Edifício Guaspari

O Edifício Guaspari é um edifício comercial localizado no Centro Histórico de Porto Alegre.[1] Foi projetado em 1936 pelo arquiteto espanhol Fernando Corona e construído pela empresa Azevedo Moura & Gertum.

O prédio é marcado pela horizontalidade, pela ausência de decorações aplicadas e pela fluidez continuada das esquinas arredondadas, o que sugere influência do expressionismo alemão, sobretudo de Erich Mendelsohn.[1] Ao desenhar o prédio, Fernando Corona combinou elementos da modernidade, como a transparência do térreo e o efeito contínuo das esquadrias, com estratégias clássicas, como a simetria axial e a frontalidade.[1]

Fechado por aproximadamente três décadas, o Edifício Guaspari foi reinaugurado em 2017, passando a abrigar loja Lebes, restaurante e cafeteria.[2]

Fachadas norte e oeste

O Edifício Guaspari foi implantado ao lado do Edifício Malakoff, excepcional construção em altura do século XIX, com características ainda coloniais, mas com maiores dimensões e frontão neoclássico.[1]

Arquitetura

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As esquinas suavemente arredondadas do Edifício Guaspari fazem referência direta ao expressionismo alemão, onde predominam os elementos derivados da engenharia naval.[1] Essa característica está presente em obras de Erich Mendelsonh (1887-1953), como o Edifício Mosse (1923), a Peleteria C. A. Herbichi (1924) e as Lojas Petersdorff (1927).[1] O expressionismo alemão penetrou fortemente na América Latina a partir da década de 1930, estendendo-se até a metade da década de 1940.[3] O pioneiro do gênero no subcontinente foi o Edifício Oberpaur (1930), de Sergio Larrain G. M. e Jorge Arteaga, em Santiago, cuja semelhança com o Edifício Guaspari é notável.[1]

O Edifício Guaspari condensa o espírito da década de 1930, cujo maior acontecimento no Rio Grande do Sul foi a realização da Exposição Comemorativa do Centenário Farroupilha, em 1935.[1] Muitos dos pavilhões da feira faziam referência ao expressionismo alemão e ao futurismo italiano, como o pavilhão do cassino, de Cristiano de La Paix Gelbert, e o pórtico de entrada, de Franz Filsinger.[1] Embora efêmero, o conjunto edificado influenciou a produção local, e o Guaspari pode ser considerado uma de suas consequências.[1]

O Edifício Guaspari foi inicialmente projetado para atender um uso misto (comercial e residencial), mas ainda em 1936 o projeto foi modificado para abrigar apenas a Loja Guaspari.[1] Apesar disso, o último projeto aprovado na prefeitura apresenta diferenças quanto ao edifício construído, referentes ao número de pavimentos e ao volume central que marca o acesso principal.[1]

A estrutura de concreto é modulada com duas linhas de pilares a cada cinco metros.[1] A primeira, independente da parede, paralela ao alinhamento do terreno.[1] A segunda, embutida na parede, acompanhando a inclinação do terreno em sua divisa de fundos. As vigas seguem a malha formada pelos pilares.[1]

Patrimônio Cultural

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O prédio foi tombado como Patrimônio Histórico Cultural em 2008.[4]

  1. a b c d e f g h i j k l m n o CANEZ, Anna Paula (1998). Fernando Corona e os caminhos da arquitetura moderna em Porto Alegre. Porto Alegre: Unidade Editorial / Instituto Ritter dos Reis. pp. 54–64 
  2. «Em edifício histórico, Lebes Life Store será inaugurada nesta quarta no Centro Histórico». GZH. 8 de agosto de 2017. Consultado em 25 de dezembro de 2024 
  3. BROWNE, Enrique (1982). Outra Arctectura em América Latina. México: Gustavo Gili. p. 33 
  4. «Edifício Guaspari: história preservada - CAU/RS». CAU/RS - Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Sul. 26 de março de 2017. Consultado em 25 de dezembro de 2024