yeslam bin Laden, um homem de negócios, meio-irmão mais velho de Osama bin Laden. Casaram-se em 1974 em Jidá, na Arábia Saudita,[3] e após o casamento mudaram-se para Los Angeles, onde viveram algum tempo. Em 1976, Yeslam pediu-lhe para regressar a Jidá com ele, para que pudesse trabalhar na empresa familiar, a construtora Bin Laden Corporation.[1][4]
Tiveram três filhas, Wafah Dufour, Najia e Noor.
Em 1985, durante uma estadia em Genebra, decidiu não regressar à Arábia Saudita, e por fim deixou o seu marido em 1988, pedindo o divórcio em 1994. Obteve o divórcio apenas 12 anos mais tarde, em Janeiro de 2006.[3][5]
Em 2004, ela publicou o livro Inside the Kingdom: My Life in Saudi Arabia (Dentro do Reino: a minha vida na Arábia Saudita) , um relato pessoal da sua vida como esposa e mãe na Arábia Saudita. O livro proporciona uma visão, a partir do interior, da vida da família Bin Laden, a sua relação com eles e com o seu ex-marido, e dos próprios complexos mecanismos da sociedade saudita.[3]
Ela afirma que não importa o quanto se ocidentalizaram o seu ex-marido ou outros membros da família bin Laden, eles ainda sentem fortes laços familiares e religiosos, e teriam apoiado financeiramente e protegido Osama bin Laden, se necessário, antes da sua morte em Maio de 2011.[carece de fontes] Ela observa que muitos homens sauditas atuam num ciclo: quando são jovens, são irrefletidos, e tomam da cultura ocidental o que é divertido e confortável - mas depois casam. Por baixo da superfície, sempre mantiveram o seu confiante e inflexivel sistema de valores, que vem â tona â medida que envelhecem. Foi o que aconteceu aos bin Laden, e também à Arábia Saudita.[6]
No seu livro, ela escreve que só tinha visto Osama bin Laden em duas ocasiões e que eles se não falavam realmente. Mesmo em sua casa, Osama "não suportava olhar para a minha cara descoberta. Ele nunca se dignou dizer-me uma palavra".[7]
Carmen relata a desilusão e o choque crescentes após começar a viver com Yeslam na Arábia Saudita- "era outro planeta"[8]. Comenta que o país pode ser rico, mas é provavelmente a nação menos cultivada do mundo árabe, com a concepção mais brutal e simplista das relações sociais. As famílias são chefiadas pelos patriarcas, e a obediência ao patriarca é absoluta. Os únicos valores que contam na Arábia Saudita são a lealdade e a submissão - primeiro ao Islão, depois ao clã.[9]
Metade da população saudita - as mulheres - está sempre mantida atrás de muros e paredes. Gidá era um lugar sem cor - diz Carmen - a preto e branco: o branco dos thaub usados pelos homens, e alguns poucos triângulos pretos de tecido - eram as mulheres. Genebra estava a mil anos de distância.[10]
A Arábia Saudita tem um sistema político incomum. É uma monarquia absoluta, governada por uma extensa família real (os Al Saud) em aliança com uma família de clérigos (os Al Shaykh).[11] Um número incalculável de príncipes e princesas -talvez dez mil, diz Carmen - sustentam o seu estilo de vida faustoso quase totalmente a partir do estipêndio que recebem anualmente do Tesouro, e que é calculado segundo a idade, posição no poder e sexo. É o sistema saudita: um número sempre crescente de membros da família real consideram a riqueza originada pelo petróleo como o seu tesouro pessoal.[12] Apesar disso, a vida das mulheres sauditas é sufocante, obrigadas a usar sempre a abaya no exterior das suas casas, desfavorecidas pela lei, não se podendo deslocar sem a presença dum indivíduo do sexo oposto. Carmen comenta: "(...)Eram prisioneiras. Lá fora, estavam completamente tapadas (...) Era como carregar uma prisão às costas."[13] As princesas tinham problemas de densidade óssea devido à falta de sol e de exercício, problemas cardíacos por comer demais, problemas psicossomáticos em abundância. Muitas estavam deprimidas. Viviam ao lado de maridos que não tinham quase nada a ver com elas, e no medo constante do divórcio; viviam em dependência completa, numa espécie de sono acordado. Talvez como um resultado do apartheid de género, algumas princesas tinham "casos" umas com as outras, o que provavelmente pouco importa aos homens. As mulheres não são importantes para o homem saudita. Tomar posse delas, é sim muito importante - mas desde que as mulheres estejam trancadas e procriem, o que sucede entre elas pouco conta, conclui Carmen.[14] Contrariamente âs esperanças de Carmen,[1]o país nunca se liberalizou. Vários acontecimentos principais contribuíram para isso: o assassínio da princesa Misha'al al Saud em plena rua de Jidá em 1977,[15] o assalto a Meca por um grupo extremista em 1979[16], a invasão do Afeganistão por tropas da União Soviética em fins de 1979[17]. e a revolução iraniana.[18] A reação do poder a estes episódios foi um endurecimento das regras religiosas, e um maior policiamento da sociedade pelos mutawa. A sociedade retrocedia.[19] Também o comportamento de Yeslam bin Laden se ia modificando, e após o nascimento da segunda filha, começou a vir à tona a sua cultura saudita. Foi contra as crianças celebrarem os seus aniversários, uma vez que se tratava de uma tendência cristã. Nao deu importância às preocupações de Carmen sobre o que aconteceria se ele morresse: na cultura saudita, a viúva é "legada" aos parentes masculinos sobreviventes do seu marido.[1]
Observando a deriva da sociedade saudita para um fanatismo rígido, Carmen já não podia estar confiante de que um dia, as filhas poderiam optar por viver de outra maneira, se o desejassem. O modo como estavam a ser educadas, com valores de liberdade, tolerância e igualdade, faria mais tarde com que se rebelassem com uma sociedade que as pretendia aferrolhar. O assassinato da Princesa Mish'al demonstrava que uma mulher rebelde pode ser marcada para morrer.[20] A escritora comenta que os sauditas são os Taliban, com luxo.[21]
Seguidamente ầ sua decisão, em 1985, de não regressar à Arábia Saudita, a relação entre a autora e o marido não parou de se deteriorar. Mesmo assim, em 1987, nasce a terceira filha do casal, Noor, apesar de Yeslam lhe ter pedido que abortasse. Carmen surpreendeu Yeslam na companhia de outras mulheres. Ela alega que o seu ex-marido se envolveu em chantagem emocional incluindo a ameaça de raptar as suas filhas, e praticou adultério. Yeslam bin Laden estava alegadamente pouco envolvido e desinteressado na vida da sua ex-mulher e filhas.[22] Em Janeiro de 1988, Yeslam saiu do lar comum, batendo com a porta. Em 1994, Carmen pediu o divórcio. Seguiu-se uma batalha jurídica arrastada durante vários anos, com o ex-marido tentando manter o controle dela, e exigindo o direito de levar Noor para a Arábia Saudita. Segundo Carmen, Yeslam arrastou o processo durante o maior tempo possível, a fim de poder esconder os seus bens e privar as crianças e ela de apoio financeiro. Após ter sido concedida a Carmen a custódia das filhas, o ex-marido alegou não ser pai de Noor, o que forçou testes de DNA que provaram o contrário. A partir desse dia Yeslam nunca mais falou âs filhas ou a Carmen.[23]
Yeslam obteve em 2001 um passaporte suíço supostamente com o objectivo de prosseguir uma relação com as filhas, com as quais porém tinha cortado por completo qualquer contato.[24]
Atualmente a escritora, ja divorciada, vive na Suiça com as filhas.[3]
Referências
- ↑ a b c d Brockes, Emma (11 de julho de 2004). «Interview: Carmen bin Ladin, sister-in-law of Osama» (em inglês). the Guardian
- ↑ Hansen, Suzy (11 de julho de 2004). «I married a bin Laden» (em inglês). Salon
- ↑ a b c d e f BookBrowse. «Carmen Bin Ladin author biography» (em inglês). BookBrowse.com. Consultado em 5 de maio de 2021
- ↑ Harding, Nick (23 de outubro de 2011). «Bin Laden's former sister-in-law on shadow cast over her life» (em inglês). The Independent
- ↑ Gehriger, Urs (16 de fevereiro de 2005). «Osama Bin Laden, mein Schwager (Arq. em WAyBack Machine)» (em alemão). Weltwoche
- ↑ Laden 2004, p. 80.
- ↑ «Carmen bin Ladin, sister-in-law of Osama». RayanWorld. 6 de Julho de 2020
- ↑ Laden 2004, p. 38.
- ↑ Laden 2004, p. 63.
- ↑ Laden 2004, p. 39.
- ↑ Hegghammer, Thomas (2010). Jihad in Saudi Arabia: Violence and Pan-Islamism since 1979. [S.l.]: Cambridge University Press. p. 2
- ↑ Laden 2004, p. 171.
- ↑ Laden 2004, p. 177.
- ↑ Laden 2004, p. 178-179.
- ↑ Laden 2004, p. 102-104.
- ↑ Laden 2004, p. 123-125.
- ↑ Laden 2004, p. 125-128.
- ↑ Laden 2004, p. 117-119.
- ↑ Laden 2004, p. 120-122.
- ↑ Laden 2004, p. 146.
- ↑ Laden 2004, p. 162.
- ↑ Laden 2004, p. 188-192.
- ↑ Laden 2004, p. 193-195.
- ↑ Laden 2004, p. 195-196.
Bibliografia
editar- Coll, Steve (2008) - The bin Ladens : an arabian family in the american century - The Penguin Press
- Laden, Carmen Bin (2004) -Inside the kingdom : my life in Saudi Arabia -Warner Books