Dialeto paulistano
O dialeto paulistano é um dialeto do português brasileiro, pela primeira vez classificado pelo filólogo Antenor Nascentes. É falado na cidade de São Paulo e também na Macrometrópole de São Paulo.
Dialeto Paulistano | ||
---|---|---|
Falado(a) em: | São Paulo ( Brasil) | |
Região: | Região Metropolitana de São Paulo e parte da Baixada Santista e imediações | |
Total de falantes: | aprox. 25 milhões de pessoas | |
Posição: | Não se encontra entre os 100 primeiros | |
Família: | Indo-europeia Itálico Românico Românico Ocidental Ibero-Românico Ibero-Ocidental Galego-português Português Português brasileiro Dialeto Paulistano | |
Estatuto oficial | ||
Língua oficial de: | sem reconhecimento oficial | |
Regulado por: | sem regulamentação oficial | |
Códigos de língua | ||
ISO 639-1: | --
| |
ISO 639-2: | ---
|
Influências
editarO dialeto paulistano é conhecido por englobar termos e palavras oriundas dos diversos idiomas falados por seus imigrantes, sendo tais termos inseridos gradualmente no português brasileiro e transferidos para outros dialetos deste idioma.
É fato conhecido que o dialeto paulistano adquiriu características dos idiomas de imigrantes europeus, que começaram a chegar à cidade nas últimas décadas do século XIX.
Mais de 70% dos italianos que vieram para o Brasil se fixaram no estado de São Paulo, principalmente na capital paulista.[1] No início do século XX, o italiano e seus dialetos eram tão falados quanto o português na cidade. A fala dos imigrantes fundiu-se à dos locais (dando origem a subdialetos no dialeto próprio da cidade de São Paulo. Bairros como os da Mooca e Bixiga, tradicionais por terem recebido muitos imigrantes no passado, preservam até hoje muitos termos e expressões típicas do norte da Itália.
Vale lembrar que imigrantes árabes (sírios e libaneses), japoneses, espanhóis e portugueses, também tiveram grande importância no desenvolvimento do falar paulistano, agregando novos termos ao dialeto local, embora tendo pouco impacto sobre o soar do dialeto paulistano, assim como se deu com a integração do italiano ao dialeto local. O livro "Brás, Bexiga & Barra Funda", de Alcântara Machado, os sambas de Adoniram Barbosa e Demônios da Garoa e os poemas modernistas de Juó Bananere, retrataram historicamente a influência italiana sobre o dialeto Paulistano/Paulista.
Principais características
editar- Palatalização de /di/ e /ti/ pelas gerações mais novas, como na maior parte dos dialetos do português falados no Sudeste, a exemplo dos dialetos carioca, fluminense, mineiro e algumas variantes do dialeto caipira: "tio" [ˈtʃiw] e "dia" [ˈdʒiɐ].
- A não palatalização de /di/ e /ti/ pelas gerações mais velhas, com o "t" e "d" pronunciados na ponta da língua, influência dos imigrantes italianos, pronúncia esta em desuso e mais encontrada hoje nos bairros da Mooca e Bixiga.[2]
- Nesse dialeto as fricativas /s/ e /z/ nunca são palatalizadas, ocorrendo até mesmo em caso de virem na frente de consoantes alveolares e dentais (/d/ e /t/), à semelhança do que ocorre com os dialetos mineiro, caipira, sertanejo, brasiliense e sulista: "isto" [ˈistu] e "desde" [ˈdezdʒi].
- É frequente o uso do "r tepe", que é usado principalmente nas regiões centrais da cidade e contém conotações de classe mais alta.[3]
- A pronuncia do "s" é implosiva tal qual na maioria dos dialetos brasileiros (e em contraste forte com o "s" chiante" do dialeto carioca).[4] Exemplo: véspera [ˈvɛspeɾa].[5]
- As palavras "átonas", como as preposições, os artigos e os pronomes oblíquos ficam unidas na forma de palavra fonológica: administração pública [aʤɪministɾaˈsɐ͂ʊ̃ ˈpublika]; vale-refeição [ˈvalɪ xefeɪˈsɐ͂ʊ̃]; ir para-os-ares [ˈiɾ paɾaʊˈzaɾɪs]; espreguiçar-se [ɪspregiˈsaɾsɪ].
- O "o" tônico seguido de consoante nasal não vira nasal como nos outros dialetos do português brasileiro, coisa que faz com que, às vezes, seja pronunciado como vogal aberta.[6] Exemplo: homem [ˈɔmẽĩ] (vs. [ˈõmẽĩ] no padrão geral brasileiro).
Ver também
editarReferências
- ↑ «Cópia arquivada». Consultado em 10 de abril de 2014. Arquivado do original em 2 de outubro de 2015
- ↑ «Por que uma parte do Brasil fala a letra T como "tchi" e outra como "ti"? | Oráculo». Super. Consultado em 19 de janeiro de 2025
- ↑ «'Um chopis e dois pastel': como surgiu o 'paulistanês', sotaque falado nas ruas de São Paulo». BBC News Brasil. Consultado em 19 de janeiro de 2025
- ↑ ALVIM, Ana Flávia Dias. "O falar carioca, paulista e caipira: Análise fonética e fonológica Arquivado em 23 de fevereiro de 2015, no Wayback Machine.." In: Anais do VII Seminário de Iniciação Científica em Estudos Linguísticos e Literários - CLCA - UENP/CJ. Jacarézinho: Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), 2010. Pg 234 - 240.
- ↑ GALASTRI, Eliane de Oliveira. "Guia para a transcrição fonética do dialeto paulista." Tese de Doutorado. Araraquara: Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (UNESP), 2014.
- ↑ «Sotaque paulista influenciado pelo italiano?». WordReference Forums (em inglês). Consultado em 7 de julho de 2019
Bibliografia
editar- NASCENTES, Antenor - Bases para a elaboração do atlas lingüístico do Brasil - Rio de Janeiro: MEC, 1961.
- ___________________ - Idioma Nacional - Rio de Janeiro: Valverde, 1944.
- ___________________ - Tesouro da fraseologia brasileira - Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1945.
- ___________________ - A gíria brasileira - Rio de Janeiro: Livraria Acadêmica, 1953.
- Machado, Alcântara: "Brás, Bexiga & Barra Funda", 1928.