Crioulos da Luisiana

O termo crioulo da Luisiana designa o habitante francófono da região do atual estado norte-americano da Luisiana e áreas adjacentes. Também designa o crioulo francês da Luisiana, língua forjada da mescla do francês com outros idiomas e a cultura local.[1]

Mapa mostrando os territórios da França 1534-1763

Definição de crioulo francês

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Na acepção lusófona, o termo crioulo se referia ao escravo negro nascido nas Américas e, atualmente, carrega uma conotação pejorativa. No mundo francófono, todavia, o termo "crioulo" ("créole", em francês) designava, inicialmente, os colonos brancos, de ascendência francesa e/ou espanhola da Luisiana. Posteriormente, o termo também passou a abranger negros, mestiços e indígenas imersos na cultura de origem francesa da região.[1]

História

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A região acadiana da Luisiana em vermelho

A Nova França (em francês: La Nouvelle-France) foi uma área colonizada pela França na América do Norte durante um período, que começa desde a exploração do Rio São Lourenço, pelo explorador francês Jacques Cartier, em 1534, até 1763, quando a região norte da Nova França foi cedida pelos franceses ao Império Britânico. Após 1712, o território foi dividido em cinco distintas colônias, cada uma com administração própria: Canadá, Acádia, Terras de Rupert, Terra Nova e Labrador - essas quatro cedidas aos britânicos em 1763 - e a Louisiana, cedida aos espanhóis e aos britânicos em 1763. A porção cedida aos espanhóis seria recuperada pela França em 1800, mas vendida por Napoleão Bonaparte aos norte-americanos em 1803.[2]

Sociedade

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A sociedade crioula compunha um rico mosaico cultural. Junto das diversas tribos indígenas da região, somou-se um considerável número de colonos franceses. O primeiro grupo chegou ainda no século XVII, vindo da região do Quebec, declarando toda a região do Rio Mississipi como subordinada à Coroa Francesa. Em 1718, Nova Orleães foi fundada. Posteriormente, chegaram colonos da região da Acádia (hoje a região de Nova Escócia e de Nova Brunswick, no Canadá). Os acadianos formavam um grupo étnico a parte dos franceses do Quebec, pois falavam um dialeto próprio, distinto do francês. Quando expulsos do Canadá, muitos migraram para o sul dos Estados Unidos, formando a comunidade cajun. Ainda hoje, é possível encontrar resquícios da cultura cajun no extremo sul da Luisiana.[3]

No século XVIII, começaram a chegar os franceses oriundos das colônias do Caribe, sobretudo de Martinica e do Haiti. Aos escravos oeste-africanos que já tinham sido trazidos anteriormente, se juntaram centenas de escravos caribenhos, agregando um importante elemento da cultura local. No âmbito religioso, por exemplo, ainda hoje é possível encontrar na região de Nova Orleães praticantes do Vudu da Luisiana, herança dos escravos do Haiti.[4] No fim do século, sob domínio espanhol, a região também recebeu colonos hispânicos. No século XIX, chegaram alemães, irlandeses e italianos.[1]

A sociedade crioula, então, se forjou de uma cultura francófona dominante, patriarcal, católica e escravagista.[1] Havia uma relativa mobilidade social entre os escravos, inclusive com grande número de miscigenados livres que possuíam escravos. Os negros da Luisiana (e América Central) se distinguiam dos demais afro-americanos, pois constituíam famílias organizadas, um número apreciável tinha educação e a segregação não era tão intensa. Essa maior liberdade entre a população de origem africana acabou diminuindo no território americano, através da segregação racial junto de leis como One-drop rule e Jim Crow.[1][5]

Língua

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O francês falado na Luisiana inclui o francês tradicional, o francês cajun (uma variação do francês acadiano) e o francês negro. O uso do idioma entrou em franco declínio no fim do século XIX, quando chegou grande número de migrantes americanos, suplantando o francês em detrimento do inglês como língua dominante.[5]

Português Crioulo da Luisiana Francês
Olá. Bonjou. Bonjour.
Como vão as coisas? Konmen lé-z'affè Comment vont les affaires?
Como vai? Konmen to yê? Comment allez-vous? Comment vas-tu? Comment ça va?
Estou bem, obrigado. C'est bon, mèsi. Ça va bien, merci.
Vejo você depois. Wa toi pli tar. Vois-toi plus tard. (À plus tard.)
Eu te amo. Mo laime toi. Je t'aime.
Cuide-se. Swinye-toi. Soigne-toi. (Prends soin de toi.)
Bom dia. Bonjou. Bonjour.
boa tarde Bonswa. Bonsoir.
Boa noite (despedida). Bonswa. Bonne nuit.

Declínio cultural

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O carnaval de Nova Orleães (Mardi Gras) é legado francês.[6]

No censo de 2007, 18,7% da população da Luisiana declarou ser de ascendência francesa ou franco-canadense. No sul do estado, as porcentagens são maiores, em torno de 40% em certos municípios.[7][8]

Outros 32,5% declararam ser de ascendência afro-americana ou franco-africana. O censo não distingue os afro-americanos oriundos de família de fala inglesa daqueles de fala francesa, portanto, não se sabe o número de crioulos entre a porcentagem afro-americana, embora os dois grupos tenham identidades culturais distintas. Outros 10% declararam ascendência americana, que pode ou não ser francesa.[9]

A cultura crioula no sul dos Estados Unidos começou a declinar sobretudo no século XIX. Com a integração do território aos Estados Unidos em 1803 e a chegada de muitos migrantes falantes de inglês às cidades crioulas no fim do século XIX, muitos foram aculturados, perderam seus costumes e idioma. No censo de 2005, apenas 4,7% dos habitantes do estado declararam falar francês, crioulo de francês ou cajun.[10]

Ver também

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Referências

  1. a b c d e «French Creoles in Louisiana: An American Tale». Yale-New Haven Teachers Institute. 2008. Consultado em 8 de dezembro de 2008 
  2. «Louisiana Purchase». 2008. Consultado em 8 de dezembro de 2008 
  3. Carl A. Brasseaux, Acadian to Cajun: Transformation of a People. Jackson, Miss.: University Press of Mississippi, 1992.
  4. «Voodoo in New Orleans - Investigative files - Louisiana». Consultado em 8 de dezembro de 2008 
  5. a b «The Creole City». The Creole City. 2008. Consultado em 8 de dezembro de 2008 
  6. «Nova Orleans, cidade da diversidade». Embaixada Americana no Brasil. 2000. Consultado em 8 de dezembro de 2008 
  7. «Selected Social Characteristics in the United States: 2007». U.S. Census Bureau. Consultado em 8 de dezembro de 2008 
  8. «Ancestry Map of French Communities». Epodunk.com. Consultado em 8 de dezembro de 2008 
  9. «Ancestry: 2000» (PDF). Ancestry:2000. 2000. Consultado em 8 de dezembro de 2008 
  10. «Cópia arquivada». Consultado em 13 de setembro de 2008. Arquivado do original em 15 de agosto de 2013