Dias Gomes

escritor, dramaturgo e autor de telenovelas brasileiro

Alfredo de Freitas Dias Gomes, mais conhecido pelo sobrenome Dias Gomes (Salvador, 19 de outubro de 1922São Paulo, 18 de maio de 1999), foi um romancista, dramaturgo, autor de telenovelas e membro da Academia Brasileira de Letras. Também conhecido pelo seu casamento com a também escritora Janete Stocco Emmer (Janete Clair).[1]

Dias Gomes

Nome completo Alfredo de Freitas Dias Gomes
Nascimento 19 de outubro de 1922
Salvador, BA
Morte 18 de maio de 1999 (76 anos)
São Paulo, SP
Causa da morte acidente automobilístico
Nacionalidade brasileiro
Cônjuge Janete Clair (1950–83)
Bernadeth Lyzio (1984–99)
Filho(a)(s) 6
Ocupação dramaturgo
autor de telenovelas
Principais trabalhos A Ponte dos Suspiros (1969)
Assim na Terra como no Céu (1970)
Bandeira 2 (1971)
O Bem-Amado (1973)
O Espigão (1974)
Saramandaia (1976)
O Bem Amado (1980)
Roque Santeiro (1985)
Mandala (1987)
O Pagador de Promessas (1988)
Araponga (1990)
As Noivas de Copacabana (1992)
Dona Flor e Seus Dois Maridos (1998)
Magnum opus O Pagador de Promessas

Biografia

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Dias Gomes nasceu em Salvador, na Bahia, em 19 de outubro de 1922.

Filho de Alice Ribeiro de Freitas Gomes e Plínio Alves Dias Gomes, um engenheiro, fez o curso primário no Colégio Nossa Senhora das Vitórias, dos Irmãos Maristas, e iniciou o secundário no Ginásio Ipiranga. Em 1935, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, onde prosseguiu o curso secundário no Ginásio Vera Cruz e posteriormente no Instituto de Ensino Secundário. Em 1943, ingressou na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, abandonando o curso no terceiro ano.[2]

Carreira

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O pagador de promessas, de Dias Gomes (1978)

Essencialmente um homem de teatro, aos 15 anos Dias Gomes escreveu sua primeira peça, A Comédia dos Moralistas, com a qual ganharia o prêmio do Serviço Nacional de Teatro e pela União Nacional dos Estudantes (UNE), no ano seguinte. Em 1941 sua peça Amanhã Será Outro Dia chega às mãos do ator Procópio Ferreira que, empolgado com a qualidade do texto, chama o autor para uma conversa. Embora tivesse gostado do que lera, tratava-se de um drama antinazista e Procópio achava arriscado levar à cena um espetáculo desse porte em plena Segunda Guerra Mundial. Quando questionado se não teria uma outra peça, de comédia talvez, Dias lembrou-se de Pé de Cabra, uma espécie de sátira ao maior sucesso de Procópio até então, e não hesitou em levá-la ao grande ator que, entusiasmado, comprometeu-se a encená-la.[1]

Sob a alegação de que a peça possuía alto conteúdo marxista, Pé de Cabra seria proibida no dia da estreia pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), criado pela ditadura de Getúlio Vargas.[3] Curioso notar que, embora anos depois o autor viesse a se filiar ao Partido Comunista Brasileiro, até então Dias Gomes nunca havia lido uma só linha de Karl Marx. Graças à sua influência, Procópio consegue a liberação da peça, mediante o corte de algumas passagens, e a mesma é levada à cena com grande sucesso. No ano seguinte, Dias Gomes assinaria com Procópio aquele que seria o primeiro grande contrato de sua carreira, no qual se comprometia a escrever com exclusividade para o ator. Desse período nasceram Zeca Diabo, João Cambão, Dr. Ninguém, Um Pobre Gênio e Eu Acuso o Céu. Infelizmente nem todas as peças foram encenadas, pois logo Dias e Procópio se desentenderam por sérias divergências políticas. Refletindo o pensamento da época, Procópio não concordava com as preocupações sociais que Dias insistia em discutir em suas peças. Tais diferenças levariam o autor a se afastar temporariamente dos palcos e ele passou a se dedicar ao rádio.[1]

De 1944 a 1964 Dias Gomes adaptou cerca de 500 peças teatrais para o rádio, o que lhe proporcionou apurado conhecimento da literatura universal. Em 1960 Dias Gomes volta aos palcos com aquele que viria a ser o maior êxito de sua carreira: a peça teatral O Pagador de Promessas. Adaptada para o cinema por Anselmo Duarte, O Pagador seria o primeiro filme brasileiro a receber uma indicação ao Oscar e o único a ganhar a Palma de Ouro em Cannes.[1]

Em 1965 Dias assiste, perplexo, à proibição de sua peça O Berço do Herói, no dia da estreia. Adaptada para a televisão com o nome de Roque Santeiro, a mesma seria proibida uma década depois, também no dia de sua estreia. Somente em 1985, com o fim do Regime Militar, o público iria poder conferir a Roque Santeiro - que, diga-se de passagem, viria a se tornar uma das maiores audiências do gênero.[1]

Com a implantação da Ditadura Militar no Brasil, em 1964, Dias Gomes passa a ter suas peças censuradas, uma após a outra. Em 1969 foi demitido da Rádio Nacional, graças ao seu envolvimento com o Partido Comunista, não lhe resta outra saída senão aceitar o convite de Boni, então presidente da Rede Globo, para escrever para a televisão.[4].

De 1969 a 1979 Dias Gomes dedica-se exclusivamente ao veículo, no qual demonstra incomum talento. Em 1972, Dias Gomes levaria o povo para a televisão ao ambientar Bandeira 2 no subúrbio carioca. Em 1973 escreveu a primeira novela em cores da televisão brasileira, O Bem-Amado. Em 1974 já falava em ecologia e no crescimento desordenado da cidade com O Espigão. Em 1976, com Saramandaia, abordaria o realismo fantástico, então em moda na literatura. O fracasso de Sinal de Alerta, em 1978, leva Dias a se afastar do gênero telenovela temporariamente.[1]

Ao longo de toda a década de 1980, Dias Gomes voltaria a se dedicar ao teatro, escrevendo para a televisão esporadicamente. Datam desse o período os seriados O Bem-Amado e Carga Pesada (apenas no primeiro ano), e as novelas Roque Santeiro e Mandala, das quais escreveria apenas parte. Nos anos 90, Dias Gomes viraria as costas de vez para as telenovelas, dedicando-se única e exclusivamente às minisséries.[1]

Academia Brasileira de Letras

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Dias Gomes foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 11 de abril de 1991, na sucessão de Adonias Filho, sendo recebido em 16 de julho de 1991 pelo acadêmico Jorge Amado. Ocupou a cadeira 21, cujo patrono é o maranhense Joaquim Serra e o atual ocupante é o escritor Paulo Coelho.[5]

Vida pessoal

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Foi no ambiente radiofônico que Dias Gomes travou contato pela primeira vez com aquela que viria a se tornar sua primeira esposa, a então desconhecida escritora Janete Clair. Com ela se casou em 13 de março de 1950, e teve os filhos Alfredo Dias Gomes, Guilherme Dias Gomes,[6] Marcos Plínio (falecido) e Denise Emmer.[7] Viúvo de Janete, que morrera um ano antes, em 1984 Dias casa-se com a atriz Bernadeth Lyzio, com quem tem duas filhas: Mayra Dias Gomes e Luana Dias Gomes.[8]

Dias Gomes morreu aos 76 anos em um acidente de trânsito ocorrido na madrugada de 18 de maio de 1999 na região dos Jardins, na cidade de São Paulo. O dramaturgo voltava de táxi de um jantar com sua mulher Bernadeth depois de assistirem à encenação de Madame Butterfly, ópera dirigida pela atriz Carla Camurati. O taxista fez uma conversão proibida na avenida 9 de Julho, e o carro foi atingido por um ônibus que seguia na mesma direção. Com o impacto e sem estar usando o cinto de segurança, Dias Gomes foi arremessado para fora do carro e bateu a cabeça na mureta que separa a via exclusiva dos coletivos na avenida, o que causou sua morte instantânea. Bernadeth sofreu ferimentos e foi internada. O motorista do táxi, que também sofreu ferimentos, estava na profissão havia dois meses e alegou que só fez a manobra proibida "por insistência de Dias Gomes".[9][10]

Dias Gomes escreveu diversas obras para o teatro, literatura, cinema e televisão. Entre suas peças teatrais, a mais célebre é O Pagador de Promessas (1959). Adaptada para o cinema em 1962, por Anselmo Duarte, conquistou vários prêmios internacionais, com destaque para a Palma de Ouro no Festival de Cannes.[1][11]

Teatro

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  • 1938 - A Comédia dos Moralistas
  • 1939 - Esperidião
  • 1940 - Ludovico
  • 1941 - Amanhã Será Outro Dia
  • 1942 - O Homem Que não Era Seu
  • 1942 - Pé-de-Cabra
  • 1943 - Zeca Diabo
  • 1943 - João Cambão
  • 1943 - Dr. Ninguém
  • 1943 - Um Pobre Gênio
  • 1943 - Eu Acuso o Céu
  • 1943 - Sinhazinha
  • 1943 - Toque de Recolher
  • 1944 - Beco sem Saída
  • 1949 - A Dança das Horas (adaptação do romance Quando É Amanhã)
  • 1951 - O Bom Ladrão
  • 1954 - Os Cinco Fugitivos do Juízo Final
  • 1959 - O Pagador de Promessas
  • 1960 - A Invasão
  • 1961 - A Revolução dos Beatos
  • 1962 - Odorico, o Bem Amado ou Os Mistérios do Amor e da Morte
  • 1963 - O Berço do Herói
  • 1966 - O Santo Inquérito
  • 1968 - O Túnel
  • 1968 - Dr. Getúlio, Sua Vida, Sua Glória (com Ferreira Gullar)
  • 1969 - Vamos Soltar os Demônios (Amor Em Campo Minado)
  • 1977 - As Primícias
  • 1978 - Phallus (inédita)
  • 1978 - O Rei de Ramos
  • 1979 - Campeões do Mundo
  • 1986 - Olho no Olho (inédita)
  • 1988 - Meu Reino por um Cavalo
  • 1995 - Roque Santeiro, o Musical

Livros

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  • 1945 - Duas Sombras Apenas
  • 1946 - Um Amor e Sete Pecados
  • 1947 - A Dama da Noite
  • 1948 - Quando É Amanhã
  • 1982 - Sucupira, Ame-a ou Deixe-a
  • 1983 - Odorico na Cabeça
  • 1994 - Derrocada
  • 1995 - Decadência

Televisão

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Estreou na televisão em 1969, com a novela A Ponte dos Suspiros. Entre seus sucessos na televisão estão a novela O Bem Amado, que virou O Bem Amado seriado entre 1980 e 1984, Roque Santeiro, Bandeira 2, O Espigão e Saramandaia.[12]

Ano Telenovela
1969 A Ponte dos Suspiros
1970 Verão Vermelho
1970/1971 Assim na Terra como no Céu
1971/1972 Bandeira 2
1973 O Bem-Amado
1974 O Espigão
1975 Roque Santeiro (versão censurada)
1976 Saramandaia
1978/1979 Sinal de Alerta
1985/1986 Roque Santeiro
1987 Expresso Brasil
1987/1988 Mandala
1990/1991 Araponga
1995 Irmãos Coragem
1996 O Fim do Mundo
Ano Minissérie
1982 Um Tiro no Coração (inédita)
1988 O Pagador de Promessas
1992 As Noivas de Copacabana
1995 Decadência
1998 Dona Flor e Seus Dois Maridos
Ano Seriado
1979/1980 Carga Pesada
1980/1984 O Bem Amado

Adaptações em outros países

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Ano Obra País
1971 Así en la Tierra Como en el Cielo Argentina
1996 Sucupira (O Bem-Amado) Chile
2017 El Bienamado (O Bem-Amado) México

Curiosidades

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  • Em 2013, no remake de sua obra original Saramandaia, o autor é homenageado com uma pequena estátua de Santo Dias, retratado como o padroeiro da cidade de Bole-Bole.[13]

Referências

  1. a b c d e f g h «Dias Gomes». A Biblioteca Virtual de Literatura. Biblio.com.br 
  2. «Dias Gomes». Memoria Globo. Memoriaglobo.globo.com. Arquivado do original em 6 de julho de 2010 
  3. Gomes, Dias. Apenas um subversivo. Rio de Janeiro. Bertrand Brasil, 1998, p. 67.ISBN 9788528606416
  4. «Biografia de Dias Gomes». Estudo Prático. 7 de novembro de 2017. Consultado em 22 de novembro de 2021 
  5. «Paulo Coelho veste o fardão e toma posse na ABL». Estadão.com.br. Outubro de 2002 
  6. «Guilherme Dias Gomes - Trips». Guilherme Dias Gomes (em inglês). Consultado em 5 de setembro de 2018 
  7. «Denise Emmer». Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Dicionariompb.com.br 
  8. «Dias Gomes – Dramaturgo – Autor de Novelas». Biografias – Vida e obra de personalidades. Biografia.inf.br 
  9. «Dramaturgo Dias Gomes morre em acidente de carro». Folha de S. Paulo. Consultado em 7 de junho de 2020 
  10. «O inventor de tipos». Época. Epoca.globo.com. Arquivado do original em 18 de setembro de 2008 
  11. «Morre o cineasta Anselmo Duarte, o único brasileiro vencedor em Cannes». G1. Novembro de 2009 
  12. «DIAS GOMES». Teledramaturgia. Teledramaturgia.com.br. Arquivado do original em 28 de outubro de 2011 
  13. «Dias Gomes vira Santo Dias, padroeiro de Bole-Bole, na história de Ricardo Linhares». Saramandaia. Consultado em 18 de maio de 2021 

Ligações externas

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