Cléofas

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 Nota: Não confundir com Clopas.

Cléofas (em hebraico: קלופס; em grego: Κλεόπας; em latim: Cleophas) foi tio de Jesus. Cléofas é identificado pela Tradição como marido de Maria de Cléofas e pai de Simeão, que foi segundo bispo da Igreja de Jerusalém, após o martírio de Tiago, o Justo (irmão de Jesus).

Cléofas
Cléofas
Uma representação de Cleofas como um dos discípulos que encontrou Jesus durante a aparição do Caminho para Emaús, por Joseph von Führich, 1837.
Discípulo
Nascimento Século I
Morte Século I
Veneração por Igreja Católica; Igreja Ortodoxa
Festa litúrgica 25 de setembro (Igreja Católica)

30 de outubro (Igreja Ortodoxa)

Portal dos Santos

É comemorado no dia 30 de outubro na Igreja Ortodoxa e em 25 de setembro no Martirológio Romano.[1]

Etimologia

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Alguns escritores afirmam que o nome Clopas em João 19, 25 ("Maria de Clopas" Κλωπᾶς) é uma forma helenizada de um nome aramaico reivindicado Qlopha (קלופא), e que o nome de Cléofas ou Clopas (Κλεόπας) é uma forma abreviada de "Cleopatros", um nome grego que significa "glória do pai" (mais conhecido na forma feminina Cleópatra).[2] No contexto bíblico, refere-se à designação matrimonial.

Na Bíblia

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 Ver artigo principal: Discípulos de Emaús

Cléofas aparece em Lucas 24, 13-35, como um dos dois discípulos que viajavam de Jerusalém até Emaús. Ele é chamado pelo nome no versículo 18 enquanto que o nome de seu companheiro não foi registrado.[3] Cléofas e seu amigo correm de volta para Jerusalém para dar as boas novas aos outros discípulos e ficam sabendo que Jesus também já tinha aparecido para um deles. O mesmo evento é mencionado em Marcos 16:12–13.

Documentos históricos

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Cléofas é mencionado na obra literária de Eusébio de Cesareia, chamada História Eclesiástica. Nesse livro, Eusébio cita a Tradição do período pós-apostólico, no qual foi registrado anteriormente por Hegésipo, que Cléofas era irmão de José, pai de Jesus.

"Depois do martírio de Tiago e da tomada de Jerusalém, que se seguiu imediatamente, é tradição que os apóstolos e discípulos do Senhor que ainda estavam vivos reuniram-se de todas as partes num mesmo lugar, junto com aqueles que estavam relacionados com o Senhor segundo a carne (pois a maioria deles também estava viva) para se aconselharem sobre quem seria digno de suceder a Tiago, e todos, por unanimidade, decidiram que Simeão, o filho de Clopas - mencionado também pelo texto do Evangelho - era digno do trono daquela igreja, por ser primo do Salvador, ao menos segundo se diz, pois Hegésipo relata que este Clopas era irmão de José."
 
, História Eclesiástica, livro III p. 60[4].

Livros apócrifos

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O Evangelho do Pseudo-Mateus, provavelmente escrito no século VII, afirma que Maria de Cléofas era filha de Cléofas e Ana:

"Jesus os encontrou, com Maria, sua mãe, junto com sua irmã Maria de Clopas, que o Senhor Deus deu a seu pai Clopas e sua mãe Ana, porque eles ofereceram Maria, a mãe de Jesus, ao Senhor. E ela foi chamada pelo mesmo nome, Maria, para o consolo de seus pais."[5]

A interpretação mais comum desse documento, é que "de Cléofas" indica o marido de Maria de Cléofas e posteriormente o pai de seus filhos, mas alguns veem "de Cléofas" como significando o pai de Maria. A tradição medieval via Cléofas como o segundo marido de Ana e pai de "Maria de Cléofas".[6]

Tradições concorrentes

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  • A tradição ortodoxa, mantém a visão de que Cléofas e Alfeu não são a mesma pessoa. Bem como Tiago, o Justo (irmão do Senhor) também não era o mesmo que Tiago Menor. Logo, os irmãos de Jesus não eram primos, mas sim meios-irmãos, filhos apenas de José de um casamento anterior, antes de casar com a Virgem Maria.
  • Já na tradição protestante, predomina o fato de que a família de Jesus era composta em núcleos distintos. Ou seja, Um núcleo era composto por José, Maria, Jesus e seus irmãos (filhos do casal ou apenas de José). Enquanto o outro núcleo era composto por Cléofas, Maria de Cléofas e Simeão. Quanto a Tiago e José citados em Marcos 15:40, há dissensões para identificar primeiramente a mãe dos mesmos, devido ao emprego da vírgula, havendo distinção das mulheres citadas no texto, podendo assim, entender Maria de Cléofas como sendo "irmã de sua mãe", tanto como a Maria citada no texto sendo outra pessoa distinta. Neste caso a primeira visão confirma 3, enquanto outra, 4 mulheres nesta passagem.
  • Na tradição de Jerusalém, herdada pelos judeus messiânicos, a visão é totalmente correspondente da tradição protestante, com a premissa de que Maria e José eram de fato pais dos irmãos de Jesus literalmente, fazendo então clara distinção dos núcleos familiares.

Epifânio de Salamina acrescenta que São José e Cléofas eram irmãos, filhos de "Jacó, de sobrenome Pantera", na sua obra Panarion.[7]

De acordo com os fragmentos remanescentes da obra Exposição dos Ditos do Senhor do Pai Apostólico Pápias de Hierápolis, (que viveu 70–163 d.C.), Cléofas e Alfeu são a mesma pessoa: "Maria, a esposa de Cleophas ou Alphaeus, que era a mãe de Tiago o bispo e apóstolo, e de Simão e Tadeu, e de um José".[8]

Eusébio de Cesareia em seu livro História Eclesiástica citando a Tradição sucessora dos Apóstolos vinda da obra de Hegésipo, (Memórias) descreve que Clopas era irmão de São José, e faz clara distinção dos irmãos de Jesus, quando trata de Tiago, o Justo (irmão do Senhor) e Judas como sendo irmãos de Jesus, enquanto se refere a Simeão como primo de Jesus. Eusébio também destaca a falta de intelecto em geral nas obras de Pápias de Hierápolis:

"O próprio Papias conta também outras coisas como tendo chegado a ele por tradição não escrita, algumas estranhas parábolas do Salvador e de sua doutrina, e algumas outras coisas ainda mais fabulosas. 12. Entre elas diz que, depois da ressurreição dentre os mortos, haverá um milênio, e que o reino de Cristo se estabelecerá fisicamente sobre esta terra. Eu creio que Papias supõe tudo isto por haver derivado das explicações dos apóstolos, não percebendo que estes haviam-no dito figuradamente e de modo simbólico.13. E aparece como homem de muito escassa inteligência, segundo se pode supor por seus livros. Mesmo assim, ele foi o culpado de que tantos escritores eclesiásticos depois dele tenham abraçado a mesma opinião que ele, apoiando-se na antiguidade de tal varão, como realmente faz Irineu e qualquer outro que manifeste professar ideias parecidas."[9]

Referências

  1. «Cleopas and Artemas of the 70 Apostles - Greek Orthodox Archdiocese of America». www.goarch.org (em inglês). Consultado em 2 de novembro de 2020 
  2. Richard R. Losch All the people in the Bible: an A-Z guide to the saints 2008 Page 279 "Clopas (Κλοπας) is the Hellenized form of the Aramaic Qlopa (קלופא), while Cleopas (Κλεοπας) is a common abbreviated form of the Greek name Cleopatros (Κλεοπατρος)."
  3. «Cópia arquivada». Consultado em 9 de julho de 2012. Arquivado do original em 29 de fevereiro de 2012 
  4. Eusébio de Cesaréia. História Eclesiástica, livro III. História Eclesiástica, livro III, Eusébio de Cesaréia. [S.l.: s.n.] p. 60 
  5. Evangelho do Pseudo-Mateus XLII,1-2
  6. Cite Catholic Encyclopedia: St. Anne.
  7. of Salamis, Epiphanius; Williams, Frank (2013). The Panarion of Epiphanius of Salamis: De fide. Books II and III Sect 78:7,5 (em inglês). [S.l.]: BRILL. p. 620. ISBN 978-9004228412. Consultado em 10 de dezembro de 2016 
  8. «Papias (Roberts-Donaldson)». www.earlychristianwritings.com. Consultado em 2 de novembro de 2020 
  9. de Cesareia, Eusebio. História Eclesiástica (PDF). [S.l.: s.n.] p. 261 a 262 

Ligações externas

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