Cerco de Jerusalém (63 a.C.)
Cerco de Jerusalém foi um cerco ocorrido em 63 a.C. na cidade de Jerusalém durante a campanha de Pompeu na Judeia e no contexto da Terceira Guerra Mitridática. O general romano Pompeu recebeu um pedido para intervir na guerra civil entre Hircano II e Aristóbulo II pelo trono do Reino Asmoneu. Depois de conquistar Jerusalém, Pompeu encerrou a independência dos judeus e incorporou a Judeia à República Romana como um reino cliente.
Cerco de Jerusalém | |||
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Terceira Guerra Mitridática | |||
Diagrama da cidade na época do cerco. Em azul, a muralha atual. | |||
Data | 63 a.C. | ||
Local | Jerusalém, Reino Asmoneu | ||
Coordenadas | |||
Casus belli | Intervenção romana na guerra civil pelo trono asmoneu | ||
Desfecho | Vitória romana | ||
Mudanças territoriais | Anexação da Judeia pela República Romana | ||
Beligerantes | |||
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Comandantes | |||
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Baixas | |||
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Localização de Jerusalém no que é hoje Israel | |||
Contexto
editarA morte da rainha asmoneia Alexandra Salomé levou o Reino da Judeia a uma guerra civil entre os dois filhos dela, Hircano e Aristóbulo. Depois que este expulsou seu irmão mais velho do trono e do sumo-sacerdócio em Jerusalém, Antípatro, o Idumeu, aconselhou Hircano a pedir ajuda ao rei Aretas III do Reino Nabateu. Em troca de uma promessa de concessões territoriais, Aretas forneceu a Hircano 50 000 soldados; as forças combinadas dos dois então cercaram Aristóbulo em Jerusalém.[1][2]
Pompeu já havia dado sequência à sua vitória na Terceira Guerra Mitridática com a criação da província da Síria e passara 64 e 63 a.C. pacificando a região.[3] Os eventos na Judeia fizeram com que Marco Emílio Escauro, o legado de Pompeu em Damasco, viajasse até Jerusalém, onde ele foi contatado pelas duas partes da guerra. No fim, seu favorecimento foi conquistado através de um considerável suborno por Aristóbulo[4] e Escauro ordenou que Aretas levantasse o cerco e deixasse a Judeia. O exército nabateu se retirou na direção de Filadélfia, mas ainda assim Aristóbulo deixou a cidade, perseguiu-os e os derrotou em Papyron.[1]
Quando Pompeu chegou em Damasco, em 63 a.C., tanto Hircano quanto Aristóbulo foram ter com ele. Pompeu se recusou a tratar do conflito e informou as duas partes que só resolveria a questão depois de visitar ele próprio a Judeia. Aristóbulo não esperou pela decisão de Pompeu e se encastelou na fortaleza de Alexândrio, um movimento que enfureceu Pompeu. Os romanos invadiram a Judeia e Aristóbulo imediatamente se rendeu. Quando Aulo Gabínio liderou uma força para tomar Jerusalém, porém, os aliados dele fecharam os portões da cidade. Pompeu mandou prender Aristóbulo e se preparou para cercar a cidade.[5]
Cerco
editarQuando Pompeu chegou a Jerusalém, sua primeira ação foi inspecionar a cidade:
“ | ...pois ele percebeu que as muralhas eram tão firmes que seria difícil superá-las; e que o vale diante da muralha era terrível; e que o templo, que estava neste vale, estava também circundado por uma muralha muito forte, tanto que se a cidade fosse tomada, este templo seria um segundo lugar de refúgio para o onde o inimigo poderia se retirar. | ” |
Afortunadamente para Pompeu, Hircano II ainda tinha aliados na cidade e eles abriram um dos portões, provavelmente o situado na porção noroeste da muralha, para os romanos. Esta traição permitiu que Pompeu tomasse a cidade alta de Jerusalém, incluindo o palácio real; Aristóbulo continuou no controle da porção oriental, que compreendia o Monte do Templo e a Cidade de David.[5] Os judeus consolidaram sua posição demolindo a ponte que cruzava o vale do Tiropeon e ligava a cidade alta ao Monte do Templo.[7] Pompeu ofereceu-lhes a chance de se renderem e se dedicou com afinco ao cerco depois de ser refutado. Ele ordenou a construção de uma muralha de circunvalação à volta do território inimigo e armou seu acampamento no interior da muralha de Jerusalém, para o norte do Monte do Templo. Ali ficava um passo que dava acesso ao templo que era protegido por uma cidadela conhecida como Baris fortificada por um fosso.[8][9] Um segundo acampamento foi construído a sudeste do templo.[5]
As tropas de Pompeu então começaram a aterrar o fosso que protegia a porção norte da fortaleza do templo e a construir duas rampas, uma perto de Baris e a outra para o oeste; enquanto isso, os defensores, em sua posição mais elevada, tentavam atrapalhar as obras romanas. Quando elas terminaram, Pompeu construiu torres de cerco e mandou trazer armas de cerco e aríetes de Tiro. Protegido por fundeiros, que afastavam os defensores da muralha, os romanos começaram a atacar a muralha à volta do templo.[5][10][11] Depois de três meses, as tropas de Pompeu finalmente conseguiram derrubar uma das torres de Baris e conseguiram entrar no recinto do Templo, tanto pela cidadela quanto pelo oeste. O primeiro a saltar a muralha foi Fausto Cornélio Sula, filho do antigo ditador e um graduado oficial no exército de Pompeu. Ele foi seguido por dois centuriões, Fúrio e Fábio, cada um à frente de uma coorte]; depois disto os romanos rapidamente venceram a resistência dos judeus. Cerca de 12 000 foram mortos e apenas uns poucos romanos morreram.[5][12]
O próprio Pompeu entrou no "Santo dos Santos" do Templo, o que só era permitido ao sumo-sacerdote (e ainda assim, apenas uma vez por ano), profanando-o. Apesar disto, ele não removeu nada, nem os tesouros e nem os recursos que ali estavam, e ordenou que o Templo fosse limpo e que seus rituais fossem retomados.[13][14][15][16] Logo depois Pompeu seguiu para Roma levando consigo Aristóbulo, que foi exibido em seu triunfo sobre os judeus.[5]
Eventos posteriores
editarO cerco e a conquista de Jerusalém foram um desastre para o Reino Asmoneu. Pompeu re-instalou Hircano II como sumo-sacerdote, mas retirou-lhe a coroa; Roma passou a reconhecê-lo como um etnarca em 47 a.C.[17]
A Judeia permaneceu autônoma, mas passou a ter que pagar tributo para a administração romana na Síria. O reino foi desmembrado, perdendo sua planície costeira e seu acesso ao mar. A Idumeia e a Samaria foram também foram libertadas. Diversas cidades helenísticas receberam permissão para formar a Decápole, reduzindo ainda mais o estado asmoneu.[1][2][5]
Referências
- ↑ a b c Sartre 2005, pp. 40-42
- ↑ a b Malamat and Ben-Sasson 1976, pp. 222-224
- ↑ Sartre 2005, pp. 39-40
- ↑ Flávio Josefo, A Guerra dos Judeus 1:128
- ↑ a b c d e f g Rocca 2008, pp. 44-46
- ↑ Flávio Josefo, A Guerra dos Judeus 1:141
- ↑ Flávio Josefo, A Guerra dos Judeus 1:143
- ↑ Wightman, Gregory J. (1991). «Temple Fortresses in Jerusalem Part II: The Hasmonean Baris and Herodian Antonia». Bulletin of the Anglo-Israeli Archaeological Society. 10: 7–35
- ↑ Flávio Josefo, Antiguidades Judaicas 14:61
- ↑ Flávio Josefo, A Guerra dos Judeus 1:145-147, menciona as torres, as armas de cerco e os fundeiros
- ↑ Flávio Josefo, Antiguidades Judaicas 14:62
- ↑ Flávio Josefo, A Guerra dos Judeus 1:149-151
- ↑ Flávio Josefo, Antiguidades Judaicas 14:70-71
- ↑ Flávio Josefo, A Guerra dos Judeus 1:152-153
- ↑ Barker 2003, p. 146
- ↑ Losch 2008, p. 149
- ↑ Rocca 2009, p. 7
Bibliografia
editar- Barker, Margaret (2003). The Great High Priest: The Temple Roots of Christian Liturgy (em inglês). [S.l.]: Continuum International Publishing Group. ISBN 978-0-567-08942-7
- Flávio Josefo. William Whiston, A.M., translator (1895). The Works of Flavius Josephus. Auburn and Buffalo, New York: John E. Beardsley. Retrieved 15 July 2010. (em inglês)
- Losch, Richard R. (2008). All the people in the Bible (em inglês). [S.l.]: Wm. B. Eerdmans Publishing. ISBN 978-0-8028-2454-7
- Malamat, Abraham; Ben-Sasson, Haim Hillel (1976). A history of the Jewish people (em inglês). [S.l.]: Harvard University Press. ISBN 978-0-674-39731-6
- Rocca, Samuel (2008). The Forts of Judaea 168 BC – AD 73 (em inglês). Oxford, United Kingdom: Osprey Publishing. ISBN 978-1-84603-171-7
- Rocca, Samuel (2009). The Army of Herod the Great (em inglês). Oxford, United Kingdom: Osprey Publishing. ISBN 978-1-84603-206-6
- Sartre, Maurice (2005). The Middle East under Rome (em inglês). [S.l.]: Harvard University Press. ISBN 978-0-674-01683-5