Casa da mãe joana

 Nota: Se procura o filme de 2008, veja Casa da Mãe Joana. Se procura a canção de Marília Mendonça, veja Casa da Mãe Joana (canção).

Casa da mãe joana[1] é uma expressão de língua portuguesa que significa "o lugar ou situação onde vale tudo; sem ordem; onde predomina a confusão, a balburdia e a desorganização".

A sua origem mais provável remontará ao século XIV, por alusão a uma famigerada ordenação de D.ª Joana I, rainha de Nápoles e condessa de Provença, que estipulou os estatutos dos bordéis de Avinhão.[2]

Origem

editar

Ensina Câmara Cascudo que a expressão se deve a Joana I de Nápoles, que viveu na Idade Média entre 1326 e 1382[3] e foi rainha de Nápoles e condessa de Provença.

Em 1347, Joana regulamentou os bordéis da cidade de Avinhão, em França, onde então vivia.[4] Uma das normas, destes estatutos por si promulgados, dizia: "O lugar terá uma porta por onde todos possam entrar".[4]

Transposta para Portugal, a expressão "paço-da-mãe-joana" tornou-se sinónimo de prostíbulo.[5] Teófilo Braga, na sua obra etnográfica "Costumes Crenças e Tradições, Vol II", de 1885, refere que a expressão ainda era de uso comum nos Açores, nos finais do século XIX.[5]

Trazida para o Brasil, o termo "paço", por não ser da linguagem popular, foi substituído por "casa". Desse modo, surgiu a expressão "casa da mãe Joana", a qual serviu, por extensão, para indicar o lugar ou situação em que cada um faz o que quer; onde imperam a desordem e a desorganização.

Este termo, pode também querer dizer que tal casa não possui janelas nem portas; onde todos entram e saem sem pedir licença, imperando, portanto indisciplina e desrespeito, dentre outros.

Abonações históricas

editar

João Baptista Silva Lopes, na sua obra Corografia, ou, Memoria económica, estadistica, e topográfica do Reino do Algarve, faz o relato a respeito do primeiro prostíbulo legal, aberto no Reino dos Algarves, sob domínio português.[6] O qual, à época, era referido popularmente como "paço-da-mãe-joana".[6] [7]

Trata-se da Mancebia aberta pelo segundo conde de Vila Nova de Portimão, D. Martinho de Castello Branco, camareiro-mor de el-rei D. Manuel I, vedor da fazenda real e preferido do rei.[8]

A 6 de Maio de 1516, este nobre recebeu o privilégio régio para abrir e explorar um prostíbulo na dita vila, sob condição de manter as "mancebas" (mulheres de costumes fáceis), apartadas das mulheres casadas e de bons costumes.[9][6] Os rendimentos da exploração da dita casa reverteram a favor deste conde e dos seus descendentes, livres e isentos de quaisquer sindicâncias ou controlos por parte da justiça ou do clero.[9]

Referências

  1. «A expressão "casa da mãe Joana" - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa». ciberduvidas.iscte-iul.pt. Consultado em 3 de abril de 2022 
  2. Braga, Teófilo (1885). O povo português II: Nos seus costumes, crenças e tradições. Lisboa: Livraria Ferreira Editora. p. 132. 546 páginas  "(...)a Mancebia concedida em privilégio ao conde de Vila Nova, e certas locuções populares se referem também a isso, como o Paço da Mãe Joana, com que se designa a casa que está aberta para toda a gente"
  3. «Giovanna I d'Angiò regina di Napoli nell'Enciclopedia Treccani». www.treccani.it (em italiano). Consultado em 3 de abril de 2022 
  4. a b Braga, Teófilo (1885). O povo português II: Nos seus costumes, crenças e tradições. Lisboa: Livraria Ferreira Editora. p. 132. 546 páginas  "Nuns estatutos sobre bordéis de Avignon, atribuídos a Joana rainha de Nápoles e condessa de Provença, com data de 1347, estabelece-se que "tenha uma porta por onde todos possam entrar (et que siegs une porto... dou todas las gens intrarom)". (De la Prost. en Europe, fl. F.)"
  5. a b Braga, Teófilo (1885). Costumes, Crenças e Tradições. Lisboa: Livraria Ferreira Editora. p. 132. 546 páginas  "Nos Açores é muito usual para dizer que uma porta está escancarada. É como o paço da Mãe Joanna."
  6. a b c Silva Lopes, João Baptista (1841). Corografia, ou, Memoria económica, estadistica, e topográfica do Reino do Algarve. Lisboa: Imprensa Nacional. p. 268 
  7. Braga, Teófilo (1885). O povo português II: Nos seus costumes, crenças e tradições. Lisboa: Livraria Ferreira Editora. p. 132. 546 páginas  "(...)a Mancebia concedida em privilégio ao conde de Vila Nova, e certas locuções populares se referem também a isso, como o Paço-da-Mãe-Joana, com que se designa a casa que está aberta para toda a gente"
  8. Silva Lopes, João Baptista (1841). Corografia, ou, Memoria económica, estadistica, e topográfica do Reino do Algarve. Lisboa: Imprensa Nacional. p. 268, nota 2  " D. Manoel a quantos esta nossa carta virem, fazemos saber que o Conde de Villa Nova veedor de nossa fazenda nos disse ora q por quanto na dita villa (de Portimão) he necessaria huma mancebia e elle por bem e honestidade da boa vizinhança dos moradores della queira fazer aa sua custa em algum logar da dita villa q para isso seja mais conveniente encostada ao muro para se nella recolherem as mancebas solteiras e se apartarem de conversarem com as mulheres cazadas q vivem em sua honra lhe dessemos hum luguar para isso e ouvessemos por bem que ninguem a podesse fazer salvo esta, e visto por no seu Requerimento por lhe fazermos merce, nos pras de lhe dar luguar como de feito por este damos q elle faça a dita mancebia na dita Villa, e outra pessoa alguma ao diante o nom possa fazer nella, e tenha e aja para sempre toda a renda d'ella. E porém mandamos aos juízes e justiças da dita villa e a todos outros officiaes e pessoas a que o conhecimento desta pertence que lhe leixem fazer a dita mancebia e ter e aver a Renda delia assi elle com todos seus herdeiros que depois delle vierem para sempre como dito he; e em caso que a dita villa venha a nos e aos nossos successores todavia elle e os seus herdeiros ajam a Renda sobredita porque assim he nossa merece. Dada em a nossa villa de Almeirim, a seis dias de maio. Jorge Fernandes o fez de 1517"
  9. a b Branco, Manoel Bernardes (1893). Portugal e os estrangeiros. Lisboa: Imprensa Nacional. p. 30. ISBN 9781274506979 

Bibliografia

editar
  • COTRIM, Márcio - O Pulo do Gato (Geração Editorial, 2005)
  • HOUAISS, Antonio - Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (Ed. Objetiva, 2004) - on line, para assinantes UOL