Desastre ferroviário de Custóias
O Desastre Ferroviário de Custóias, igualmente conhecido como Desastre de Custóias, foi um acidente ferroviário ocorrido na noite de 26 para 27 de Julho de 1964[1], na Linha do Porto à Póvoa e Famalicão, em Portugal, que resultou em 90 mortos[2] e 105 feridos.[3]
Desastre Ferroviário de Custóias | |
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Descrição | |
Data | 26 de Julho de 1964 |
Local | Matosinhos |
País | Portugal |
Linha | Linha do Porto à Póvoa e Famalicão |
Operador | Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses |
Tipo de acidente | Descarrilamento |
Estatísticas | |
Comboios/trens | 1 |
Mortos | 90 |
Feridos | 105 |
Antecedentes
editarNa altura em que se deu o acidente, um fenómeno comum aos fins de semana durante o Verão era a deslocação dos habitantes da cidade do Porto até aos destinos balneares de Espinho, Vila do Conde e Póvoa de Varzim, enchendo os comboios e outros modos de transporte.[1] Na noite de 26 para 27 de Julho de 1964, verificou-se um movimento superior ao previsto, especialmente nas praias a Norte da cidade do Porto, levando ao sobrelotamento dos comboios.[1] Às 21 e 30, saiu da Póvoa de Varzim um comboio com destino ao Porto,[1] composto pela automotora 9309 e por um reboque.[4] Normalmente, deveria ter seguido atrás de um outro comboio que deveria ter saído da Póvoa de Varzim às 21 e 10, mas acabou por partir primeiro, aumentando ainda mais o número de passageiros.[1] Desta forma, o comboio já saiu sobrelotado da Póvoa de Varzim, e ainda recebeu mais alguns passageiros em Pedras Rubras.[1] Segundo o revisor a bordo do comboio, que seguia no reboque e que sofreu uma fractura na coluna, estavam a viajar cerca de 200 pessoas no reboque, que no entanto só tinha capacidade, em condições normais, para 80 pessoas.[1] Só existiam lugares sentados para 68 passageiros, pelo que os restantes estavam a viajar de pé.[3]
Acidente
editarPouco depois de ter feito uma paragem em Crestins, na zona de Custóias, a cerca de nove quilómetros de distância do Porto, o comboio estava a passar pela Ponte das Carvalhas quando o reboque descarrilou e embateu contra um dos pilares da ponte, tendo ficado quase totalmente destruído.[3][5][4][1] A colisão também provocou um incêndio a bordo do reboque.[4] Segundo o testemunho de um passageiro que viajava na automotora, «de súbito, todos os seus ocupantes se inclinaram, bruscamente para o lado direito. Houve, depois, um estalido. Alguma coisa que se estilhaçara. A carruagem fronteira, então, ganhou mais velocidade. Que sucedia? A carruagem estacou brutalmente, e ouvimos gritos vindos do escuro, na nossa retaguarda. A segunda carruagem havia desaparecido!».[1]
Segundo o testemunho de uma moradora cuja casa estava mesmo ao lado da ponte onde se deu o acidente, «a casa estremeceu. Cada vez ouvia mais gritos. [...] Corri para a rua, veio uma vizinha. Vimos uma carruagem parada na linha, mesmo na curva, e uns metros à frente do pontão, uma carruagem feita num montão.».[1]
Socorro às vítimas e remoção dos destroços
editarUm ciclista que estava a circular na zona avisou os bombeiros de Moreira da Maia, que por sua vez comunicaram a todas as corporações entre Vila do Conde e Vila Nova de Gaia,[1] incluindo a de Leixões.[6] Além dos bombeiros, também acorreram ao local vários populares, e três piquetes da Polícia de Segurança Pública.[1] Por volta da uma da madrugada, uma brigada de cinquenta homens das três secções da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses iniciaram o processo de desobstrução da via férrea e carrilamento do reboque, tendo utilizado ferramentas de autogénio para cortar as chapas metálicas do chassis.[1] Este foi carrilado por volta das 10 h e 40 m, e começou a ser rebocado às 14 h 40 m para a estação da Boavista, embora tenha descarrilado novamente após ter passado pela Senhora da Hora.[1] Entretanto, prosseguiram as obras de reparação da via férrea, que ficou com limitação de velocidade na zona do acidente durante os trabalhos.[1]
Às 10 h e 30 m do dia 27 foi retirada a última vítima mortal do acidente.[1] As vítimas foram levadas para o Hospital Geral de Santo António, no Porto, cuja morgue não teve espaço suficiente para o elevado número de mortos, pelo que alguns dos cadáveres foram colocados nos jardins do Instituto de Medicina Legal.[1]
No local do acidente também estiveram várias autoridades concelhias e distritais, e engenheiros da Direcção Geral dos Transportes Terrestres.[1]
Efeitos do acidente e investigação
editarDevido ao grande número de vítimas, este desastre causou grande consternação em todo o país, especialmente na cidade do Porto, onde muitos voluntários acorreram aos hospitais para doar sangue.[1] Foi o pior acidente ferroviário em Portugal até então, tendo falecido 90 pessoas[2], (consta-se que as vítimas mortais foram muito superiores ás anunciadas) e ficado feridas outras 105[3], das quais 74 foram hospitalizadas.[2]
O governo anunciou no mesmo dia a abertura de um inquérito, de forma a apurar as causas do acidente e apurar responsabilidades.[1] A comissão de inquérito foi formada por funcionários superiores da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses e da Direcção-Geral dos Transportes Terrestres.[1] O revisor atribuiu as causas do acidente à sobrelotação do comboio, embora tivesse admitido que o comboio estava nessa altura a circular «a uma velocidade acima da normal».[1] Um passageiro a bordo do reboque, e que perdeu um braço no acidente, também reparou que «a automotora vinha muito depressa», e calculou que no reboque vinham «entre cem e duzentas» pessoas.[1]
Logo após a ocorrência, foi organizada uma comissão de três engenheiros da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses, auxiliados por três técnicos da Direcção-Geral de Transportes Terrestres, para realizar um inquérito e apurar as responsabilidades.[5][7] O relatório produzido pela comissão foi entregue à Direcção-Geral e apresentado ao Ministério das Comunicações, tendo sido, por sua vez, revisto por uma outra comissão da Direcção-Geral.[7]
Apurou-se que o reboque circulava com excesso de peso, uma vez que na altura do acidente estavam a viajar cerca de 300 pessoas, o que, aliado a um possível excesso de velocidade, provocou a quebra dos engates entre o reboque e a automotora e o consequente descarrilamento do reboque.[2] O maquinista negou que a sua velocidade era superior a 50 quilómetros, embora alguns passageiros e o revisor tenham afirmado que o comboio circulava em excesso de velocidade.[2] O comboio encontrava-se possivelmente a circular a uma velocidade de cerca de 80 km/h.[3]
Ver também
editarReferências
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w CARVALHO, Edgar de; ALVIM, Pedro; MACHADO, António (27 de Julho de 1964). «103 Mortos e cerca de 150 feridos é o balanço trágico da maior catástrofe ferroviária jamais registada no nosso país». Diário de Lisboa. 44 (14948) 3.ª ed. Lisboa: Renascença Gráfica. p. 1-10. Consultado em 1 de Agosto de 2018
- ↑ a b c d e «Não chegou a atingir a centena o número de mortos». Diário de Notícias (14324). New Bedford, Massachusetts. 31 de Julho de 1964. p. 6
- ↑ a b c d e «81 Mortos Num Desastre em Portugal». Diario de Noticias. Ano 45 (14320). New Bedford, Massachusetts. 27 de Julho de 1964. p. 1
- ↑ a b c AMARO, Jaime (2005). «Automotoras Allan de Via Estreita - Meio Século de Existência». O Foguete. 4 (13). Entroncamento: Associação de Amigos do Museu Nacional Ferroviário. p. 8-10. ISSN 124550 Verifique
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(ajuda) - ↑ a b «A tragédia da linha da Póvoa de Varzim» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 77 (1839). 1 de Agosto de 1964. p. 208. Consultado em 30 de Dezembro de 2016
- ↑ COSTA, Júlio Pinto da (2 de Dezembro de 2011). «História da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Leixões». Bombeiros Voluntários de Leixões. Consultado em 11 de Julho de 2012
- ↑ a b «O Desastre da Linha da Póvoa» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 77 (1842). 16 de Setembro de 1964. p. 256. Consultado em 30 de Dezembro de 2016