Equação de Butler-Volmer

Em eletroquímica, a equação de Butler-Volmer (em homenagem a John Alfred Valentine Butler[1] e Max Volmer), também conhecida como equação de Erdey-Grúz-Volmer, é uma das relações mais fundamentais da cinética eletroquímica. Ela descreve como a corrente elétrica através de um eletrodo depende da diferença de potencial entre o eletrodo e a porção equipotencial do eletrólito para uma reação redox elementar, simples e rápida, considerando que ocorrem tanto uma reação catódica quanto uma anódica no mesmo eletrodo.[2]

A equação de Butler-Volmer

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O gráfico superior mostra a densidade de corrente em função do sobrepotencial η. As densidades de corrente anódica e catódica são denotadas por ja e jc, respectivamente, para α=αac=0,5 e j0=1 mA cm−2 (valores próximos dos correspondentes aos eletrodos de platina ou paládio). O gráfico inferior, denominado gráfico de Tafel, representa a relação entre log(j) e o sobrepotencial η para diferentes valores de α.

A equação de Butler-Volmer corresponde à expressão abaixo:

 

ou de uma forma mais compacta,

 

em que atribuem-se as seguintes denotações:

  •  : densidade de corrente do eletrodo [L–2 I]
  •  : densidade de corrente de troca [L–2 I]
  •  : potencial do eletrodo [T–1 L2 M I–1]
  •  : potencial de equilíbrio [T–1 L2 M I–1]
  •  : temperatura absoluta [Θ]
  •  : número de elétrons envolvidos na reação do eletrodo [1]
  •  : constante de Faraday [T I N]
  •  : constante universal dos gases ideais [T–2 L2 M K–1 N–1]
  •  : coeficiente de transferência de carga catódico [1]
  •  : coeficiente de transferência de carga anódico [1]
  •   : sobrepotencial de ativação (definido como  ) [T–1 L2 M I–1].

A figura à direita mostra situações nas quais  

Os casos limite

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Existem dois casos limite da equação de Butler-Volmer:

  • a região de baixo sobrepotencial (chamada "resistência de polarização", em que  . Nela, a equação de Butler-Volmer pode ser simplificada pela aproximação mostrada abaixo:
      da qual obtém-se a forma linear da equação:
     
  • a região de alto sobrepotencial (em que  ), na qual a equação de Butler-Volmer converge para a equação de Tafel. Quando  , o primeiro termo dos parênteses domina e, quando  , o segundo termo domina.


Além disso, valem as relações:

  para uma reação catódica, quando E<<Eeq, ou
  para uma reação anódica, quando E>>Eeq,

em que   e   são constantes (para determinadas reação e temperatura) chamadas de constantes da equação de Tafel. Os valores teóricos das constantes da equação de Tafel são diferentes para os processos catódicos e anódicos. No entanto, a inclinação de Tafel   pode ser definida como

 

em que   é a corrente faradaica, expressa como  , ou seja, a soma das correntes parciais catódica ( ) e anódica ( ).

A equação de Butler-Volmer estendida

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A forma mais generalizada da equação de Butler-Volmer, aplicável às condições influenciadas pela transferência de massa, é apresentada abaixo:[3]

 

em que se adotam as seguintes denotações:

  •  : densidade de corrente do eletrodo [L–2 I]
  •   e   são as concentrações, na porção majoritária da solução, das substâncias a serem oxidada e reduzida, respectivamente
  •   e   são as concentrações dependentes do tempo, na porção da solução adjacente ao eletrodo, das substâncias a serem oxidada e reduzida, respectivamente.

A forma acima pode ser simplificada para a convencional (mostrada no início do artigo) quando a concentração da espécie eletroativa próximo à superfície do eletrodo é igual à sua concentração na porção majoritária da solução.

Existem duas taxas que determinam a relação corrente-tensão para um eletrodo. A primeira é a taxa da reação química no eletrodo, que consome reagentes e produz produtos. Isso é conhecido como taxa de transferência de carga. A segunda é a taxa na qual os reagentes são fornecidos e os produtos são removidos da região do eletrodo por vários processos, incluindo difusão, migração e convecção. Esta última é conhecida como taxa de transferência de massa. Essas duas taxas determinam as concentrações dos reagentes e produtos na região do eletrodo, parâmetros que, por sua vez, são determinados pelos próprios eletrodos. A mais lenta dessas taxas determina a taxa geral do processo. Por exemplo, se apenas a difusão contribuir para a taxa de transferência de massa, há uma taxa máxima na qual o reagente pode ser fornecido ao eletrodo e, portanto, a corrente possui um limite superior conhecido como corrente limitante. No caso de processos altamente controlados pela transferência de massa, o valor da densidade de corrente é dado por:

 

em que:

  •   é o coeficiente de difusão efetivo (considerando eventuais irregularidades do processo);
  •   é a espessura da camada de difusão;
  •   é a concentração da espécie eletroativa limitante na porção majoritária da solução.

A equação de Butler-Volmer simplificada assume que as concentrações no eletrodo são praticamente iguais às concentrações na porção majoritária do eletrólito, de modo que a corrente é expressa apenas em função do potencial. Em outras palavras, assume-se que a taxa de transferência de massa é muito maior que a taxa de transferência de carga e que a reação é dominada pela velocidade da reação química (mais lenta). Apesar dessa limitação, a utilidade da equação de Butler-Volmer na eletroquímica é ampla e muitas vezes é considerada "central na cinética fenomenológica do eletrodo".[4]

A equação estendida de Butler-Volmer não faz essa suposição, mas considera as concentrações no eletrodo como dados conhecidos, produzindo uma relação na qual a corrente é expressa como uma função não apenas do potencial, mas também das concentrações fornecidas. A taxa de transferência de massa pode ser relativamente pequena, mas seu único efeito na reação química é através das diferenças entre as concentrações na porção majoritária da solução e na região próxima ao eletrodo (dados conhecidos). Com efeito, as concentrações também são uma função do potencial. Um tratamento completo, que expressa a corrente apenas em função do potencial, pode ser derivado da equação estendida de Butler-Volmer, mas exige o relacionamento explícito entre os efeitos de transferência de massa e o potencial da solução em cada ponto para que seja possível expressar as concentrações em função unicamente do potencial.

Dedução

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Expressão geral

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Um gráfico de diferentes energias livres de Gibbs (a depender do potencial do eletrodo) em função da coordenada de reação. A semirreação prosseguirá para a energia mais baixa, seja reduzindo (no caso da curva azul) ou oxidando (no caso da curva vermelha), a não ser que seja alcançado o equilíbrio (no caso da curva verde).

A seguinte derivação da equação estendida de Butler-Volmer é adaptada a partir das deduções de Bard e Faulkner[3] e de Newman e Thomas-Alyea.[5] Para uma reação elementar simples e rápida,

 

As velocidades das reações direta e inversa (  e  ) e as densidades de corrente elétrica associadas a elas (  e  ) obtidas a partir das leis de Faraday podem ser escritas como:

  

em que   e   são as constantes de velocidade das reações direta e inversa, respectivamente [T–1] e   e   são as concentrações superficiais das moléculas oxidada e reduzida no eletrodo, respectivamente [N L–2] (denotapas por   e   na seção anterior). A velocidade líquida ( ) da reação de redução e a densidade de corrente líquida ( ) são, portanto,

 

Bard[3] define uma corrente proporcional à velocidade líquida de oxidação, mas define o potencial   como o potencial do eletrodo menos o potencial do eletrólito, o que tem o desconcertante (mas não inconsistente) efeito de designar uma corrente positiva para um potencial negativo. Na equação acima, é usada a convenção de Newman,[5] na qual a corrente é escolhida proporcionalmente à velocidade líquida de redução, para manter correspondência com os resultados das seções anteriores.

A figura acima representa várias curvas de energia livre de Gibbs em função da coordenada de reação ξ. A coordenada da reação pode ser aproximada para uma medida de distância, com o corpo do eletrodo à esquerda e a solução à direita. A curva azul mostra o aumento na energia livre de Gibbs para uma molécula oxidada conforme ela se aproxima da superfície do eletrodo quando nenhum potencial é aplicado. A curva de energia preta mostra o aumento da energia livre de Gibbs à medida que uma molécula reduzida se aproxima do eletrodo. As duas curvas de energia se cruzam em  . A aplicação de um potencial   ao eletrodo moverá a curva de energia livre de Gibbs da molécula oxidada para baixo (para a curva vermelha) por   e o ponto de interseção se moverá para  . Aumentar o potencial dos íons de zero para   aumenta seu   em  , sendo   a carga dos íons (ver potencial eletroquímico). Aumentar o potencial do eletrodo diminui o potencial dos íons próximos ao eletrodo em relação a ele, diminuindo, assim, seu  .   e   são as energias de ativação (barreiras energéticas) a serem superadas pelas espécies oxidada e reduzida, respectivamente, para um potencial   qualquer, enquanto   e   são as energias de ativação para  . A curva de energia livre de Gibbs da molécula reduzida (curva preta) pode ser afetada pelo potencial, mas as conclusões não são invalidadas desde que a soma dos deslocamentos das curvas de oxidação e redução seja igual a  .[5]

Assumindo-se que as constantes de velocidade obedecem à equação de Arrhenius, valem as seguintes relações:

 
 

nas quais   e   são constantes tais que   é a frequência de colisões com orientação favorável entre as moléculas oxidada e reduzida e os termos exponenciais (análogos aos fatores de Boltzmann) contabiliza a fração energeticamente favorável dessas colisões.

Supondo-se que as curvas sejam praticamente lineares na região de transição, elas podem ser representadas por:

  (curva azul)
  (curva vermelha)
  (curva preta)

O coeficiente de transferência de carga para esse caso simples é equivalente ao fator de simetria e pode ser expresso em termos das inclinações das curvas:

 

Com isso, obtém-se as seguintes relações:

 
 

Por conveniência, define-se:

 
 
 

As constantes de velocidade podem agora ser expressas como:

 
 

em que as constantes de velocidade no potencial   são:

 
 

A densidade de corrente   em função do potencial aplicado   pode, então, ser escrita como:[5]

 

Expressão em termos do potencial de equilíbrio

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A uma certa tensão  , o equilíbrio será atingido e as velocidades das reações direta e inversa (  e  ) serão iguais. Isso é representado pela curva verde na figura acima. As constantes de velocidade de equilíbrio serão escritas como   e  , e as concentrações de equilíbrio serão denotadas por   e  . As densidades de corrente no equilíbrio (  e  ) serão ambas iguais a  , a chamada densidade de corrente de troca.

 
 

Observe-se que a densidade de corrente líquida no equilíbrio torna-se nula. As constantes de velocidade de equilíbrio são, portanto, dadas por:

 
 

Tratando o sistema acima para   e   em termos das concentrações de equilíbrio   e   e da densidade de corrente de troca  , a densidade de corrente   como uma função do potencial aplicado   pode ser escrita:[5]

 

Assumindo que a porção majoritária da solução se mantém em equilíbrio, com concentrações   e  , tem-se que   e  , e a expressão acima para a densidade de corrente   se reduz à equação de Butler-Volmer. A diferença   é conhecida como sobrepotencial de ativação (denotado por  ).

Expressão em termos do potencial formal

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Para a reação simplificada mostrada anteriormente, a variação da energia de Gibbs é dada por:

 

em que   e   são as atividades no equilíbrio. Note-se que a variação na energia livre de Gibbs também é igual a  . As atividades   estão relacionadas às concentrações   por  , sendo   o coeficiente de atividade. O potencial de equilíbrio é dado pela equação de Nernst:

 

em que   é o potencial padrão.

 

Definindo o potencial formal como[3]

 

o potencial de equilíbrio é, então, dado por:

 

Substituindo esse potencial de equilíbrio na equação de Butler-Volmer, obtém-se:

 

que também pode ser escrita em termos da constante de velocidade padrão   como:[3]

 

A constante de velocidade padrão é um importante descritor do comportamento do eletrodo independente das concentrações. É uma medida da velocidade na qual o sistema se aproxima do equilíbrio. No limite, à medida que  , o eletrodo se torna um eletrodo polarizável ideal e se comporta eletricamente como um circuito aberto (desconsiderando a capacitância). Para eletrodos quase ideais com   pequeno, grandes mudanças no sobrepotencial são necessárias para gerar uma corrente significativa. À medida que  , o eletrodo torna-se um eletrodo não-polarizável ideal e se comporta como um sistema em curto-circuito. Para eletrodos quase ideais com altos valores de  , pequenas mudanças no sobrepotencial geram grandes mudanças na corrente.

Ligações externas

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Ver também

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Referências

  1. Mayneord, W. V. (1979). «John Alfred Valentine Butler, 14 February 1899 - 16 July 1977». Biographical Memoirs of Fellows of the Royal Society. 25: 144–178. PMID 11615791. doi:10.1098/rsbm.1979.0004 
  2. Adler, S.B. (2016). «Chapter 11: Sources of cell and electrode polarisation losses in SOFCs». In: Kendall; Kendall. High-Temperature Solid Oxide Fuel Cells for the 21st Century 2nd ed. [S.l.]: Academic Press. ISBN 9780124104532. doi:10.1016/C2011-0-09278-5 
  3. a b c d e Bard, Allen; Faulkner, Larry (2001). Electrochemical Methods. Fundamentals and Applications 2ª ed. Hoboken, NJ: John Wiley & Sons, Inc. ISBN 978-0-471-04372-0 
  4. Reddy, Amulya K.N.; Bockris, John (31 de janeiro de 2001). Modern Electrochemistry 2A. Fundamentals of Electrodics. Nova Iorque: Springer. p. 1083. ISBN 978-0-306-47605-1 
  5. a b c d e Newman, John; Thomas-Alyea, Karen E. (2004). Electrochemical Systems 3rd ed. Hoboken, NJ: John Wiley & Sons, Inc. ISBN 0-471-47756-7