Clodovis Boff (Concórdia, 1944) é um teólogo, filósofo, escritor e professor brasileiro.

Clodovis Boff
Clodovis Boff
Nascimento 1944 (80 anos)
Concórdia, SC
Nacionalidade brasileiro
Parentesco Leonardo Boff (irmão)
Ocupação Teólogo, filósofo, escritor e professor

É um teólogo católico da ordem dos Servos de Maria, inicialmente adepto da Teologia da Libertação, e agora plenamente de acordo com os bispos latino-americanos reunidos em Aparecida em 2007. Mora em Rio Branco[1][2] e foi professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Ao contrário de seu irmão Leonardo Boff, não foi processado pela Congregação para a Doutrina da Fé, embora na década de 80 tenha perdido a cátedra na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, além do impedimento de lecionar na faculdade teológica da sua Ordem, em Roma.

Biografia

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É neto de imigrantes italianos do Vêneto que chegaram no Rio Grande do Sul ao final do século XIX. Fez seus estudos primários e secundários em Concórdia, Rio Negro e Agudos. Estudou Filosofia em Mogi das Cruzes e obteve o Doutorado em Teologia na Universidade Católica de Lovaina, na Bélgica, onde, em 1976, sob a orientação de Adolphe Gesché obteve doutorado com a tese "Teologia e prática". Foi assessor da Conferência de Religiosos do Brasil, membro do Instituto Nacional de Pastoral, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), do Instituto Teológico Franciscano em Petrópolis e da Pontifícia Faculdade Marianum em Roma, e responsável pela pastoral das favelas do Rio Comprido.

Sua tese de doutorado teve como objeto a metodologia da teologia da libertação, sua preocupação era garantir a dimensão libertadora da teologia a dimensão teológica da libertação. Seu objetivo era dar maior eficácia teórica e prática à teologia da libertação. Clodovis sustentava que a teologia não poderia limitar-se a introduzir acriticamente as ciências sociais em seu discurso, mas deveria reelaborar e integrar contribuições dessas ciências levando em conta as características próprias da teologia.

Clodovis sustentava que a leitura da Bíblia deve produzir uma relação entre a situação concreta e o conteúdo da mensagem. Portanto, Clodovis utilizou as ciências sociais e especialmente o marxismo na teologia, tendo sido influenciado por Louis Althusser. Clodovis explicava que embora o marxismo não fosse útil para compreender questões de , seria útil para compreender a realidade social.

Outro aspecto da perspectiva teológica de Clodovis é o entendimento de que Deus vem em primeiro lugar, sendo a experiência do pobre algo secundário, que somente tem valor teológico a partir do Deus revelado, que, por sua vez, certamente opta pelos pobres e oprimidos, por isso, a luta de libertação social seria parte do cristianismo[3].

Método teológico

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Uma das obras mais importantes de Clodovis é "Teoria do método teológico" que tem mais de 750 páginas na edição em espanhol na qual discorre sobre Platão (428/427 - 348/347 AC), Aristóteles (384—322 AC), Marco Terêncio Varrão (116—27 AC), Santo Agostinho (354-430), Anselmo de Cantuária (1033-1109 - beneditino), São Tomás de Aquino (1225-1274 - Dominicano), Boaventura (1221-1274 - franciscano), João Duns Escoto (1266-1308 - franciscano), Wolfhart Pannenberg (1928—2014 - protestante), Karl Barth (1886—1968 - protestante)), Marie-Dominique Chenu (1895-1990 - dominicano), Yves Congar (1904—1995 - dominicano), Bernard Lonergan (1904-1984) - jesuíta) e Karl Rahner (1904—1984 - jesuíta), os teólogos da libertação, etc.

Segundo Clodovis, o método teológico tem as seguintes etapas: escuta da Palavra, interpretação crítica, recuperação da Tradição por meio da e orientação para a vida; o discurso do método em teologia passa pela fundamentação crítica e pela justificação racional, assim como pela avaliação de seu alcance e de seus limites. Por outro lado, cabe destacar que Clodovis aborda a questão da metodologia da teologia pela ótica da teologia da libertação, pois demonstra uma sensibilidade especial com os pobres.

Clodovis acredita que a teologia incorporaria a reflexão filosófica na medida em que ajuda a compreender as respostas divinas às perguntas humanas sobre a vida e o mundo. Portanto, a mediação filosófica seria intrínseca à fé vivida, o que concederia um lugar estrutural e não somente acessório a esse ramo do conhecimento na teologia. Clodovis sustenta que a filosofia seria importante em sua relação com a teologia, especialmente: na mediação do diálogo cultural e no exercício da "arte de pensar".

Segundo Clodovis, as ciências sociais ajudariam a teologia a inculturar a fé em sua época, adaptando a mensagem cristã às questões de seu tempo, conforme orientação do Concílio Vaticano II. Essas ciências ajudariam a perceber que a libertação da fome, da opressão e da exclusão social seriam um dos maiores desafios para a Igreja e para a sociedade em sua época. Portanto, a luta pela justiça social estaria entre os principais imperativos pastorais e seria um dos pontos mais importantes da agenda teológica. As grandes questões que desafiariam o cristianismo na "Periferia do Mundo" estariam relacionadas com as necessidades básicas: trabalho, comida, moradia, educação e saúde. Para fazer frente a essas situações dramáticas seria necessária a mediação das ciências sociais, que permitiriam a análise da realidade.

As Comunidades Eclesiais de Base, segundo Clodovis, são um elemento fundamental para o desenvolvimento da reflexão teológica, pois tal reflexão requer uma produção coletiva, para que tenha caráter orgânico. Desse modo, a teologia se torna dinâmica e se mantém viva e ativa no seio dos processos históricos de emancipação e libertação dos seres humanos e dos povos oprimidos. Portanto, os teólogos devem viver sua experiência religiosa ligados a uma comunidade cristã. [3].

Teologia Latino Americana

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Clodovis destaca os seguintes aspectos da teologia latino americana:

  1. reconhecimento da importância da política, entendida em seu sentido amplio, que inclui os "novos movimentos sociais" como mediação necessária para a transformação das estruturas sociais;
  2. nova pastoral social em um mundo marcado pela exclusão, que desenvolve uma metodologia de trabalho popular com propostas alternativas capazes de responder à nova problemática social;
  3. novos movimentos sociais e novas práticas políticas;
  4. comunidades eclesiais de base;
  5. reconhecimento das demandas atuais da espiritualidade;
  6. diálogo com as grandes tradições religiosas (budismo, hinduísmo, islamismo) e com as religiões nativas;
  7. nova prática político-espiritual como lugar de encontro entre a "nova política" e a "nova mística[3]."

Volta ao fundamento

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Em 2007, a Revista Eclesiástica Brasileira (nº 68) publicou um artigo de Clodovis denominado: "Teologia da Libertação e volta ao fundamento", no qual Clodovis criticou outros teólogos da libertação de terem promovido uma inversão de primado epistemológico ao terem "trocado Deus pelos pobres", o que teria provocado uma instrumentalização da fé para usos políticos:

"O erro da teologia da libertação realmente existente foi ter posto os pobres no lugar de Cristo, fazendo deles um fetiche e rebaixando Cristo a mero coadjuvante; quando Cristo fez o contrário: pôs-se no lugar dos pobres, a fim de fazê-los participar de sua dignidade divina."

Por outro lado, Clodovis continua a afirmar que a fé teria uma inegável dimensão política, mas haveria o risco de, ao 'reduzi-lá' a instrumento, degradá-la. Isso porque, a fé, em seu núcleo essencial, não seria política, mas metapolítica, espiritual ou sobrenatural. Ela, como o amor, não teria, em primeiro lugar, ‘valor de uso’ e menos ainda ‘valor de troca’, pois teria valor por si mesma, quando significa entrega amorosa a Deus e ao seu mistério.

Portanto, Clodovis, manifestou acordo com críticas do Papa Bento XVI à teologia da libertação, tendo em vista também que as pessoas estariam buscando "sentido e de transcendência". Por outro lado, declara que a reafirmação da centralidade de Cristo, não significa relegar a questão dos pobres à margem, pois acredita que a "A opção preferencial pelos pobres está implícita na fé cristológica naquele Deus que se fez pobre por nós[4]." Posteriormente, Clodovis manifestou apoio ao Documento aprovado na Conferência de Aparecida como alternativa aos desvios da Teologia da Libertação[3].

Leonardo Boff apresentou uma resposta à Clodovis, em maio de 2008, por meio de um artigo denominado "Pelos pobres contra a estreiteza do método".[5] Lembrou Leonardo que foi Jesus mesmo, o Juiz Supremo quem se identificou com os pobres: «todas as vezes que fizestes a um destes meus irmãos menores, foi a mim que o fizestes» (Mateus 25:40). Achou "sintomático e perturbador que o texto de Mateus 25:31-46, tão central para a teologia e particularmente para Teologia da Libertação, não seja citado nenhuma vez por Clodovis".[5]

  • "La ilusión de una nueva cristiandad", em "El camino de Puebla", Madri, 1979, pp. 41-56;
  • "Teología de lo político. Sus mediaciones", Salamanca, 1980;
  • "Libertad y liberación", Salamanca, 1982;
  • "Cómo hacer teología de la liberación", em co-autoria com Leonardo Boff; Madrid, 1986;
  • "Opção pelos pobres", em co-autoria com Jorge Pixley, Petrópolis, 1986;
  • "El evangelio del poder-servicio. La autoridad en la vida religiosa", Santander, 1987;
  • "Epistemología y método de la teología de la liberación", em "Mysterium liberationis. Conceptos fundamentales de la teología de la liberación", Ignácio Ellacuría e Jon Sobrino (orgs.), Madri, 1990, pp. 79-113;
  • "Cartas teológicas sobre el socialismo", 1989;
  • "Teoria do método teológico", Petrópolis, 1998;
  • "Teología", em "Nuevo Diccionario de Teología", Trotta, Madri, 2005, (Juan Jose Tamayo org.)[3].
  • O livro do sentido, v. I "Crise e busca de sentido hoje (parte crítico-analítica)", São Paulo: Paulus, 2016.

Referências

Ligações externas

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