Verso decassílabo
Chama-se decassílabo o verso com dez sílabas poéticas (sílabas métricas).
História
editarSá de Miranda introduziu na literatura portuguesa o decassílabo heroico, durante o Renascimento. Desde então, verso decassilábico heroico foi o verso mais amplamente utilizado na poesia de língua portuguesa, sendo o verso do soneto, das oitavas, estâncias, dos tercetos e de tantas outras formas poéticas, fixas ou livres, que necessitam de um verso longo, capaz de conter ideias elevadas.
Foi empregue por Camões para compor Os Lusíadas.
Muitas vezes, o decassílabo heroico aparece nas estrofes em conjunto com o seu verso quebrado, o hexassílabo. Por exemplo:
A testa de ouro e neve, o lindo aspeito,
A boca graciosa, o riso honesto,
O colo de cristal, o branco peito,
De meu não quero mais que meu desejo,
Nem mais de vós, que ver tão lindo gesto.
Ali me manifesto
Por vosso a Deus e ao mundo; ali me inflamo
Nas lágrimas que choro;
E de mi que vos amo,
Em ver que soube amar-vos me namoro;
E fico por mi só perdido de arte,
Classificação rítmica
editarO decassílabo é classificado em função das posições das sílabas tônicas que lhe determinam o ritmo:
- Heroico
- Apresenta sílabas tônicas nas posições 6 e 10, obrigatoriamente, tendo mais uma ou duas sílabas tônicas complementares:
- As armas e os barões assinalados
- (...)
- Em perigos e guerras esforçados;
- É o decassílabo mais comum de todos, o mais utilizado. A acentuação rítmica na sexta sílaba permite realizar uma cesura na declamação do verso, tornando-o mais versátil e melódico. Nos poemas, é possível combinar decassílabos heroicos com sáficos. É o tipo de verso empregue no soneto, na canção em estâncias, na sextina, na ode, no madrigal, na écloga, na epopeia, etc.
- Martelo
- Variação do verso heroico, apresentando sílabas tônicas nas posições 3, 6 e 10.
- Mas Brasil é Brasil, é sempre assim.[2]
- Pentâmetro iâmbico
- Apresenta tonicidade em todas as sílabas pares, num misto entre heroico e sáfico:
- Sem pai nem mãe, sem pão, sem chão, sem lar;[4]
- Gaita galega (ou moinheira)
- Apresenta tônicas nas posições 4, 7 e 10:
- Deixa a cidade, formosa morena.[5]
Exemplo
editarAlguns decassílabos brancos escandidos, com as sílabas acentuadas a negrito:
"Os/sian/ — o /bar/do é/ tris/te/ co/mo a /som/bra
Que/ seus /can/tos/ po/vo/a. O/ La/mar/ti/ne
É/ mo/nó/to/no e/ be/lo/ co/mo a/ noi/te,
Co/mo a/ lu/a/ no/ mar/ e o/ som/ das/ on/das...
Mas/ pran/tei/a u/ma e/ter/na/ mo/no/di/a,
Tem/ na/ li/ra/ do/ gê/nio u/ma/ só/ cor/da,
— Fi/bra/ de a/mor/ e/ Deus/ que um/ so/pro a/gi/ta!
Se/ des/mai/a/ de a/mor.../ a/ Deus/ se/ vol/ta,
Se/ pran/tei/a/ por/ Deus/... de a/mor/ sus/pi/ra."
(Fragmento de "Ideias íntimas", por Álvares de Azevedo, poema agrupado posteriormente e publicado em Lira dos Vinte Anos)[6]
Ver também
editarReferências
- ↑ Excerto de "Canção I", Obras Completas de Luís de Camões, Correctas e emendadas pelo cuidado e diligencia de J. V. Barreto Feito e J. G. Monteiro, Tomo II, 1843, grafia modernizada).
- ↑ Camelo, Paulo (1994). E eu só queria votar... Recife: FUNDARPE
- ↑ Paulo Camelo. «Soneto solitário». Recanto das Letras. Consultado em 19 de novembro de 2023
- ↑ Paulo Camelo. «Soneto monossilábico III». Recanto das Letras. Consultado em 19 de novembro de 2023
- ↑ Pedro de Sá Pereira e Ary Machado Pavão. «Chuá-chuá». Consultado em 19 de novembro de 2023
- ↑ «Ideias íntimas - Wikisource». pt.wikisource.org. Consultado em 21 de julho de 2017
Bibliografia
editar- CAMPOS, Geir. Pequeno dicionário de arte poética. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1960.
- CAMÕES, Luís. Obras Completas de Luís de Camões, Correctas e emendadas pelo cuidado e diligencia de J. V. Barreto Feito e J. G. Monteiro, Tomo II, 1843.