Colírio Moura Brasil

Colírio Moura Brasil é a marca pela qual é conhecido um colírio cuja fórmula foi desenvolvida no começo do século XX pelo oftalmologista brasileiro José Cardoso de Moura Brasil.[1]

Anúncio do início dos anos 1940

Medicamento considerado de "uso livre", nos seus cem anos de existência o produto foi responsável por vários patrocínios culturais e larga veiculação mercadológica, suscitando debates sobre a ética na propaganda e, até, contribuiu para elaboração no país de normas disciplinadoras do setor.

Com a crescente urbanização do Brasil desde o começo do século XX, o colírio encontrou um mercado favorável no intuito de limpar os olhos sensíveis ou que tenham ficado irritados em razão do aumento da poluição atmosférica.[1]

Histórico e fórmula

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Moura Brasil desenvolveu a fórmula que, antes de ser transferida a um grande laboratório, fez fortuna para si e sua família.[1] O produto foi lançado em 1913 e iniciou a fazer propagandas em 1934, sendo pioneira neste particular em ações culturais.[2]

Segundo seu neto Oswaldo Moura Brasil, também oftalmologista, "colírios com vasoconstritores em sua fórmula fazem com que os olhos fiquem branquinhos e brilhantes quase que imediatamente”; a composição do produto é uma combinação de cloridrato de nafazolina, sulfato de zinco, ácido bórico e borato de sódio.[1]

Histórico de propaganda

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Na década de 1940, o colírio tinha suas propagandas dirigidas ao grande público nas emissoras de rádio, então o maior meio de divulgação de comerciais da época, veiculando seu slogan "2 gotas, 2 minutos, 2 olhos limpos"; foi uma época em que, segundo Ricardo Ramos, os slogans tiveram o seu período mais criativo - sendo este do colírio exemplar: passam a mensagem de forma "leve", "como se nada estivesse acontecendo".[3] Este slogan vinha cantado, em forma de jingle, na Rádio Nacional, e o produto era o patrocinador do programa naquela emissora capitaneado por Almirante chamado "Curiosidades Musicais", um dos principais da época; o jingle era cantado em formato de marchinha de carnaval que, segundo o estudo de Ronaldo Conde Aguiar, era "objetivamente singela e bonita" de tal forma que permanecia na memória daqueles que a ouviram.[4] Tinha, na época, como seu principal concorrente e rival o colírio Lavolho, que também usava das mesmas estratégias de marketing.[5] Um de seus jingles foi cantado por Celly Campelo,[6] contratada junto com seu irmão Tony para ilustrar tais peças publicitárias.[7]

Entre 1951 e 1952 a marca celebrou um contrato de puro teor promocional com o cantor Luiz Gonzaga, então o maior nome de cultura de massa no Brasil, custeando-lhe a excursão por todo o país, fato este registrado por Gilberto Gil.[8]

O uso do rádio para a divulgação de medicamentos, especialmente por marcas como Sonrisal e o Moura Brasil, levou a uma reação governamental já na ditadura de Getúlio Vargas, que veio a publicar um decreto em 1942 procurando, pela primeira vez, disciplinar tal prática; a partir de então houve um crescendo de debates sobre a ética e ampliação das restrições das propagandas de remédios.[9]

A pesquisadora Maria Rita Resende Martins da Costa, analisando peças publicitárias de medicamentos de venda livre, e este colírio entre eles, concluiu que "com seus argumentos altamente persuasivos a fim de seduzir o consumidor, não evidencia uma preocupação responsável com o consumidor e trata os medicamentos como quaisquer outros produtos, restringindo-se ao cumprimento das determinações legais em seus aspectos mínimos".[10]

Uso esportivo proibido

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Por conter substâncias identificadas na medicina esportiva como doping, o Colírio Moura Brasil foi listado em 2006 entre os fármacos cujo uso deve ser evitado por atletas.[11]

Impacto cultural

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O colírio Moura Brasil tinha seu uso associado ao consumo de maconha, substância que entre seus efeitos provoca a vermelhidão dos olhos; o colírio disfarçaria esta condição.[12]

Referências

  1. a b c d Redação (agosto de 2009). «Firmareconhecida». Jornal Omint. Consultado em 15 de abril de 2016. Arquivado do original em 25 de abril de 2016 
  2. Institucional (12 de dezembro de 2013). «Colírio Moura Brasil comemora 100 anos». Maxpress. Consultado em 18 de abril de 2016 
  3. Paula Renata Camargo de Jesus (n.d.). «1Cem Anos de Propaganda de Medicamentos no Brasil: Uma história de frases e efeitos!» (PDF). Portcom. Consultado em 15 de abril de 2016 
  4. Ronaldo Conde Aguiar (2007). Almanaque da Rádio Nacional. [S.l.]: Casa da Palavra. p. 43, 65 4 134. ISBN 8577340821 
  5. Marcos Júlio Sergl (12–14 de maio de 2011). «A Peça Publicitária no Contexto da Paisagem Sonora Brasileira nas Décadas de 1930 e 1940: Do "Pão Bragança" à "Coca Cola".» (PDF). Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. Consultado em 15 de abril de 2016 
  6. Décio Clemente (7 de julho de 2011). «Relembre o jingle do colírio Moura Brasil». Rádio Jovem Pan. Consultado em 15 de abril de 2016. Arquivado do original em 17 de agosto de 2016 
  7. Márcio Ribeiro (3 de março de 2006). «Celly Campello». Whiplash. Consultado em 15 de abril de 2016 
  8. Jurema Mascarenhas Paes (2014). «Luiz Gonzaga: tradutor da discursividade do Nordeste». revista Algazarra, PUC-SP, nº 2/2014. Consultado em 15 de abril de 2016 
  9. Carolina Pires Araújo, Rosany Bochner, Álvaro César Nascimento (2012). «Marcos legais da propaganda de medicamentos: avanços e retrocessos» (PDF). Physis: Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.22, n.1, p.331-346. Consultado em 15 de abril de 2016 
  10. Maria Rita Resende Martins da Costa (2005). «A propaganda de medicamentos de venda livre: um estudo do discurso e das questões éticas» (PDF). IBICT. Consultado em 15 de abril de 2016. Arquivado do original (PDF) em 26 de abril de 2016 
  11. M. G. Feder, R.M.D.E.A. Bento, F.R.D.E.A. Neto (2006). «Informações Sobre o Uso de Medicamentos no Esporte» (PDF). Comitê Olímpico Brasileiro. Consultado em 15 de abril de 2016 
  12. Maurício Fiore (2013). «Uso de drogas: substâncias, sujeitos e eventos» (PDF). Neip. Consultado em 15 de abril de 2016 

Ligações externas

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