Christa Winsloe

romancista, dramturga e escultora LGBT da Alemanha (1888-1944)

Christa Winsloe (23 de dezembro de 188810 de junho de 1944), anteriormente Baronesa Christa von Hatvany-Deutsch, foi uma romancista, dramaturga e escultora germano-húngara, mais conhecida por sua peça Gestern und Heute filmada em 1931 como Mädchen in Uniform, e um remake de 1958. Winsloe foi a primeira a escrever uma peça sobre homossexualidade feminina na República de Weimar, mas sem uma "crítica radical à discriminação social das mulheres lésbicas".[1]

Christa Winsloe

Nascimento 23 de dezembro de 1888
Darmstadt, Império Alemão
Morte 10 de junho de 1944
Cluny, França
Nacionalidade alemã
Principais trabalhos Gestern und Heute (Mädchen in Uniform)
Área dramaturgia, escultura

Primeiros anos

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Christa Winsloe nasceu em Darmstadt, filha do oficial militar Arthur Winsloe e sua esposa Katharina Elisabeth Scherz.[2] Sua mãe morreu inesperadamente em 1900[3] e Christa foi enviada ao Kaiserin-Augusta-Stift, um internato muito rigoroso de Potsdam, onde as meninas da aristocracia eram treinadas para aprender disciplina e submissão. Essa experiência inspiraria seu trabalho posterior: "[...] quando adulta, Winsloe teve que escrever esse pesadelo para tirá-lo do peito".[1]

Em 1909, ela estudou escultura em Munique (com interesse em esculpir animais), contra o consentimento da família, uma vez que, na época, a profissão era considerada 'não feminina'.[1]

Em 1913, ela se casou com o Barão Lajos Hatvany-Deutsch (1880–1961), um rico escritor e proprietário de terras húngaro[1], ficando conhecida como Baronesa Christa von Hatvany-Deutsch. Enquanto estava casada, começou a escrever Das Mädchen Manuela (A Menina Manuela), um conto baseado em suas experiências no Kaiserin-Augusta, que ela decidiu não publicar. Logo depois seu casamento terminou e Hatvany lhe concedeu uma pensão generosa após o divórcio.

Carreira

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Em 1930, Winsloe escreveu a peça Knight Nerestan, que foi produzida em Leipzig, e depois em Berlim, sob o título Gestern und heute (Ontem e Hoje).[1][4] O sucesso da peça levou a uma versão cinematográfica, em 1931, chamada Mädchen in Uniform, tendo Winsloe atuado como uma das roteiristas, e participando da decisão de mudar o final. Na peça, a jovem estudante Manuela é destruída pela rejeição da sua professora, Fräulein Elizabeth von Bernburg, que não se atreveu a posicionar-se contra a diretora, ou a opor-se aos brutais métodos educativos da instituição de ensino, contribuindo para o suicídio da protagonista. O filme é mais ambíguo, com von Bernburg tentando defender a estudante, e a si mesma. A versão cinematográfica também foi um sucesso considerável, tanto financeiramente quanto junto à crítica, provavelmente, devido a sua estética e ao fato de ter somente personagens femininas [5]. O aspecto lésbico da história foi minimizado e retratado como uma paixão adolescente, mesmo tendo Winsloe como coautora do roteiro, e Leontine Sagan (que na peça havia enfatizado o aspecto lésbico), como diretora.

Em resposta à minimização dos temas lésbicos pela peça e pelo filme, Winsloe completou e publicou seu romance Das Mädchen Manuela (A Menina Manuela) em 1933, como uma versão novelizada e mais ousada, que enfatizou o enredo lésbico.[6]

Winsloe não publicou mais depois de Das Mädchen Manuela porque não queria escrever sob as regras e condições impostas pelo Departamento de Literatura Alemã. Logo, todos os seus livros e artigos estavam no índice nazista de 'literatura indesejada' e foi considerada 'politicamente não confiável'.[7] No entanto, durante a Segunda Guerra Mundial, ela escreveu roteiros para Georg Wilhelm Pabst.[8]

Vida pessoal e morte

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Com a força da aclamação de Mädchen in Uniform, Winsloe mudou-se para Berlim, onde na época havia uma subcultura lésbica. Ela tinha muito dinheiro (da pensão do ex-marido), trabalhava como escultora de animais e tinha um amplo círculo de amigos. Era membro do SPD (os social-democratas alemães, então em grande parte reformistas de orientação marxista) e era aberta sobre sua sexualidade. Winsloe se envolveu em um relacionamento com a jornalista Dorothy Thompson, provavelmente antes da Segunda Guerra Mundial, quando Thompson estava trabalhando em Berlim.[9]

No início da guerra, Winsloe fugiu do regime nazista com sua parceira, Dorothy Thompson, que havia alertado contra Hitler desde o início, e foi uma das primeiras mulheres a entrevistar Hitler. Elas passaram um tempo na Itália e depois seguiram para os EUA, mas Winsloe não gostou do país. Seus roteiros foram rejeitados pelos produtores de Hollywood e ela não queria escrever em inglês, tomando a decisão de deixar Thompson e voltar para a Europa em 1935. Ela passou os anos seguintes viajando entre Itália, França, Hungria, Áustria e Alemanha.[1]

Em outubro de 1939, Winsloe estabeleceu-se em Cagnes, na França, onde conheceu a autora suíça Simone Gentet.[10] Elas permaneceram juntas durante os anos seguintes e Gentet traduziu algumas das obras de Winsloe para o francês. As duas mulheres também ofereceram apoio temporário e refúgio a pessoas que fugiam do regime nazista.[6]

Após uma ordem de evacuação imediata em 10 de junho de 1944, Winsloe e Gentet foram falsamente acusadas de serem espiãs nazistas por quatro franceses e eles, sumariamente, atiraram e mataram as duas mulheres em uma floresta perto da cidade rural de Cluny.[1]

Peças

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  • Gestern und Heute (1930)

Filmes

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Romances

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  • Das Mädchen Manuela (1933)
  • Life Begins (1935)

Trabalhos não publicados

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  • Sylvia und Sybille (peça, 1931)
  • Die halbe Geige (romance, 1935)[7]

Referências

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  1. a b c d e f g Schoppmann, Claudia (2005). «Christa Winsloe (1888-1944)». Lesbengeschichte. Consultado em 3 de fevereiro de 2021. Cópia arquivada em 27 de dezembro de 2017 
  2. "Kate Christa Winsloe" in the Germany, Select Births and Baptisms, 1558-1898 (Ancestry.com. Germany, Select Births and Baptisms, 1558-1898 [database on-line]. Provo, UT, USA: Ancestry.com Operations, Inc., 2014.)
  3. "Katharina Elisabeth Winsloe" in the Hesse, Germany, Deaths, 1851-1958 (Personenstandsregister Sterberegister; Bestand: 901; Laufende Nummer: 107)
  4. B. Ruby Rich (1998). Chick Flicks - CL: Theories and Memories of the Feminist Film Movement. [S.l.]: Duke University Press. ISBN 0-8223-2121-1 
  5. «Winsloe, Christa (1888–1944) | Encyclopedia.com». www.encyclopedia.com. Consultado em 3 de fevereiro de 2021 
  6. a b Salvo, Victor. «Christa Winsloe». Legacy Project Chicago (em inglês). Consultado em 3 de fevereiro de 2021. Arquivado do original em 4 de dezembro de 2020 
  7. a b Schoppmann, Claudia (2005). «Christa Winsloe (1888-1944)». Lesbengeschichte. Consultado em 3 de fevereiro de 2021. Arquivado do original em 27 de dezembro de 2017 
  8. «Winsloe, Christa (1888–1944) | Encyclopedia.com». www.encyclopedia.com. Consultado em 3 de fevereiro de 2021 
  9. Miller, Jim (29 de junho de 1990). «American Cassandra: The Life of Dorothy Thompson». EW.com (em inglês). Consultado em 3 de fevereiro de 2021. Cópia arquivada em 1 de novembro de 2015 
  10. «Le mystère Winsloe résolu ?». ladepeche.fr (em francês). 1 de junho de 2018. Consultado em 3 de fevereiro de 2021. Arquivado do original em 1 de novembro de 2020 

Ligações externas

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