Cerastes é um género de víboras venenosas encontradas nos desertos e semidesertos desde o norte do Norte de África para leste através da Península Arábica até ao Irão..[1][2] São reconhecidas actualmente três espécies.[3] Entre os nomes comuns para este género incluem-se víboras-cornudas,[4] e víboras-do-deserto-do-norte-de-áfrica,[2]

Como ler uma infocaixa de taxonomiaCerastes
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Reptilia
Ordem: Squamata
Subordem: Serpentes
Família: Viperidae
Subfamília: Viperinae
Género: Cerastes
Laurenti, 1768
Sinónimos
  • Cerastes Laurenti, 1768
  • Aspis Laurenti, 1768
  • Cerastes Wagler, 1830
  • Gonyechis Fitzinger, 1843[1]

Descrição

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C. cerastes.

Cerastes são serpentes pequenas, tendo em média menos de 50 cm de comprimento total (corpo+cauda), mas com aparência relativamente corpulenta. A cabeça é larga, achatada e distinta do pescoço. A cabeça encontra-se coberta com escamas enquilhadas, usualmente 15 ou mais segundo a largura, e um chifre supra-orbital pode estar presente sobre cada olho em algumas espécies. O focinho é curto e largo e os olhos, colocados em posição bem frontal, são de tamanho pequeno a moderado.[2][4] O corpo é curto, grosso e cilindricamente deprimido. A cauda é curta e diminui abruptamente de espessura depois da cloaca.[4] As escamas dorsais são pequenas, enquilhadas, dispostas em 23 a 35 filas a meio corpo,[2] sendo as quilhas da fila lateral oblíqua em forma de serra.[4]

Emboras se refira frequentemente a Cerastes como víboras-cornudas, apenas nas duas espécies maiores, C. cerastes e C. gasperettii, foram observados chifres, e mesmo estas nem sempre os têm. Dentro de uma mesma população ou até mesmo numa mesma ninhada podem encontrar-se indivíduos com e sem chifres.[4]

Quando estão presentes, cada chifre consiste de uma única escama comprida, em forma de espinho, a qual pode ser dobrada para trás ficando alojada na escama pós-ocular. Dobram-se para trás em respostas a um estímulo directo, diminuindo a silhueta da cabeça e facilitando a passagem da serpente através de tocas. Os chifres ocorrem mais frequentemente em indivíduos de desertos arenosos e menos em indivíduos de desertos rochosos. Os espécimes sem chifres, apresentam em seu lugar uma arcada supraciliar proeminente.[4]

O propósito dos chifres é objeto de muita especulação. Uma teoria sustenta que eles permitem acumular arena ao mesmo tempo que impedem que esta chegue aos olhos do animal.[4] Outra teoria mais recente sustenta que simplesmente servem para quebrar o contorno da cabeça, levando a que os predadores tenham mais dificuldade em avistar estas serpentes.[2]

Distribuição geográfica

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Podem ser encontradas desde o Norte de África para leste através da Península Arábica e Irão.[1] Mallow et al. (2003) descrevem o género como estando restrito aos desertos do Norte de África e Sudoeste Asiático, com o Deserto do Negueve a funcionar como zona de filtro entre as três espécies conhecidas.[4]

Habitat

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Deserto e semideserto.[2]

Comportamento

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Este género é nocturno e terrestre, enterrando-se frequentemente na areia para esconder-se. Embora sejam frequentemente descritas como sendo animais lentos, estas serpentes podem deslocar-se ondulando o corpo lateralmente. Quando o fazem, podem mover-se rapidamente sobre a areia.[2]

As espécies de Cerastes não são consideradas temperamentais, mas quando se sentem ameaçadas frequentemente mantêm a sua posição e enrolam o corpo fazendo roçar diferentes segmentos do mesmo uns nos outros, produzindo estalidos, da mesma maneira que Echis. A isto chama-se estridulação. Se suficientemente provocadas, atacam desde esta mesma posição.[2][4]

Estas serpente podem "afundar-se" rapidamente na areia solta, usando as suas escamas enquilhadas e serradas num movimento de vaivém. Este processo começa na cauda e progride para diante até que a cabeça esteja totalmente enterrada, ficando expostos apenas os olhos e as narinas. Podem enterrar-se desta forma tanto desde numa posição estendida como de uma posição enrolada. Ver vídeo.[4]

Alimentação

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Estas serpentes são predadores de emboscada, mantendo-se enterradas na areia, esperando que as suas presas passem por elas. A sua dieta consiste sobretudo de roedores, ave, e lagartos.[4]

Reprodução

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Todas as espécies conhecidas põem ovos. Porém, os ovos de C. vipera eclodem horas depois de serem depositados, em lugar de várias demanas depois, algo que não tinha sido observado antes com outras serpentes africanas, a maioria das quais põem ovos que eclodem semanas mais tarde, ou dão à luz crias vivas.[2]

Espécies

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Espécies[1] Autoridade[1] Nome vulgar Distribuição geográfica[1]
C. cerastesT (Linnaeus, 1758) Víbora-cornuda-do-deserto Zonas áridas do Norte de África (Marrocos, Saara Ocidental, Mauritânia e Mali, para leste através da Argélia, Tunísia, Níger, Líbia e Chade até ao Egito, Sudão, Etiópia e Somália) através do Sinai até ao norte do Negueve em Israel. Na Península Arábica, ocorre no Iémen e extremo sudoeste da Arábia Saudita.
C. gasperettii Leviton & Anderson, 1967 Víbora-cornuda-arábica Encontrada na Península Arábica, particularmente na região do Négede e em Al-Hasa
C. vipera (Linnaeus, 1758) Víbora-da-areia-do-saara Zonas áridas do Norte de África: Mauritânia, Saara Ocidental, Marrocos, Argélia, Mali, Tunísia, Líbia, Níger, Chade e Egipto. Península do Sinai: Egipto e Israel.

T) Espécie-tipo.

Taxonomia

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Embora pareça que Laurenti mudou de ideias em 1768 e decidiu mudar o nome deste género para Aspis, em vez de Cerastes, esta alteração foi rejeitada. Mais tarde, a Comissão Internacional de Nomenclatura Zoológica incluíria o nome Cerastes na Lista Oficial de Nomes Genéricos em Zoologia (nome no. 1539), enquanto que o nome Aspis foi incluído no Índice Oficial de Nomes Genéricos Inválidos em Zoologia (nome no. 1630).[1]

Ver também

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Referências

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  1. a b c d e f g McDiarmid RW, Campbell JA, Touré T. 1999. Snake Species of the World: A Taxonomic and Geographic Reference, Volume 1. Washington, District of Columbia: Herpetologists' League. 511 pp. ISBN 1-893777-00-6 (series). ISBN 1-893777-01-4 (volume).
  2. a b c d e f g h i Spawls S, Branch B. 1995. The Dangerous Snakes of Africa. Dubai: Ralph Curtis Books. Oriental Press. 192 pp. ISBN 0-88359-029-8.
  3. «Cerastes» (em inglês). ITIS (www.itis.gov). Consultado em 30 julho de 2006 
  4. a b c d e f g h i j k Mallow D, Ludwig D, Nilson G. 2003. True Vipers: Natural History and Toxinology of Old World Vipers. Malabar, Florida: Krieger Publishing Company. 359 pp. ISBN 0-89464-877-2.

Leitura adicional

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  • Cohen AC, Meyers BC. 1970. A function of the horn in the sidewinder rattlesnake Crotalus cerastes, with comments on other horned snakes. Copeia (American Society of Ichthyologists and Herpetologists) 3: 574-5755.
  • Fitzinger LJFJ. 1843. Systema Reptilium. Fasciculus Primus. Amblyglossae. Vienna: Braumüller et Seidel. 106 pp. [28].
  • Greene HW. 1988. "Antipredator mechanisms in reptiles". In: Gans C, editor. 1988. The Biology of the Reptilia. Vol. 16. New York: Academic Press. pp 212–317.
  • Kramer E, Schnurrenberger H. 1958. Zur Schlangenfauna von Libyen. Die Aquarien und Terrarien Zeitschrift XI.2., 1.2.: 57-59.
  • Laurenti JN. 1768. Specimen medicum, exhibens synopsin reptilium emendatum cum experimentis circa venena et antidota reptilium austriacorum. Vienna: Joan. Thom. Nob. de Trattern. 214 pp. + 5 plates. [81, 105].
  • Mohamed AH, Khaled LZ. 1966. Effect of venom of Cerastes cerastes on nerve tissue and skeletal muscle. Toxicon (Great Britain) 3: 233-234.
  • Mohamed AH, Abdel-Baset A, Hassan A. 1980. Immunological studies on monovalent and bivalent Cerastes antivenin. Toxicon (Great Britain) 18: 384-387.
  • Schnurrenberger H. 1959. Observations on behavior in two Libyan species of viperine snake. Herpetologica (Herpetologists' League) 15: 70-72.
  • Sterer Y. 1992. A mixed litter of horned and hornless Cerastes cerastes. Israel Journal of Zoology 37: 247-249.
  • Werner YL, Verdier A, Rosenman D, Sivan N. 1991. Systematics and Zoogeography of Cerastes (Ophidia: Viperidae) in the Levant: 1. Distinguishing Arabian from African "Cerastes cerastes". The Snake (The Japan Snake Institute, Yabuzuka Honmachi, Nittagun, Gunma Prefecture, Japan) 23: 90-100.
  • U.S. Navy. 1991. Poisonous Snakes of the World. New York: Dover Books. (Reprint of United States Government Printing Office, Washington D.C.) 133 pp. ISBN 0-486-26629-X.
  • Wagler J. 1830. Natürliches System der Amphibien, mit vorangehender Classification der Säugthiere und Vögel. Munich, Stuttgart, and Tübingen: J.G. Cotta. vi + 354 pp. + 9 plates. [178].

Ligações externas

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