Carolina Loff
Carolina Loff da Fonseca (12 de novembro de 1911 - 6 de março de 1999) foi uma destacada militante e dirigente do Partido Comunista Português.[1]
Carolina Loff | |
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Carolina Loff quando foi presa pela PIDE em 1940
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Nome completo | Carolina Loff da Fonseca |
Pseudónimo(s) | Ana Marta
Berta Marta da Costa Sylvie Ana Marta Maria Luísa |
Conhecido(a) por | Destacada militante e dirigente do Partido Comunista Português |
Nascimento | 12 de novembro de 1911 Cabo Verde, Ilha de Santiago, Praia |
Morte | 6 de março de 1999 (87 anos) |
Residência | Portugal, Lisboa |
Educação |
Biografia
editarCarolina Loff da Fonseca nasceu na capital de Cabo Verde, Praia, na ilha de Santiago, filha de Domingos José da Fonseca e de Carolina Leger Loff, a 12 de novembro de 1911.[1] Aos 15 anos emigrou com a mãe para Lisboa e passou a ser aluna do Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho.[1] Era prima dos militantes comunistas Álvaro e Dalila Duque da Fonseca, que nos anos 30, como Loff, eram dirigentes da Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas (FJCP) e nasceram em Cabo Verde.[1] Nos anos 30 tornou-se uma destacada militante e dirigente do Partido Comunista Português, visitando a União Soviética e participando em missões da Internacional Comunista durante a Guerra Civil Espanhola no terreno da Espanha Republicana.[1] A sua vida pessoal adota traços misteriosos e polémicos quando se envolve amorosamente com o inspetor da polícia política, a PIDE, que trabalhava no seu processo, e com o qual chegou a viver.[1][2]
Fez parte da primeira célula comunista feminina, junta com Wilma Freund, sendo reconhecida pela sua militância dedicada, e por ser produtora de vários artigos da imprensa da FJCP.[1]
Foi presa a 6 de setembro de 1932, e ficou aprisionada por um ano na Cadeia das Mónicas.[1] Pouco tempo depois, engravida do seu companheiro, Carlos Luís Correia Matoso, um dirigente do Partido Comunista, dando à luz uma filha — Helena.[1] Decorrente da grande repressão que vinha a abater sobre Partido Comunista, Carlos Matoso é condenado ao exílio por 10 anos em 20 de outubro de 1934, sendo preso a 11 de maio de 1938, passando pela Cadeia do Aljube, o Forte de Caxias e o Forte de Peniche, até, por fim, em 20 de junho de 1939, ser enviado para o Campo de Concentração do Tarrafal.[3][1] É solto a 20 de dezembro de 1945, exilando-se para o Brasil a 10 de janeiro de 1946, onde se suicidou "passado pouco tempo, em condições misteriosas", segundo Edmundo Pedro.[1] Nunca chegou a conhecer Helena.[1]
Em março de 1935, Loff, com um convite de Francisco de Paula Oliveira, vai para a União Soviética estudar na Escola Leninista sob o pseudónimo de Ana Marta.[1] É abordada por Bento Gonçalves e Álvaro Cunhal quando estes se dirigem a Moscovo, para trabalhar como «intérprete e tradutora nas edições em língua estrangeira», muitas cujo destino era o Brasil.[1]
Após ter contacto com pessoas importantes da Internacional Comunista (Comintern), é enviada em 1937 para a Espanha Republicana com um passaporte belga em nome de Berthe Mouchet, com o objetivo de criar uma rádio clandestina do Comintern para Portugal, que veio a ser conhecida como rádio do PCP, transmitindo diretamente da sede do Partido Comunista de Espanha (PCE) em Valência.[2] Segundo José Pacheco Pereira, fazia quase tudo sozinha, sendo «a locutora e redigindo grande parte do material que era transmitido», lidando «diretamente com os mais altos responsáveis do PCE», e intervindo «diretamente junto da comunidade portuguesa exilada em Espanha, informando sobre o seu comportamento político quer o PCE, quer os serviços de informação associados ao secretariado de Togliatti/Alfredo».[2]
Em 1938, integrou a direção da União Antifascista dos Portugueses Resistentes em Espanha, sediada em Madrid, assim como Comité da Frente Popular em Barcelona.[2] Ficou em Espanha até ao término da Guerra Civil, chegando a ser capturada e torturada pelos franquistas, evadindo-se dizendo ser uma jornalista belga, sendo em outubro de 1939 retornada a Portugal pela polícia espanhola, com, segundo José Pacheco Pereira, «personagem misterioso [Nikolas Gargoff], suposto delegado do Comintern, e que vai ter um papel igualmente obscuro no processo da 'reorganização' [do PCP]».[2]
Volta a Portugal na clandestinidade, usando o pseudónimo Maria Luísa, e colaborando profundamente com Álvaro Cunhal, tendo um papel importante na «redação de documentos políticos e de textos sobre a política internacional do movimento comunista, bem como interveio na sua distribuição», até ser aprisionada em maio de 1940.[2] Fruto do seu comportamento na prisão, sendo até confrontada por declarações contraditórias por Álvaro Cunhal e Francisco Miguel, e por se ter envolvido com o agente da PIDE Júlio de Almeida, é expulsa do Partido na década de 1940 por suspeitas de espionagem, não se sabendo ainda qual o seu envolvimento com os serviços de espionagem soviéticos, pois se evidenciara como um quadro ao serviço da Internacional Comunista com incumbências atribuídas em Espanha e Portugal, entrando e saindo da URSS com uma facilidade que levantou dúvidas.[2] Usou também os pseudónimos Berta, Marta da Costa e Sylvie.[2]
Manteve a sua amizade com Edmundo Pedro, apresentando-lhe a filha — criada e educada na União Soviética, na Escola Internacional de Ivanovo, assim como muitos outros portugueses e estrangeiros.[2] Segundo o Feminae - Dicionário Contemporâneo, «[o] percurso intrigante e enigmático de Carolina Loff saiu reforçado por se ter recusado sempre, apesar da sua longevidade, a esclarecer episódios dessa vivência».[2] Faleceu a 6 de março de 1999, com 87 anos.[1]
Cultura
editarEm setembro de 2011, foi publicado um romance biográfico da autoria de Ana Cristina Silva inspirado na vida de Carolina Loff, com o nome Cartas Vermelhas.[4]
Em 25 de outubro de 2002, é lançado em Lisboa o Enigma de Zulmira, obra de ficção da autoria de Vasco Graça Moura, baseado no romance de Loff com Júlio de Almeida.[4][5][6]
Referências
editarCitações
Bibliografia
editar- Esteves, João; Castro, Zília (2013). «Feminae – Dicionário Contemporâneo». Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género. ISBN 978-972-597-373-8. Cópia arquivada em 8 de fevereiro de 2021
- Almeida, São (6 de março de 2001). «Atropelados pela história». Público. Cópia arquivada em 9 de novembro de 2019
- Silva, Ana (26 de setembro de 2011). «"Cartas Vermelhas" de Ana Cristina Silva já nas livrarias». Diário de Notícias
- Madeira, João (2011). «O Partido Comunista Português e a Guerra Fria: "sectarismo", "desvio de direita", "Rumo à vitória" (1949-1965)» (PDF). Universidade Nova de Lisboa. Cópia arquivada (PDF) em 28 de agosto de 2020
- Leme, Carlos (25 de outubro de 2002). «"O enigma de Zulmira", de Vasco Graça Moura, é lançado hoje em Lisboa». Público. Cópia arquivada em 8 de fevereiro de 2021