Cristine Takuá

professora, artesã e filósofa brasileira

Cristine Takuá (1981) é uma escritora, artesã, teórica decolonial, ativista e professora indígena brasileira da etnia maxacali.[1][2]

Cristine Takuá

Nascimento 1981
Cidadania brasileira
Etnia maxacali
Filho(a)(s) 2
Alma mater UNESP
Ocupação

Biografia

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Pertencente ao povo maxacali por meio da filiação paterna[3], Cristine Takuá é graduada em filosofia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita do campus Marília (UNESP-Marília), tendo obtido tanto o bacharelado, quanto à licenciatura nesse campo de conhecimento. Em seguida, ela foi aprovada no concurso público de professora da rede estadual de ensino público do Estado de São Paulo, onde passou a desenvolver o seu ativismo no âmbito da educação indígena.[4][2]

Ativista da causa indígena, ela é fundadora de diversas organizações, tais como o Fórum de Articulação dos Professores Indígenas no estado de São Paulo (Fapisp)[1], reunindo todos os professores indígenas que atuam no estado de São Paulo, especialmente os que atuam em escolas indígenas, e também do Instituto Maracá, entidade voltada para a promoção da cultura, arte e literatura indígena, onde atualmente exerce a função de conselheira.[4][2]

Cristine Takuá também é conhecida por atuar como uma teórica especializada em educação e cultura indígena, atuando como pesquisadora, professora convidada ou conferencista em diversas instituições e centros de pesquisas, a exemplo do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP).[4]

Takuá é professora na Escola Estadual Indígena Txeru Ba’e Kua-I localizada na região do litoral paulista, na Terra Indígena Ribeirão Silveira, situada na divisa dos municípios de Bertioga e de São Sebastião. Nesta instituição escolar, ela leciona aulas de Filosofia, Sociologia, História e Geografia.[4][2]

Na condição de trabalhadora da educação (professora estadual) e ativista indígena, ela tem atuado como representante no Núcleo de Educação Indígena da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo[2] e também como uma das lideranças que militam na Comissão Guarani Yvyrupa.

Em 2019, ela atuou como curadora da Mostra Audiovisual Indio.doc, evento cultural voltado para o ativismo artístico e a preservação da memória indígena que foi realizado na unidade da Vila Mariana do SESC-SP.[3]

Pensamento

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Cristine Takuá é uma das principais teóricas do Brasil que defendem o bem viver como um modelo civilizatório alternativo que busque superar a distinção estabelecida no ciência ocidental de matriz européia entre natureza e cultura[5], diferenciação que ela criticou em palestra dada na FLIP, em 2022, com as seguintes palavras:

Sempre achei curiosa essa distinção, porque todos somos natureza e todos produzimos cultura: as abelhas, as formigas, as samambaias, os quilombolas, os caiçaras. Não dá para distinguir o que está interligado. Aqui é território de Nhe’éry. É só fechar os olhos e prestar a atenção para sentir que os espíritos das árvores derrubadas ainda estão aqui. Nossos mais velhos ensinam que os espíritos dos rios nunca morrem, mesmo com a contaminação. Eles ainda pulsam, apesar da de toda a bagunça que fizemos em nossa morada.[5]
— Cristine Takuá

Sobre a versão guarani do bem viver defendido por Takuá, a concepção filosófica, política e cultural que busca o equilíbrio com a natureza e o respeito entre todos os seres vivos chamada pelos povos guarani como Teko Porã[6], afirma a teórica indígena sobre esse conceito indígena que:

Algumas pessoas traduzem o Tekó Porã como bem viver. É um conceito Guarani muito complexo porque é filosófico, político, social e cultural que reflete sobre a boa e a bela maneira de você ser e estar no território, o Tekoa. Então acreditamos que ele é uma prática, uma forma de viver a vida em equilíbrio, em respeito com a floresta e com todas as formas de vida, os seres vegetais, animais, minerais. Muitos outros povos também tem em suas línguas a tradução para esse conceito, essa forma de pensar o bem viver e esse modo de vida equilibrado. Para a nossa visão é isso, uma forma de pensar o território e a vida de uma forma equilibrada.[6]
— Cristine Takuá

Ela também aborda a relação existente entre a infância, a educação e a natureza sob a ótica indígena, sustentando que:

As crianças têm uma relação muito forte com a natureza, uma relação que é natural, que é do convívio. É a nossa forma de transmissão de conhecimento. Uma forma de educar as crianças, permitir que elas aprendam, é vivendo e deixar que tenham, no território, a possibilidade de brincar, viver e aprender até com os bichinhos, com a água. Isso as torna, de uma certa forma, fortes tanto na espiritualidade quanto na cultura. Só que, nos últimos tempos, há uma interferência muito grande das mudanças climáticas e outras interferências do homem sobre o território, que para nós é uma questão muito delicada (...).[6]
— Cristine Takuá

Principais obras

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  • Teko Porã, o sistema milenar educativo de equilíbrio. In: Rebento: Revista acadêmica interdisciplinar do Departamento de Artes e do Programa de Pós-Graduação em Artes do Instituto de Artes da Unesp, São Paulo, n. 9, 2018.
  • Reflexões de luta e resistências. In: Campos: Revista de Antropologia da UFPR, Curitiba, v. 20, n. 2, 2019.[3]
  • Seres criativos da floresta. In: Cadernos Selvagem, s.l., Dantes Editora, 2020.

Referências

  1. a b «A temática indígena nas escolas: Cristine Takuá». CBN Campinas. 19 de abril de 2021. Consultado em 15 de fevereiro de 2023 
  2. a b c d e «Cristine Takuá». Memorial da Resistência de São Paulo. Consultado em 16 de fevereiro de 2023 
  3. a b c Cristine Takuá (2019). «Reflexões de luta e resistências». Campos: Revista de Antropologia. UFPR. Consultado em 16 de fevereiro de 2023 
  4. a b c d Sandra Sedini (16 de julho de 2020). «Cristine Takuá». IEA-USP. Consultado em 16 de fevereiro de 2023 
  5. a b Ruan de Sousa Gabriel (26 de novembro de 2022). «Educadora indígena é aplaudida de pé na Flip: 'Nossos filhos estão aprendendo a acessar o bem-viver?'». O Globo. Consultado em 16 de fevereiro de 2023 
  6. a b c «CRISTINE TAKUÁ: É A FLORESTA VIVA QUE NOS MANTÉM FELIZES, COM SAÚDE, APTOS PARA CONTINUAR ESSA VIDA DE LUTA». Prioridade Absoluta. 31 de janeiro de 2021. Consultado em 16 de fevereiro de 2023