Domínio do mar
Na guerra naval, o domínio do mar é uma condição de superioridade de uma potência naval sobre outra, quando a potência mais fraca não ousa atacar diretamente e só a potência mais forte tem plena liberdade de usar o mar para conduzir seu comércio e mover seus exércitos.[1] A maioria dos teóricos navais define-o como o controle sobre as linhas de comunicação marítimas. O mar não pode ser fisicamente controlado da maneira como se controla o espaço na guerra terrestre.[2] Dominar as linhas de comunicação marítimas não é um fim em si mesmo, mas um caminho para que uma potência naval possa estrangular a economia do inimigo com um bloqueio e projetar poder sobre terra onde quiser.[3][4] Levado ao extremo, seria o acesso a todos os litorais.[5]
Alguns pensadores navais como Cyprian Bridge entronam o domínio do mar como o meio principal da guerra naval.[a] Classicamente, conquista-se o domínio do mar encontrando e destruindo a frota inimiga[6] — o que Alfred Thayer Mahan chamaria de "batalha decisiva". Ele propunha um poder naval concentrado e ofensivo.[4] Após a destruição da frota oponente, não haveria oposição séria a outras operações navais.[2] Mas como observado por Julian Corbett, a frota mais fraca não se apresentaria voluntariamente para ser destruída e preferiria se esconder num porto bem defendido, continuando a influenciar o teatro de operações como uma "esquadra em potência".[4] Outras formas de conquistar o domínio do mar são a contenção da frota inimiga, o controle de pontos de estrangulamento, como estreitos e canais, e a captura de posições e bases inimigas.[7]
Teóricos mais recentes preferem falar em controle de área marítima ou controle do mar, considerando que o domínio do mar tem conotações de um domínio absoluto, impossível de se estabelecer. Mas mesmo os teóricos mais antigos, como Mahan (1840–1914) e Corbett (1854–1922), reconheciam que o domínio do mar é relativo: ele tem gradações e é obtido num tempo e área específicos.[3] Numa guerra entre dois oponentes fortes, não haverá pleno domínio do mar.[2] Uma distinção possível entre os conceitos seria que o domínio do mar é de escala estratégica, e o controle do mar, operacional e tático.[8]
O inverso da moeda é a negação do uso do mar, ou seja, a obstrução ao controle do mar pelo inimigo, ou ao aproveitamento de tal controle. Ele é a alternativa ao controle do mar para as potências navais mais fracas, ou às potências fortes em teatros nos quais estejam fracas.[3][9] A perda do domínio do mar por um lado não necessariamente significa que o outro lado adquire o domínio.[1]
Notas
- ↑ "Command of the sea, variously defined as control of maritime communications or, more broadly, as the freedom to use the seas and to deny that use to an enemy, has often been portrayed as something approaching the ‘holy grail’ of naval warfare. Philip Colomb, for example, stated boldly that ‘The primary aim of naval war is the command of the sea’, while Cyprian Bridge described its possession as ‘the main object of naval warfare’".[4]
Referências
- ↑ a b Rubel, Robert C. (2012). «Command of the sea: an old concept resurfaces in a new form». Naval War College Review. 65 (4). p. 2.
- ↑ a b c Vego, Milan (2016). Maritime strategy and sea control: theory and practice. London & New York: Routledge. ISBN 978-1-315-69452-8. cap. 2.
- ↑ a b c Till, Geoffrey (2009). Seapower: A Guide for the Twenty-First Century. Col: Cass Series: Naval Policy and History. London & New York: Routledge. ISBN 978-0-203-88048-7. p. 145-154.
- ↑ a b c d Speller, Ian (2014). Understanding naval warfare. London & New York: Routledge. ISBN 978-1-315-88226-0. p. 43-50.
- ↑ Lindberg, Michael; Todd, Daniel (2001). Brown-, green- and blue-water fleets: the influence of geography on naval warfare, 1861 to the present. Westport, CT: Praeger. ISBN 0-275-96486-8. p. 25.
- ↑ Page, Christopher (2011). «Prefácio». In: Grant, R. G. Battle at sea: 3,000 years of naval warfare. London: DK Publishing. ISBN 978-0-7566-7186-0
- ↑ Vego 2016, cap. 3.
- ↑ Rubel, Robert C. (2022). «Command of the sea Redux». Naval War College Review. 75 (2). p. 1-3.
- ↑ Almeida, Francisco Eduardo Alves de (2022). «Tarefas básicas do poder naval». In: Francisco Carlos Teixeira da Silva et al. (org.). Dicionário de história militar do Brasil (1822-2022): volume II. Rio de Janeiro: Autografia. p. 694.