Doenças tropicais são doenças infecciosas que são associadas às regiões tropicais e subtropicais, onde há um histórico maior de ocorrência e maior dificuldade de controle.

O Programa Especial para Pesquisa e Treinamento em Doenças Tropicais (Special Programme for Research and Training in Tropical Diseases, abreviado TDR), da Organização Mundial da Saúde, centra-se em doenças infecciosas negligenciadas que afetam, de maneira desproporcional, populações pobres e marginalizadas, muitas vezes situadas em regiões interioranas, onde seu combate é ainda mais complicado. A lista atual de doenças inclui as 16 seguintes, juntamente a seus vetores:

Doenças Vetores
Inseto Gênero/Espécie
Tripanossomíase africana mosca Glossina (tsé-tsé)
Dengue mosquito Aedes aegypti
Leishmaníase mosquito-palha
Malária mosquitos Anopheles
Esquistossomose trematódeo
Tuberculose Mycobacterium tuberculosis ou Bacilo de Koch (BK)
Doença de Chagas protozoário Trypanosoma cruzi
Lepra ou Hanseníase Mycobacterium leprae
Filariose linfática ou Elefantíase filária Wuchereria bancrofti
Oncocercíase dípteros Simulium (chamados de mosquitos borrachudos)
Ebola pessoas ou animais contaminados pelo vírus
Febre amarela mosquito Aedes aegypti
Hepatite contato com material orgânico contaminado pelo vírus
Conjuntivite contato com material orgânico contaminado pelo vírus
Zika Vírus mosquito Aedes aegypti
Febre Chikungunya mosquito Aedes aegypti

A incidência das doenças tropicais nas proximidades do Equador é condicionada por inúmeros fatores econômicos, biológicos e ecológicos, estando diretamente atrelada à situação de subdesenvolvimento de inúmeros países que estão localizados entre os trópicos de Câncer e Capricórnio.

Na prática, o termo “tropical diseases” se refere àquelas patologias infecciosas que se proliferam em condições climáticas úmidas e quentes. Porém, essa nomenclatura ressalta implicitamente uma dimensão fatalista ligada às áreas intertropicais, ocultando que a incidência de doenças infectocontagiosas endêmicas é maior devido às precárias situações socioeconômicas.[1] As condições de extrema pobreza, a manutenção dos quadros de desigualdade, a desestruturação ou inexistência de sistemas de saúde, a ineficiência de políticas públicas direcionadas às áreas rurais ou empobrecidas as tornam mais letais e desestruturantes. São doenças de áreas insalubres, que incidem sobre populações pauperizadas e colonizadas que, historicamente, se concentram nos Trópicos.

A medicina tropical lida com complexos ciclos de vida de parasitas em diversos hospedeiros, vetores e a influência nos processos biológicos e ciclos econômicos.[2] Algumas dessas doenças são causadas por protozoários, como a Doença de Chagas ou a Tripanossomíase africana; outras por infecções virais, como a Dengue e, ainda, há aquelas causadas por vermes como as esquistossomíases e a oncocercíase.

Contexto Histórico

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As inovadoras e revolucionárias descobertas de Louis Pausteur( 1822-1895), químico francês, relativas à vida microbiana foram essenciais à conformação do campo da microbiologia, associando doenças infecciosas aos seus parasitas específicos transmitidos por seus vetores. Houve em diversos casos um grande otimismo sobre a possibilidade de erradicação de determinadas doenças a partir do combate a esses vetores, uma vez descobertos.

Nesse contexto, algumas doenças infecciosas que eram verdadeiros empecilhos aos projetos imperialistas dos países Europeus em África e Ásia. Por exemplo, a construção de ferrovias, canais e outras estruturas necessárias à exploração de recursos locais ,passaram a ser desveladas à luz  da ciência bacteriológica emergente e receberam o nome por Patrick Manson de “Doenças Tropicais”.[2]

A criação da categoria de doenças tropicais ou exóticas, durante o século XIX, surgiu dessa necessidade de criar um sistema de conhecimento médico capaz de enfrentar as doenças que assolavam regiões de domínio britânico, na Ásia, África e Oriente Médio.[3] As inúmeras expansões colonizadoras descortinaram um mundo repleto de riquezas exploráveis e doenças desconhecidas. A intervenção em regiões inexploradas, com o avanço do imperialismo europeu, aumentou as interações entre microrganismos e organismos humanos e, consequentemente, o número de doenças.[3] O período de maior estudo sobre as doenças tropicais, no início do século XX, coincidiu com a necessidade de sustentar e tornar rentáveis os empreendimentos colonialistas.  

É importante destacar que a produção do conhecimento sobre as Doenças Tropicais não ficou restrita ao norte global. Nos próprios países, onde construíam-se laboratórios e centros de pesquisa, houve participação direta dos cientistas locais nas descobertas, como foi o caso da Doença de Chagas, nomeada de tal forma por conta do importante cientista brasileiro Carlos Chagas, além de negociações entre os diferentes locais de saber acerca das características, vetores, profilaxia, etc. Diversos pesquisadores de diferentes países da América do Sul, por exemplo, participaram do processo de globalização do paradigma da medicina tropical.[3]

Referências

  1. Camargo, Erney Plessmann (dezembro de 2008). «Doenças tropicais». Estudos Avançados: 95–110. ISSN 0103-4014. doi:10.1590/S0103-40142008000300007. Consultado em 1 de agosto de 2023 
  2. a b Benchimol, Jaime Larry; Silva, André Felipe Cândido da (setembro de 2008). «Ferrovias, doenças e medicina tropical no Brasil da Primeira República». História, Ciências, Saúde-Manguinhos: 719–762. ISSN 0104-5970. doi:10.1590/S0104-59702008000300009. Consultado em 1 de agosto de 2023 
  3. a b c Jogas, Denis Guedes (janeiro de 2022). «The South American medical communities in the genesis of the tropical medicine: construction and circulation of knowledge on American leishmaniasis in the beginning of the twentieth century». Medical History (em inglês) (1): 64–84. ISSN 0025-7273. PMC PMC8977684  Verifique |pmc= (ajuda). doi:10.1017/mdh.2021.42. Consultado em 1 de agosto de 2023 

Bibliografia

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  • BENCHIMOL, Jaime Larry; SILVA, André Felipe Cândido da. Ferrovias, doenças e medicina tropical no Brasil da Primeira República. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.15, n.3, p.719-762, jul.-set. 2008.
  • JOGAS JR, Denis Guedes. The South American medical communities in the genesis of the tropical medicine: construction and circulation of knowledge on American leishmaniasis in the beginning of the twentieth century. Medical History (2022).
  • CAPONI, Sandra. Coordenadas epistemológicas de la medicina tropical. História, Ciências, Saúde - Manguinhos, vol. 10(1): 113-49, jan.-abr. 2003.

Ligações externas

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