Desastre do Cais do Sodré
O desastre do Cais do Sodré foi um acidente ferroviário[1][2][3][4] ocorrido em 28 de maio de 1963, na Estação Ferroviária do Cais do Sodré, terminal da Linha de Cascais na cidade de Lisboa, em Portugal. A cobertura das plataformas abateu, fazendo 49 mortos e 69 feridos.[5]
Desastre do Cais do Sodré | |
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Vista geral da estação do Cais do Sodré durante as ações de busca e salvamento, e retirada dos destroços | |
Descrição | |
Data | 28 de maio de 1963 |
Hora | 16:07 |
Local | Lisboa |
Coordenadas | |
País | Portugal |
Linha | Linha de Cascais |
Operador | Sociedade Estoril |
Tipo de acidente | Queda da cobertura das plataformas |
Estatísticas | |
Mortos | 49 |
Feridos | 69 |
Antecedentes
editarA estação do Cais do Sodré é uma gare ferroviária na Linha de Cascais, inaugurada em 4 de setembro de 1895.[6] Na década de 1920 foi alvo de profundas obras de remodelação, com um novo edifício concebido por Pardal Monteiro, tendo a estação sido reinaugurada em 18 de agosto de 1928.[7][8] A nova estrutura utilizava predominantemente o ferro e o betão, materiais em voga durante o período modernista.[9]
Pouco tempo antes do acidente, tinha sido construído um novo alpendre sobre as plataformas da estação do Cais do Sodré, em ferro e betão.[5] Esta obra foi motivada pela necessidade de aumentar o número de vias na estação, e por isso remover algumas plataformas, as quais suportavam pilares da cobertura metálica, que também teve de ser substituída.[10] Uma vez que os trabalhos foram feitos com um ritmo irregular, de forma a afectar o mínimo possível o trânsito dos comboios, a obra foi directamente administrada pela empresa em vez de utilizar um regime de empreitada.[10] Foi executada pela sociedade de construções Manil, seguindo um projecto orientado pelo engenheiro Nuno Martins.[10]
O acidente
editarÀs 16 horas e 7 minutos do dia 28 de maio de 1963, hora em que se registava um movimento normal na estação, a cobertura dos alpendres ruiu, soterrando mais de uma centena de pessoas, das quais 49 morreram e 69 ficaram feridas.[5]
Investigação
editarO Presidente do Conselho foi imediatamente avisado, e o Chefe de Estado dirigiu-se ao local, onde permaneceu mais de uma hora.[5] Para a investigação deste acidente, os Ministros das Obras Públicas, Interior, Comunicações e Saúde formaram uma comissão de inquérito, que iniciou imediatamente os seus trabalhos.[5] No dia seguinte, o Ministro da Saúde e Assistência emitiu um despacho, nomeando o Instituto de Assistência à Família para fazer um inquérito sobre a situação financeira das famílias das vítimas neste acidente, e que abrisse uma conta especial para os subsídios a atribuir.[5] Em 16 de junho, a Sociedade Estoril já tinha enviado um comunicado à imprensa, onde exprimiu as suas condolências às famílias das vítimas, e relatou que ainda estavam a decorrer as investigações por parte da comissão de inquérito e da Polícia Judiciária.[10] Informou igualmente que tinha consultado o Laboratório Nacional de Engenharia Civil, para apurar sobre o estado das estações e abrigos ao longo da Linha de Cascais.[10]
No relatório de 1965 da Sociedade Estoril, aprovado em 30 de Março de 1966, foram mencionados os desastres de 31 de Março de 1952, na Gibalta, e de 28 de Março de 1963, tendo um estudo do engenheiro Edgar Cardoso apurado que a culpa do acidente do Cais do Sodré deveu-se ao projectista. Por este motivo, a operadora comprometeu-se a pagar 2062 contos em indemnizações e 211 contos em pensões, faltando então entrar em acordo com sete vítimas.[11]
Ver também
editarReferências
- ↑ «Os acidentes mais graves com comboios portugueses». Visão. 9 de Setembro de 2016. Consultado em 14 de Novembro de 2018
- ↑ «O dia mais negro da linha de Cascais». Público. 11 de Abril de 2004. Consultado em 14 de Novembro de 2018
- ↑ «PROCESSO: R-13/08 (A3)» (PDF). Provedor de Justiça. Consultado em 14 de Novembro de 2018. Arquivado do original (PDF) em 14 de Novembro de 2018
- ↑ FERNANDES, Ricardo (28 de Maio de 2016). «Perspetiva Geográfica dos Acidentes Ferroviários no Mundo e em Portugal: Principais Exemplos e Dados» (PDF). Abordagem Geográfica dos Riscos Associados ao Transporte Ferroviário: Os Grandes Acidentes ferroviários no Mundo e em Portugal. Centro de Estudos em Geografia e Ordenamento do Território. p. 30. Consultado em 14 de Novembro de 2018
- ↑ a b c d e f «A Tragédia do Cais do Sodré» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 76 (1811). Lisboa. 1 de Junho de 1963. p. 105. Consultado em 14 de Novembro de 2018 – via Hemeroteca Municipal de Lisboa
- ↑ MARTINS et al, 1996:251
- ↑ REIS et al, 2006:62
- ↑ MARTINS et al, 1996:257
- ↑ FERNANDES, 1993:21
- ↑ a b c d e «A Sociedade «Estoril» enviou um comunicado à Imprensa» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 76 (1812). Lisboa. 16 de Junho de 1963. p. 126. Consultado em 26 de Fevereiro de 2016 – via Hemeroteca Municipal de Lisboa
- ↑ «O relatório da Sociedade Estoril» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 79 (1887). Lisboa. 1 de Junho de 1966. p. 202-212. Consultado em 5 de Novembro de 2024 – via Hemeroteca Municipal de Lisboa
Bibliografia
editar- MARTINS, João; BRION, Madalena; SOUSA, Miguel; et al. (1996). O Caminho de Ferro Revisitado: O Caminho de Ferro em Portugal de 1856 a 1996. Lisboa: Caminhos de Ferro Portugueses. 446 páginas
- REIS, Francisco; GOMES, Rosa; GOMES, Gilberto; et al. (2006). Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006. Lisboa: CP-Comboios de Portugal e Público-Comunicação Social S. A. 238 páginas. ISBN 989-619-078-X
- FERNANDES, José (1993). Arquitectura Modernista em Portugal. Lisboa: Gradiva. 160 páginas