Clara Menéres
Maria Clara Rebelo de Carvalho Menéres (Braga, 22 de agosto de 1943[1] — Lisboa, 10 de maio de 2018) foi uma escultora e professora portuguesa.[2]
Clara Menéres | |
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Nome completo | Maria Clara Rebelo de Carvalho Menéres |
Nascimento | 22 de agosto de 1943 S. Victor, Braga |
Morte | 10 de maio de 2018 (74 anos) Lisboa, Portugal |
Nacionalidade | portuguesa |
Área | Escultura |
Formação | Escola Superior de Belas-Artes do Porto |
Autora de uma obra desassombrada e fora do comum, Clara Menéres marcou várias correntes ao longo da sua carreira, "desde a arte feminista e erótica nos anos 1960 e 1970, à arte religiosa nos últimos anos, tendo trabalhado em pedra, plástico, metal, néon e bordados, entre muitos outros materiais".[3]
Biografia
editarClara Menéres nasceu na Casa de Vilar, em São Vítor, Braga. Estudou escultura na Escola Superior de Belas-Artes do Porto, onde foi aluna de Salvador Barata Feyo, Lagoa Henriques e Júlio Resende, tendo concluído a licenciatura em 1968 com a apresentação do trabalho A Menina Amélia que vive na Rua do Almada.[2]
Expôs individualmente pela primeira vez em 1967. Foi bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris de 1978 a 1981 e de 1988 a 1990, nos Estados Unidos. [4] Doutorou-se na Universidade de Paris VII em 1983; foi Research Fellow do Center for Advanced Visual Studies do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) entre 1989 e 1991.[5]
Iniciou a atividade pedagógica na Escola Superior de Belas-Artes do Porto; entre 1971 e 1996, foi professora na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa (atual Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa), onde exerceu o cargo de Presidente do Conselho Diretivo de 1993 a 1996; foi Professora Associada e, depois, Professora Catedrática na Universidade de Évora, onde lecionou de 1996 a 2007.
Participou em inúmeras mostras coletivas, nomeadamente: Exposição 73, Sociedade Nacional de Belas Artes, 1973 (apresentou Jaz Morto e Arrefece, uma representação escultórica realista de um soldado morto com a farda da guerra colonial, inspirada no poema O Menino de Sua Mãe, de Fernando Pessoa); Alternativa Zero, Galeria Nacional de Arte Moderna, Belém, 1977 (apresentou Mulher–Terra–Mãe); XIV Bienal de S. Paulo, Brasil, 1977; Anos 60, anos de rutura: uma perspetiva da arte portuguesa nos anos sessenta, Lisboa 94, Capital Europeia da Cultura, Palácio Galveias, Lisboa, 1994; Clara Menéres está fortemente representada na exposição Pós-Pop – Fora do lugar-comum (Desvios da ‘pop’ em Portugal e Inglaterra, 1965-75), patente até 10 de Setembro de 2018 na Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa.
Entre as suas exposições individuais podem destacar-se: Galeria Borges, Aveiro, 1967; Galeria Divulgação, Porto, 1968; Galeria Nasoni, Porto, 1987; Loja do Desenho, Lisboa, 1988; Jadite Gallery, New York, 1990; CAVS-MIT, Cambridge Massachusetts, U.S.A., 1990; Cooperativa Árvore, Porto, 1991.[6]
Morreu a 10 de maio de 2018, num hospital de Lisboa, onde se encontrava internada.[7]
Obra
editarEm 1977 realizou Mulher–Terra–Mãe, uma obra poderosamente simbólica (conotada com a Land Art) onde de alguma forma evocou o torso feminino de Courbet em A Origem do Mundo. Nesta obra hoje considerada unanimemente como uma obra fundamental nas diversas linguagens artísticas que, em Portugal, se reclamam do feminismo, Clara Menéres aliou a consciência política de género ao vocabulário da Arte pop internacional, numa explícita representação do sexo de uma mulher.[8]
É ainda de sua autoria um conjunto escultórico intitulado A menina Amélia que vive na Rua do Almada, que apresentou para a conclusão da sua licenciatura em 1968, ou um Relicário (datado da década de 1970) que é uma das principais obras de arte erótica referidas nas antologias da especialidade e que precedeu a escultura Jaz morto e arrefece, obra de referência sobre a Guerra Colonial portuguesa em que representou de forma realista um soldado morto sobre um catafalco.[8]
Na sua produção mais recente, Clara Menéres efetuou um desvio relativamente à sua produção anterior, privilegiando a temática religiosa; assinou criações para o santuário de Fátima (a jovem pastora Jacinta, em 2000, ou O Anjo da Paz, que em 2016 foi incluído no programa de celebração do centenário das aparições) e também para o Santuário do Sameiro, em Braga.[3]
Ao longo de uma carreira de meio século, Clara Menéres criou, nas palavras de Vítor Serrão uma obra de forte carácter inventivo, em crescente tónus espiritual.[3]
Prémios e reconhecimentos
editarGanhou em 1987 o Prémio de Escultura da IV Bienal Internacional de Vila Nova de Cerveira [9]
Em 2019, a sua obra integrou uma exposição da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, intitulada As Mulheres na Colecção Moderna. De Sonia Delaunay a Ângela Ferreira 1916-2018, que reuniu mais de uma centena de obras de mulheres artistas, produzidas ao longo do último século em Portugal.[10]
Foi homenageada, ao lado de outras artistas portuguesas, na exposição Tudo O Que Eu Quero, do Museu Calouste Gulbenkian, que fez parte da programação cultural da Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia, em 2021. [11][12]
Referências
editar- ↑ «PT-ADAVR-AC-GCAVR-H-D-001-0080_m0001.tif - Registo de passaportes - Arquivo Distrital de Aveiro - DigitArq». Arquivo Distrital de Aveiro. Consultado em 24 de abril de 2020
- ↑ a b «Antigos Estudantes Ilustres da Universidade do Porto: Clara Menéres». Universidade do Porto. Consultado em 6 de junho de 2014
- ↑ a b c Sérgio C. Andrade. «Clara Menéres (1943-2018), uma escultora fora do lugar-comum». Jornal Público. Consultado em 12 de maio de 2018
- ↑ «Clara Menéres». Museu Calouste Gulbenkian. Consultado em 28 de janeiro de 2021
- ↑ A.A.V.V. – Anos 60, anos de rutura: uma perspetiva da arte portuguesa nos anos sessenta. Lisboa: Lisboa 94; Livros Horizonte, 1994. ISBN 972-24-0867-4
- ↑ Menéres, Clara – O aprisionamento da luz: esculturas. Porto: Árvore, 1991.
- ↑ SAPO. «Morreu a escultora Clara Menéres aos 74 anos»
- ↑ a b Luísa Soares de Oliveira. «Clara Menéres: ser mulher em liberdade total». Jornal Público. Consultado em 12 de maio de 2018
- ↑ «U. Porto - Antigos Estudantes Ilustres da Universidade do Porto: Clara Menéres». sigarra.up.pt. Consultado em 28 de janeiro de 2021
- ↑ PÚBLICO, Lusa. «De Sonia Delaunay a Ângela Ferreira, as mulheres serão o foco da nova exposição da Gulbenkian». PÚBLICO. Consultado em 28 de janeiro de 2021
- ↑ «Exposição «Tudo o que eu quero» disponível virtualmente». www.portugal.gov.pt. Consultado em 30 de julho de 2021
- ↑ «Tudo O Que Eu Quero». Google Arts & Culture. Consultado em 30 de julho de 2021