Eleições estaduais em Minas Gerais em 1982
As eleições estaduais em Minas Gerais em 1982 ocorreram em 15 de novembro como parte das eleições em 23 estados brasileiros e nos territórios federais do Amapá e Roraima. Foram eleitos o governador Tancredo Neves, o vice-governador Hélio Garcia e o senador Itamar Franco, além de 54 deputados federais e 78 estaduais. Foram observadas regras como o voto vinculado, a sublegenda e a proibição de coligações partidárias. Ressalte-se que os mineiros residentes no Distrito Federal escolheram seus representantes por força da Lei nº 6.091 de 15 de agosto de 1974, na primeira eleição direta para o Palácio da Liberdade desde a vitória de Israel Pinheiro em 1965.[1][2][3][nota 1][nota 2]
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Eleições estaduais em Minas Gerais em 1982 | ||||
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15 de novembro de 1982 (Turno único) | ||||
Candidato | Tancredo Neves | Eliseu Resende | ||
Partido | PMDB | PDS | ||
Natural de | São João del-Rei, MG | Oliveira, MG | ||
Vice | Hélio Garcia | Bias Fortes | ||
Votos | 2.667.595 | 2.424.197 | ||
Porcentagem | 51,13% | 46,47% | ||
Candidato mais votado por município em turno único (722):
Tancredo Neves (279)
Eliseu Resende (443)
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Titular Eleito | ||||
Advogado diplomado na Universidade Federal de Minas Gerais em 1932, Tancredo Neves foi promotor de justiça e no ano seguinte elegeu-se vereador em São João del-Rei até que o Estado Novo extinguiu-lhe o mandato. Filiado ao PSD foi eleito deputado estadual em 1947 e deputado federal em 1950, mandato do qual se afastou para ser ministro da Justiça no segundo governo Getúlio Vargas, cargo que entregou após o suicídio do presidente. Apoiou a candidatura vitoriosa de Juscelino Kubitschek à presidência da República em 1955 e no mesmo ano Bias Fortes conquistou o governo mineiro. Graças aos vínculos que mantinha com os nomes em questão, foi diretor da Carteira de Redescontos do Banco do Brasil e depois secretário de Fazenda de Minas Gerais. Derrotado por Magalhães Pinto ao disputar o governo estadual em 1960, foi presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social por um curto período e retornou ao mundo político ao assumir o cargo de primeiro-ministro na fase parlamentarista do Governo João Goulart, mas renunciou a tempo de eleger-se deputado federal em 1962.[4]
Consumado o golpe de estado que derrubou João Goulart e sacramentou o Regime Militar de 1964, iniciou uma nova fase em sua carreira política ao ingressar no MDB. Reeleito deputado federal em 1966, 1970 e 1974, venceu uma eleição para senador abrigado numa sublegenda em 1978.[5][6][nota 3] No curso do mandato aliou-se a Magalhães Pinto na criação do Partido Popular para servir como "oposição moderada" aos militares, mas por conta de uma manobra política que proibia as coligações a legenda foi incorporada ao PMDB e nele Tancredo Neves foi eleito governador de Minas Gerais em 1982.[7][4][nota 4] Sua passagem à frente do Palácio da Liberdade terminou em 14 de agosto de 1984 quando renunciou em favor de Hélio Garcia para concorrer à presidência da República sendo eleito em 15 de janeiro de 1985, entretanto não foi empossado por razões de saúde e faleceu em 21 de abril. Ato contínuo, José Sarney tornou-se presidente e governou por cinco anos.[8][9][10]
Mineiro de Santo Antônio do Amparo, o advogado Hélio Garcia formou-se em 1957 pela Universidade Federal de Minas Gerais e dedicou-se à agropecuária. Membro da UDN, foi secretário-geral da Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais. Eleito deputado estadual em 1962, foi líder do governo Magalhães Pinto, a quem serviu como secretário de Justiça. Eleito deputado federal pela ARENA em 1966, retirou-se da vida pública ao fim do mandato. Presidente da Caixa Econômica em Minas Gerais durante o governo Aureliano Chaves, conseguiu outro mandato de deputado federal em 1978 e integrou os quadros do Partido Popular chegando a presidir o diretório estadual.[11] Com a incorporação de seu partido ao PMDB elegeu-se vice-governador de Minas Gerais em 1982.[7] Empossado, licenciou-se do cargo e foi nomeado prefeito de Belo Horizonte por Tancredo Neves em 1983, mas renunciou no ano seguinte a fim de assumir o governo mineiro em substituição ao titular.
Resultado da eleição para governador
editarConforme o Tribunal Superior Eleitoral houve 5.216.902 votos nominais (89,58%), 459.479 votos em branco (7,89%) e 147.160 votos nulos (2,53%), resultando no comparecimento de 5.823.541 eleitores.[1]
Candidatos a governador do estado |
Candidatos a vice-governador | Número | Coligação | Votação | Percentual |
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Tancredo Neves PMDB |
Hélio Garcia PMDB |
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Eliseu Resende PDS |
Bias Fortes PDS |
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Sandra Starling PT |
Milton de Freitas Carvalho PT |
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Theotônio dos Santos PDT |
Maria Felícia Macedo PDT |
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Fontes:[12] |
Biografia do senador eleito
editarItamar Franco
editarRadicado em Juiz de Fora desde a infância, Itamar Franco é engenheiro civil e eletrotécnico formado pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Nascido a bordo de um navio que fazia cabotagem entre Salvador e Rio de Janeiro,[13] foi registrado na capital baiana. Filiado ao PTB e depois ao MDB, elegeu-se prefeito de Juiz de Fora em 1966 e 1972. Adversário político do Regime Militar de 1964, renunciou ao mandato e foi eleito senador em 1974 e seis anos depois ingressou no PMDB.[14] Reeleito senador em 1982, foi alijado da composição do governo mineiro após a vitória de Tancredo Neves,[15][16] porém votou no referido político na eleição presidencial indireta de 1985.[17] Derrotado na disputa pelo Palácio da Liberdade via PL em 1986, renunciou ao mandato após sua eleição para vice-presidente da República pelo PRN na chapa de Fernando Collor em 1989.
Suplente efetivado
editarEdgar da Mata Machado
editarPor conta do exposto acima, o advogado Edgar da Mata Machado voltou à política. Formado em 1939 pela Universidade Federal de Minas Gerais, foi jornalista e colaborou com O Globo, Correio da Manhã, Diário de Notícias e Tribuna da Imprensa. Preso por mais de uma vez durante o Estado Novo, filiou-se à UDN e assim foi nomeado chefe da Casa Civil pelo governador Milton Campos. Eleito deputado estadual em 1950, lecionou à Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e na Universidade Federal de Minas Gerais. Durante o governo Magalhães Pinto foi secretário interino de Educação e teve passagem pelas pastas da Fazenda, do Trabalho e da Cultura, mas abandonou o poder ao discordar do Regime Militar de 1964. Eleito deputado federal pelo MDB em 1966, foi cassado pelo Ato Institucional Número Cinco em 17 de janeiro de 1969 e teve os direitos políticos suspensos por dez anos.[18] Candidato a senador por uma sublegenda do PMDB em 1982, migrou para o PSDB após seis anos e foi efetivado no limiar do Governo Collor.[19]
Resultado da eleição para senador
editarConforme o Tribunal Superior Eleitoral houve 4.989.082 votos nominais (85,67%), 658.409 votos em branco (11,31%) e 176.050 votos nulos (3,02%), resultando no comparecimento de 5.823.541 eleitores.[1][nota 5]
Candidatos a senador da República |
Candidatos a suplente de senador | Número | Coligação | Votação | Percentual |
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Itamar Franco PMDB |
Edgar da Mata Machado PMDB [nota 6] [20][21][22] |
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João Marques PDS |
Vasconcelos Costa PDS [nota 6] [20][21][22] |
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Fagundes Neto PDS |
Obregon Gonçalves PDS [nota 6] [20][21][22] |
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Simão da Cunha PMDB |
Fernando Taveira Campos PMDB [nota 7] [20][21][22] |
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Joaquim José de Oliveira PT |
José Raimundo Nahas PT Adelia Batista Hernandez PT |
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Wilson Carneiro Vidigal PDT |
Palmios Paixão Carneiro PDT Ronaldo José Ladeira PDT |
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Fontes:[12] |
Deputados federais eleitos
editarSão relacionados os candidatos eleitos com informações complementares da Câmara dos Deputados.
Deputados estaduais eleitos
editarForam escolhidos 78 deputados estaduais para a Assembleia Legislativa de Minas Gerais.
Notas
- ↑ Por força de um casuísmo político a eleição direta em Rondônia excluiu o cargo de governador enquanto Amapá e Roraima elegeram apenas quatro deputados federais cada e em Fernando de Noronha não houve eleições.
- ↑ No mesmo dia houve eleições municipais em todo o país, mas certas cidades escolheram apenas vereadores por conta do disposto no Ato Institucional Número Três e legislação afim. Em solo mineiro, Araxá, Belo Horizonte, Caldas, Cambuquira, Carangola, Caxambu, Jacutinga, Lambari, Monte Sião, Passa Quatro, Patrocínio, Poços de Caldas, São Lourenço e Tiradentes se encaixaram na descrição e somente em 1985 é que seus eleitores foram às urnas para escolher seus prefeitos e vice-prefeitos.
- ↑ Em 1978 o mecanismo das sublegendas permitia a existência de até três candidatos a senador em cada partido político e com a eleição de Tancredo Neves ao governo mineiro quatro anos depois sua cadeira no Senado Federal foi entregue a Alfredo Campos.
- ↑ Ressalte-se que os pepistas fieis a Magalhães Pinto ingressaram no PDS.
- ↑ Quanto à soma soma das sublegendas o PMDB conseguiu 2.562.461 votos (51,36%) ante 2.309.122 (46,28%) do PDS.
- ↑ a b c Se a convenção partidária escolher dois candidatos a senador, cada sublegenda indicará um suplente por candidato. Depois da eleição, o primeiro suplente será o candidato não eleito e o segundo suplente será aquele originalmente inscrito com o vencedor.
- ↑ Faleceu em Belo Horizonte em 12 de julho de 1983.
- ↑ a b c d e f Tancredo Neves escolheu seis deputados federais para compor sua equipe: José Aparecido (Cultura), Sílvio Abreu Júnior (Justiça), Carlos Cotta (Esportes e Turismo), Renato Azeredo (Governo), Ronan Tito (Trabalho e Ação Social) e Jorge Ferraz (Indústria e Comércio). Por conta de tais articulações foram convocados Marcos Lima, Osvaldo Murta, José Maria Magalhães, Luís Guedes, Rosemburgo Romano e Fued Dib, sem mencionar que o suplente Dario Tavares foi secretário de Saúde.
- ↑ Durante o mandato exerceu diferentes cargos públicos: secretário de Cultura nos governos Tancredo Neves e Hélio Garcia, retornou ao parlamento para votar em Tancredo Neves no Colégio Eleitoral. Escolhido ministro da Cultura por Tancredo Neves, exerceu o cargo em duas oportunidades ao longo do Governo Sarney afastando-se do ministério para ocupar o cargo de governador do Distrito Federal.
- ↑ Eleito prefeito de Belo Horizonte em 1985, renunciou ao mandato parlamentar em prol de José Maria Magalhães.
- ↑ Faleceu em Ubá em 30 de março de 1984 e assim foi efetivado Emílio Haddad.
- ↑ Faleceu em São Paulo no exercício do cargo executivo que exercia em 16 de julho de 1983 vítima de câncer e assim foi efetivado Marcos Lima.
- ↑ Renunciou ao mandato a fim de assumir a Secretaria Especial de Assuntos Comunitários da Presidência da República no Governo Sarney e assim foi efetivado Osvaldo Murta.
- ↑ Foi secretário de Esportes e Turismo nos governos Tancredo Neves e Hélio Garcia sendo substituído na Câmara dos Deputados por Rosemburgo Romano.
- ↑ Foi secretário de Saúde do Distrito Federal no governo José Aparecido de Oliveira e assim permitiu a convocação do suplente Dario Tavares, que curiosamente fora secretário de Saúde de Tancredo Neves.
- ↑ Faleceu em Belo Horizonte em 10 de novembro de 1985 vítima de câncer e assim foi efetivado Delson Scarano.
- ↑ Renunciou em 5 de dezembro de 1986 para assumir uma vaga de conselheiro do Tribunal de Contas de Minas Gerais, sendo efetivado Luís Guedes.
- ↑ Renunciou em 11 de dezembro de 1986 para assumir uma vaga de conselheiro do Tribunal de Contas de Minas Gerais, sendo efetivado Jaciel Pereira.
- ↑ Não confundir com o também político Raimundo Albergaria.
- ↑ Filho do político Milton Sales.
- ↑ Faleceu em 16 de novembro de 1982 vítima de acidente automobilístico e assim foi efetivado Hugo Campos.
Referências
- ↑ a b c d e BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. «Eleições de 1982». Consultado em 23 de abril de 2024
- ↑ BRASIL. Presidência da República. «Lei n.º 6.091 de 15/08/1974». Consultado em 30 de novembro de 2017
- ↑ BRASIL. Presidência da República. «Lei Complementar n.º 41 de 22/12/1981». Consultado em 30 de novembro de 2017
- ↑ a b «CPDOC – E ele voltou... o Brasil no segundo governo Vargas: biografia de Tancredo Neves». Consultado em 30 de novembro de 2017
- ↑ BRASIL. Câmara dos Deputados. «Biografia do deputado Tancredo Neves». Consultado em 9 de novembro de 2020
- ↑ BRASIL. Senado Federal. «Biografia do senador Tancredo Neves». Consultado em 9 de novembro de 2020
- ↑ a b Redação (21 de dezembro de 1981). «PP e PMDB decidem unir-se. Capa». acervo.folha.com.br. Folha de S.Paulo. Consultado em 9 de novembro de 2020
- ↑ Tancredo deixa governo e diz que a corrupção virou rotina (online). Jornal do Brasil, Rio de Janeiro (RJ), 15/08/1984. Capa. Página visitada em 30 de novembro de 2017.
- ↑ Acabou o ciclo autoritário: Tancredo é o 1º. presidente civil e de oposição desde 64 (online). Folha de S.Paulo, São Paulo (SP), 16/01/1985. Capa. Página visitada em 30 de novembro de 2017.
- ↑ A morte do homem do Brasil: Tancredo Neves (online). O Estado de S. Paulo, São Paulo (SP), 22/04/1985. Capa. Página visitada em 30 de novembro de 2017.
- ↑ BRASIL. Câmara dos Deputados. «Biografia do deputado Hélio Garcia». Consultado em 1º de dezembro de 2017
- ↑ a b c d BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Dados estatísticos: eleições federais, estaduais e municipais realizadas em 1982. Brasília: Tribunal Superior Eleitoral, 1988. v.14 t.1.
- ↑ «Conheça a trajetória do ex-presidente Itamar Franco (Portal G1)». Consultado em 2 de dezembro de 2017
- ↑ BRASIL. Senado Federal. «Biografia do senador Itamar Franco». Consultado em 2 de dezembro de 2017
- ↑ Tancredo tem secretariado da conciliação (online). Jornal do Brasil, Rio de Janeiro (RJ), 06/03/1983. Política, p. 04. Página visitada em 2 de dezembro de 2017.
- ↑ Itamar prevê ressurgimento do PP em Minas (online). Jornal do Brasil, Rio de Janeiro (RJ), 06/03/1983. Política, p. 04. Página visitada em 2 de dezembro de 2017.
- ↑ Redação (16 de janeiro de 1985). «Sai de São Paulo o voto para a vitória da Aliança. Política, p. 06». acervo.folha.com.br. Folha de S.Paulo. Consultado em 2 de dezembro de 2017
- ↑ BRASIL. Câmara dos Deputados. «Biografia do deputado Edgar da Mata Machado». Consultado em 2 de dezembro de 2017
- ↑ BRASIL. Senado Federal. «Biografia do senador Edgar da Mata Machado». Consultado em 2 de dezembro de 2017
- ↑ a b c d BRASIL. Senado Federal. «Decreto-Lei n.º 1.541 de 14/04/1977». Consultado em 3 de março de 2023
- ↑ a b c d BRASIL. Presidência da República. «Decreto-Lei n.º 1.543 de 14/04/1977». Consultado em 3 de março de 2023
- ↑ a b c d BRASIL. Presidência da República. «Lei n.º 6.534 de 23/05/1978». Consultado em 3 de março de 2023
- ↑ BRASIL. Câmara dos Deputados. «Página oficial». Consultado em 23 de abril de 2024
- ↑ a b BRASIL. Presidência da República. «Lei n.º 9.504 de 30/09/1997». Consultado em 30 de novembro de 2017