ComingOut. E se o Museu saísse à rua?

"ComingOut. E se o Museu saísse à rua?" foi uma exposição do Museu Nacional de Arte Antiga que decorreu entre 29 de Setembro de 2015 e 1 de Janeiro de 2016, que levou às ruas reproduções de altíssima qualidade de 31 obras-primas da sua colecção em escala real e providas de molduras em madeira, expostas em paredes no centro de Lisboa, nas zonas do Chiado, Bairro Alto e Príncipe Real. A estas obras foram acrescentadas mais três em dezembro para substituir peças que foram furtadas ao longo da duração da exposição.[1]

O projecto baseou-se no projecto denominado The Grand Tour, que já havia sido desenvolvido em Londres pela National Gallery, nos bairros de Covent Garden, Soho e Chinatown em 2007.[2]

Como já tinha acontecido na exposição da National Gallery em Londres,[3] algumas das reproduções foram grafitadas, cortadas e até furtadas. Dois dias após o início da exposição, desapareceu o Inferno (Mestre Português Desconhecido, século XVI) na Rua da Rosa.[4] Em meados de Outubro desapareceram Ruínas de Roma Antiga (Giovanni Paolo Pannini, século XVIII) e Feira da Ladra na Praça da Alegria (Nicolas Delerive, século XIX) de onde se encontravam, na Rua das Taipas,[5] e, passados mais uns dias, o D. Sebastião (Cristóvão de Morais, c. 1571), da Rua do Loreto.[6] O episódio mais caricato terá sido o "deslocamento" de quatro obras — Retrato do Conde de Farrobo (Domingos Sequeira, 1813), São Damião (Bartolomé Bermejo, c. 1460), o Retrato do Senhor de Noirmont (Nicolas de Largillière, c. 1710), e Conversação (Pieter de Hooch, 1663-1665) — que terão sido furtadas e transportadas desde o Chiado até ao Laranjeiro, em Almada, onde foram penduradas nas paredes dos prédios do bairro situado junto à Avenida Professor Ruy Luís Gomes, por um auto-intitulado "Robin das Artes".[7]

No local de onde foram sendo furtados quadros foi pendurada uma "tabela humorística" com uma reprodução menos elaborada do quadro, e com a inscrição: "Retirada temporariamente para exposição privada".[8]

No fim da exposição foi revelado que os cerca de 20 quadros que ainda se mantinham nas ruas da Baixa de Lisboa seriam recolhidos e leiloados pelo Palácio do Correio Velho em janeiro de 2016, revertendo as receitas integralmente a favor do Museu de Arte Antiga para a a aquisição da obra Adoração dos Magos de Domingos Sequeira.[9]

Reproduções expostas

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Imagem Obra
(data)
Autor Local Intervenção por parte do público? Notas
  Martírio de São Vicente Atado à Coluna
(c. 1470)
Nuno Gonçalves Sem qualquer intervenção
  Inferno
(c. 1510-1520)
Mestre Português Desconhecido Rua da Rosa Furtado, dois dias após o início da exposição.[4]
  Retrato do Rei D. Sebastião
(c. 1571)
Cristóvão de Morais Rua do Loreto Furtado[6]
  Retrato de Senhora
(c. 1620-1640)
Mestre Ibérico Desconhecido Rua do Alecrim Sem qualquer intervenção
  Retrato de Afonso de Albuquerque
(após 1545)
Autor Desconhecido Largo do Barão de Quintela Sem qualquer intervenção
  Retrato de D. Francisco de Almeida
(após 1545)
Autor Desconhecido Largo do Barão de Quintela Sem qualquer intervenção
  Natureza-morta com Cesto de Frutos
(c. 1620-1640)
Antonio Pereda y Salgado Rua da Atalaia Sem qualquer intervenção
  Obras de Misericórdia
(1600-1625)
Pieter Brueghel, o Jovem
  Virgem e o Menino
(c. 1485)
Hans Memling
  São Jerónimo
(1521)
Albrecht Dürer Rua Garrett
  Painel central do Tríptico de Nossa Senhora da Misericórdia
(c. 1512-1515)
Jan Provoost Rua António Maria Cardoso Sem qualquer intervenção
  Senhora das Dores
(c. 1511)
Quentin Metsys Largo de São Carlos Sem qualquer intervenção
  Virgem com o Menino e Santos
(1519)
Hans Holbein, o Velho Largo de São Carlos Pequeno grafito — uma lágrima a marcador preto, na face direita da Virgem
  Santo Agostinho
(c. 1465)
Piero della Francesca Calçada do Sacramento
  São Damião
(c. 1460-1470)
Bartolomé Bermejo Travessa dos Teatros Um dos quatro quadros que foram transportados para o Laranjeiro, Almada, pelo auto-intitulado "Robin das Artes".[7] O São Damião foi exposto na parede de um prédio na Praceta Dr. Barbosa du Bocage, até ser novamente furtado.
  São Sebastião
(c. 1625-1650)
Mestre Desconhecido (Espanha?) Rua Luísa Todi Sem qualquer intervenção
  Conversação
(1663-1665)
Pieter de Hooch Rua da Rosa Um dos quatro quadros que foram transportados para o Laranjeiro, Almada, pelo auto-intitulado "Robin das Artes".[7] A Conversação foi exposta na parede de um prédio no Largo Francisco Sanches, até ser novamente furtado.
  Salomé com a Cabeça de São João Baptista
(1510-1515)
Lucas Cranach, o Velho Rua do Alecrim Cortado e mutilado no seu quarto inferior.
  Retrato de Margarida Gonzaga
(1593)
Jacopo Ligozzi Sem qualquer intervenção
  O Homem do Cachimbo
(c. 1850)
Gustave Courbet Rua da Barroca
  Cortesã
(1630-1650)
Jacob Adriaenz Backer Rua das Salgadeiras
  Grupo Familiar
(c. 1630)
Pieter de Grebber Grafitado, a marcador preto; na mão da criança mais à esquerda foi desenhada uma pistola e um balão de fala alusivo à venda do Banif, que coincidiu com o período da exposição.
  Martírio de São Vicente numa Cruz em Aspa
(c. 1470)
Nuno Gonçalves Rua da Rosa Grafitada, a marcador preto, uma inscrição na metade inferior do quadro.
  Retrato de Senhora
(1655)
Pieter Nason Rua da Rosa
  Retrato da Família do 1.º Visconde de Santarém
(1816)
Domingos António de Sequeira Largo do Picadeiro
  Ruínas de Roma Antiga
(1725-1750)
Giovanni Paolo Pannini Rua das Taipas Furtado[5]
  Vista Panorâmica do Mosteiro e Praia de Belém
(1657)
Filipe Lobo Sem qualquer intervenção
  David e Betsabé
(c. 1750?)
François Boucher Sem qualquer intervenção
  Retrato do Conde de Farrobo
(1813)
Domingos António de Sequeira Largo do Picadeiro Um dos quatro quadros que foram transportados para o Laranjeiro, Almada, pelo auto-intitulado "Robin das Artes".[7] O Conde de Farrobo foi exposto na parede de um centro comercial no Largo Francisco Sanches, tendo sido o único dos quatro quadros levados para o Laranjeiro a ser devolvido para o leilão.
  Retrato do Senhor de Noirmont
(1690-1710)
Nicolas de Largillière Rua Capelo Um dos quatro quadros que foram transportados para o Laranjeiro, Almada, pelo auto-intitulado "Robin das Artes".[7] O Senhor de Noirmont foi exposto na parede de um prédio na Praceta Dr. Barbosa du Bocage, onde foi sofreu um corte vertical ao longo da moldura, até ser novamente furtado.
  Feira da Ladra na Praça da Alegria
(1809-1818)
Nicolas Delerive Rua das Taipas Furtadado[5]
  Leda e o Cisne
(1798)
Vieira Portuense Rua das Taipas Sem qualquer intervenção Exposto na noite de 11 de dezembro de 2015 de modo a inverter a tendência dos quadros subtraídos à exposição.[1]
  Narciso na Fonte
(1797?)
Vieira Portuense Rua das Taipas Sem qualquer intervenção Exposto na noite de 11 de dezembro de 2015 de modo a inverter a tendência dos quadros subtraídos à exposição.[1]
  Tríptico da Descida da Cruz
(c. 1535)
Pieter Coecke van Aelst Travessa dos Teatros Sem qualquer intervenção Exposto na noite de 11 de dezembro de 2015 de modo a inverter a tendência dos quadros subtraídos à exposição.[1]

Referências

  1. a b c d Sara Otto Coelho, O Chiado acordou com mais três obras de arte nas ruas, Observador, 12 de Dezembro de 2015
  2. Exposições passadas - ComingOut, Museu Nacional de Arte Antiga (acedido a 7 de Janeiro de 2016)
  3. Sara Otto Coelho, A arte antiga saiu à rua. E até já houve quem a quisesse comprar, Observador, 30 de Setembro de 2015
  4. a b Sara Otto Coelho, Já foi roubado um dos quadros expostos na rua, Observador, 1 de Outubro de 2015
  5. a b c "ComingOut". Roubadas mais duas réplicas da exposição em Lisboa, Jornal i, 13 de Outubro de 2015
  6. a b Sara Otto Coelho, Alguém levou o D. Sebastião das ruas de Lisboa, Observador, 19 de Outubro de 2015
  7. a b c d e Sara Otto Coelho, "Robin das Artes" tirou quatro quadros do Chiado e deu-os ao Miratejo, Observador, 6 de Dezembro de 2015
  8. Catarina Vilas Boas, Mais dois quadros roubados à exposição do Museu Nacional de Arte Antiga, Gazeta do Rossio, 8 de Outubro de 2015
  9. Sara Otto Coelho, Gostou de ver os quadros na rua? Eles vão a leilão, Observador, 23 de Dezembro de 2015